segunda-feira, 30 de abril de 2012

Post.it: Num domingo soalheiro


Num destes domingos soalheiros, fui até ao Parque das Nações. Cruzei-me com tantos rostos, tantas vidas, sabe-se lá como são sentidas. Diminuí a marcha dos meus passos para não chocar com alguém que caminhava devagar. Demasiado devagar, como se fizesse um esforço para continuar a sua caminhada. Quis adivinhar-lhe o sentir, estaria doente do corpo, da alma? Caminhava como se nada fizesse sentido, o olhar perdido navegava nas águas serenas do rio. Segui-lhe o olhar, um pato deambulava, também ele sem destino, também ele sem um propósito. E ela ficou a observá-lo sem se aperceber do tempo que corria à sua volta. De repente o pato mergulhou, o tempo foi passando e ele sem aparecer à superfície, como se tivesse sucumbido. O rosto dela entristeceu-se como se o seu sentir tivesse sucumbido com ele, de amargura, de ansiedade, num crescendo de tristeza que talvez fosse já, de saudade. Porque aquele pequeno ser de alguma forma a tocou. Talvez num momento em que alguma velha dor, quem sabe um antigo tormento a visitava de novo. Porque a placidez das águas por vezes desenha formas, rostos, reflexos desfocados do passado que teima em surgir na memória do olhar.
Porque os seus pensamentos que deambulavam perdidos, que quase quiseram chorar a lembrança passada, foram aprisionados pela visão da pequena ave, que, por um instante, lhe ofereceu uma terna distração que lhe desviou o desgosto do coração. Por isso o esperava ansiosa, por isso desesperava desse vazio em que de novo ficou. E o rio voltou a desenhar no seu reflexo esboços das suas mágoas. Mas eis que ele regressa, eis que lhe traz de novo a vontade de sonhar, o desejo de o seguir com o sorriso, com a esperança. Se ele soubesse, a importância da sua existência na vida dela. Se ele soubesse que nesse domingo quando o sol já quase adormecia, a fez sentir, quem sabe, uma ínfima possibilidade de voltar a descobrir um sentido, para no horizonte passear de novo o seu olhar. E no meu domingo, deixou uma história. Uma história que não foi contada, talvez sentida ou intuída, como se fosse, talvez, a minha...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Passou ao lado


Vi o amor passando ao lado.
Com outro amor de braço dado.
Vi o amor oferecendo o sorriso,
Que antes era o meu paraíso.

Vi o amor que sem me ver,
Seguiu na estrada do seu viver,
Vi o amor que era só meu,
Com outro querer que agora é seu.

Vi o amor que na madrugada,
Que me deixou abandonada.
Vi o amor que um dia partiu
Mas nunca de mim se despediu.

Que digo agora ao coração,
Que ainda arde de paixão.
Que o amor foi de viagem,
Em busca de outra margem.

Vi o amor, baixei o olhar,
Para conter o meu chorar.
Vi o amor, doeu-me no peito,
O voar dum sonho desfeito.

Vi o amor passar-me ao lado,
Era futuro, tornou-se passado.
Vi o amor, que deixou de ser,
A eterna razão do meu ser.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Um novo 25 de Abril?


Quando as esperanças recaem sobre o passado  é porque algo está errado com o presente e porque certamente não antevemos um futuro satisfatório. É o que dizem os saudosismos, enunciados aqui e ali, quando a pergunta vai adquirindo forma e dimensão, “engordando” os cabeçalhos das revistas e dos  jornais.
Quando o ainda sussurro no pensamento, ganha voz cada vez mais firme e torna-se nota de abertura dos noticiários televisivos. “Precisamos de um novo 25 de Abril?” Claro que sim!  Mas também de um 26 de Abril e de todos os dias do mês e do ano, não para olharmos para trás.
Não para fazermos as revoluções que já foram feitas, não para gastarmos as nossas energias em suspiros, mas para olharmos em frente, para darmos os passos necessários para chegarmos mais longe, a um futuro que se afasta cada vez mais do passado.
Porque é para lá que nos dirigimos, quer queiramos é lá que estão as soluções, é lá que acontecem as concretizações. Independentemente das estradas que escolhemos, das curvas sinuosas que teremos que percorrer, das descidas que podemos conhecer, dos obstáculos que temos que transpor, tudo isto para alcançar a meta.
Em vez de gastarmos rios de tinta a escrever cabeçalhos que incitem mais ainda à inconstância. Em vez de questionarmos os “profissionais da política” sobre soluções retiradas de outras épocas com crises datadas. Porque não questionar cada um de nós. Se estamos todos juntos, não só no problema mas na tentativa de solução e nos objectivos ou se pelo contrário vamos permanecer de costas voltadas, de portas fechadas enquanto mergulhamos na nossa crise pessoal ou tentamos ficar imunes à crise que já toca os outros com receio do seu contágio. Precisamos dum novo 25 de Abril para chegar ao 26. Não podemos dispensar dia algum. Porque não podemos deixar de viver cada momento da nossa existência.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Post.it: Vamos calar a nossa história


