quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Post.it: Os que mudaram de direcção

“Tenho pena de um dia morrer” Disse-me uma grande amiga num tom saudosista. Estranhei a confissão, porque normalmente ouço desabafos de quem deseja partir, cansados que estão duma luta diária que lhes parece muitas vezes inglória. 
Não sei se o fazem por mero desabafo ou por acalentarem a vaga esperança de que essa partida possa significar uma verdadeira chegada a um mundo melhor. 
Quanto a mim, confesso, que este é um tema sobre o qual não tenho o hábito de me debruçar, não por medo do desconhecido, mas porque aprecio e vivo cada momento que vou conhecendo. No entanto dei por mim a pensar nos que partiram e no tanto que, na possibilidade de terem permanecido indefinidamente, poderiam ainda oferecer ao mundo. Grandes cientistas, escritores, pintores, músicos, humanistas, etc. 
Porém não posso deixar de sentir com nostalgia, outros que não tocando o universo, tocaram em cada um de nós. Não mudaram o rumo da história mundial, mas mudaram o rumo singular da nossa vida. 
Lembro-me deles em cada caminho que hoje percorro com a companhia da sua ausência, e procuro em cada detalhe de paisagem a lembrança do seu sorriso. Porque no fundo, eles nunca partiram, apenas mudaram de direcção.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sabes que são para ti...

Sabes que são para ti,
Estas pétalas de rosa que vou deixando pelo caminho.
Sabes que são para ti,
As nuvens que desenho no azul do céu.
Sabes que são para ti,
Estas ondas que murmuram a doçura do teu nome.
Sabes que são para ti,
Todas as gotas de água que caem sobre este imenso rio.
Sabes que são para ti,
Todos os corações que desenho na areia da praia.
Sabes que são para ti,
Todos os meus sonhos e os despertares da tua ausência.
Sabes que são para ti,
Todos os meus passos perdidos sem a companhia dos teus.
Sabes que são para ti,
Não sabes? Claro que sabes.
Se não soubesses, não estarias aqui, a ler as palavras que, 
Sabes que são para ti…

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Post.it: Talvez um dia te canses de mim

Observa-a enquanto ela lhe serve o almoço. Observa-a no seu silêncio, cada vez mais profundo. Observa-lhe o olhar cada vez mais distante. 
Reflecte, questiona-a sem nada lhe dizer. Talvez saiba o que lhe vai na alma, ou apenas adivinha com medo de descobrir a verdade.
Talvez um dia te canses de mim. Das minhas palavras e dos meus silêncios. Das minhas mágoas, das minhas águas tão prontamente a quererem inundar os olhos. Talvez não consigas mais suportar as minhas ideias, a minha rabugice, as minhas dúvidas, a minha teimosia. Talvez te fatiguem os meus queixumes, o meu cansaço, o meu comodismo, os meus chinelos de quarto já tão gastos mas ainda tão confortáveis para o meu caminhar. 
Talvez já não consigas aguentar o meu ressonar, a minha desarrumação, ou a minha metódica organização, as minhas revistas acumuladas ao longo de anos. 
Talvez te fatiguem os meus cuidados contigo, os meus abraços sempre a querer abraçar-te, os meus sonhos, os meus planos quase sempre fracassados. 
Talvez não consigas ouvir mais a minha voz, a insistência do meu olhar, a minha constante presença e as muitas ausências.
Talvez te tenhas simplesmente cansado de mim. Nesse dia, não digas que vais partir, diz-me apenas que regressas mais tarde e eu aguardarei indefinidamente pelo teu regresso. Porque nunca me cansarei de esperar por ti.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Post.it: De que é feita a nossa idade

