terça-feira, 26 de julho de 2022

Post.it: Férias

É verão, época de férias, uns já foram, outros ainda hão-de ir, muitos já lá estão a viver o seu tempo de merecido descanso. 
Gosto de pensar as férias como um tempo nosso, feito por nós, ao nosso jeito. 
Cada um o desenhará tal como gosta, um tempo repleto de coisas que gostamos de fazer ou simplesmente, um tempo de não fazer nada. 
Um tempo “lento” para saborear o que a pressa do ano não permite. Fazer “nada” é uma arte que aprendemos com o tempo a construir. 
Passamos o ano a sonhar com as férias, mas conseguimos descansar durante as férias? Desligamos e descansamos ou ficamos ansiosos para fazer tudo o que planeamos? 
As férias de sonho no sonhar de cada um, fazer longas viagens, conhecer destinos exóticos ou simplesmente ter a oportunidade de contemplar o mar, estar mais tempo com os amigos e a família, dar asas ao pensamento em silenciosas caminhadas. Escrever, ler, pintar, mergulhar na natureza, celebrar cada minuto como se fosse o último, festejar cada dia como se fosse o primeiro. 
Somos pessoas de hábitos, com vidas cheias de rotinas, escravos do relógio, conseguiremos fazer um corte com tudo isso, despirmos a roupa justa de cada dia e vestirmos apenas kafkans? 
Precisamos de um tempo sem planos, sem horas para dormir ou acordar. Necessitamos de um tempo para sonhar, para descontrairmos, para apreciarmos, devagar o respirar. E depois, quando o coração encontra o seu ritmo, sair, encontrar momentos de alegria, de tranquilidade. 
Vamos entrar nas férias com o pé direito, caminhar lentamente com os dois e depois, firmemente como quem se encontrou, recomeçar o tempo de rotina com a certeza de que se fez tudo o que se quis, quando se quis. Que se teve umas boas férias.


 

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Post.it: A titulo da pandemia


Já pouco se fala da pandemia, outros assuntos ganharam relevância, a guerra na Ucrânia, os fogos neste quente verão, mas a pandemia permanece entre nós. Os nºs de infetados continuam elevados, mas para aclamar os temores dizem-nos que com sintomas muitos leves. 
As mortes continuam elevadas, mas para nos calar os receios, dizem-nos que essas pessoas já padeciam de outras patologias. A covid-19 continua a existir e a resistir a vacinas, seja quantas doses forem administradas. 
O começo parece-nos distante, mas os seus efeitos continuam tão perto de cada um de nós.
Ninguém nos disse que seria fácil, mas também ninguém nos avisou que seria tão difícil. A pandemia tomou conta das nossas vidas, ninguém está imune aos seus efeitos perniciosos. No entanto o mundo continua a girar, alheio às nossas perdas, às nossas dores. 
Continua a exigir de nós que lhe demos o nosso melhor em contexto laboral, familiar e social. A dificuldade, a nossa mágoa e receio prende-se com a  imprevisibilidade da situação pandémica que nos rodeia. Não estamos sozinhos, é verdade, mas se isso no inicio nos uniu, hoje afasta-nos, porque cada um quer viver e sofrer a sua dor e receio individualmente. 
Cada um quer agir o mais corretamente possível, ou tomando outro tipo de atitude, decidiu simplesmente desistir de seguir as regras impostas, a palavra imposição, leis, decisões políticas, ou até uma voz que lhe pede “coloque a máscara” causa exacerbada revolta. 
Há um grito, ressoando em cada um de nós, uns ouvem-no como um pedido de quem cuida porque quer que todos fiquem bem e obedecem com desvelo, outros ouvem-no como uma limitação à sua liberdade e desafiam-no, outros ainda cansados, apáticos já não ouvem, cumprem umas normas, desobedecem a outras. 
E depois há os que gostam de encarar a vida como um jogo, sabendo que podem ganhar, ou seja escapar impunes ao vírus e às multas, ou que perdem e nesse caso, pagam a multa no melhor dos casos, porque no pior tornam-se veículos de transmissão do vírus para familiares, amigos, colegas, vizinhos ou meros desconhecidos. 
Não têm sintomas, mas os outros podem senti-los e sofrer com eles indefinitivamente. Emergência, tornou-se palavra de ordem, emergência de soluções, emergência de atitudes coletivas. 
Dilemas éticos à parte, estamos todos perdidos no mesmo mar e se há um caminho, então, devemos remar todos para o mesmo lado, cada um seguir o seu rumo, é entrarmos em repetidos círculos que se podem tornar afundantes remoinhos. 
É preciso despertar a humanidade e a integridade social que deve estar presente em cada um de nós. Somos frágeis mas podemos encontrar em nós e nos outros uma resiliência que nos torna mais fortes. Com esperança e com fé em cada um de nós.

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Post.it: Eis-me

É assim que silencio as minhas mágoas. Gritando palavras que não uso mas sinto e que de tanto as calar sei bem que me minto.
Sei que guardo no peito este não sei quê que me esconde do que sou. Sendo tanto, na verdade sou um pequeno nada desta articulação a que chamamos mundo. 
Esperei e nada veio. Lutei e nada conquistei. 
Sei onde estou mas sei que verdadeiramente nunca cheguei. 
Tentei ir mais além, mas ele sempre me fugiu como um menino travesso que me chamava e depois não se deixava apanhar. O sonho nunca chegou a ser verdadeiramente sonhado, quando muito suspirado e depois para que doesse menos, sufocado num canto da alma, envergonhado não sei se do desejo de o alcançar se do fracasso de o nunca ter alcançado. 
E depois de tantos caminhos, de escolhas, de quedas de onde me reergui eis-me na verdade de mim. 
Sou e serei sempre um projecto inacabado de um bocejo da vida. Se um dia ela me olhar, nesse instante, morrerei de felicidade.