Poderia falar-te de mim. Mas que teria de contar para que nessa história coubesse toda a alegria que te fizesse desenhar um sorriso nesse rosto triste. A vida contada por quem a viveu não tem a menor graça, são momentos arrancados da alma, numa amálgama mal misturada de retalhos incompletos, numa perpétua discussão entre o que somos e do que gostaríamos de ser. Já tenho ouvido uma expressão que reflete um pouco isto “lembramos mais facilmente as tristezas do que as alegrias”. É bem verdade, porque cada lágrima foi espremida duma dor que demora a sarar, enquanto a gargalhada vem ligeira num pedacinho de ar que nos emerge dos pulmões. Leve, tão leve que voa pelo espaço e esfuma-se rapidamente nas brumas do esquecimento. Perdemo-nos no lamento, de como é fraca a memória das sensações, são nuvens que o vento num só sopro afasta para que o sol volte a brilhar. Quando preferimos, sabe-se lá porquê, recordar a chuva. Aquela que nos molhou a roupa, o corpo, e por vezes até a alma.
Poderia falar-te de mim, mas prefiro calar-me, porque afinal sou igual a ti. Uma história talvez diferente nos pormenores, mas repleta de finais idênticos. Talvez seja melhor falar-te dos meus sonhos e esquecer por uns momentos os pesadelos. Talvez seja melhor falar-te dos sucessos para esquecer os insucessos. Mas irias certamente supor-me egoísta, vaidosa dos meus feitos, vangloriando-me das minhas vitórias para anular as tuas derrotas.
Talvez, seja melhor calar-me, e deixar que o silêncio nos permita ver para além de nós. Um horizonte que permanece aparentemente sereno enquanto espera por um olhar que o abrace. Sim, porque também o mundo sofre, e chora e ri. Esquece a tua dor, esquecerei a minha. E vamos com a nossa esperança secar todas as lágrimas do mar. Para que o sol brilhe na noite e a lua nasça radiosa no surgir da madrugada.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Post.it: A angústia do escritor

Gosta de caminhar, de buscar em tudo o que a rodeava, a sua inspiração, mas uma angústia tomava-lhe forma no peito. Pela natureza que sucumbia, que desaparecia perante o seu olhar. Então, refletiu e tomou uma grande decisão:
“Vou deixar de escrever. Já escrevi demais, já gastei demasiado papel. Já matei excessivas árvores. E tudo para quê? Em nome duma escrita que julguei importante, para oferecer ao mundo. Esse mundo que me desconhece. Porque nele sou apenas uma pessoa anónima. Que importa o que escrevo. Que importa até se escrevo bem ou mal, se é literatura ou apenas um emaranhado de letras, uma salganhada de palavras, um desfile de frases banais.
Que presunção a minha, pensar em algum momento, que o que escrevo vale o sacrifício da natureza, a poluição desta tinta que gasto, sem por um instante questionar a sua origem ou o seu destino. Que direito tenho eu de destruir o que a natureza constrói com tanto empenho e esforço. Quem me dera reciclar cada papel que gastei nos esboços deste exercício literário e transformá-los em pequenas árvores que um dia poderiam dar sombra, que limpariam os pulmões da terra e ofereceriam ao planeta um pouco mais de verde, um pouco mais de vida. Só assim a minha escrita adquirirá valor, o valor de cada existência que nasce e cresce de uma forma livre e saudável.
Se a literatura é importante, não a vou escrever, vou declamar versos às flores. Contar histórias às ondas do mar. Não quero mais fixa-las num papel que poucos vão ler. Porque isto é apenas um gesto, uma prova da minha vaidade, ou do meu egoísmo, talvez. Em prol de um sonho, quem sabe, de imortalidade. Quando nem o papel é eterno no tempo. Em vez de criar um livro, vou plantar uma árvore. Quando olhar para ela a crescer, vou ler em cada um dos seus ramos, em cada uma das suas folhas, o mais belo poema que a mãe-natureza escreveu. E que eu, nem que escrevesse a minha vida inteira, conseguiria sequer imitar.”
Isto não é a promessa dum fim anunciado. Descanse quem gosta da leitura. “Na natureza, nada se perde, tudo se transforma” e como tal, a escrita pode mudar de suporte, mas pretende continuar na mesma direcção, a de quem a quiser ler.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Dói-me a memória


