sexta-feira, 26 de junho de 2020

S. Pedro 2020


S. Pedro que tens tantas chaves,
Arranja-nos aquela que tu sabes,
Uma cuja porta por fim fecharia,
Esta já longa e dolorosa pandemia.

E depois dela fechada, depois dela perdida,
Seja com alegria por todos nós, esquecida.
Que venham as festas, que venham os abraços,
Suplantando medos, dores e até os cansaços.

Que todos os santos em reunião,
Nos tragam a milagrosa solução.
Um planeta sem vírus devastadores,
E dias com arco-íris de todas as cores.

Sem máscaras no rosto
Sem solidão, sem desgosto.
Voltando a estender aos outros a mão
E abraçar com amizade cada coração.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

S. João


Será capaz S. João
De nos afastar a solidão?
E nos dar uma grande festa,
Com o que de esperança nos resta?

Vamos de martelinhos em riste,
Tentando acertar no vírus que insiste,
Em nos deixar cada dia mais sós,
Separando amigos, pais, filhos e avós.

Mas S. João não vai permitir,
Que na sua festa fiquem sem se divertir.
Pede-nos um pouco de fé, e alguma confiança,
Nesta fase da vida, em breve apenas lembrança.

Venha a alcachofra e a sardinha assada,
Mesmo com a nossa porta fechada.
A alma é livre e vai conseguir voar,
O coração é forte para um dia recomeçar.



sexta-feira, 12 de junho de 2020

Santo António 2020


Santo António, meu santinho milagreiro,
Apesar de tanta pobreza não te peço dinheiro.
Santo casamenteiro, nestas festas populares,
Nem sequer te peço amores nem altares.


Santo António, tenho-te na minha devoção,
E  até te guardo o ano inteiro no meu coração.
Mas também és o Santo das coisas perdidas,
Por isso peço-te coisas nunca esquecidas.

Que reencontre o sorriso sem máscara,
E a cada um sem o medo vestindo a cara.
Que volte a sentir o calor de um abraço,
E os beijos carinhosos encurtem o espaço.

Que Lisboa se volte a encher de gente
Festejando com saúde e alegremente.
Se for preciso até o Responso te vou rezar
Para o vírus partir sem nunca mais voltar.



sexta-feira, 5 de junho de 2020

Post.It: O que aconteceu na Lapa, fica na Lapa


Entrar como quem entra em casa, inalar os cheiros familiares de gente, de pão a torrar, de leite com café. Deixar que os sentidos se embalem nas vozes que vão chegando aconchegantes. 
Abrir as janelas, deixar os primeiros raios de sol entrar. Tomar o pequeno almoço com tranquilidade, mergulhar nas tarefas sem pressão, sem olhar critico e vigilante. Vão descendo as escadas uns, devagar, outros a correr, mas na voz a mesma juventude de um bom dia embrulhado num sorriso de quem nos olha como igual. 
As tarefas são diversificadas, por vezes muitas, mas há sempre tempo para mais algumas, aquelas que fazem de uma casa também um lar. 
Porque não deixar o computador e ajoelhar-me para plantar umas flores, ou fazer um pequeno curativo a quem precisa de ajuda? 
Porque não subir o escadote e apanhar fruta no jardim, ou com o mesmo escadote, mudar uma lâmpada nos altos tetos? 
Além disso, seja com quem for, novos, mais velhos, há respeito, consideração, amabilidade e admiração mútuos. 
Há tempo para falar, sugerir, para ouvir e ser ouvido. 
Há tempo para partilhar, para conversar, para distribuir tarefas, para ser patrão e ser amigo. Sim havia afeição, generosidade, solidariedade. Era mais do que um emprego, era uma segunda família, em muitos casos sentida como primeira. 
Festejando quem chegava, chorando as partidas de um até breve ou até nunca mais.
Havia amizade.
Ficou a gratidão envolvida em saudade…