quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Era uma vez: No reino mágico das fadas (9)

O aposento onde encontraram Marbel tinha paredes maleáveis que esboçavam ondulações ao ritmo de uma melodia quase imperceptível que enchia todo o espaço e que parecia comandar a intensidade das luzes suaves e intermitentes com tonalidades que variavam entre um amarelo muito claro e um laranja forte, o que criava um ambiente relaxante e confortável. O calor da bolha protectora dos jovens magos fez aumentar a intensidade da melodia, da luz e do movimento ondulante das paredes, como se tudo se tivesse animado para presenciar a libertação da princesa.
Os jovens magos desfizeram a magia protectora para que a princesa os pudesse reconhecer. Desvendaram Marbel e libertaram-na das faixas de tecido confortável que a aprisionavam. Ao princípio, os seus olhos tiveram dificuldade em se abrir e os ouvidos demoraram a sentir de novo os sons. A boca não foi capaz de articular qualquer palavra, apenas se abriu para sorver o ar livremente. Os braços e as pernas estavam entorpecidos e todo o corpo demorou a ganhar força e segurança para se erguer. Mas, em poucos minutos, Marbel ergueu-se e foi abraçada pelos jovens magos no meio de exclamações de alegria.
Rapidamente puseram-na ao corrente do seu plano e decidiram recorrer imediatamente à magia protectora. Com a alegria do reencontro e mais um coração a construir a força da união, seria mais fácil criar energia suficiente para reconstruir a bolha que os tornaria invisíveis e indetectáveis.
Mas, quando uniam os braços e os erguiam, buscando união de pensamentos e esforços, todo o espaço foi invadido por uma luz intensa e branca que impôs o silêncio e imobilidade às paredes. Surgiram três vigilantes e dois seres brilhantes.
Colocaram-se em círculo, com a princesa no meio, de modo a ficar protegida e todos fecharam imediatamente os olhos para não sofrerem as consequências da luz dos seres brilhantes e tentaram tornar-se invisíveis e voar, mas algo os aprisionou e manteve imóveis. A boca da princesa ainda começou a balbuciar palavras mágicas para imobilizar os seus captores, mas foi impedida de terminá-las por uma qualquer magia que lhe tolheu o pensamento e a calou repentinamente.
A voz do professor Inventix fez-se ouvir:
“Podem abrir os olhos. O nosso brilho já não é letal para vós”.
“Como sabemos que diz a verdade?” – perguntou um jovem mago.
“Não sabem. Terão de confiar ou ficar para sempre com medo.”
O mago que o questionara sentiu-se atingido no orgulho, mas manteve a prudência.
“Não se trata de medo, mas de responsabilidade. A nossa missão é resgatar a princesa e não colocá-la em perigo.”
“Como queiram. Por nós podem ficar de olhos fechados para esta realidade e também para o facto de que as coisas mudaram radicalmente desde que os nossos reinos foram beligerantes. Agora e aqui nesta ilha, ninguém quer conflitos nem problemas.”
“Então, porque aprisionaram a nossa princesa?”
“Porque entrou sem permissão no nosso território e não conhecíamos as suas intenções. Depois de as descobrirmos, preparávamo-nos para a transportar até à barreira de espinheiros e, aí, a deixar para que fosse recolhida por vós. Foi quando nos apercebemos da vossa chegada e verificámos que, do vosso lado do lago das mil cores, há grande movimentação, o que pode significar perigo para nós.”
“Mais uma vez, que garantias temos de que fala verdade?”
“Nenhumas. Ou confiam ou ficam para sempre na dúvida e com medo.”
Os jovens magos tinham, entretanto, conseguido activar a magia da comunicação de pensamentos e resolveram que apenas um deles arriscaria abrir os olhos e enfrentar a luz do ser brilhante que, com voz calma e segura, os desafiava a confiarem. A princesa tentou convencê-los de que deveria ser ela a arriscar, uma vez que era a responsável por toda a situação. Porém, todos se opuseram veementemente e o mago que já tinha falado retomou o diálogo com o professor Inventix.
“Pois bem, vou confiar em si. Mas, antes, gostaria que me ouvisse.”
“Muito bem. Fale.”
“Este incidente foi provocado por um acto irreflectido próprio da juventude da nossa princesa, sem conhecimento de mais ninguém no reino mágico das fadas. A nossa vinda e a movimentação que avistaram do outro lado do lago das mil cores têm apenas como objectivo encontrar a princesa e conduzi-la ao reino, sã e salva. Devolvo-lhe o mesmo desafio: está disposto a confiar em nós?”
Fez-se silêncio de palavras e pensamentos, a luz ganhou novamente tonalidades amarelas e tornou-se menos intensa, enquanto a melodia voltava a insinuar-se no ar e as paredes recomeçaram timidamente a sua ondulação.
Os dois grupos confrontavam-se com a mesma questão: “Devemos confiar?”
…………….
Continua
…………….
No reino mágico das fadas (10)

2 comentários:

  1. Anónimo23.2.11

    Confiança. Palavra bonita. Mas ainda será possível confiar?
    No mundo da fantasia talvez e com bons resultados. Todavia no mundo real não aconselho. É medo, mesmo medo de confiar depois de tanta desilusão e sofrimento...
    Desculpa o desabafo. Sei que és uma das poucas pessoas em que ainda se pode confiar. Só por isso escreves histórias cheias de sentimentos bons, com música e com cores relaxantes e confortáveis. Gosto de te ler. Bjs. AV

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  2. Anónimo24.2.11

    Minha amiga gostei do desafio: ou confiam ou ficam com medo para sempre. A maioria de nós aquieta-se no medo depois da primeria quebra de confiança. Assim me aconteceu e nunca mais voltei a confiar e fiz mal. Agora estaria pronto a confiar mas é tarde porque me fiz egoísta da minha vida isolada e cómoda. As suas histórias ajudam-me a preenchê-la. Bem haja. Luiz Vaz

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