sexta-feira, 12 de julho de 2013


Post.it: As palavras contam

As palavras contam. As palavras falam, não só no que dizem, não só no que escuta quem as recebe, quem as lê. Sobretudo porque transportam dentro de si uma história e um modo de ver o mundo.
E quando pensamos que já não há mais nada para dizer, elas dizem um pouco mais numa gota de esperança que faz renascer o sorriso, que faz vislumbrar uma primavera onde o rigor do inverno queria permanecer.
Por vezes temos medo das palavras, das que dizemos, das que calamos, das que ouvimos, das que lemos. Fazem-nos chorar por dentro porque por fora são outras as palavras que inventamos para apaziguar o momento.
Depois cresce um silêncio tão cheio de palavras sem sentido, como se fosse necessário rescreve-las no peito para elas voltarem a ser quem eram.
Hesitamos, esbarramos na dúvida: uma ponte para atravessar e seguir outro destino, uma ponte de aproximação, não sabemos se devemos calar as palavras, se engendrar outras novas, diferentes, que cheguem mais longe do que as anteriores.
Descobrimos que o problema não está nas palavras, que a questão não está no que elas dizem ou no que calam.
Então reconhecemos que é tempo de içar as velas e deixa-las navegar ao vento, deixa-las partir na maré, porque as palavras com que quisemos ancorar o coração já não encontram solo de vida onde se fundear. Há um novo horizonte de palavras à espera para serem oferecidas e certamente mares de maior bonança para as recolher.


quinta-feira, 11 de julho de 2013

Post.it: Ode à lua

Conheces-me os passos, os que dei, o que vou dando. Falo-te do caminho, desse que aos poucos conquistei e que a custo vou trilhando. Conheces as minhas noites de insónia, o que sonho acordada. Conheces os meus dias feitos de tão pouco, quando era muito o que queria fazer com essas horas, que se transformaram em anos sem quase os ver passar.
É verdade que me vão faltando os passos, que se me vai diminuindo o caminho, vão desaparecendo os sonhos, só a insónia parece aumentar e tornando cada vez mais clara a noite. Se antes falava com o sol, se antes desenhava figuras com as nuvens e percorria com o olhar fascinado o arco perfeito composto de cores luminosas. Hoje tenho por companhia a lua, que vai mudando de posição a cada ciclo das marés, também as estrelas vão dando a sua cintilante opinião, inquietas como se fossem crianças a brincar com os próprios dedos das mãos.
Conheces-me nos silêncios, enquanto esperas que as palavras surjam, que os pensamentos fluam, que os sentimentos brotem do peito e se tornem audíveis ao teu luar.
Conheces-me os abraços carentes de abraçar e o vazio desse espaço onde o vento se vem de vez em quando aninhar.
Conheces-me porque tens feito dos teus os meus passos, do teu, o meu caminho. Tens as mesmas noites de insónia, quem sabe até os mesmos sonhos acordados, temos sobretudo, a mesma amizade, que te faz conhecer-me, que me faz conhecer-te e gostar da tua longínqua companhia.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Post.it: A vida acontece

A vida acontece, com as suas tristezas e alegrias, com as suas vitórias e derrotas, com as suas subidas e descidas, com os seus dias e as suas noites.
 A vida acontece mesmo quando não a queremos sentir, quando não a queremos viver da forma como ela quer ser vivida, quando não a queremos olhar nem aceitar.
E não adianta questionar o seu tempo de duração, as suas linhas rectas e as sinuosas. A vida acontece simplesmente em consequência dos nossos passos, é o efeito das nossas decisões, é a conclusão das nossas escolhas.
Porque a vida é um jogo que tem as suas regras, e a mais difícil, é que não podemos voltar para trás, apagar o rasto que deixámos e criar outro cheio de possibilidades de um rumo  diferente, talvez melhor.
A vida acontece apesar do  Outono nos envolver o corpo enquanto a alma ainda nos rejubila de Primaveras. Enquanto o coração nos puxa para um lado e a razão para outro. Enquanto os sonhos que sonhamos continuam a realizar-se apenas no reino do sono.
Mas a vida também acontece quando as árvores que plantámos dão fruto. Quando a nossa persistência é recompensada, quando o esforço é valorizado e o que somos é reconhecido.
Deixemos então que a vida nos aconteça, sem com ela entrarmos em discussão, porque se ela se zanga connosco, pode simplesmente deixar de acontecer.


