sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Post.it: Tempo de Ano Novo


“O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, e o tempo respondeu que o tempo tem tanto tempo quanto o tempo tem.”

Quanto tempo temos para brincar com o tempo. Quanto tempo temos para desperdiçar tempo. Quanto tempo temos para adiar o tempo. Quanto tempo temos para esquecer o tempo.
De uma forma displicente diria que temos “todo o  tempo do mundo”, mas a verdade é que não temos tempo algum  para desvalorizar o tempo.
E uma certeza surge-me cada vez mais premente à medida que o tempo passa, (o tempo está em vias de extinção).
Mas o tempo pode ser prolongado, o tempo pode tornar-se infinito na memória, no coração, se o usarmos bem, se o tratarmos com o devido respeito e cuidarmos dele, não como se fosse o último mas como se fosse sempre o primeiro.
Aquele tempo em que podemos recomeçar, para desta vez o tornarmos, quem sabe, melhor.
Agora que o tempo deste ano chega ao seu desfecho, é tempo de reflectir sobre o que se quer fazer com o tempo do novo ano que se anuncia. E a todos os que tiveram tempo para estar aqui e para ler este pequeno texto, desejo que no Novo Ano tenham tempo para viver com felicidade o tempo que o tempo para todos tem.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Post.it: Sorrisos grátis


Hoje há Abraços grátis em Lisboa, bem, não será hoje, porque na ressaca do Natal ando a ler as notícias atrasadas. “Todos queremos ser amados” (Sean Penn), até aquela minha amiga que depois de 25 anos de casamento sente que ainda não foi “recebida” pela família do marido, que as cunhadas fazem um grupinho de cumplicidades e a deixam sempre de fora. Ou aquela outra que depois de ter chegado cheia de expectativas, vai descendo a fasquia quase até ao chão e já se contenta com um simples Bom dia,  que a afaste da exclusão e da invisibilidade. Seremos assim tão carentes? Sean Penn, diz que sim, “Nunca fui amado”. Mas precisamos tanto assim dos outros para nos sentirmos inteiros? A resposta continua a ser psicologicamente a mesma, sim!
Um sim feito de encontros e desencontros, nas curvas e esquinas da vida. Para afastar a solidão, para enriquecer os nossos dias, para fazer a vida valer a pena, apesar da crise económica, do desemprego, ou dos problemas no emprego, dos maus colegas, dos maus transportes, das filas de trânsito, do stress, etc, etc., o chegar a casa, fechar a porta aos problemas:  abraçar, e ser abraçado pela felicidade que nos faz lembrar a razão de existirmos
A grande questão é que isso não acontece somente connosco: contigo, comigo. Acontece também com os outros, com quem nos cruzamos, mas  que nos escapam por entre os dedos, que nos fogem do coração, que andam distraídos, perdidos, no  seu desejo profundo de também eles serem encontrados, e abraçados.
Felizmente que há abraços grátis, quem sabe num deles encontrem/encontremos o amar e o ser amado, ou pelo menos um Bom dia com um sorriso do coração, também ele, grátis.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Post.it: Ele veio para ficar



Ele  veio,  por  entre  as  prendas,  o  Bolo  Rei  e  filhós. Estava no  Pinheiro enfeitado  com bolas, nas luzes  natalícias.  Nas  canções  de louvor, na união das  famílias,  nas  crianças  a  brincar. Estava  nos gestos  de  amizade e de  amor,  nas estrelas de  um  céu  sem  escuridão,  nas  nuvens  que  de  tanto sorrirem  se  esqueceram de  chorar  adiando  a chuva prevista deixando o sol brilhar.
Ele veio, entrou pela chaminé, pelas frestas da janela, pela porta que lhe abriram. E ficou aconchegado em cada coração, aninhado em cada lar rico ou pobre. Ficou para receber o brilho do teu olhar, o carinho da tua voz, o calor do teu abraço.
Permaneceu a teu lado, em cada passo que davas, segurando a tua mão, curando a tua mágoa, incentivando-te a seguir em frente, oferecendo-te a coragem necessária, a vontade de partir e a certeza de voltar.
Ele veio e ficou chama-lhe Menino Jesus, S. Nicolau, Pai Natal. Chama-lhe fé, crença ou esperança. Chama-lhe o que quiseres, ou melhor, não chames, porque ele, já está contigo, ele já está em ti, esse Natal que veio para ficar todos os dias.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Post.it: SMS(s) de Natal

Para todos os que me quiseram desejar um Bom Natal, agradeço e retribuo. Não importa o meio, por sms, e-mail, etc, etc. desde que a mensagem chegue com a intenção de levar mais longe o Espírito do Natal.

