sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Post.it: Basta uma pausa

Basta a pausa de um minuto e tudo pode mudar. Deixarmos de olhar para nós como se fossemos eternas vítimas de todos os infortúnios da vida e olharmos com o coração para um horizonte que está para além do visível. 
E nesse minuto calar toda dor que gritamos dentro do peito, um grito que nos sufoca, que nos torna crescente a mágoa em que existimos. Guardarmos tanta dor só a faz aumentar, mergulhar em nós só nos torna náufragos sem bóia de salvação no mar de todos os medos. Vamos parar e sentir esse minuto como se nos fosse eterno. 
Vamos respirar pausadamente, o ar que tão levemente nos entra pelo nariz e nos navega até aos pulmões. Vamos inspirar esse ar como se nos fosse uma caricia, retê-lo por uns segundos para que ele na sua função de oxigenação nos limpe os pensamentos negativos e depois, sem pressa, liberta-lo, com gratidão pelo bem que nos fez. 
Olhamos para os anos e sentimo-nos vítimas de um assalto do tempo. Olhamos para os meses e sentimos que têm asas e que voam enquanto nós permanecemos pesadamente presos a um compasso imparável. Mas, e os minutos, quem pára para os olhar, quem pára os sentir dentro do peito? 
No entanto, cada minuto espera por nós para nos acompanhar nos passos que com a idade vão ganhando lentidão. Ele não voam, eles não se separam de nós  sem despedida, eles permanecem como um amigo que nos escuta sem pressa de partir. Hoje, agora, façam a pausa de um minuto e sintam a diferença que isso nos pode fazer no resto do dia.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Post.it: A vida acontece...

A vida vai-me acontecendo, neste encontro e desencontro, entre erros e acertos. Inteiro ou em retalhos. Presente  neste  presente  tão  cheio  de passados. Mas sinto bem no interior de cada célula que moram  em mim  saudades que me levam até ao futuro.
No final de cada dia, quase como se fosse uma oração, um  desejo, suspiro,  lá  nos  encontraremos,  lá  mais adiante,  nas mil formas que a vida nos torna. Tenho do mundo um pedacinho a que chamo  carinhosamente de lar  e  é  nele  que  deposito  os  meus  cansaços, e  as minhas esperanças. Porque, sim, ainda há sonhos que quero sonhar, mesmo  que muitos deles sejam apenas sonhados. 
Ainda há novidades que  quero descobrir, nem que seja unicamente  para  me  fazerem  sorrir.  Há  um  lado  de mim, eterna criança de fé e de confiança. Vou deixando ficar um pouco do que sou, do que dou, em cada passo do  caminho,  em  cada  frase  que  deixo na página em branco  da vida. Mas  é em  cada  sorriso que vejo uma porta  aberta  e eu, entro  sem  receio  de  me  magoar, porque  as  feridas  curam-se, mas a efemeridade de um sorriso é irrepetível. 
Vivo  para  cada  hoje, nos  simples  encantos  em que o vento faz esvoaçar uma madeixa de cabelo que dantes era negro, mas que agora vai ficando uniformemente branco. 
Não tenho sentido de orientação, nunca tive,  mas isso já não me preocupa, porque cada vez que me perco reencontro-me na paz dos olhos de quem me quer bem.


sábado, 6 de fevereiro de 2021

Post.it: Ecos

Acredito que deixamos ecos de nós mesmos nos caminhos por onde andámos. Encontro-os nas pegadas no chão de terra batida, no areal das praias desertas, nas dunas fustigadas pelo vento. 
Ecos que se vão perdendo nas brisas marinhas, de tão longínquas vão ficando que já quase não as consigo ouvir. Por vezes ainda tenho a sensação de que escuto gargalhadas que se entrelaçam umas com as outras.
Outras vezes, quase que jurava que tinha ouvido o choro de alguém que se refugiou por detrás de uma rocha procurando a solidão para esconder a sua dor. 
Nos passos que caminham a par escuto múrmuros de palavras que se soltam apaixonadas. Nos que caminham sozinhos mas firmes, escuto-lhes os sonhos, os projectos, acreditam que vão concretiza-los, vão à luta, não desistem, olham o mar e acreditam que na sua infinitude não há limites para o que podem conquistar no futuro.
Os ecos nunca se calam, chegam a cada um de nós, que os escutamos e levamos mais longe, que os tomamos por uma voz interior que nos ensina, que nos aconselha, que nos encoraja. São os ecos dos nossos avós, pais, amigos… São ecos da vida que o mar difunde, que as rochas reflectem, que o vento transporta, que o caminho prolonga em nós.