Dói-me a memória
Duma longa saudade.
Da minha história,
O passar de cada idade.
De balões, de flores
De grandes heróis.
De olhares sonhadores
De campos de girassóis.
De banhos de mar,
De correr para chegar.
De mergulhar nesse olhar
De sonhar sem acordar.
De tudo o que dei
De tudo o que recebi.
Do que para trás deixei.
Quando um dia parti.
Dói-me a memória
Do que ficou por fazer.
Quando julguei vitória
O que estava a perder.
Então recordo cada dia,
Quando o sol adormecia.
Em que eu chorava e ria
Porque era feliz e não sabia.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Post: Em busca da perfeição

O rosto perdeu a expressividade, a solidão pesa-lhe nos ombros, as mãos desenham no ar linhas sem destino. É assim que se sente, um homem que não encontrou o seu caminho. Foi outrora um quase eremita, a ciência era a sua paixão, não pela carreira mas pela descoberta. – “Cuidei que era feliz. A vaidade é infinita”. É  a declaração que lhe invade a alma quando confrontado com a felicidade da sobrinha que se diz apaixonada. Sorri, relembra o seu percurso de vida. Fugiu de todos os casamentos ideais porque nenhum deles seria perfeito, usou com abundância essa desculpa vaidosa que o afastou do risco e da responsabilidade, que garantia tornar-se um dia infelicidade, refere como justificativa.
 Observa com nostálgica inveja a paixão da sobrinha, que ri e rodopia envolta em sonhos de amor. Fecha os olhos, suspira, pensa, no que daria para ter vivido um qualquer casamento imperfeito, mas feliz, pela vida inteira ou por um breve momento. Podia talvez, ter voado sem ter asas, num sonho de felicidade eterna ainda que efémera. O que não daria para ter o brilho que vê agora naqueles olhos cheios de sol que lhe vêm do coração, do amor e, que cresce em esperança dum futuro perfeito, ainda que saiba que a perfeição não existe.
 Ele, numa melancólica saudade, confessa que, nunca encontrou no seu amor, silenciando o que do fundo, bem lá do fundo lhe grita a verdade escondida, fugiu, fugiu sempre desse sentimento com medo do seu final. E que ao fugir dum possível fim, nunca viveu o seu início, nem a ventura do durante.
Na parede do escritório, vários diplomas surgem perfeitamente alinhados, outrora um orgulho, agora a sua tristeza. Quanto tempo perdeu em busca da perfeição. Quando a perfeição está no que se sente pela vida, pelo amor, pelos sonhos e até pelos despertares, se eles tiverem de acontecer... 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Post.it: Ofereço-te o meu dia

Ofereço-te o dia. Aquele que me desperta cheio de energia. Aquele que me invade de luz e alumia o meu caminho. Ofereço-te todas a horas das quais fazes parte, quando te sinto presente em mim, mesmo quando te vejo em tudo ausente. Ofereço-te as minhas glórias e as tristezas, as subidas e descidas do meu viver.
Mas entrego-te também as minhas noites, aquelas em que me adormeces o cansaço da alma, na ternura do teu conforto. Ofereço-te todas aquelas noites em que o meu olhar te procura na escuridão do quarto, enquanto me inundas de pensamentos felizes e, de vez em quando, de sonhos que sonho acordada.
Nesse instante quase que te ouço num sussurro longínquo, a desejar-me um adormecer tranquilo e uma boa noite. Essa noite que logo de seguida me abraça e me faz sentir protegida na vigilância do teu desejo. Imagino por momentos que será sempre assim, que esse gentil cuidado me vai acompanhar por todos os dias, por todas as noites, por todos os despertares e por todos os adormeceres da minha vida.
Por isso ofereço-te o meu dia, que não é apenas meu, quando gosto de sentir que é, nosso.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O meu coração e eu