Não sei se a vida tem idade, ou se somos nós que a vamos somando através do calendário e do passar das horas. Através das rugas no rosto ou dos cabelos que vão branqueando.
 Não sei se a vida tem idade ou se somos nós que a vamos olhando em cada estação que fica para trás quando adquirimos a percepção de um passado que se dilata ou de um futuro que se encurta. A verdade é que algo vai mudando no nosso modo de olhar a vida, já não conseguimos absorver o mundo numa visão de conjunto, mas alcançamos cada vez mais a capacidade da sua apreensão em cada detalhe, apreciamos o pormenor daquela pequena flor que estava tão próxima de nós, revelando-nos a sua beleza, colorindo o nosso dia e que quase passávamos por ela sem notar a sua existência.
Já não desejamos conquistar ansiosas metas, mas deleitarmo-nos com a viagem sem preocupação de onde  ela termina. E então, uma serenidade invade-nos o peito que se deixa levar pela corrente do tempo sem o questionar, sem o deixar escoar em discussões banais, em guerras perdidas, em coisas que não fazem parte real da nossa vida. De repente, cansam-nos as coisas comezinhas, as mesquinhices, a mediocridade, o egoísmo e a imaturidade de quem tem idade mas não a sabe sentir. Já não gastamos o fôlego que nos resta com maratonas de frivolidades quando há tantos motivos para respirar maresias de paz.
Não sei se a vida tem idade ou se a conta pelas lágrimas já derramadas, pelas gargalhadas plantadas, pelo cansaço que o corpo manifesta quando a noite adormece. Não sei se a vida tem idade, ou se a somamos pelos bens materiais acumulados e que nos dão uma efémera sensação de êxito.
 Não sei se a vida tem idade, mas se tiver, que seja somada pela quantidade de amigos que nos vão acompanhando pelo caminho. Amigos novos e velhos amigos. Amigos que vão chegando e os que vão partindo. Amigos ricos e amigos pobres. Amigos sem tecto, amigos sem afecto.
Se a vida tem idade, que seja somada no peito, por todos os beijos e abraços trocados, por todo o carinho sentido e a generosidade partilhada e então, diria com verdadeira felicidade, que se a vida tem uma idade assim somada,  eu sou imensamente velha…

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Depende de ti

Sabes quem eu sou?                      Sabes o que te dou?
Talvez alguém especial.                  Talvez seja muito,
Ou alguém sem importância.         Ou seja pouco,
Depende de ti,                                   Depende de ti.
De como me sentires.                     Se me quiseres guardar.
Sabes onde estou?                          Sou, o que quiseres.
Talvez em nenhum lugar.                Estou, onde estiveres.
Ou num lugar especial.                    Vou, se comigo vieres.
Depende de ti,                                   Dou, o que me deres.
De onde me quiseres abrigar.       A escolha depende de ti
Para onde vou?                                 Chama-me pensamento,
Talvez para o paraíso.                      Chama-me ilusão,
 Ou para o abismo.                           Chama-me lamento.
Depende de ti.                                   Chama-me e serei,
Para onde me quiseres levar.        O bater do teu coração.

 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Post-it: A invenção da vida

Se o mundo fosse uma máquina gigantesca e nós uma peça dessa engrenagem. Não uma mera peça, mas aquela que conjuntamente com as outras faz todo o mecanismo funcionar no ritmo certo, para que se cumpra a sua missão. Não importa saber qual é essa missão, basta-nos saber que a cumprimos no dia-a-dia e que mantemos a coesão de todos os elementos que a compõem. Que somos causa e consequência participante dessa vasta dimensão de vidas da qual fazemos parte. Somos uma peça, sem pretensão de sermos a principal, de sermos a fundamental, porque nenhuma o é. Somos aquela peça que encaixa no sítio certo, porque esse é o seu lugar.
 Em alguns momentos da vida, temos a sensação de que somos peças sobresselentes, que vimos ocupar um lugar que entretanto ficou vazio por outra peça que  abandonou a sua função ou que se partiu. E nós somos a peça que a substitui e coloca um fim na pequena ou grande “avaria” causada por aquela ausência. Que nos cabe o papel de “arranjar” um “coração partido”. Mas, mais tarde ou mais cedo, adquirimos consciência, que não é essa a nossa missão. Descobrimos que podemos ajudar a erguer, mas não podemos fazer com que funcione como funcionava anteriormente. Porque somos uma peça com características diferentes e merecemos ser reconhecidas e respeitadas na nossa especificidade. Cabe a cada vida encontrar a sua consonância de funcionamento. A recuperação harmoniosa do seu mecanismo, não há peças sobresselentes que venham ocupar o lugar deixado vago, na verdade, não lhe falta peça alguma, embora possa sentir nesse momento, um lugar vazio dentro de si. Não está avariado ou partido, mesmo que os sintomas lhe deixem essa impressão. São indicações de que o sentir se encontra desacertado da sua função, da sua importância individual e colectiva. Não se pode substituir um coração partido, pode-se cuidar dele, aconchegá-lo, incentivá-lo, abraçá-lo e depois, escutar pouco a pouco o seu tic tac que encontrou o cadência certa e que está pronto para seguir em frente na sua função de ser feliz no grande mecanismo que é a vida.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Post.it: O sol dum sorriso