terça-feira, 9 de julho de 2013

Post.it: É por ti que escrevo

És tu que me faz soltar a alma com asas de sonho, em voos de esperança.
És tu que me tocas o coração, sem nunca me roçar a pele. És tu, cujo nome não sei e isso permite-me chamar-te aquilo que o meu peito ditar. És tu que me fazes parar, que me fazes pensar, que me fazes rir das minhas mágoas, porque as tuas, adivinho-as bem maiores. És tu me revelas o quanto sou feliz, que tenho tudo. És tu que não tens nada quem me oferece um sorriso, e eu que tenho tudo, tudo aquilo que não tens, olho as minhas mãos vazias e, ao vê-las fico triste, não porque estão vazias, mas porque não sabem encher-se do tão pouco que me pedes sem nada dizer. Uma entrega que já não consigo dar, fechei-me em mim, fiz-me prisioneira da minha solidão, da minha razão, da rotina mecanicista que me comanda os gesto e a vontade. 
No entanto temos algo em comum; vivemos sem pressa, um pensamento por dia, e pobres, tu de bens materiais, de um tecto, de uma cama quente e macia; eu, de espírito, de ânimo, de coragem para voar e levar-te comigo, nas asas do meu sonho de um dia ter a felicidade de te ver feliz.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Post.it: Uma pequena luz

 “Neste mundo desarticulado e cheio de pressa, estamos com os outros mas cada vez mais sós”. As pessoas vivem fechadas em mundos virtuais. Aparentemente com relações sociais à escala global. Temos a ideia de estar em todo o lado, vivendo sentimentos de pertença a uma humanidade comum. Mas, muitas vezes, não nos relacionamos sequer com o vizinho do lado. Há cidades inteiras que vivem num outro universo. Há ruas apinhadas de gente que vai falando pelo telemóvel com alguém distante e no entanto não vêem quem se cruza nesse instante consigo. De costas para os outros acusam-nos de estarmos de costas para eles. Iludidos com a quantidade, desprezam a qualidade. Têm muitos amigos, que na maior parte desaparecem quando se desliga o computador. Não chegam até nós quando precisamos de um ombro amigo, separados por redes binárias, estendem abraços nos cabos eléctricos mas não é o suficiente, o mundo virtual nunca conseguirá trazer-nos o calor humano.
Então descomprometo-me, prometo voltar e não volto, prometo escrever e não escrevo, prometo ficar e desligo-me de ti. Esquecendo-me, como tantos outros, que o meio de comunicação é virtual, mas que tu existes, que a tua dor existe, a tua mágoa magoa-te esse coração bem real. Estremeço, sinto-me invadida por um estranho receio, o de te ter perdido por entre os buracos dessa “rede” cibernética. Perscruto por entre o silêncio. “Onde estás?” Escrevo numa angústia que me sufoca o peito. A resposta tarda, não chega. O meu olhar permanece preso ao teu nome, numa espera infinita de minutos, de horas, de dias. Espero que a luz verde se acenda, um sinal que indica que estás ali. Por fim essa luz ilumina a escuridão como uma esperança que me alumia a vida. Uma luz silenciosa que não responde aos meus apelos mas que permanece fixa e isso basta para me tranquilizar. Na minha resignação, esse pequeno ponto luminoso, deixa-me feliz simplesmente por saber que existes.
De repente torna-te uma estrela a cintilar no meu ecrã, aparentemente tão perto que, quase, mas apenas quase te posso tocar, sentir. Mas longe, tão longe como as estrelas do céu e tão bela com todas elas.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Post.it: Um pouco mais...

Um pouco mais de céu e eu teria rasgado as fronteiras do horizonte.
Um pouco mais de sol e eu teria iluminado
cada sombra do luar.
Um pouco mais de tempo e eu teria descoberto
a harmonia do universo.
Um pouco mais de calma e eu teria chegado
bem fundo na tua alma.
Um pouco mais de mar e eu teria mergulhado
sem medo na forte maré.
Um pouco mais de noite e eu teria conquistado
um novo amanhecer.
Um pouco mais de vento e eu teria enviado
a mais bonita mensagem.
Um pouco mais de cor e eu teria feito
renascer a Primavera.
Um pouco mais de coração e eu teria encontrado
a coragem.
Um pouco mais de querer e eu teria alcançado
a mais longínqua felicidade.
Um pouco mais de ti e eu teria lutado
por mais um pouco mais de nós.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O aqui e agora

O meu país é o mundo inteiro,
A minha cidade o universo infinito.
A minha casa o cosmos soalheiro,
O meu quarto a galáxia que habito.

A minha vida é o eterno sonho,
Que vou realizando em cada hora.
Porque o momento onde me ponho,
É apenas o aqui, é apenas o agora.

