quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Post.it: Tecla amiga

Quando a solidão nos invade o coração. Quando buscamos a mais improvável solução. Surge do nada, neste mundo de inconstância, este “olá”. Enche-nos de questões, expectativas e desafios. A conversa flui amena, pouco a pouco aproxima-se de nós, revela-se, cresce em fantasia, esvoaça na nossa imaginação. Ainda não tem rosto, nasce primeiro o esboço da personalidade. Contextualiza-se, afirma-se, envolve-nos num élan de atractivo mistério. Esse mistério que se esconde e simultaneamente revela-se sem medo protegido na capa do anonimato. Aprendemos a ver um sorriso, porque as palavras também riem. Lemos tristeza, quando as palavras parecem gotas de orvalho. O tempo vai deslizando por entre as teclas, os dedos agitam-se no desejo de chegar mais perto. De traduzir emoções, de partilhar momentos. O frio ecrã ganha calor humano. Surge nele um rosto difuso de contornos que as palavras vão desenhando. Linhas onde escrevemos quem somos ou quem desejaríamos ser. Parágrafos que vão crescendo em ternura. Surge uma vontade inevitável, aquela que pensávamos nunca iria sobrevir, quando dizíamos aos nossos pensamentos “é apenas uma amizade virtual, que começa e acaba no desligar dum botão”. Agita-se a emoção, já não bastam as palavras que nos salpicam os dias de flores. Precisamos de ver esse jardim, sentir-lhe o perfume,  ver-lhe as cores, sentir-lhe o calor. O convite surge espontâneo, “que tal tomarmos um café?”. A resposta demora, enquanto ficamos suspensos do visor vazio. O tempo adquire laivos de eternidade. Surge a mensagem, que não responde àquela questão. Fala como se nem  tivesse lido a tímida proposta.
Como terá sido o momento do outro lado? Daqui, apenas um suspiro. A decepção envolta em aceitação. Por um instante, um breve instante, aquele em que começamos a acreditar que o impossível pode tornar-se possível, sonhamos, voamos, desenhamos esperanças por entre as nuvens. Depois roubam-nos o sonho e a realidade volta a ser virtual, enquanto nós voltamos à nossa simples condição de tecla.

11 comentários:

  1. Anónimo16.2.11

    Minha amiga, jamais conseguiria ser para ti uma simples tecla amiga. Preciso de ver o teu sorriso traquina. Preciso de escutar a tua voz que me acalma e anima. Beijocas C.

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  2. Anónimo16.2.11

    Nunca fui fã das novas tecnologias em termos de contacto humano. Gosto tanto de tomar um café em boa companhia, de olhar nos seus olhos, de ouvir a sua gargalhada, de lhe pegar nas mãos e brincar com os seus dedos. Amizade virtual não faz o meu género. Bjs Amália

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  3. Anónimo16.2.11

    Porque não me convidaste a mim para um café, estou sempre disponível e como sabes sou bem real.Bjs Rui

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  4. Anónimo16.2.11

    Apesar do tema ser a virtualidade. Digo-lhe que gostei da humanização que lhe deu. Não sou pessoa de procurar esse tipo de amizades, tenho sempre a sensação que têm mais de falsidade do que de verdade. O anonimato permite tudo e ouço tantas histórias que me fazem ficar temerosa. Mas era bom que tal fosse possível para que as pessoas mais solitárias encontrassem uma verdadeira tecla amiga e quem sabe tomarem juntas um café. No meu caso prefiro um chá.Beijos grandes Adelaide

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  5. Anónimo16.2.11

    Vejo que a tua capacidade de escrita vai para além do real, consegue também compreender o virtual. Já tentei algumas vezes navegar um pouco nas redes sociais, mas os contactos não permaneceram para além dos já existentes. Tenho a sensação que as pessoas contam tantas histórias sobre si, que depois já não podem encarar a realidade na presença do outro.Bjs José

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  6. Anónimo16.2.11

    Belo texto, o tema deixa-me um pouco perdido, não me movimento muito bem nesses meandros. mas a forma delicada, sensível e doce com que descreve as emoções que podem advir deste contacto é muito bonita.Um abraço, Antero

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  7. Anónimo16.2.11

    Gostei, adorei, fez-me pensar. Não sei se seria capaz de iniciar uma amizade virtual, para além do óbvio receio sobre quem está do outro lado. teria muita dificuldade em revelar-me a um estranho.Bjs Leonor

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  8. Anónimo16.2.11

    Minha amiga, estou ao teu dispor para um café sempre que precises dum abraço, ou mesmo quando quiseres apenas deitar conversa fora. Mas sobretudo deixa-me dizer que gostei muito desta tecla amiga.Bjs A.

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  9. Anónimo16.2.11

    Gostei, quase visualizei, a tristeza daquela tecla :-( Bjs

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  10. Anónimo16.2.11

    Gostei muito do teu texto. Gosto particularmente dos teus textos porque me fazem refletir e utilizá-los muitas vezes como exemplo de pensamento saudável. A realidade virtual, é uma tentação, e um perigo para os que se deixam envolver demasiado e facilmente acreditam em tudo o que lêem. Seria bom que tais perigos não existissem, porque seria uma forma de suavizar a solidão de muitas pessoas, quando este é o único meio que lhes permite chegar aos outros. Que por doença ou solidão encontram neste meio a sua realidade. O aconselhável que se tenha sempre presente esta ideia e não acreditar em tudo o que lê ou ouve. Nem entrar em pormenores da sua vida privada que o possam comprometer. Bjs, Sandra B.

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  11. Anónimo16.2.11

    Gostei muito desta tecla amiga. Gostava de ser essa tecla, não dava pra tomar um café, mas um dia quando for a Portugal e quem sabe nos encontrariamos? Foi uma ideia muito bonita este titulo, adorei tanto dessa teclinha a quem roubaram os sonhos. Quem teve essa coragem? Aposto que você é uma teclinha muito linda. Beijos Marina

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