sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Post.it: Se és meu amigo


Se és meu amigo, aprende a olhar-me,

Quando me olhares, vê com o coração,

Não vejas só  se visto roupa cara,

 Ou se uso o calçado da moda,

Se o meu rosto está enrugado,

 E o cabelo cada vez mais grisalho.

Vamos, põe-te no meu lugar,

 Pois podias ser eu e um dia,

 No futuro seremos parecidos .

As oportunidades que tiveste,

A mim foram-me negadas,

A minha luta foi solitária,

Sem encontrar outra solidária.

Olha-me com algum respeito,

Se poderes, com alguma consideração,

Não te chego a pedir, com carinho.

Sou teu companheiro do caminho,

Olha-me, com compaixão,

Somos humanidade e olhar todos,

Sem julgar, sem condenar,

Apenas acolher, apenas aceitar.

Olha para mim, diz-me bom dia,

Mesmo que seja sem alegria,

Tenho um coração como o teu,

Capaz de fazer o bem e de amar.

Sentimos a chuva sob o mesmo céu,

Iluminados pelo  mesmo sol a brilhar.



sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Post.it: Vamos ser melhores para melhorar

Chegou, instalou-se, senta-se à mesa connosco, deita-se connosco na cama. Passeia ao nosso lado, nós de rosto coberto por uma máscara, ele sorrindo, sem máscara, sem restrições. 

Nós mantendo-nos à distância dos outros, sem intimidade, sem afetos. Ele aproxima-se de nós, cola-se à nossa pele, entra-nos pela boca, narinas, viaja-nos pelo corpo, adoece-nos e nos casos mais graves sufoca-nos o ar, rouba-nos a vida. 

Tudo começou no princípio de 2020, pensámos que seria uma presença breve, obedecemos a todas as regras, aceitámos as restrições dos políticos, acreditámos nos médicos, confiámos nos cientistas, mas passado quase um ano depois, o cansaço tomou conta de nós, minou a nossa confiança, diminuiu a nossa esperança. 

Começamos a descrer nos políticos, sentimos que nos roubavam a liberdade e em troca não nos davam provas de que o nosso sacrifício trazia resultados positivos e concretos. Os médicos também cansados, também perdidos nos seus limites profissionais não nos dão soluções. Os cientistas traçam quadros cada vez mais catastróficos e nós que antes ficámos quietos, cresce-nos uma inquietação, um desejo de viver antes que a vida nos seja sonegada. 

A rebeldia é a manifestação do nosso cansaço, do nosso medo, do nosso desespero. Ficamos invadidos por ideias negativas, e se isto nunca mais acaba? E se nós não aguentamos? E se o pais entra em falência financeira? E se o mundo entra em colapso? Só temos uma certeza, o hoje, por isso quebramos as regras, vamos para a praia, vamos visitar a família, vamos abraçar os amigos, vamos respirar sem máscara, nem que seja só hoje, porque o amanhã é uma incógnita. 

Este é um lado da nossa maneira de ser, mas há o outro lado que nos faz levantar em cada manhã e lutar, fazemos da descrença a nossa crença e de cada dia que nasce a nossa esperança. Vamos vencer, ouvimo-nos a dizer, sentimo-nos a pensar, ou simplesmente a desejar, leve o tempo que levar. Enquanto houver políticos a tentar encontrar soluções, enquanto houver médicos a tentar curar-nos, enquanto houver cientistas a tentar descobrir uma forma de nos tornar imunes a este vírus, enquanto houver pessoas a trabalhar para que existam bens essenciais, enquanto houver vizinhos, amigos, familiares, desconhecidos que unidos numa distância segura se entreajudem. 

A humanidade é isso mesmo, cooperação, fraternidade, resistência. O futuro? É a certeza de cada dia, na coragem de cada hora, para tornarmos cada agora um caminho para o amanhã. Vamos derrotar o vírus com a nossa força, solidariedade e capacidade de subsistir. O vírus pode tapar-nos o sorriso, mas continuaremos a sorrir mesmo por detrás da máscara, porque somos cada um à sua maneira, sois de esperança que brilham e aquecem a vida.