"Este ano quero uma prenda. Não quero um objeto que nos prenda. Quero um presente, pois é assim que estás na minha vida: Presente e, se não for pedir demais que estejas também no futuro”.

"Pedi ao Pai Natal para te levar toda a minha amizade. Ele respondeu-me que estava demasiado velho para transportar uma prenda tão grande”.

"Este Natal foi cancelado. Eu disse ao Pai Natal que tu te tinhas portado bem e ele morreu de tanto se rir”.

“Que a chama do Natal se mantenha acesa e que os presentes possam ser recebidos todos os dias”.

“Gostava de ser um anjo para te guardar. Um sol para te aquecer. Um luar para te iluminar. Uma estrela para te guiar e um sino para a tua atenção chamar”.

“Já que nesta época se fala em sentimentos nobres, nada mais adequado que valorizar a amizade. Uma mensagem não vale muito, mas a lembrança vale tudo”.

“Nunca desistas de um sonho. Se não houver numa pastelaria vai a outra ou come antes uma filhós”.

“Venho por este meio informar que já me encontro disponível para receber presentes de Natal. Aceito cheques, dinheiro vivo, transferências bancárias, roupa de marca, telemóveis topo de gama, automóveis Maserati, Volvo ou Austin Martin, e até vivendas de luxo. Atenção, não aceito nada da loja dos chineses!”

“Desejo que este Natal seja como a matemática: amigos a somar, inimigos a subtrair, alegrias a multiplicar e tristezas a dividir”.

“Estou a enfeitar a árvore de Natal mas falta-me uma estrela! Lembrei-me de ti”.

“Boas festas (de preferência pelo corpo todo)”.

“Este Natal queria dar-te uma prenda linda, fantástica, imprescindível, maravilhosa, autêntica, mas infelizmente… eu não estou à venda!!!

“Neste Natal não te esqueças da minha prenda e como o melhor da vida são as pequenas coisas. Podes oferecer-me: uma pequena vivenda, um pequeno iate, um pequeno Ferrari…”

“Não penses no passado porque já não o podes mudar. Não penses no futuro porque não o podes prever, não penses no presente porque ainda não o comprei”.

“Esta mensagem não é para aqueles de quem me lembrei, mas para aqueles que pretendo nunca esquecer”.
 

FELIZ NATAL
e
“Que o Natal não seja um dia mas uma vida”.

 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Post.it: Nada se apaga


“O mar vai apagar as nossas pegadas, mas não o facto de as termos feito”.
O tempo vai apagar a nossa lembrança, mas não o facto de a termos vivido.
O sol vai secar os vestígios da chuva, mas não o resplendor da natureza pela sua passagem.
O Outono vai levar as folhas das árvores, mas não a recordação da sombra que fizeram no verão.
O vento vai desfazer a solidez da rocha, mas não a sua capacidade de resistência.
A noite vai apagar o dia, mas não a vivacidade de cada hora.
A tristeza vai apagar a alegria, mas não a razão que a fez surgir.
A mágoa via apagar a felicidade, mas não a esperança de a reencontrar.
Porque o mar apaga a pegada mas não a areia que a moldou. Porque teremos sempre a vida presente em nós, no sol que nos ilumina, na chuva que nos faz renascer, nas sombras que nos refrescam o verão, no vento que nos leva algo mas que nos restitui coisas novas, no dia que adormece na noite, na tristeza que apenas antecede a alegria e na mágoa que nos ensina a receber de coração aberto, cada novo momento de felicidade.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Post.it: Estrela do Natal