Não tenho tempo para a infelicidade
Esse amanhã que olha para ontem.
Para quê viver agarrado à saudade,
Se o dia tanta felicidade contêm?

E se partir perto da chegada,
Sem descobrir o rumo da estrada.
Calem-se os galos da alvorada,
Adormeça a lua ensolarada.

Porque eu confesso, fui feliz,
Tanto que não sei descrever.
Um todo que nem a voz o diz,
Nem o coração pode abranger.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Post.it: Espera por mim

Espera por mim, não te vás. Percebe que o meu coração já não voa para te acompanhar. Que  já não tem forças para se elevar nas asas da fantasia. Entende que sou um despojo de uma guerra que durou séculos de sentir. E hoje colando os retalhos da minha história, sou pouco, muito pouco do que era. 
Peço-te um direito que não tenho, uma espera que não garanto  que não seja infinita. Gostava de apagar o rasto do meu caminho, para não me lembrar de cada etapa em que me doeu mais o erguer do que a queda. 
Espera por mim, talvez a vida inteira. Ofereço-te a promessa de que sigo na tua direcção, que hei-de chegar, se no final souber que estás lá para me receber. Não será fácil a viagem, transporto demasiado peso na bagagem e, por mais que queira aliviar essa carga não posso deitar fora o que fui, o que sou para um dia conseguir verdadeiramente ser o que queres que eu seja. E no entanto ainda sorris complacente, paciente, um sorriso de cada vez mais desvanecido, e nos socalcos do rosto vejo escoar-se a juventude que me aguardou até esse dia que desejas ser só teu, ou melhor só nosso. 
 Há quanto tempo me acompanhas sem que eu esteja a teu lado? Demasiado, mas nunca consegui libertar-te de mim, e aprisionei-te nesse laço de esperança que não desato. Não te vás, deixa-me entrar novamente, se o teu coração ainda reconhecer o meu. Se lhe aceitares as marcas do seu viver, dos caminhos que erradamente escolheu. Quando o meu caminho, reconheço agora, devia ter sido sempre, feito do teu.

terça-feira, 2 de julho de 2013

A vida tem sempre razão

Mesmo quando nos faz cair no chão,
Mesmo quando nos enlameia a alma.
Mesmo quando nos tortura o coração,
E nos rouba a felicidade e a calma.

Diz que é tudo uma lição,
Provas que temos de vencer.
Ao tornar cada doloroso não,
Num sim que nos faz crescer.

Mas e se o dia escurece,
E se a noite fica acordada?
E se o sonho desaparece,
E nos deixa sem nada?

Mesmo assim a vida tem razão,
Que um dia iremos descobrir.
Quando a vida nos guia pela mão
E nos revela motivos para sorrir.


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Post.it: Na fronteira

Tive a sensação que conheci a fronteira do mundo. Uma sensação que não foi feita de luzes, de reencontros com entes perdidos, de paz de ou de guerra. Talvez não tenha chegado tão perto, a essa transposição abismal.
A minha triste verdade é que não senti nada, absolutamente nada, só a surpresa e a dúvida, ou melhor a imensidão de dúvidas quando vi o resultado do exame e depois o vazio, como se me tivessem arrancado, não da vida, da vivência da morte. 
A médica sorriu, encolheu os ombros, que importava tudo isso se continuávamos ali, correu mal, sim correu, mas fora resolvido a tempo e mantido no segredo dos deuses. Restavam as imagens, um testemunho estranhamente mudo, e o relatório de procedimentos, uma injecção de adrenalina que paguei para nem sentir de olhos abertos a sua sensação.
Foi como se tivesse comprado o bilhete para fazer body jumping  e depois um outro compromisso me impedisse de concretizar esse objectivo. Com uma vantagem, pelo menos tinha conhecido o formigueiro da antecipação, neste caso, não senti nada, absolutamente nada, puseram-me o coração aos pulos, abanaram-me os sentimentos, estremeceram-me o passado, oscilaram-me o presente e  abalaram-me a estrutura  do futuro, por um segundo, um minuto, uma hora, não sei, apanharam-me a dormir e reescreveram-me o destino e eu o tempo todo a dormir, a sonhar talvez.... 
Depois, felizmente não me deu para encetar longas reflexões, sobre o que podia ter perdido, o que podia ter feito diferente, para grandes mudanças, grandes arrependimentos. Acordei nesse dia, continuei a acordar nos seguintes com o mesmo espírito a mesma vontade de caminhar não necessariamente para a fronteira do mundo mas para a fronteira da felicidade.