sábado, 16 de janeiro de 2021

Post.it: Isolamento profilático

Estive em isolamento profilático porque uma colega testou positivo, resumindo quase tudo correu mal mas acabou bem... 
Basta-vos saber isto ou querem conhecer as aventuras e desventuras desses 14 dias? A data foi um tiro certeiro nos meus planos que já de si eram condicionados. Pensei que iria fazer a Passagem de Ano em casa, com a minha mãe e o cão em frente ao televisor, neste momento a única porta para o exterior, mas quando me telefonaram do emprego na tarde do dia 31/12/2020, tudo mudou. Telefonei de imediato para a Saúde24 que me atenderam em poucos minutos de espera. Dei todas as informações e ouvi uma infinita lista de perguntas a uma velocidade de quem repete tudo isso mil vezes ao dia, no mínimo. Depois enclausurei-me voluntariamente no quarto e comecei a organizar-me, para esse pequeno espaço levei uma exígua dispensa de bens alimentares, fruta, bolachas, café e sumos, além dos utensílios necessários, prato, caneca e talheres, sem esquecer a máquina do café, claro! 
Assim passei a meia-noite, assim entrei em 2021! Sem festejos, sem champanhe, sem passas, sem beijos e abraços. Depois começou a minha nova rotina, a minha mãe colocava um banco em frente à porta do quarto, afastava-se e de seguida eu colocava o tabuleiro com o prato, minutos depois retirava-o já com o almoço dentro dele. Isto é, se concilia-se-mos bem o pôr da comida e o retirar do tabuleiro, porque no entretanto, o meu cão podia surripiar habilmente o hambúrguer, o bife ou a perna de frango, consoante o dia, deixando-me generosamente os legumes ou o arroz. Estes foram os momentos hilariantes. 
Os emotivos, era falar com a minha mãe só através do telemóvel ou ainda ver o meu cãozinho ao longe e não poder fazer-lhe festas, ouvia-o a raspar na porta, a pedir que o deixasse entrar para brincarmos juntos. 
Poucos dias depois comecei com sintomas, febre, dor de cabeça e tosse, seria covid-19? Aí é que as coisas se complicaram, a solidão, a dúvida, o receio de estar infetada e poder contagiar a minha mãe apesar de todos os cuidados e distanciamentos. Alertei a Saúde24 através de email, sem resposta, ninguém me telefonou do SNS, insisti, telefonei para a Saúde24 ao fim de 40 minutos de espera atenderam, simpáticos, mas simpatia não me ajudou em nada, disseram que iam mandar uma sms para ir fazer o teste à Covid-19, essa sms nunca chegou. Enviei email para o Centro de Saúde, nada me disseram. 
Ao fim de 6 dias e alguma insistência, mais 40 minutos de espera para ser atendida na Saúde24 onde me perguntaram se terei dado mal o meu contacto telefónico e relatei-lhes ironicamente que a sms a informar-me sobre a possibilidade de votar à distância chegou para o nº correto, mas a que me permitia fazer um teste de despistagem nunca chegou. Depois de escrever novo email para o Centro de Saúde, por fim ligaram-me, uma médica simpática, mas somente isso, disse que ia mandar uma sms para ir fazer o teste, mas mais uma vez a mensagem não chegou, disse para eu lhe mandar um email dentro de 30 minutos se a sms não chegasse, segui a sua indicação, mandei um  passados 30 minutos, e mais um passada 1 hora, e outro passadas 3 horas, todos sem resposta. Já irritada com a situação avisei que ia pessoalmente ao Centro de Saúde buscar a credencial. 
Saí do isolamento, meti-me no carro e lá fui,  no Centro de Saúde chamaram-me criminosa, que devia ser presa, a médica por fim apareceu e disse-me que tinha estado toda a manhã em consulta, esquecera-se que me tinha dito para enviar um email e nunca foi verificar o correio electrónico. Afinal quem era a criminosa? De papel na mão fui marcar o teste, nada feito, tinha de ser pelo telefone. Telefonei, dei os dados e marquei. No dia seguinte fui fazer o teste, disseram o meu nome mas o apelido estava errado, a morada e data de nascimento não coincidiam, mas o teste foi feito ao fim de 10 dias. Às 5 da manhã veio a notícia, tinha dado negativo. Seria verdade? As dúvidas mantinham-se, os sintomas mantinham-se, a solidão mantinha-se.
hoje,  lá no fundo, bem no fundo, num lugar onde arrumamos as coisas sem solução, ainda há perguntas por responder, terei estado em algum momento positiva? E uma certeza magoada, podia ter corrido melhor se todos além da simpatia tivessem mais...
15 dias depois fui trabalhar. 15 dias senti que já estava em 2021, uma entrada sem festejos, sem planos, sem desejos, não houve tempo para isso. Sai do isolamento e entrei directamente no confinamento.
“Enquanto o sol nos brilhar mesmo nos dias de chuva, colheremos com o olhar cada flor da Primavera”.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Post.it: A oportunidade de se desiludir

Desilusão, que palavra dramática para ser a primeira de um novo ano, mas se lhe retirarmos toda a carga emocional, se a encararmos de frente, sem medos, concluímos facilmente que a desilusão não existe.

 “Aprendi que a desilusão é uma das piores dores! Pois ninguém se ilude com aqueles que conhece, mas sim com os que pensa que conhece.”

“A maior desilusão de uma pessoa é acreditar num amanhã que nunca possa chegar.”

“Desilusão é viver de fantasias em vez de aceitar a realidade.”

“Foi a certeza abstracta que me fez chegar a uma desilusão.”

“Talvez desilusão seja o medo de não pertencer a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido.”

“A intensidade da desilusão é proporcional à amizade, ao afecto, ao amor e ao carinho que você tem por quem lhe causou tal dor.” 

“Desilusão é o final da ilusão que criámos em nós.”

 “Desilusão é a verdade que vem quando constatamos que tudo não passava de uma ilusão.” 

“Na desilusão à uma falsa sensação de perda quando na realidade é a luz da verdade.” 

“A pior coisa que há é a ilusão, leva-nos por caminhos falsos, ainda bem que há a desilusão para nos atirar para o caminho certo.” 

“Quando me perguntam - Já alguém te desiludiu? Sorrio e respondo - Não eu é que me iludi muito.”

Aqui estamos temos um ano inteiro à nossa frente, à espera que caminhemos nele, que o tornemos algo de bom. A desilusão pode magoar, mas viver sem acreditar, sem esperança, sem expectativa, sem sonhos nem ilusões é viver uma vida vazia. 

Por isso, vamos aprender com cada desilusão, com cada dor e que elas nos fortaleçam e que nos lembrem a felicidade que foi sonhar cada sonho.

A ilusão pode resultar em desilusão, não a guardem no peito, façam-na voar e transformem-na numa oportunidade de recomeço. 

E que tenham um Feliz Ano em 2021.