Eu sei que és uma pessoa muito ocupada, que tens muitas solicitações. Que tens uma vida muito preenchida. Que queres chegar a todos mas não que consegues. Que mesmo quando não tens tempo para mim, não me esqueces.
Sei de tudo isso, mas hoje, só hoje. Só hoje que todos os corações estão mais abertos a acarinhar outros corações. Hoje que todos os abraços crescem para neles caberem todos os amigos.
 Por isso hoje, só hoje, peço-te apenas que me ofereças, um pensamento e sei que com ele acontecerá a magia do afecto, sei que esse pensamento se elevará numa corrente de energia, que chegará ao céu e que criará nele uma estrela especial, porque será feita de amizade, de carinho, de paz.
Mesmo que nesse dia não possas estar a meu lado, que não te possa ver nem escutar a mensagem desse pensamento, sei que ao abrir a janela o vou encontrar nessa estrela.
Como a distinguirei de todas as outras? Será fácil, porque ela é a mais bela, a mais cintilante, a mais luminosa de todas as estrelas do firmamento.
Acredita que o meu coração vai agradecer reconhecido esse pensamento transformado no melhor presente que poderia obter de ti, Pai Natal. 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Post.it: O chique e o choque


Como me enjoa ouvir certas expressões de “moda” ditas num tom anasalado. Mas relativizando lá vou brincando com essas “dondoquices” e referindo que também falo num tom chique desde que fui operada ao nariz.
 A verdade é que me irrita solenemente ouvir o vocabulário que impera na boca de pessoas que querem, porque querem, sentir-se enquadradas num determinado grupo social. Lá compreender, compreendo,  porque ninguém gosta de ser socialmente um “excluído”, mas sinceramente este tipo de atitude dá-me alguma “alergia nos neurónios”.
Então fingem-se ricos, novos-ricos ou meramente pobres envernizados, mas pouco polidos.
Vou escutando aqui e ali, um “ror” de palavras sem sentido. Outro dia fiquei surpreendida ao ler a crónica de um famoso escritor da nossa praça, usar com ligeireza a expressão “ror” que me causa horror pela anulação do “h”. Mas depois lembrei-me que o tal escritor, também devia ser chique e relevei.
Enquanto isso lá  vão também “comendo” os r(s), tratando-se por queridas, e por meninas enquanto os filhos chamam tias às mães da amigas, sem contudo não terem nenhum laço parental além disso são exageradíssimas em tudo.  Quanto aos “r(s) omitidos, não entendo qual a razão, talvez não seja considerada  uma consoante chique no nosso alfabeto, mas a verdade é que a sonoridade  confere-lhes um modo de falar à bebé. “Hoje quando ia pa casa encontrei a Maria, estava um ror de magra. A menina  não imagina como ela está, envelheceu mil anos!”
Este foi o diálogo que escutei numa rua chique da capital. Ri-me por dentro e pensei, “imagino a inveja que a menina não deve ter sentido”, mas tenho a certeza de que ela me iria logo responder, “Credo! Eu? De todo…”
Já pensei seriamente em procurar uma gramática de português com vocabulário chique, para me manter actualizada. Mas depois de começarmos a escrever em “brasileirez” será que ainda  vamos ter sacrificar mais a língua pátria?
Quantos dizem que a língua portuguesa é “traiçoeira”, quando me parece que é cada vez mais “atraiçoada”…