Há dias assim, em que tudo parece estar contra nós. Em que as coisas nos voam literalmente das mãos e estatelam-se no chão. Em que temos um trabalho para acabar mas o computador não obedece às nossas ordens. Em que o café resolve saltar para cima da nossa camisola deixando-nos uma recordação visível para todo o dia. E como problema atrai problema, o chefe informa-nos uma hora antes que vamos ter uma reunião na outra ponta da cidade e pede-nos a elaboração de um relatório para ser apresentado.
Há dias assim em que tudo nos parece um caos. Se formos pessimistas facilmente nos deixamos enlear nessa rede caótica de acontecimentos. Porém, essa não é a minha onda. E lá vou contrariando a tendência, falando com os meus pensamentos “Não me vou dar por vencida”.
Por fim, parece que as coisas entram nos eixos, suspiro, paro no semáforo, olho o relógio pela milionésima vez, divago o olhar numa visão panorâmica que nada absorve. Vou acalmando, relaxando, aproximando a perspectiva, à minha frente atravessa uma senhora já idosa, caminha devagar, ergue a mão, podia ser um aceno, um cumprimento, mas sinto que me pede desculpa pela lentidão dos seus passos. De repente tenho a necessidade de lhe sorrir, não para a cumprimentar, mas para lhe pedir desculpa pela minha pressa de seguir em frente sem reparar na sua presença.
Começo a pensar nas lições de vida que cada pessoa nos dá, quando nos permitimos aprender. Quando paramos para sentir. Porque assoberbados com a rotina, não temos tempo para sorrir para outra vida que por um instante se cruza com a nossa.
Estamos na semana do Carnaval, não sou grande fã desta festa, mas gostaria de lhe dar algum sentido. Não me vou disfarçar do que não sou: Princesa, Fada, Super-herói. Vou desenhar no rosto um sorriso. Não importa se por detrás desse sorriso esteja ou não alguma tristeza. “O sorriso é para a humanidade o que o sol é para as flores”. Vou sorrir, porque um sorriso diz muitas palavras gentis. Porque um sorriso contém muitos gestos de ternura.
Desafio-vos a fazer o mesmo, a sorrir, nem que seja no breve momento em que esperam que o sinal luminoso passe de encarnado a verde. “Um sorriso enriquece quem o recebe sem empobrecer quem o dá”.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Post.it: Make a wish

Hoje, enquanto vinha no caminho, ouvi no rádio uma reportagem sobre uma empresa que realiza desejos de crianças com graves doenças. Senti-me solidária com a iniciativa, emocionei-me com a simplicidade e ao mesmo tempo a dificuldade de se concretizarem alguns sonhos e desejos.
Todos nós tivemos os nossos desejos. Todos nós temos os nossos sonhos. Concretizamos alguns, mas nos caminhos da vida, perdemos muitos outros. Demasiados, sentimos, quando olhamos para trás e os vemos espalhados ao longo da estrada, abandonados pelo horizonte, roubados pela realidade que nos torna mais amargos ou em linguagem de “crescidos”, mais racionais.
Lembro-me dos desejos da minha infância, queria ter como animais de estimação, um pinguim e uma foca. Acho que já naquele tempo, demonstrava alguma propensão para reconciliar o irreconciliável. A minha mãe desesperava-se com o meu insistente pedido. E eu, oferecia-lhe o meu sorriso inocente e explicava-lhe o lado positivo da questão, “já tens sorte de eu não te pedir um elefante”. No final, esqueci o pinguim e a foca e recebi de braços abertos um cachorro que se aninhou no meu colo.
Continuo a adorar pinguins e focas. Continuo a ter sonhos, desejos por realizar. Alguns muito difíceis de alcançar, talvez mesmo impossíveis, outros que vou conquistando, pouco a pouco em cada dia, em cada ano que passa, outros ainda, que, embora simples estendem-se para lá de mim e deixam de me pertencer. Sonhos que são teus, ofereço-tos…
Serão meus, se um dia me devolveres a esperança de os concretizar…

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

............................. Se existir amor ..........................