Este estado de amor e guerra,
Vem dos primórdios da terra.
Meu coração e eu,
Numa luta que nenhum venceu.

Travamos batalhas de amor,
Ficamos com os despojos da dor.
Juntos rimos e choramos,
Em dias de sol até cantamos.

Meu coração e eu,
Caídos no chão, voando no céu.
Se ele me ouve para de sonhar,
Se eu o escuto saio a voar.

Andamos de mão dada,
Seguimos na mesma estrada.
Se um dia ele quiser partir,
Vai ter de sair do peito e me ferir.

Porque ele vive comigo,
Meu rival e meu amigo.
Meu coração, minha vontade,
Meu amor, minha saudade.

Ele faz parte de mim,
Vamos ficar juntos até ao fim.
Quando me acena a despedida,
Ele sabe que é a minha vida.


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Post.it: Secretamente

Não sei de quem é esta história. Poderia ser tua, poderia ser minha, talvez...  Ouço-a de muitas bocas, sinto-a em muitos corações. Porque ela repete-se continuamente, de vida em vida, magoando, passando, mas deixando ficar,  uma saudade, de nós. Porque é disso que se trata, do que oferecemos sem perspetivar a retribuição. 
“Não sei a que sabem os beijos que nunca me deste. Não sei qual o sabor do abraço que nunca recebi. Não conheço o calor da tua pele. E no entanto fazes parte de mim.
Dum pensamento viajante que de vez em quando se aconchega numa lembrança cada vez mais distante. 
Sei que é loucura ainda recordar, o teu efémero rasto de luar. Sei que nunca fez  sentido, desejar ser um dia  a luz do  teu amanhecer.
Passei pela tua vida, como nuvem fugaz na infinitude do horizonte. Passei por ti e, nem sei se em algum momento o teu olhar guardou o sorriso do meu.
Por vezes suponho que nada acontece por acaso, que tudo tem um significado. Que cada encontro pode ser promessa de um caminho, partilhado, lado a lado. Ou apenas um pequeno nada, um suspiro de brisa. Um adeus que não chega a durar o tempo de um olá. 
Já não espero, apenas sonho e ao sonhar sou o teu encanto, aquele rio onde mergulhas e desenhas corações que se unem na corrente, para se separarem num leito tornado foz. 
E o silêncio indica que o telefone nunca irá tocar. Que a mensagem, que seria a caricia de um diálogo, nunca irá acontecer. Que o encontro transformado cada vez mais em desencontro, nunca irá mudar o sentido da minha viagem. Porque nem sempre a felicidade se concretiza no ideal que o nosso querer concebe.
Então, dou por mim a sorrir, de cada devaneio perdido. De cada ténue vestígio que marcou em mim a tua ausência. De repente, ouço elevando-se no ar uma velha melodia,  sinto-a intima, sinto-a minha e acompanho-a com mágoa na voz, num tom de flor que murchou antes de conhecer a Primavera.  “Só uma coisa me entristece (…) o brilho do olhar que não sofri”. “A jura secreta que não fiz” e que troquei pelo desejo de te saber feliz. Os acordes continuam a dançar no espaço, mas os sentidos já trauteiam noutro tom outra canção. “ Começar de novo””…

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Post.it: É preciso semear a flor