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Post.it: Tudo desaparece

O querer, os sonhos, desejos, a esperança, a exigência, a crítica, o orgulho, a arrogância. Os gestos, as palavras, o que lemos, o que escrevemos, o que ouvimos, o que vemos, os hábitos, os vícios. A espera, a demora. A ausência, a solidão. O nome, a roupa, o cheiro, a voz, as lágrimas, as gargalhadas, os silêncios, a revolta, as discussões, os medos, os ganhos, as perdas, as fotos, as lembranças, o ar que respiramos. Tudo, tudo desaparece, talvez por algum instante mais permaneça uma energia, um rasto de nuvem derramada pelo azul do céu, depois, depois apenas o esquecimento. Que alguns não querem esquecer, outros não querem lembrar.
Mas enquanto a vida nos pertence, cada madrugada, cada pôr-do-sol,  podemos sonhar, podemos desejar, lutar, conquistar, perder, ganhar, rir, chorar. Amar, Amar? Sim, quem sabe amar. Fazer o que não foi feito. Mudar o rumo, seguir em frente. Rescrever a nossa história, um novo passado, no presente que dentro em breve será ontem.
E apreciar cada instante, cada sopro de vento. Agradecer cada Primavera, mesmo que não tenha flores. Cada Verão mesmo que chova. Cada Outono, mesmo que as árvores não tenham folhas. Cada Inverno mesmo o seu gelo nos magoe o coração. Seremos gratos por cada dia, feliz por cada noite. Reconhecidos por tudo e por todos, os que estão e os que já partiram.
"A certeza de que um dia tudo desaparece dá-me a feliz expectativa de que ainda estando aqui posso, quem sabe, adiar um pouco mais, prolongar por um pouco  mais, a minha existência em ti".

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Post.it: O tempo do coração


O tempo passa, passa connosco, passa por nós. Leva-nos consigo, ou deixa-nos para trás. E mesmo quando o queremos parar, suspender, adiar para um momento melhor. O tempo prossegue alheio aos nossos desejos. Vai deixando em nós abraços que ficam no corpo, beijos que nos amaciam a pele, brisas que esculpem doçura no rosto. E um eco, que nos chama e incentiva a prosseguir o caminho. É um tempo que nos é exterior, que vai caracterizando os nossos dias, os nossos anos, que vai escrevendo na vida, a nossa história, a nossa permanência, a nossa passagem.
Mas dentro do peito, o tempo é imutável, permanece sempre idêntico, aconchegando o coração, amadurecendo-lhe os sentimentos, desenhando-lhe moléculas de esperança, e deixando fluir células alento. O coração não sente os dias marcados pelo decorrer mecânico dos ponteiros do relógio ou pelo despertar e adormecer do sol.
O coração marca o seu compasso pelo palpitar da vida que o faz acreditar que antes que a última badalada lhe soe na alma encontrará uma razão para ter permanecido sereno e guardião de um querer que um dia sentirá reciproco. Quando vai ser? O coração não questiona, continua a bater, continua a sonhar, continua a esperar. Porque para o coração não existe tempo.
 E mesmo que esse tempo corra lá fora, que o verão com o seu calor abrasador lhe  queira derreter a firme vontade, que o gelo do inverno o queria congelar, que a chuva o queira levar nos seus rios de esquecimento, nada pode apagar da memória do coração o nome daquele outro que ficou inscrito no ADN do seu  viver.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Post.it: Bússolas


Há pessoas que são como uma bússola, indicam sempre o “norte”, seguem sempre numa direcção, a sua direcção. Alguns dirão que o fazem por teimosia, por incapacidade de seguir para “sul”, por medo de escolher o “este”. Mas eu admiro-as, porque elas têm uma certeza inabalável de que aquele é o seu caminho. Pode não ser isento de mágoas, pode estar recheado de derrotas, mas não desistem de lutar, porque têm um objectivo, uma certeza, um fé. Porque só com fé se atravessam mares de lágrimas sem se afogar nelas. Só com fé se erguem depois de cada queda. Só com fé não cedem aos convites de seguir por caminhos aparentemente mais fáceis mas que se revelam incapazes de nos levar até onde queremos ir. Admiro estas pessoas, porque têm um rumo a seguir, uma missão a cumprir, uma verdade que é sua e uma coragem que, não sendo invencível, supera as batalhas perdidas, erguendo-se todas as vezes que forem necessárias e prosseguem no mesmo destino com a certeza de que é o seu.
Depois há os outros, os que vivem sem “norte”, que saltitam de direcção a cada entrave, que buscam a felicidade a “sul”, que se dirigem para “este” ``a procura de um pouco de estabilidade, mas já o vento de “leste” os impele para “sudoeste”. A sua “bússola” permanece inquieta, porque não encontram um magnetismo que as prenda em terra firme, qualquer brisa as empurra, ora para o “céu” ora para o “abismo”.
Suponho/espero que também elas um dia encontrarão o seu “norte”, a sua força, a sua fé e possam deixar de procurar na distância esse lugar que está algures, tão perto…

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Post.it: Mulher moderna...