                                                    
Talvez um dia o silêncio se coloque entre nós.

Mas se existir Amor será trocado por muitas palavras.

Talvez o destino nos conduza em diferentes direcções,

Mas se existir Amor, um dia nos voltaremos a encontrar.

Talvez a memória nos faça esquecer,

Mas se existir Amor, o coração lembrar-se-á de nós.

Talvez alguma discórdia acabe com tudo,

Mas se existir Amor reencontraremos a harmonia.

Talvez o passar do tempo nos desgaste o sentir,

Mas se existir Amor, ele aprofundar-se-á cada vez mais.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Post.it: Resposta do Cupido

Bati na tua porta, não me deixaste  entrar. Espreitei pela janela, mas  estava fechada.
Enviei-te uma flor, deixaste-a  murchar. Convidei-te para voar, preferiste  a terra firme.
Atravessei  o  longo  rio  para   estar  contigo.  Não  me  vieste   receber  na  chegada.
Tentei falar-te ao coração, não me  quiseste ouvir. Estendi os braços para te abraçar.
Deixaste-me  o  abraço  vazio.  Pedi  ao  sol  para  te iluminar. Preferiste a  escuridão.
Desenhei  no  céu  o  teu  nome. Nem  o  quiseste  olhar.  Até tentei modernizar-me e 
utilizar   todos  os  meios  de  comunicação.  Mas   nenhuma  mensagem  te  tocou  a
 emoção. 
Culpas-me  de  não  enviar  a seta certeira? Acusas-me  de não te escolher um amor
 perfeito? Não sabes o quanto tenho tentado, as setas que lancei para o teu coração.
 Mas   ele  parece   desviar-se  do  caminho.  Porque  de  tanto procurar, talvez deixes 
sem ver, o amor passar…

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Post.it: A pontaria do Cupido

Há por aí muitos corações desencontrados, mal cuidados. Entristecidos, de amor magoados. Em busca de si nos outros. Em busca dos outros em si. 
Este poderia ser o inicio duma triste história de amor ou da falta dele. Mas não cedo à tentação de a escrever. Prefiro analisar as causas sem me preocupar com as consequências. Numa primeira conclusão, diria que tudo não passa de uma dificuldade oftalmológica que afecta o desempenho do Cupido. Por outro lado também podemos ser levados a pensar, porque a experiência já o tem mostrado: que o pequeno deus, nunca erra, que tem um propósito, enviando a seta de uma forma errada para chegar ao local certo. Mas observando pela lógica da questão, também se pode argumentar que, é o claro resultado de se colocar um arco e flecha nas mãos de uma criança, e não me venham justificar que é um deus, porque o Cupido é e será sempre uma eterna criança.
Mas esta questão pode ter outro prisma, aqueles que nos esquecemos de apreciar, imbuídos duma história mitológica, quem sabe mal interpretada.
Talvez o pequeno Cupido, mal tratado e incompreendido seja enfim reconhecido na sua missão, não como o unificador de almas gémeas mas como aquele que lança uma seta de ouro para transformar em verdadeiros tesouros os corações atingidos.
E nesse caso, garanto que tem pontaria certeira. Conheço um desses corações. E neste seu dia de aniversário, dou-lhe os parabéns e um agradecimento ao Cupido pela certeira escolha. Pelo envio dessa seta que nos permite conhecer e partilhar a vida com corações de ouro.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Post.it: Isto é amor

