quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Post.it: Desamor

Perto da semana do amor também podemos falar em desamor, aquele que a literatura não eleva, não enche de floreados. Desamor, aquela sensação que nos faz sentir culpados dum crime que não cometemos. E gritamos ao intimo “não tive escolha, aconteceu, ou foi acontecendo, não sei!” Quando tudo aquilo que admirava nele se transformou em algo irritante e insuportável. Quando a sua voz era música para os meus ouvidos e agora me soa a agreste. O seu gesto de segurar o cigarro que me acalmava “ Ainda queimas  o sofá” resmungo agora. Os seus cabelos em desalinho por onde passeava os meus dedos, parecem-me hoje simplesmente descuidados, como se não quisesse ter um aspecto apresentável. Olha-me com surpresa, quando o critico. Desespera-me aquela tendência que tem de me abraçar quando estou a cozinhar, de me beijar o pescoço, grito-lhe quando tenho frio. E ainda diz incrédulo, “mas tu gostavas que o fizesse, já não gostas?  Hesita, “já não gostas e mim”. Fujo do seu olhar aflito, não sei o que dizer, não sei o que sinto, desespero, afasto-me. Eu própria não entendo. Que amor é este que se esfumou no ar, que morreu quando estava pujante de vida. Que tortura é esta que nos condena por já não amarmos quem nos ama. É quem ama que perde tudo e nós que não escolhemos deixar de amar? Não temos o direito a sermos compreendidos, chorados, ilibados de qualquer culpa? Esquecem-se que também nós sofremos a dor do vazio que fica no peito à qual se junta a dor de ver a outra pessoa sofrer sem lhe podermos colocar um bálsamo. Pelo menos eles ainda têm longas narrativas, óperas, poemas, dramas cinematográficos sobre o sofrimento amoroso, sobre o abandono e solidão. Recebem lágrimas solidárias dos amigos. São as vitimas de um amor perdido. E nós que também perdemos o amor, quando ele nos abandonou e nos esvaziou dos sonhos, dos desejos, de tudo o que nos fazia amar esse alguém. Também nós somos vitimas, mas ninguém nos consola.

9 comentários:

  1. Anónimo9.2.11

    Desamor? Ò minha amiga essa não consigo aceitar muito bem. Então abandonam-nos e depois também querem ser compreendidos porque estão a sofrer? Já conheci situações dessas, claro que ninguém fica na maior. Mas por alguma razão não há poemas começando por “Desapaixonei-me, como sofro por isso”. Beijocas C.

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  2. Anónimo9.2.11

    Pode parecer absurdo mas, isso acontece. Somos seres humanos, temos as nossas emoções que não são estáticas. O nosso cérebro cria imagens, ideais, sonhos. Mas um dia a realidade sobrepõe-se a constatamos que essa pessoa que idealizámos não existe a não ser no nosso desejo. É realmente uma dor aquilo que a pessoa sente pela decepção, pelo desejo fracassado. É a angústia por uma nova solidão e recomeço.Bjs Sandra B.

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  3. Anónimo9.2.11

    Desculpa lá minha querida mas continuo mais solidária com os que foram abandonados, os que continuam a derramar lágrimas oceânicas, por um estupor que “desamorou-se”, Bjs Amália

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  4. Anónimo9.2.11

    Essa é boa. Desamor, são uma nova classe de sofredores, que quase diria voluntários.Bjs Rui

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  5. Anónimo9.2.11

    Tens cada ideia. Quero lá saber dos que se desapaixonaram, quem sofre sou eu porque amei e amo essa criatura que antes me prometia o mundo e hoje nem um telefonema. Mas verdade seja dita, é muito gira a forma como a colocas. Bjs Leonor

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  6. Anónimo9.2.11

    Bom se não fosse escrito por ti, soaria a puro egoísmo, mas desta forma tão doce, compreendo a tua ironia e sensibilidade. Bjs A.

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  7. Anónimo9.2.11

    Dou-te os parabéns pelas abordagens ao Amor, há vertentes que podiam ser mal entendidas, mal interpretadas mas a forma como as escreves torna tudo mais interessante. Até senti pena do pobre que se desapaixonou. Bjs Luís

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  8. Anónimo9.2.11

    Tens mostrado de forma muito criativa e analítica a forma como vivemos os nossos sentimentos. Tenho esperança que nos presenteies com um final feliz. Abraços, Antero

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  9. Anónimo9.2.11

    Nem sabes como me apraz ler os teus post.its, sempre tão reais e simultaneamente tão sensiveis. Este desamor, escrito de uma forma tão directa, não acredito que seja o teu sentir, mas aquele que em algum momento olhaste. Também desejo que não o tenhas lido no ser amado. Mas a verdade é que o desamor existe, essa paixão que de repente e sem aviso chega e parte, deixando-nos esvaziadas de emoções. É realmente doloroso, já o senti. Obrigada por falares de coisas que muitos não querem aceitar como verdade. Beijos grandes Adelaide

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