“Sou uma mulher moderna” diziam os seus lábios com um sorriso, mas de olhar triste. “Sou uma mulher moderna”.  insiste em dizer-me.
“É verdade que o sou enquanto acendo o computador na sala enrolada num cobertor, onde enrolo a solidão, enrolo o silêncio. Sou uma mulher moderna” Repete como se quisesse convencer dessa verdade sem que isso a magoe. 
“Porque o sou, quando clico no teu nome e te deixo invadir a minha vida, com frases, com imagens. Fazes-me rir, mas também chorar”. 
Fazes um silêncio, aposto que estás a tentar pensar que és uma mulher moderna mesmo quando vives as emoções apenas através de um monitor.
Já não pede mais do que isso, habitou-se. Como ela diz, num to de voz que não me convence. “Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Afinal pode ver o rosto dele através de web câmera. Meio desfocada, é verdade, mas  imagino por momentos que está em Marte e que por isso, só por isso não o posso receber na minha sala, embrulha-lo no meu cobertor…” 
“Escuto a sua voz, apesar de me soar diferente, de serem audíveis algumas notas desafinadas pela tecnologia. Reconheço a sua voz, cada vez com maior dificuldade, apenas com o esforço rebuscado da longínqua memória.”
Olha-me com o olhar vazio, vazio de esperança, encolhe os ombros e aceita essa realidade que passou a ser a sua. “A única possível” diz, sem acreditar muito nisso.
“Além disso, sou uma mulher moderna, posso muito bem  habituar-me à ideia de que a distância não existe, que o afecto navega através de cabos, que desliza na fibra óptica, que voa até aos satélites vizinhos das estrelas e que depois de toda essa viagem, entra-me  de mansinho no coração.
 Já não bate à porta como antigamente, já não faz serenatas na janela, entra simplesmente quando carrego num botão. Mas continua a ser amor, o amor de uma mulher moderna.”
Com um coração “à moda antiga”, quero dizer-lhe, mas não digo. Ela também o sabe. Sabe que para além do “ver” tem saudades do “sentir”. Precisa sobretudo de ter uma  vida real que lhe preencha o vazio que fica dessa realidade virtual. 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Post.it: O menino que brincava com o olhar


Brinca com o olhar e das nuvens faz histórias, transforma-as em casas, em carros que passeiam no céu, em animais que se vagueiam no azul celeste. Nos dias de inverno o céu encoberto obriga-o a compor outras fantasias, então desce o olhar e encontra nas árvores novos amigos.
Das folhas caídas faz desenhos, que o vento como se fosse um menino mal comportado desmancha num sopro. Mas depressa fazem as pazes e o vento mais calmo devolve-lhe as folhas roubadas depois, em conjunto fazem novas construções. Com as pedrinhas faz caminhos que o levam para um local onde brincar é obrigatório e todos os meninos têm brinquedos coloridos, que ele não tem. Por uns instante um brevíssimo instante, uma tristeza quer invadir-lhe o olhar.
Mas a brisa rapidamente dissipa as nuvens cinzentas e o sol volta a brilhar. O  vento bate-lhe na janela.
– Vamos brincar?
– Sim, vamos, mas brincamos a quê?
– Eu esculpo com um sopro aquela nuvem e tu adivinhas o que ela representa.
– Está bem, podes começar. E assim o menino que brincava com o olhar continuou a voar na sua imaginação e a partilhar uma amizade com o vento. Porque mais importante que ter brinquedos é preciso saber brincar, mesmo que seja apenas com o olhar e a fantasia.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Post.it: Um Natal sem "presentes"


