segunda-feira, 28 de novembro de 2022

A velha senhora

Já foi jovem, cheia de vivacidade, conheceu a vida e a vaidade.

Já teve a pele esticada. Já amou e foi amada.

Com cabelos cheios de sol luzidio, onde a neve um dia caiu.

Teve rios no olhar, foram tantos, ninguém os viu.

As mãos cheias de calor, o coração repleto de amor.

Pariu filhos, ensinou-os a crescer, partiram, deixou de os ter.

Ofereceram-lhe flores, algumas com duros espinhos.

Pintou doces sonhos, palmilhou áridos caminhos.

Chata, rabugenta, cada vez com menos memória.

Por vezes triste, cada vez com menos história.

Agora chamam-lhe a velha senhora.

Enxotam-na da vida, indicam-lhe a estrada a fora.

Não que tenha feito algo de errado.

Mas é para cada um o espelho do futuro reservado.

 




 

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Post. Um olhar pela janela

O mundo tal como o vejo causa-me dor. Já não se sonha porque não se dorme. Já não se tem esperança a não ser quem é criança. O amor já não se dá em vez disso exige. E mesmo quem gosta de nós quer que sejamos aquilo que precisam. Já não há diálogo, mas muitos monólogos. Já não há a verdade comum, cada um tem a sua.

E as ruas em que cada um prossegue são de sentido único, sabe-se lá para onde. Sabe-se lá de onde. Quem me dera saber onde tudo perdeu o sentido. Onde ficou o coração perdido. Onde o olhar ficou sem norte. E tudo se tornou uma fuga para a sorte. Quem me dera ir ao encontro desse desencontro e quando lá chegar, criar raízes que o vento não consegue arrancar.

Meto a chave na porta, respiro o ar das paredes, o coração ameniza-se, cheguei ao meu lar. O cão salta em meu redor, baixo-me, ele lambe-me o rosto. Há uma pureza, uma humildade nos animais de estimação que nós, humanos, há muito perdemos.

O mundo continua a ser feio com coisas belas. Cheio de portas fechadas e olhares a espreitar pelas janelas.



segunda-feira, 14 de novembro de 2022

O que faz a guerra


Não são as armas que fazem a guerra,

Mas quem as dispara.

Não são os homens que fazem a guerra,

Mas os corações magoados.

Não é ódio que faz a guerra,

Mas a falta de amor.

Não é o medo que faz a guerra,

Mas a falta de perdão.



sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Post.it: Sou como sou

Ninguém consegue perceber a dificuldade de ter nascido sem sentido de orientação. Riem-se, duvidam que seja tanto assim, achavam que era uma forma de preguiça. Cheguei a comprar um GPS, diga-se, que era tão trapalhão quanto eu. 
De forma resoluta, pensei, não é defeito, mas a minha maneira de ser. Resolvi vivê-la, senti-la e acarinhá-la. 
Agora costumo dizer: Consigo perder-me em qualquer caminho seja ele longo ou curto. Consigo perder-me em casa. 
Consigo perder-me no meu quarto. 
Consigo perder-me dentro de mim. 
Já me entristeceu, mas então percebi, de tanto me perder, quem sabe um dia me encontre.
Sou assim, é a minha história de vida, é verdade que por vezes, não sei o que fazer do que vivi, histórias que me contaram, histórias que escrevi, a história do que sou. 
Talvez as deite fora. 
Para quê encher a vida de memórias quando o futuro está à minha espera para o escrever? O que passou já não se pode mudar. 
O que está a acontecer é demasiado rápido para o fazer melhor. 
Resta o que ainda acontecerá, tentarei fazer do amanhã um sorriso que valha apena guardar e um caminho que me leve até onde conseguir ir.


sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Post.it: O surgimento da vida


Se tivesse que explicar o surgimento da vida.

Uma molécula disse sim a outra molécula.

A abelha conheceu a flor e fez dela o seu amor.

A andorinha voou e por outra se encantou.

O João e a Maria amaram-se mais ainda naquele dia.

O peixinho que no mar nadou no amor mergulhou.

O canguru a pular soube uma canguru conquistar.

A árvore e o vento dançaram e as sementes desabrocharam.

O sol brilhou para a lua e cada estrelinha a história continua.

O dia e a noite cheios de saudade deram ao mundo a tarde.

A rocha e a água numa maré cheia abraçados criaram a areia.

O rio ia triste na sua viagem encontrou a alegria numa margem.

