sábado, 29 de maio de 2021

É preciso...

Saber esperar,

Nunca deixar de acreditar.

Imitar cada criança,

Na sua infinita esperança.

 

Fazer o caminho,

Mesmo que devagarinho.

Cada com a sua coragem,

Sem abandonar a viagem.

 

Abrir de novo os braços,

Aproximar os nossos passos,

Beijar aquele triste rosto,

Para apagar-lhe o desgosto.

 

Deixar entrar no coração,

Quem nos estende a mão.

Dar-lhes de nós o melhor,

Somos feitos de amor.




sexta-feira, 21 de maio de 2021

Post.it: A nossa casa

Uma casa tem cantos e recantos onde se esconde a nossa história. Tem armários onde arrumamos as emoções que adiamos para um dia mais calmo, uma noite mais longa, um momento em que consigamos parar para sentir-mos, para nos sentarmos e olharmos bem cá para dentro. 
Uma casa tem estantes onde alinhamos as nossas recordações mais desalinhados. Tentamos arruma-los por tamanho, mas rapidamente percebemos que cada momento tem a dimensão que lhe damos agora e que a pode perder no depois.
Uma casa tem um teto que nos abriga, que nos protege como que a impossibilitar  que o universo nos caia em cima, confiamos nele como se fosse um amigo que nos dá um abraço forte e seguro impedindo-nos de sucumbir ao medo de um céu aberto. 
Uma casa tem paredes, quando entramos estão silenciosamente à nossa espera como se aguardasse os nossos desabafos sem contar o tempo para que regresse o silêncio. Uma casa tem chão, tem caminho e na sua enganadora finitude, revela-se infinita, podemos percorre-la por horas, dias. 
Só depende de nós escolher a direcção para visitar cada pedaço de nós que vive e fica numa casa. Tem o nosso cheiro, o nosso rosto, tem gargalhadas, ecos dos nossos desesperados silêncios, tem manchas salgadas de cada lágrima derramada. 
E com o passar do tempo, também ela vai revelando rugas de expressão por todas as vivências que partilhámos. 
Uma casa tem, coração, tem alma, tem sangue a correr-lhe nas veias de argamassa, tem cansaço e coragem por entre os tijolos empilhados colados com cimento de mágoa. Uma casa tem calor, tem amor, acalenta-nos, embala-nos, abriga-nos, ampara-nos. Uma casa é família, é amiga, é pai e mãe em simultâneo e avós para os nossos filhos.



sábado, 15 de maio de 2021

Post-it: Pandemia e solidão

Há uma pandemia de solidão que se alastra, que confina cada um dentro de si. Quando tudo começou sorrimos, um sorriso que escondia o receio de uma situação desconhecida, mas que confiávamos, fosse breve. 
Acreditávamos na ciência médica, nos políticos, nos virologistas, nos médicos em geral. Acreditávamos em nós, em cada um de nós, que  venceríamos, unidos. Mas com o passar do tempo, sentimos que tudo nos falhou, sobretudo que falhámos nós. 
Tanto confinamento, tanto isolamento, tantas restrições, tantas regras que cumprimos, para nada, é o que começamos a sentir perante os resultados. 
O vírus vence-nos em casa, em cada casa, por milhões a milhares que sobreviveram mas em grande parte com sequelas e correndo o risco constante que lhes bata de novo à porta, que entre e não queira sair. 
Resta-nos a coragem de conquistar cada dia, a esperança de que sairemos vencedores. Resta-nos o sorriso de confiança que esmorece. Tentamos mentir, quem sabe iludirmo-nos, garantindo que ele ainda está lá, escondido por detrás da máscara. Todos nos faltaram, sobretudo, faltamos nós, afastámo-nos dos amigos, dos familiares, dos colegas, dos vizinhos. Acreditámos que estávamos a seguir as regras do distanciamento, mas a verdade é que nos fomos fechando, esquecendo os outros e eles a nós. 
O telefone já pouco toca, as comunicações por zoom vão dando lugar a um silêncio digital. Às vezes ainda mandamos um WhatsApp, mas as mensagens vão diminuindo. Nada é igual ao contacto humano, ao olhar que olha o nosso sem ser através de uma tela. Falta-nos os odores que não percecionávamos mas que as nossas hormonas recebiam e retribuíam. Faz-nos falta o calor daquele abraço.
Faz-nos falta celebrar cada aniversário com um beijo num rosto amigo. Faz-nos falta a presença de todos na festa do Natal, da Páscoa, as férias, o regresso à aldeia, ver os mais velhos, receber os mais novos. Precisamos de encontros, de matar as saudades de conversar a menos de um metro do nosso interlocutor, de sentir-lhe a voz a ressoar como uma caricia dentro dos nossos sentidos. 
Faz-nos falta, socializar, partilhar. Faz-nos falta os outros para nos sentirmos inteiros. Precisamos de nos livrar desta máscara que nos cala, que nos rouba o sorriso, que nos afasta, que nos separa, que nos deixa cada vez mais numa solidão individual de pensamentos, de sentimentos, do passar do tempo sem os outros e cada vez mais e apenas com o silêncio da nossa voz. 
Disse-me uma amiga outro dia “estou a dar em maluca, já dou por mim a falar com o vírus em acesas discussões”.” Respondi-lhe, “espero que ele te ouça e se vá embora das nossas vidas!”