Se eu me tivesse portado bem durante o ano, neste Natal o Menino Jesus certamente me traria todos os presentes que desejo. Se eu me tivesse portado bem durante o ano, não precisaria de pedir porque certamente teria esses presentes conquistados.
Mas reconheço que pensei mais em mim, que estive sempre demasiado ocupada para ti. No entanto, bastava um telefonema, um e-mail, ou até uma pequena sms e neste Natal receberia de ti um sorriso luminoso.
Bem sei que adiei os nossos encontros, as nossas conversas de café, escondi-me nas minhas dores para não escutar as tuas. Quando bastaria uma tarde de sábado, de domingo, de um dia qualquer, afinal o anos tem tantos. E neste Natal teria a tua presença na minha festa, na minha vida.
Quantas vezes te deixei para amanhã e esse amanhã nunca chegou. Claro que tinha razões, sempre as mesmas, a falta de tempo, mas no fundo são apenas opções que se fazem e eu fiz as minhas. Por isso neste Natal não faço parte das tuas escolhas para partilhares comigo o teu Natal.
E a ti que não fui visitar quando estavas doente, quando estavas carente de um abraço? Porquê? Nem eu sei. Sei apenas que fui desejando que melhorasses mas não participando nessas melhoras. Por isso neste Natal não vou receber o teu abraço caloroso, aquele que ficaste à espera que eu te desse.
Neste Natal não vou receber presentes, por causa da crise. Essa crise que por vezes invade os sentidos, uma crise de esquecimento, uma crise de indiferença, uma crise de egoísmo.
Não me portei bem este ano, por isso não me posso queixar da crise de carinho, da crise de solidão que vou sentir neste dia. Neste Natal em que o meu pinheiro não vai estar enfeitado com luzes de esperança. Pela minha chaminé não vão entrar “presentes” de afeto. E todas as melodias de Natal se vão calar ao passarem à minha porta.
Não posso voltar atrás no tempo, não posso mudar o passado, mas posso prometer ao futuro que vou tornar todos os dias um permanente Natal, com presentes de amizade e amor para que no próximo Natal a minha árvore brilhe de sorrisos. 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Post.it: Cabelos brancos


Ainda me lembro de te ver no rosto liso, um olhar terno, um sorriso luminoso emoldurado por uns cabelos negros que dançavam permanentemente ao vento, mesmo quando não havia vento. Surpreendia-me sempre esse esvoaçar. 
Então imaginava que não caminhavas, que flutuavas com  rapidez, essa rapidez que te impunhas para generosamente responder aos meus apelos infantis.
O tempo passou e eu nem percebi, por isso não me lembro quando os teus cabelos começaram a ficar raiados de branco, de imediato imaginei que eram pipocas a saltar em cada fio. E de repente, como que num passo de magia, todos os teus cabelos ficaram brancos como se um manto de neve os cobrisse. 
Estremeci, assustei-me com aquela imagem, mas o teu rosto que já não é liso revelou-me o mesmo sorriso, o mesmo olhar terno e ofereceu-me aquele abraço quente que reconheceria único no meio de muitos outros. 
Com o peito inquieto perguntei, pintaste os cabelos? Com voz cantante na memória dos meus embalos, respondeste, “Não os “pintei”, pintou-mos a dor”.
Então chorei baixinho e de imediato, amei-os.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Post.it: Coisas da manhã


Já ouço a madrugada a cantar canções de alvorada. Já ouço o sol a espreguiçar os seus raios. Já ouço o bocejo das estrelas ensonadas de uma noite inteira a cintilar. Já ouço as horas na sua marcha compassada, trazendo atrás de si o ponteiro  saltitante dos segundos que querem, porque querem,  apanhar os pachorrentos minutos.
Já ouço o rio que parece mais feliz no despertar de mais um dia. Já ouço os pardais chamando os amigos para irem brincar e fazerem, o que fazem os pardais? Pardalices, responde prontamente o meu sobrinho que já soletra o b,a, ba e por isso se sente um mestre no conhecimento da natureza. “Pardalices”? Aceito. 
Já ouço na rua as crianças que saltitam na sua felicidade infantil de quem não tem ainda obrigações, e pode continuar a fazer o que sabe “criancices”, adianto-me ao meu sobrinho que já abria a boca para dar um ar da sua graça. Então rimos, sem saber porquê e abrimos a porta de casa para entrar definitivamente no dia que nos espera lá fora,  antes que a noite regresse com a sua negritude e nos faça pensar, “tolices”...