O mundo de tão só, procura uma galáxia para dar o nó.



sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Post.it: Palavras ao vento

É preciso que as palavras encontrem eco nas ações. Que ganhem asas e se tornem pássaros de esperança. Que não se fale o que os ouvidos querem ouvir mas que se tornem os gestos que o coração quer sentir. 
Sejamos mais que um texto alinhado por uma fonética que vai muito além do som que se espalha pelo ar. É preciso que a viagem sonora encontre um lugar onde se aconchegar e ganhar solidez. 
Já não me confortam as frases feitas, chega de clichés, basta de dizer só porque que é bonito! 
Preciso acreditar. Preciso sentir. Preciso de encher o peito de um ar que aquece. Preciso que os dias ganhem sentido. 
Preciso que o caminho seja mais do que chão. Preciso receber o pão a fumegar, que deixou de ser apenas farinha, água e fermento quando unido e amassado pelas mãos da verdade, pelo calor da solidariedade. 
Preciso de preencher o vazio que me deixas quando me elogias com palavras que deitas fora logo a seguir. E eu fico sozinha sem saber quem sou em ti. 
Por vezes, apetece-me gritar. Cala-te! 
Talvez, só assim te consiga escutar. Vai-te embora! 
Talvez, só assim, te consiga encontrar. 
Depois, percebo que não és só tu que age assim e quedo-me triste. 
A verdade implora por paz, mas a guerra, seja ela qual for, está a ganhar.



sexta-feira, 14 de outubro de 2022

O mais necessário

O dia mais belo: hoje
A coisa mais fácil: errar
O maior obstáculo: o medo
O maior erro: desistir
A raiz de todos os males: a indiferença
A distracção mais bela: o sonho
A pior derrota: a desilusão
Os melhores professores: a natureza
A primeira necessidade: sorrir
A primeira necessidade: sorrir
A primeira necessidade: sorrir
O pior defeito: a intransigência
O pior sentimento: o rancor
O presente mais belo: o perdão
o mais imprescindível: a paz
A rota mais rápida: o caminhar
A sensação mais agradável: a tranquilidade
A maior protecção efectiva: o abraço
O maior remédio: o optimismo
A maior satisfação: o dever cumprido
A força mais potente do mundo: a fé
As pessoas mais necessárias: os que amamos
O que traz felicidade: fazer o bem
A pessoa mais perigosa: a fingida
A mais bela de todas as coisas: O AMOR!
 

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Post.it: Meditar

 
Tão simples, tão difícil. Simples porque basta, sentar e ficar assim quieta, a respirar. Difícil porque é difícil parar, sentir e ficar ali sem fazer nada, quando o corpo nos quer fugir para outras tarefas, quando o pensamento se torna um pássaro a querer voar para tantos outros lugares. Ficar calmamente ouvir o bater do coração quando geralmente somos impulsionados pelo o tic tac do relógio.

Assomam-nos dúvidas, eternas perguntas; será que vale a pena, vai mudar algo em nós, estaremos a fazer tudo da forma correta, para quê, porquê? Queremos respostas rápidas, efeitos imediatos, precisamos sentir que resulta, necessitamos sempre de certezas, caso contrário, desistimos. Chega de perder tempo. Esse tempo que nos é sempre tão curto e rápido no seu passar.

Temos de ser determinados, optar, decidir o que queremos, simplesmente, porque queremos. Se nos sentámos, se decidimos meditar é porque algo nos leva a isso. Porque o corpo nos pede, porque a mente cansada nos implora. E por isso, nem que seja apenas por isso, devemos, sentar, ficar e meditar. Pode não ser uma meditação prolongada, pode não ser muito relaxada, mas para uma primeira vez devemos aceitar que valeu a pena. Amanhã será melhor, estamos a aprender, estamos a começar. Devemos permitir-nos ser como crianças a dar os primeiros passos e cada passo tem o sabor de vitória.

Afinal investimos em nós, parámos para nos vermos como somos, demos atenção às nossas necessidades. Fizemos algo por nós. Foram apenas 5 minutos, amanhã ficaremos 10. Hoje os nossos pensamentos foram irrequietos, amanhã iremos aquieta-los.

A meditação tem diversas técnicas, começamos pela mais simples, sentar e respirar. Tentar dar atenção ao ar que entra e sai dos pulmões. Fechamos os olhos para observarmos apenas o movimento do corpo enquanto inspira e expira. Mas podemos abrir os olhos olhar para um ponto fixo, se quiserem um pequeno circulo que desenhamos numa página branca. Ou uma luz de vela, o seu movimento.