Quem quiser um jardim, tem de semear a flor. Quem quiser a sombra, tem de plantar a árvore. Quem quiser o amor, tem de oferecer o coração. Quem quiser um abraço, tem de encurtar a distância. Quem quiser a felicidade, tem de apaziguar a saudade. Quem quiser a luz, tem de sair da escuridão. Quem quiser o caminho, tem de desenhar nele os seus passos. Quem quiser um sorriso, tem de oferecer o motivo. Quem quiser a paz tem de por termo à guerra.
O mar não nasce do deserto, nem o amor da solidão. Tudo tem um começo, tudo tem  um princípio, mas para crescer e ganhar raiz tem de ser regado, tem de ser cuidado, com empenho e perseverança. Porque o sol não adormece sem a promessa de voltar para cumprimentar a lua. Nem ela anoitece sem lhe estender um abraço de luar.
Tudo tem o seu início, um rumo a percorrer. Se é verdade que o destino sempre nos encontra mesmo que dele nos queiramos esconder. Também é igualmente verdade que a vida existe em nós para ser vivida em cada começo, cuidada em cada flor, esboçada em cada página em branco, quando o presente nos convida a escrever o futuro.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Post.it: Heterónimos

Uma conversa que não foi de café, mas de sofá. Exigia um lugar mais tranquilo, mais intimo. Porque era de intimidade que falávamos. Amigas, diferentes, com algo em comum, a procura, a descoberta, a entreajuda, em suma a amizade. Chamei-lhe heterónimos, porque no fundo, mesmo que lá bem no fundo todos temos um pouco de cada uma delas nos dilemas da nossa existência.
“Por vezes sinto-me fora do tempo, deste tempo civilizacional que nos consome a alma, o alento, a esperança. Sinto-me fora dele porque ainda acredito que nem tudo é tão mau quanto parece, que a vida não existe em nós para ser complexa. Ainda acredito em palavras plenas de conteúdo. Ainda creio que um abraço é muito mais do que um gesto mecânico e que transporta generosidade e carinho. Ainda acredito na amizade sincera e no amor verdadeiro”
“Realmente não és deste tempo, nem deste espaço terrestre. Acreditas no que queres acreditar e não necessariamente na realidade que te rodeia. Vives com o coração sempre a saltar do peito. Tens que travar esse ímpeto de agir emocionalmente. O que ganhas com isso? Dissabores, desilusões, mágoas que acalentas no berço onde apenas deve crescer alegria.”
“Mais do que isso, acrescento eu, porque já aprendi muitas lições na vida. Já estou doutorada em questões do coração e tenho um mestrado em reconhecer os bons conselhos da razão. Sabes que mais? Faz da vida uma viagem de comboio. Observa a paisagem mas não desças em todas a estações. Escolhe poucas, escolhe com  o critério do que será bom para ti e não para os outros.”
“Conversa da treta!, lamechices!  Mas vocês ainda se debatem com dilemas existenciais? Saiam dessa! Vivam cada dia como se não existisse amanhã. Façam tudo para serem felizes  porque podem não ter outra oportunidade. Amem mas partam antes que seja o amor a partir. Lutem, conquistem o que desejam, se nesse caminho existirem outros, azar, ultrapassem-nos. Acreditem que eles vos fariam o mesmo.”
“Quanto a mim escolho o meu canto, o meu recanto de paz. Se não chegar ao topo aproveito para tornar a base num espaço aprazível. Se não conquistar um lugar ao sol, fico-me pelas sombras, sempre são mais refrescantes. Não me importa o que desejaria ser, mas o que sou, este rio de tranquilidade em vez de um mar repleto de tempestades. Quanto aos outros, vou citando, “Façam o favor de ser felizes”, comigo ou sem mim, porque eu “Fui ser feliz e não volto”.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Post.it: FIB - Felicidade Interna Bruta