Ouve o seu respirar e sossega-se-lhe o coração dentro do peito. Aconchega o seu corpo no dele e pensa, “isto é amor”.
Este passar do tempo, este estar aqui e não desejar ir para outro lugar. Este despertar na sua companhia, mesmo que o depois já não tenha muitos gestos de carinho, muitas palavras de afecto. Mesmo que ele fique na rua quase todo o dia, sabe que regressa, que a olha nos olhos e lê nesse olhar um encontro quase feliz. Porque ainda sabe a ternura a sua voz, cheira a reconforto o seu calor.
Mesmo quando ele adormece no sofá em frente ao televisor, embala-se-lhe a alma na cadência do seu respirar e o seu pensamento volta a afirmar. “Isto é amor”. A forma como o sente em si, como se sente nele. E faz dos dias um sereno amanhecer, neste rio onde navega a vida, para onde vai? Para lugar algum, porque está onde quer estar, chegou onde queria chegar. Vive como quer viver, com ele. E confirma. “Isto é amor”.
Ela ampara-lhe os movimentos, ele ampara-lhe o caminhar. Curam as dores do tempo vivido com a paciência que os anos lhes oferecem. Por vezes, sentem uma nostalgia a sair-lhes dos olhos, ela chora, ele sorri, enquanto as recordações construídas por ambos vêem como se fossem filhos a visitar-lhes a alma e a deixar-lhes no peito, não só saudades, mas a felicidade de as terem vivido juntos.
Por vezes falam da “viagem” como ele gosta de lhe chamar. Diz que reservou dois bilhetes, para que nenhum deles parta ou fique sozinho. Sorriem, entrelaçam as mãos e sentem, que realmente, “isto é Amor”.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Post.it: 101 anos de solidão

Observo-lhe as mãos aconchegadas sobre o colo. Imagino-lhe carícias repartidas, mas o seu olhar melancólico, nega-me esta conclusão e responde-me num sorriso já livre de mágoas…  “Se tu conhecesses os meus 101 anos de solidão…”
 Não conheço o seu passado mas consigo concebe-lo através das suas palavras e dos seus silêncios…
“Por todas as primaveras que nunca chegaram a florir. Por todos os invernos sem o calor dum abraço. Por todos os caminhos percorridos sempre com a presença única dos meus passos. Por todas as noites em que tive por exclusiva companhia as estrelas a luzir na imensidão do céu. Por todos os despertares em que só a voz que chamava por mim era a do locutor da rádio. Por todas as emoções que guardei para te oferecer. Por todas as palavras que me murcharam no peito sem ter a quem as presentear. Por todas as ondas que me embalaram a espera desse navio de esperança que não vinha acostar no meu cais.
 Não, não me ofereçam esse lampejo de pena, claro que amei, nuvens que continuamente partiam. Claro que fui amada como uma princesa no seu castelo de areia cujas vagas de mar desfizeram.
Mas o tempo passa e, na sua viagem por caminhos que nem sempre foram aqueles que desejaria seguir deixou-me repleta de ausências.
Hoje, neste encontro comigo, descubro por fim que, o amor, não és tu. Que o amor sou eu, terra e semente a desabrochar, a florir. Descubro-me no prazer da minha companhia, nas minhas tristezas e alegrias. Nos meus sonhos, nas minhas concretizações e fracassos.
Encontro-me na harmonia dos meus passos, enquanto vou saboreando o caminho na firmeza, na certeza do rumo. Já não me procuro em ti porque finalmente, depois de todos os anos de solidão que me deixaste, encontrei-me. Descobri-me na minha paz, na minha felicidade, já sem a tua saudade”.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Post.it: Verdade oculta

Vejo-te, sinto-te, para além do que és, do que revelas. Por mais que te pintes com cores de inverno, vejo o sol no teu olhar. Por mais que dances na chuva, sei que também choras com ela. 
Por mais que te debruces nos precipícios da vida, sei que desejas a segurança de um abraço. Por mais que viajes para te sentires livre, sei que desejas a prisão perpétua do amor. Por isso, regressas e sonhas que te roubam o fôlego no voar da paixão. 
Já é tempo de rasgares esse véu de nevoeiro, de sair da noite, de mergulhar no dia. Deixa o sol brilhar no teu rosto. Ele não te vai queimar, apenas aquecer, apenas aconchegar. 
E se um dia tiveres essa coragem, se reconheceres que a felicidade é uma questão de atitude, diz-me sem medo que és apenas um ser humano em busca de si. 
Se no entanto sentires que te perdes sem encontrar o caminho, olha nos meus olhos e verás no seu reflexo a verdade que ocultas dos teus.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Post.it: Quando a vida nos esculpe o coração