Deixar-nos ir sem queremos controlar o que somos, sem determinarmos cada instante da nossa vida. Parar, fazer uma pausa par nos sentirmos vivos, para nos sentirmos humanos. Para constatarmos as nossas fragilidades e encontrar nelas a nossa força.



quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Pegadas

A morte bateu-me à porta, abri.

Deixei-a entrar.

Sentou-se a meu lado.

Falámos da sua chegada.

Falámos da minha partida.

Chorámos juntas por outras vidas.

Todas as que já me roubaste.

Fizemos silêncio sem dizer uma à outra.

A saudade que de cada uma de nós ficaria.

Lembranças deixaremos algumas, talvez.

Mas isso que importa, se depois de ti.

Fecha-se a derradeira porta.

Espero que não fique nada.

Para que a ninguém eu doa.

Só a luz de quem tudo perdoa.

Dou-lhe a mão, caminhemos.

Por este último caminho.

Sem deixar pegadas.

Porque a alma me voa.



quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Silêncio e tanto magoar

Vão-me morrendo as palavras

Vão-me nascendo silêncios.

A mágoa que vem

Já não é água que vai.

Cresce a sombra dos dias.

Cala-se-me a voz

Dentro de nós

Ficamos sós.

 

Há um vento

Que tudo varre para longe

E lá longe fica.

Pesam-me as mãos

Nos gestos que me voavam.

Tudo era leve, alegre,

Acredito que feliz

Ou sonhei?



segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Um sopro de vida


Toda a vida

Vou:

Amar,

Abraçar,

Sonhar,

Dar.

 

Toda a vida

Vou:

Ver,

Escolher,

Aprender,

Vencer.

 

Toda a vida

Serei:

Melhor,

Calor,

Vigor,

Esplendor.

 

Toda a vida

Serei:

Harmonia,

Alegria,

Fantasia,

Ousadia.




segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Post.it: Férias na aldeia

Nestas férias o meu destino levou-me até uma aldeia na Beira. Uma aldeia distante, perdida na serra. A ideia era descansar, fugir da cidade e dos seus barulhos, mergulhar no silêncio e esquecer por uns dias o rebuliço da rotina diária. E esta pequena aldeia com apenas 70 habitantes parecia-me a ideia perfeita de paraíso. 
Ali, para quem está de visita as horas parecem passar devagar, mas quem lá mora, o acordar cedo para tratar dos campos, a rega, o amanhar das terras, a recolha dos frutos. No final da tarde podiam por fim sentar-se no banco do largo onde a solitária, mas frondosa árvore lhes dava sombra e abrigo à amena cavaqueira. 
Na paisagem surgiam as casas de xisto à moda antiga, umas de traça original, outras recuperadas, pelo meio, salpicando a paisagem novas arquiteturas vão permitindo identificar as casas dos emigrantes que trouxeram para a sua terra as inspirações internacionais. 
Casas com janelas cerradas que aguardam o regresso em férias dos seus residentes que vêm descansar, visitar os familiares ou simplesmente matar saudades do chão que os viu nascer. 
Na pequena aldeia os dias eram ardentes, as noites quentes, o sono tardava, mas quando chegava era tranquilo e esvoaçante. A noite prometia ser longa e sem interrupções, mas eis que pelas 3 horas da manhã um estranho trinado me arranca violentamente do doce sonhar. Por uns segundos questionei-me, onde estava, que barulho era aquele, uma buzina? Um grito? Não, era um galo canoro que resolveu exibir os seus dotes vocais. Depois de uns minutos de cantoria, calou-se por fim. Voltei a serenar e a adormecer, mas de novo às 4 horas da manhã, às 5, às 6 e por aí em diante, o galo voltou à sua função de despertador. 
Eu, citadina de todos os costados, fiquei desagradavelmente surpreendida, mas os galos cantam à noite? Questionei. Passaram-se os dias, e a “canja de galo que ameacei fazer” afinal não aconteceu. 
Acabei por me habituar ao seu canto. Quando voltei para a cidade e para os seus sons habituais de indiferença e falta de respeito pelo descanso que uns manifestam pelos outros quando chegam de madrugada com os rádios em alto som, as conversas e as gargalhadas fora de horas, as buzinas madrugadoras. 
De repente, dei por mim a pensar nas silenciosas 70 pessoas daquela distante aldeia. Na sua azafama, na sua solidão. E para grande surpresa minha, senti saudades do galo que todos os dias me despertava às 3 horas da manhã.