Desculpem-me este despretensioso divagar sobre um tema tão importante como a Felicidade. Não o quero relativizar, nem retirar-lhe a sua premência.
Mas sem me introduzir por caminhos políticos, económicos e sociais que não domino, prefiro deitar um simples olhar sobre cada ser que tem a seu cargo a grande responsabilidade de ser feliz e, em alguns casos, por inerência a felicidade dos que o rodeiam.
Desenvolveu-se um conceito que se denominou de FIB para estabelecer o grau de satisfação das populações de um determinado país. Concluindo-se que o grau mais elevado foi atingido no Reino do Butão. É então este o país onde há maior número de pessoas felizes. Porquê? São ricas? Não exatamente. Têm excelentes condições sociais? Também não se pode fazer tal afirmação. Embora não seja completamente alheio a este grau de satisfação, o desenvolvimento do progresso, onde se inclui a dimensão económica, ecológica, cultural e psicossocial, agregadas a iniciativas já tomadas para desenvolver o seu bem-estar.
Mas a que se deve primordialmente este alto nível de felicidade? O estudo da FIB refere que a  felicidade é mensurável. Mas em que unidade de medida?  Na contabilização de rostos sorridentes? Lágrimas derramadas? No encontro de amores perfeitos? Na realização de sonhos, no sucesso profissional? Ou no total de histórias com um  final feliz? Talvez seja tudo isto em conjunto e, mais uma série de teorias filosóficas, psicológicas, científicas ou até mesmo empíricas.
Li algures uma explicação também ela válida, justificando que este elevado nível de satisfação se ficava a dever ao baixo índice de expectativas que esta população manifesta. Talvez por viverem o dia a dia, sem objectivarem o futuro. Por acreditarem que cada início pode levar a um melhor final se construírem essa possibilidade. Porque cada causa tem sempre o seu efeito. E que é função de cada um alcançar a felicidade sem a colocar na total dependência de outrem.
O FIB mostra-nos que a vida é composta de muitos elementos, e que o grau de satisfação, oscila periclitante no difícil equilíbrio dos pratos da balança, no entanto, parece-me sempre uma boa estratégia, fazer da felicidade um caminho a percorrer e não apenas um cais de espera. 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Qual o recheio dos ovos de Páscoa?

Abraços de chocolate que no carinho se derretem.
Sorrisos que são flores que os lábios oferecem.
Palavras doces que nos deixam mais enternecidos. 
Enquanto nos brindam com sonhos adormecidos.

Olhares de mel que adoçam o fel de cada vida.                   
Que amenizam a dor e curam qualquer ferida.
Bons sentimentos para açucarem as emoções
E nos garantirem que são mais que ilusões.

Ideais para dulcificarem os nossos pensamentos
Recordações que nos trazem belos momentos.
Renascimento que adocica em nós a esperança
E nos faz reencontrar a coragem e a confiança.

Paz que voando espalha alegria e generosidade.
Deixando no ar sementes de amor e amizade.
Amêndoas coloridas que se dissolvem na mão,
Mas permanecem para sempre doces no coração.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Post.it: Conversas de Abril

Gosto de conversar com as minhas amigas, conversas que vão muito além do “corte costura”. Gosto de momentos em que na mais amena “cavaqueira” surgem temas que me preenchem um pouco mais como ser humano.
E numa tarde cinzenta, o sol da primavera brilhou no seu olhar e as palavras desaprisionaram-se-lhe do coração.
“Ensinaram-me a ser uma menina educada, cortês e generosa. Ensinaram-me que quando se oferece um sorriso, ameniza-se qualquer ambiente por mais hostil que seja. Disseram-me que a simpatia abre janelas nas casas mais aferrolhadas. Qua quando nos damos aos outros não devemos esperar uma troca mas apenas uma palavra conciliadora de receção.
Aceitei estes ensinamentos, vivi-os, reparti-os e cheguei aqui com a tranquilidade de quem fez o caminho certo. Com a confiança de que a minha pegada social foi mais construtiva do que destrutiva. Que sequei mais lágrimas dos que as que incautamente causei.
Segui a lógica da natureza, afinal ela tem milhares de anos de aprendizagem, de adaptação. Percebi que nela tudo está interligado, que cada causa tem a sua consequência. Não é feita de agradecimentos nem reconhecimentos, mas entendem-se no seu silêncio por um código de harmonia. O sol faz renascer a vida. A chuva irriga a terra para ela florescer. A abelha beija a flor e esta, oferece-lhe o seu pólen, num gesto tão doce, que só pode transformar-se em mel.
Porque não podemos nós ser assim também? Viver em consonância e harmonia com os outros, quando eles nos oferecem o melhor de si?
Porque se fecham corações que podem amar, quando há outros que se abrem para os receber? Porque se calam almas que têm tanto para dizer? Porque se fecham os olhos quando há tanto para ver? Porque não caminham quando há tanta estrada para descobrir?
Receiam os espinhos? Eles podem ser retirados. Temem as pedras do caminho? Elas podem ser superadas. Atemorizam-vos as tempestades? Um dia chegará a bonança. Assustam-vos as curvas? Elas também têm retas, subidas e descidas que nos fortalecem e incentivam a seguir em frente”.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Post.it: Gordura é formosura