sábado, 8 de maio de 2021

Post.it: Companheiros para a vida

A Joana nasceu, era a grande notícia da família, dos amigos, dos colegas, até dos vizinhos do prédio. Todos lhe queriam dar as boas vindas ao mundo, todos a queriam visitar e abraçar, todos a queriam presentear com as coisas mais belas do universo. A avó entrou de mansinho, com receio de acordar a pequena Joana que dormia sorrindo acomodada no berço.
Olhou e redor e viu espalhadas pelo quarto inúmeras prendas, com cuidado colocou junto delas a sua, uns lençóis com malmequeres que fizera para aconchegar a neta. Comparando as prendas, entristeceu-se com a humildade da sua, não sabendo ela o quanto a Joaninha iria gostar daquela oferta.
Dormiu sobre eles muitas noites, aconchegada neles teve inúmeros sonhos e quem sabe quantas aventuras. Mas, entretanto cresceu e o berço já não tinha espaço suficiente para si,  passou a dormir numa nova cama. Com tristeza a mãe constatou que os lençóis oferecidos pela avó,  não tinham tamanho suficiente para a nova cama, pensou em arruma-los num armário mas a criança era tão apegada a eles que resolveu pedir à avó da menina que um deles transforma-se numa fronha, quanto ao  outro… Logo a Joaninha o agarrou e nunca mais o largou, chamava-lhe o seu nhô, nhô e recusando os ursos de pelúcia preferia adormecer agarrada ao seu lençol de malmequeres.
O tempo passava e a Joana chegou à idade de ir para a escola, a mãe pensou que seria a oportunidade de separa-la do pequeno lençol, mas a Joana recusou-se a deixá-lo, pegou nele e pediu à avó que era costureira para o tornar numa saia e assim lá foi feliz e radiante exibindo a sua saia de malmequeres no primeiro dia de aulas e em muitos outros que se seguiram.
Quando chegou ao liceu a saia já não lhe servia, mas mais uma vez recusou-se a abandonar aos seus malmequeres de pano e voltou a pedir à avó que lhe fizesse um lenço para usar  no pescoço e assim fez todo o liceu sempre de lenço dançando ao vento.
Entrou na faculdade e as modas eram outras, Joana olhou para o lenço de malmequeres, sorriu e decidiu-se a manter firme aquela amizade, dobrou-o com cuidado e tornou-o uma fita para o cabelo. Durante todo o curso nunca ninguém a viu sem os cabelos presos por coloridos malmequeres.
O tempo passava,  a fita do cabelo ia ficando cada vez mais poida, já se viam alguns buracos no velho pano. Devias mete-la numa gaveta, aconselhava a mãe, mas a Joana não se conseguia separar da
queles malmequeres.
Pediu à avó que a tornasse numa pulseira para usar no dia do seu casamento e assim juntamente com a ramo de noiva repleto de rosas, os malmequeres continuaram a resplandecer.
Quando as gémeas nasceram, pediu à avó que com a sua grande habilidade fizesse com o velho pano de malmequeres, 3 medalhas, uma para a Joana e as restantes 2 para cada uma das gémeas. A avó com um doce sorriso recebeu o poido pano e meteu mãos à obra.
Dias depois apareceu na casa da neta. Abriu uma pequena caixa e lá estavam as 3 medalhas com os malmequeres do velhinho lençol. As gémeas não deram grande atenção para a pequena prenda,  mas quando a bisavó ofereceu  a cada uma delas um conjunto de lençóis floridos, estenderam para eles os abraços e abraçaram-nos como se fossem já grandes amigos, companheiros para o resto das suas vidas.


 

sábado, 1 de maio de 2021

Dia da Mãe

 

Esse eterno laço,

Sangue, carne e dor,

Amparo de cada passo,

Incondicional amor.

Dedicação para a vida inteira,

União num abraço profundo,

A ligação mais forte e verdadeira,

Que existe em todo mundo.