terça-feira, 26 de julho de 2022

Post.it: Férias

É verão, época de férias, uns já foram, outros ainda hão-de ir, muitos já lá estão a viver o seu tempo de merecido descanso. 
Gosto de pensar as férias como um tempo nosso, feito por nós, ao nosso jeito. 
Cada um o desenhará tal como gosta, um tempo repleto de coisas que gostamos de fazer ou simplesmente, um tempo de não fazer nada. 
Um tempo “lento” para saborear o que a pressa do ano não permite. Fazer “nada” é uma arte que aprendemos com o tempo a construir. 
Passamos o ano a sonhar com as férias, mas conseguimos descansar durante as férias? Desligamos e descansamos ou ficamos ansiosos para fazer tudo o que planeamos? 
As férias de sonho no sonhar de cada um, fazer longas viagens, conhecer destinos exóticos ou simplesmente ter a oportunidade de contemplar o mar, estar mais tempo com os amigos e a família, dar asas ao pensamento em silenciosas caminhadas. Escrever, ler, pintar, mergulhar na natureza, celebrar cada minuto como se fosse o último, festejar cada dia como se fosse o primeiro. 
Somos pessoas de hábitos, com vidas cheias de rotinas, escravos do relógio, conseguiremos fazer um corte com tudo isso, despirmos a roupa justa de cada dia e vestirmos apenas kafkans? 
Precisamos de um tempo sem planos, sem horas para dormir ou acordar. Necessitamos de um tempo para sonhar, para descontrairmos, para apreciarmos, devagar o respirar. E depois, quando o coração encontra o seu ritmo, sair, encontrar momentos de alegria, de tranquilidade. 
Vamos entrar nas férias com o pé direito, caminhar lentamente com os dois e depois, firmemente como quem se encontrou, recomeçar o tempo de rotina com a certeza de que se fez tudo o que se quis, quando se quis. Que se teve umas boas férias.


 

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Post.it: A titulo da pandemia


Já pouco se fala da pandemia, outros assuntos ganharam relevância, a guerra na Ucrânia, os fogos neste quente verão, mas a pandemia permanece entre nós. Os nºs de infetados continuam elevados, mas para aclamar os temores dizem-nos que com sintomas muitos leves. 
As mortes continuam elevadas, mas para nos calar os receios, dizem-nos que essas pessoas já padeciam de outras patologias. A covid-19 continua a existir e a resistir a vacinas, seja quantas doses forem administradas. 
O começo parece-nos distante, mas os seus efeitos continuam tão perto de cada um de nós.
Ninguém nos disse que seria fácil, mas também ninguém nos avisou que seria tão difícil. A pandemia tomou conta das nossas vidas, ninguém está imune aos seus efeitos perniciosos. No entanto o mundo continua a girar, alheio às nossas perdas, às nossas dores. 
Continua a exigir de nós que lhe demos o nosso melhor em contexto laboral, familiar e social. A dificuldade, a nossa mágoa e receio prende-se com a  imprevisibilidade da situação pandémica que nos rodeia. Não estamos sozinhos, é verdade, mas se isso no inicio nos uniu, hoje afasta-nos, porque cada um quer viver e sofrer a sua dor e receio individualmente. 
Cada um quer agir o mais corretamente possível, ou tomando outro tipo de atitude, decidiu simplesmente desistir de seguir as regras impostas, a palavra imposição, leis, decisões políticas, ou até uma voz que lhe pede “coloque a máscara” causa exacerbada revolta. 
Há um grito, ressoando em cada um de nós, uns ouvem-no como um pedido de quem cuida porque quer que todos fiquem bem e obedecem com desvelo, outros ouvem-no como uma limitação à sua liberdade e desafiam-no, outros ainda cansados, apáticos já não ouvem, cumprem umas normas, desobedecem a outras. 
E depois há os que gostam de encarar a vida como um jogo, sabendo que podem ganhar, ou seja escapar impunes ao vírus e às multas, ou que perdem e nesse caso, pagam a multa no melhor dos casos, porque no pior tornam-se veículos de transmissão do vírus para familiares, amigos, colegas, vizinhos ou meros desconhecidos. 
Não têm sintomas, mas os outros podem senti-los e sofrer com eles indefinitivamente. Emergência, tornou-se palavra de ordem, emergência de soluções, emergência de atitudes coletivas. 
Dilemas éticos à parte, estamos todos perdidos no mesmo mar e se há um caminho, então, devemos remar todos para o mesmo lado, cada um seguir o seu rumo, é entrarmos em repetidos círculos que se podem tornar afundantes remoinhos. 
É preciso despertar a humanidade e a integridade social que deve estar presente em cada um de nós. Somos frágeis mas podemos encontrar em nós e nos outros uma resiliência que nos torna mais fortes. Com esperança e com fé em cada um de nós.