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Post.it: Dezembro mês do Natal


No calendário os dias sucedem-se constantes, terminam as férias e de repente num aparente salto cósmico já visualizamos o mês de Dezembro,  a chuva, o frio, mas também a lareira ou o cobertor que nos conforta como se fosse um amigo sempre disponível.
Mas Dezembro tem mais, muito mais do que isso, tem aniversários,  o pagamento do seguro do carro, o subsídio de Natal (ou talvez não) e claro o Natal e Final de Ano. Mas falemos do Natal, já nos imagino a contorcer num desconforto que não sabemos ou não queremos explicar. 
Por outro lado encontro nas crianças uma reacção completamente oposta. Um sorriso radioso, um novo brilho no olhar e em saltinhos irrequietos lá vai perguntando, “o que me vais dar no Natal?" “Compras-me aquele brinquedo que vi na televisão?”. A sua felicidade magoa-nos, por mais que nos queiramos esquecer e afastar deste momento a sombra da “crise”, não conseguimos, ela espreita-nos em cada canto da nossa vida, no emprego cada vez mais precário, nos direitos que nos são sonegados, nas obrigações que nos exigem, mas também nos magoa não conseguirmos corresponder às expectativas daquele pequeno ser que deposita em nós a confiança de um Natal repleto de sonhos concretizados.
Os dias encurtam a distância e o calendário já não nos oferece a surpresa diária que recebíamos quando abríamos o quadradinho e descobríamos nele um pequeno chocolate, prelúdio de uma festa que se anunciava feliz. Agora cada dia perscrutamos no túnel que se adensa uma solução que não nos surge e no entanto, quando o peito se aquieta, podemos descortinar lá bem no fundo uma pequena luz. 
Então começamos a perceber que o Natal se sobrepõe ao sentido material que lhe conferimos. Que o Natal é sobretudo um estado de espírito,  que Natal significa nascimento e que em nós devia significar renascimento da esperança. 
Porque o Natal deve ser vivido no coração e repartido em amor por todos à nossa volta. Afinal o amor não custa dinheiro, os abraços são grátis, a alegria não paga imposto e a amizade presente vale mais que uma ausência repleta de presentes.
Então sento-me no chão da sala e se neste Natal não existirem brinquedos novos, vamos brincar juntos com os velhos, criando com eles novas histórias.



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Post.it: Fernando Pessoa

Foi dia 30 de Novembro, mas nem sempre a memória está em consonância com a lembrança, essa lembrança que queremos viva, antes que a memória a apague.

“Morrer é difícil, mas consegue-se”,  esta  ironia de Ernest Jünguer tem um fundo de verdade, “porque às vezes, não se consegue…”
Quem pode calar estas palavras que dão sentido ao caminhar? “Às vezes ouço passar o vento; e só de  ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”. Quem pode silenciar na infinitude do tempo, esse poeta que “é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente”. Ou apagar da memória que nos embala e faz crescer  sem deixar de sonhar porque “Matar o sonho é matar-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é que temos de realmente nosso”.
É esse sonho que nos permite avançar no mundo, ter pensamentos, “que se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens”.
Um  “Amor, quando se revela. Não se sabe revelar. Sabe bem olhar para ela. Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente. Não sabe o que há-de dizer. Fala, parece que mente. Cala, parece esquecer”.
Morrer é difícil quando a sua herança literária continua no nosso coração pátria. “ò mar salgado, quanto do teu sal. São lágrimas de Portugal. Por te cruzarmos, quantas mães choraram. Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar. Para que fosse nosso, ó mar”.
E sempre essa mensagem, terna e profunda que nos fica a acalentar os sentidos, e a pergunta é latejante no peito será que vale a pena?
A resposta vem pronta e repleta de sentido:
“Tudo vale a pena. Se a alma não for pequena”