Por vezes não vemos as coisas porque não estamos preparados para elas. Já vos aconteceu reler um livro com um intervalo de alguns anos? Não o sentiram de uma forma diferente? Ou de voltar a ver um filme e verificar pormenores que antes não tinham encontrado? 
Muitos dirão que é um estado de espírito ou apenas de atenção, mas sejamos sinceros, a verdade é que crescemos e a nossa avaliação sobre a vida, sobre os sentimentos cresceu igualmente, amadureceu. Esculpiu em nós, novos contornos. 
Para uns, suavizou a personalidade, conferiu-lhe uma beleza muito própria. Para outros agudizou e tornou mais profundas as marcas de amargura. Tudo depende do barro com que fomos feitos, da argila que nos compõe, da rocha de onde viemos. Da conjugação de mãos que lhe deram os primeiros traços. Do molde, do calor, do carinho com que foi amassado. 
Até ao dia, aquele em que nos reencontramos no outro, em que as formas se encaixam, nem sempre com a mesma facilidade que desejaríamos. 
Por vezes é necessário limar arestas para que o coração fique confortável nesse molde. Não podemos esperar que isso aconteça de imediato, ou com a primeira pessoa que nos desperta a alma. Talvez nem com a segunda. 
Mas certamente acontecerá, um dia, quando estivermos preparados para que aconteça. Quando deixarmos de idealizar amores-perfeitos, de desenharmos nos sonhos os nossos Adónis ou Vénus e verificarmos que a felicidade pode encaixar-se perfeitamente num ser humano que nos completa e nos torna realmente, um conjunto perfeito.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Post.it: Do outro lado da lua

É difícil perceber quem se esconde, quem se nega a viver o que a vida lhe oferece. Que caminham por entre jardins e não vêm as flores. Que pisam o areal e não vêm o mar. Que seguem por vales e não vêm as montanhas. Que olham os rios sem verem a carícia das margens. Que têm um céu estrelado mas escolhem a escuridão. Que trancam as portas, que fecham as janelas com medo que a felicidade entre por elas. Não por  se negarem a ser felizes, mas por receio  do seu final, sem saberem se ele virá. Porque já lhe adivinham a história, que não conquistou a vitória. Porque o coração já conheceu demasiados fracassos. Mas se a primavera renasce depois do frio inverno. Se a frágil onda insiste em beijar a rocha até que esta se molde ao seu beijo. Se depois da tempestade o sol volta a brilhar, porque não espreitas um dia o lado iluminado da lua, quem sabe nele encontres uma razão para ficar. Quem sabe deixas de recear o final, e vives plenamente o inicio… 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Post.it: Nada sei...

Quero partilhar contigo o meu maior segredo, aquele que me atormenta os dias, que me impede o descanso das noites, que me desperta nas madrugadas, que me faz hesitar no escolher do caminho. 
Um segredo que cresce comigo, que ganha espaço no meu sentir, que cria impasses nos meus passos, que me faz adiar os abraços, que me paralisa a alma, que me inunda de dúvidas, que me rouba todas as certezas, que me faz sorrir e chorar. 
Preciso de o contar, de o revelar, de o ouvir sair da minha voz, de o libertar, quem sabe assim liberto-me dele também. Desculpa a demora, o rodear da questão, não é fácil assumir, de sair para a rua e o gritar a plenos pulmões. 
Pensei que tudo isto acabaria por mudar com o tempo. Porque ensinaram-me que crescer é aprender, conclui que um dia deteria todas as verdades e, no entanto, confesso o meu fracasso nesse processo e revelo-te abertamente, dolorosamente, o meu segredo. Aquele que neguei possuir, aquele que fingi nunca existir, porque finalmente entendi que a minha única certeza, a minha única verdade, aquela que provavelmente me vai acompanhar por toda a  existência, é saber, é reconhecer, que depois do que já vivi, depois de tudo o  que já aprendi, na realidade,  Nada sei!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Post.it: Encontro marcado