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Post.it: Eis-me

É assim que silencio as minhas mágoas. Gritando palavras que não uso mas sinto e que de tanto as calar sei bem que me minto.
Sei que guardo no peito este não sei quê que me esconde do que sou. Sendo tanto, na verdade sou um pequeno nada desta articulação a que chamamos mundo. 
Esperei e nada veio. Lutei e nada conquistei. 
Sei onde estou mas sei que verdadeiramente nunca cheguei. 
Tentei ir mais além, mas ele sempre me fugiu como um menino travesso que me chamava e depois não se deixava apanhar. O sonho nunca chegou a ser verdadeiramente sonhado, quando muito suspirado e depois para que doesse menos, sufocado num canto da alma, envergonhado não sei se do desejo de o alcançar se do fracasso de o nunca ter alcançado. 
E depois de tantos caminhos, de escolhas, de quedas de onde me reergui eis-me na verdade de mim. 
Sou e serei sempre um projecto inacabado de um bocejo da vida. Se um dia ela me olhar, nesse instante, morrerei de felicidade.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

São Pedro 2022

S. Pedro, Santo especial, 

Dos santos populares.

Uma festa tão tradicional

Que entra pelos nossos lares.

 

Enche-os de muito amor,

Enche-os de plena luz,

Que afasta toda a dor,

E á felicidade nos conduz.

 

Que a vida nos seja primavera,

Colorida e sempre a renascer.

Que se concretize cada espera,

Na capacidade de tudo vencer.



segunda-feira, 20 de junho de 2022

S. João 2022

S. João vem a chegar, 

Sem na data se atrasar,

Vem alegre para dançar,

Até a madrugada acordar.

 

Os milagres acontecem

Quando já ninguém os espera.

Para os que de ti não desistem,

Sabem que não és uma quimera.


Vem para a festa celebrar,

Vem encher-nos de alegria.

Para que cada começar,

Traga a paz de um novo dia.




segunda-feira, 6 de junho de 2022

Santo António 2022

Sto. António, meu santinho, 

Santo da minha devoção.

Peço-te meu amiguinho,

Cuida do meu coração.

 

As sardinhas a assar,

Os manjericos a perfumar.

Já cheira a festa no ar,

E as marchas vão desfilar.

 

Do norte ao sul do país,

Todos te querem homenagear.

Tornas Portugal mais feliz,

Sempre que te vamos festejar.



quinta-feira, 19 de maio de 2022

Post.it: Sentada no sofá

Passados tantos anos ainda sinto que há caminhos que me faltam percorrer. Que há coisas por descobrir. Sonhos por concretizar.
Momentos por fantasiar. Risos que ainda não ri, espantos com que ainda não me confrontei. Encontros que ainda não me encontraram.
Há tanto, mas tanto que ainda posso fazer e no entanto, estou comodamente sentada neste sofá. Estou placidamente instalada na minha rotina.
Outro dia alguém me disse, “já não tenho idade para essas guerras”. Por momentos pensei, “que pena desistiu…” 
Mas, pensando bem, sentido melhor, há toda uma acção, toda uma coragem, pode detrás destas guerras porque as tornamos paz em nós e isso não é fácil.
Há nisso uma luta feroz, mas após cada uma delas, lambemos as feridas e seguimos em frente. 
A aprendizagem que nos deixam tornam-nos mais fortes, mais firmes.
Trocamos a impetuosidade pela complacência, pela tolerância para com os outros e para connosco. 
Percebemos que vencer não significa antagonizar mas antes compreender. Depois da alta montanha que subimos, está na altura de apreciar a paisagem e congratularmo-nos por aí ter chegado. 
Há quem queira continuar a subir para sentir que se vence o tempo e que este não muda nada na sua caminhada. 
Recusam-se a descer a montanha, cresce-lhe um temor que calam fundo no peito, envelhecer! Perder capacidades, a doença, a solidão… 
O que fica por se fazer, o que fica por se ver, o que fica por se viver! 
E eu, aqui estou, sentada no sofá e sentindo tanto prazer nesse momento de paz com a vida.