Fala-se do corpo, esse involucro que nos envolve, que nos apresenta aos outros como se fosse o nosso cartão-de-visita. Esse corpo que caracteriza a nossa aparência, do que cuidamos com desvelo, mas que não resiste ao cunho do tempo. Quando o tempo escreve em nós memórias visíveis de uma longa história.
Fala-se do corpo, vive-se para o corpo, porque é a ele que o olhar se prende de imediato, em frívolos julgamentos. É ele que atrai ou repele conhecimentos, nem sempre pelos motivos mais afetivos, mas apenas porque aquele aspeto físico enquadra-se ou não, nos nossos padrões estéticos. No entanto a verdade do que somos, ultrapassa as fronteiras do aparente na busca da essência que há em nós.
“Somos cegos com olhos que vêem”, “cegos” porque apenas olhamos sem chegar propriamente a ver quem está à nossa frente.
O corpo é um elemento de moda, um ioiô de tendências.
Dos anos 30 até aos anos 60, “gordura era formosura” daí em diante “magreza é beleza”.
No entanto poucos ou nenhuns questionam a gordura ou magreza interna. Embora (seja de bom tom) a apreciação e valorização da beleza interior.
Porque só então saberíamos reconhecer a beleza das almas obesas, que nos recebem sempre com um franco sorriso. Agradeceríamos o reconforto de ânimos rechonchudos. De alentos extasiantes e cevados que nos acolhem sempre felizes. De espíritos barrigudos que partilham connosco toda a sua alegria e jovialidade. De consciências roliças, que nos oferecem tantos cuidados e atenções. E corações generosos acompanhados por pensamentos grandiosos capazes de plantar em nós sementes de esperanças bem nutridas.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Post.it: Palavras que o vento não leva

Essas que guardo no peito. Essas que reservo para alguém que conquiste em mim o direito de as receber. Puras de sentimentos. Genuínas de afeição. Límpidas de bem-querer. Verdadeiras de sensações. Autênticas na estima.
Palavras que reservo para aquele momento, aquele que pode desenhar novos contornos nas linhas do destino. Um destino que vou escrevendo, rescrevendo, em rascunhos que amarroto e deito fora, esboços, que idealizo perfeitos na forma e no conteúdo. Palavras que vou imprimindo nas veias, que são transportadas pelos globos vermelhos, rubros de esperança até atingirem a meta de chegarem ao coração, para aí ficarem, na incubadora do tempo, a maturar, a crescer.
Por vezes espreitam pelos olhos, como se fossem crianças irrequietas, desejando sair desse refúgio, de saltarem para a rua, subir os ramos das árvores e tocar nas nuvens, ou mergulhar nas ondas deixando-se embalar por elas.
“Ainda é cedo” Diz-lhes o coração, num compasso murmurante, refreando o impulso apaixonado das palavras que almejam outras a si semelhantes, para partilharem a mesma ventura. “Ainda é cedo” Repete sempre cauteloso. É preciso aprender a esperar pela hora certa, pelo momento adequado, por outras palavras que as chamem de braços estendidos. Porque palavras destas nunca podem ser oferecidas, apenas trocadas por outras que as completem, para que não se percam no vento, para que não se transformem em lamento e numa data mais tarde, em esquecimento.
Um dia, sabe-se lá, em que estação do ano, em que folha do calendário, em que hora do relógio, tudo pode acontecer. Porque o tempo do sentir não se adequa ao tempo convencionado por regras civilizacionais.
Um dia, abrir-se-ão as portas de par em par e, as palavras voarão na direção certa. Porque essa direção existe algures entre muitos caminhos, entre muitos mares, rios, vales e montanhas. Só é preciso saber esperar pelas palavras que o vento não leva.
Quantos de nós andam de olhos fechados, para não revelar as palavras inquietas que por eles espreitam. Mas, “Ainda é cedo”, continuam a ouvir na voz contundente do coração.