Ela marcou um encontro, com o passado num futuro talvez longínquo. Marcou um lugar, na curva do rio. Marcou uma hora, na sombra do luar, onde o sol ainda espreita mas  já parte com pena de partir. Mas deixa uma missão à lua. – Depois conta-me o que aconteceu. Quem veio, como foi o reencontro, quanto tempo durou o abraço, se aconteceu o beijo, se houve lágrimas de saudade, se se ouviu um suspiro de espanto.
- E que espanto esperas? Pergunta a lua. - E que abraço pode acontecer? Que beijo poderá suceder? Talvez lágrimas, suponho que sim…
- Porquê essa descrença, esse luar de nostalgia? Questiona o sol ainda sorrindo.
- Porque o tempo, meu bom amigo, tudo cura, mas também é adverso ao coração.
- Não acreditas que o amor pode perdurar no tempo e na distância?
- Acredito, se ele for cuidado como um jardim, se ele for regado para não perecer a flor.
O sol desaparece no horizonte, deixa no ar o silêncio. Uma resposta que fica no ar, porque só ele conhece a grandiosidade que cabe em cada coração que a vida separou, mas quem sabe o destino volte a unir. Ele não é descrente como a lua, ele acredita que o sonho acontece, no momento certo, no lugar preciso.
Ela marcou um encontro, não sabe se ele virá, se a abraçará, se lhe dará o  beijo esperado. Não sabe se ainda terá  lágrimas para chorar a saudade, mas sabe que haverá espanto. Porque a vida deixa em cada um de nós a marca dos seus escritos nas linhas do nosso corpo.  Acredita contudo que aos seus olhos a  beleza dele ficará eternamente jovem, encantadoramente imaculada. Mas o maior espanto será, se ele vier ao encontro marcado e trouxer consigo um sorriso de sol para iluminar a hora em que cresce a sombra do luar.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Post.it: Saudades desta cidade

Tenho saudades, não do passado, não do presente, nem do futuro. Mas de um tempo onde nunca vivi. Onde nunca viverei. Um tempo que não me pertencendo, sinto como se fosse meu. Quando caminho por esta cidade que me viu crescer. Por esta cidade que vejo entristecida, envelhecida. E em cada canto, em cada beco e viela, uma ombreira descai, uma coluna cede ao abandono, uma porta fecha-se, e os vidros das janelas são substituídos por tijolos. Edifícios majestosos, emudecem a sua história. Verdadeiras obras de arte arquitectónica, perdem pedaços da sua traça original. Casas de olhos tristes que ainda olham na direcção do rio, como se quisessem partir, ou receber a chegada, de quem delas cuide, para recuperarem o seu orgulhoso esplendor. O Tejo devolve-lhes o olhar, oferece-lhes um sorriso companheiro, de quem já passou lado a lado semelhantes agruras mas também muitas histórias de ventura. E como companheiros cheios de amor, não reparam nas marcas do tempo desenhadas na sua fachada, nas suas cores quase apagadas. Porque o coração, esse, não envelhece, não perde a beleza que o edificou, que o manteve lar de famílias, destino de navegadores.
Invejo-lhes esse namoro, essa lealdade. E tenho saudades do tempo em que eram jovens e acreditavam que o seu futuro seria radiante. Que a sua construção seria um projecto de eternidade. Que iam cuidar de vidas, nascidas e criadas no aconchego daquelas paredes, e que essas vidas retribuiriam, curando cada ferida aberta pelo rigor frio e chuvoso dos invernos, pelo sol ardente dos verões, intempéries dos dias tão cheios de poluição, barulho e sobretudo de indiferença. Só o rio, lhe retribui o olhar, só o rio sabe o que cada edifício desta cidade sente. Eu oculto o meu olhar, envergonhado pela incapacidade de lhe mudar o destino e mergulho na minha saudade dum tempo que nunca vivi.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Post.it: Eu apenas eu

Eu apenas eu e a minha herança genética, uma mistura de cultural, social e uns pós de inspiração. Fui crescendo, entre esfoladelas nos joelhos e nódoas negras na alma. Quedas dum existir, que logo a vida se encarregava de erguer e curar as feridas. Eu apenas eu, caminhando e aprendendo com o caminho, deixando as minhas marcas na areia de uma praia deserta.
Mas tu surgiste nela, engrandeceste a minha parca existência. Encheste-a dos teus sonhos, preencheste-a com as tuas gargalhadas, mas também com as tuas lágrimas.
E assim, eu que era apenas eu, passei a ser tu e todos os outros que ampliaram os meus horizontes.
Que aumentaram os meus objectivos. Que dilataram a minha visão do humano. Que  me acrescentaram carinho. Que me rechearam dos seus encantos. Que me completaram. Hoje quando caminho, eu já não sou mais eu, sou uma multiplicidade de pegadas, onde as minhas se perdem e se encontram em muitas outras. As que caminham a meu lado para me amparar, as que já estão de volta para me dizerem como é o lugar para onde vou, as que vão à minha frente para tornar mais fácil o meu caminho.