quinta-feira, 12 de maio de 2022

Post.it: Metamorfoses do olhar

Acordar pela manhã, levantar o corpo, dizer aos pés, caminhem!
Tudo não passa de um tom da visão, um dom do sentir. Uma espécie de copo meio cheio ou meio vazio, depende da forma como  o vemos, como o sentimos, como vivenciamos cada detalhe que nos é dado a viver.
Estamos em crescimento, aprendemos todos os dias, a cada instante
Estamos sempre em decrescimento, fazendo os nossos lutos sem panejamentos pretos, sem lágrimas, pelo menos não muitas, não visíveis.
Somos apenas a metamorfose da vida em voos que ensaiamos mas mesmo quando abrimos os braços, a maior parte de nós nunca chega a levantar os pés do chão. Talvez nos sonhos, quando a liberdade de sermos a leveza da nuvem nos eleva e faz ir para lugares onde o peso da existência carnal não nos prende mais.
O resto do tempo arrastamos a vida connosco, tentando vive-la nas suas marcas de cinzel e a pele lisa revela sulcos de uma mão que nos molda e nos confere um cansaço, uma tristeza onde já houve alegria.
São os desígnios de tantos dias, sol e chuva de muitos anos. Nomes que chamámos e outros, tantos que já esquecemos e que por eles fomos esquecidos.
Se esta ruga falasse, quanto de mim te diria...
Se este cabelo branco contasse quanta neve já lhe caiu como um manto de solidão, de vazio.
Claro que rimos, claro que nos emocionámos, que amámos cada primavera que nos nasceu no peito, que nos aconchegámos no calor corporal de cada inverno. Fomos felizes, somos felizes…
Porque amanhã, será um novo dia, para retomar velhos passos e encontrar o caminho para novos.


quinta-feira, 5 de maio de 2022

Post.it: Dia da língua portuguesa


Esta nossa língua portuguesa,

Que anda tão mal tratada,

Está na nossa natureza,

Falar muito e não dizer quase nada.

 

Mistura-se a lingual nacional,

Com a língua saxónica modernizada,

Acaba-se a falar cada vez mais mal,

E o que se diz é uma trapalhada.

 

Mas é chique para todos exibir,

O domínio bilingue da expressão.

Que para não chorar temos de rir,

De tanta e indelicada banalização.

 

A língua portuguesa vou celebrar.

E em fidelidade quero prometer.

Nunca a hei-de abandonar.

Mesmo que menosprezem o meu dizer.

 

É português a minha língua pátria.

É o português que me acompanha do berço.

E um povo que tudo supera com alegria.

É a sua história e raízes que não esqueço.



terça-feira, 19 de abril de 2022

25 de Abril 1974

Foi quando a liberdade nasceu,

Foi quando a democracia venceu,

Foi quando a coragem aconteceu,

Foi quando a viragem se deu.

 

Uma liberdade que já não murmuro,

Uma democracia que transpôs o muro,

Coragem que iluminou o que era escuro,

E uma viragem que se tornou o futuro.

 

A liberdade ganhou voz e expressão,

A democracia entrou em cada coração,

A coragem derrotou em todos a solidão,

E a viragem tornou-se o sim de cada não.

 

Abril será sempre assim lembrado,

Foi quando se deu o primeiro passo.

O sonho que foi por fim conquistado,

Um nosso direito nesse dia alcançado.


segunda-feira, 28 de março de 2022

O infinito

 


Eu quero o infinito,

Um tempo sem hora,

No emudecer de um grito,

Em que só existe o agora.

 

E tudo no instante acontece,

E se torna puro pensamento,

A noite não dorme, nem o dia amanhece,

Tudo são estrelas do firmamento.

 

Nem a chuva cai,

Nem o vento sopra,

Nem na queda há um ai,

Que estrague a beleza da obra.

 

Eu quero a eternidade,

Condensada num segundo,

Em que nos espreita a felicidade,

Por um recanto do mundo.



segunda-feira, 21 de março de 2022

A paz da primavera

Quero flores,

Com risos de criança.

Quero amores,

Com abraços de esperança.

Quero sinos a cantar,

Canções de liberdade.

Quero pássaros a dançar,

Melodias de felicidade.

Quero o som do silêncio,

Sem sirenes de guerra.

Quero que a paz seja pousio,

Em cada coração que a espera.

Para que a primavera possa florir,

Para que o medo tenha fim.

Para que a dor possa partir,

E a vida seja um pacífico jardim.