sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Post.it: Voltarei


Se me esperares, voltarei. Sei que voltarei.
Não sei quando mas a tua espera me chamará.
Mas tens de me esperar com muita coragem.
Tens de me querer com toda a força.
Como se abraçasses o calor do sol,
Sem nunca teres medo de te queimar.
E mesmo que a chuva traga alguma tristeza.
Mesmo que a neve te queira gelar o coração.
Não permitas, um dia a neve vai derreter.
A chuva também deixará de cair.
O verão triunfará sobre o frio inverno.
E uma nova primavera vai renascer,
Cheia de flores, cheia de esperança.
Espera até esqueceres o passado,
Porque eu vou voltar para fazer o futuro.
Tu sabes que voltarei porque me conquistaste.
Porque não duvidaste de mim um só instante.
Não receies que nesse encontro não me reconheças.
Porque já nos encontrámos muitas vezes.
Tantas quantas as que de ti parti, mas voltei sempre.
Sempre que chamaste o meu nome,
Felicidade.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Post.it: O mar que somos


Todos os mares são uma simples gota de água no cosmos da vida. Da nossa vida, repleta de rios, de lagos, de mares tempestuosos mas também de momentos de feliz bonança.
São mares que nos navegam em contínuas ondas que nos levam na corrente do destino até praias de um suave areal, ou a rochas que temos que escalar com um esforço que parece superior à nossa capacidade humana. 
Mas chegamos lá, porque é para lá que temos que ir, com dificuldades mas com empenho, com exigência mas também com coragem. E o mar a correr-nos nas veias em células ondulantes que nos impelem a tomar determinada resolução. 
Quantas vezes tentamos lançar âncora, aninharmo-nos numa enseada, amarrarmo-nos naquele cais. 
Mas o mar balouça-nos na alma, e as vagas arrastam-nos os sentidos. É tempo de partir murmuram-nos as marés. É tempo de seguir em frente insiste cada gota de oceano com provocantes salpicos.
Conseguirá a vida resistir aos apelos marítimos? Talvez, durante algum tempo. O tempo suficiente para que um novo mar navegue o nosso universo. Esse universo composto de cada gota de água que nos chora e nos ri dentro do peito preenchendo o mar de que somos feitos.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Post.it: Simplificando a questão


Às vezes, ao escutar a conversa das crianças, questiono com  alguma nostalgia, por onde se perdeu a singeleza das palavras e das ideias mais puras? Quando começámos a compor verdadeiros enredos de uma curta-metragem para a mensagem que queremos transmitir? Porque criamos tantos argumentos para explicar o óbvio? Porque caminhamos em círculos quando a recta sempre foi o trajecto mais curto?
Devíamos reaprender com as crianças a fórmula mágica de dizer o que sentimos e dessa forma chegarmos directamente ao entendimento que desejamos, sem discussões, sem falsas modéstias, sem indirectas. Explicamos e voltamos a explicar sem no entanto conseguirmos chegar ao âmago da questão. Na maior parte das vezes não se trata de uma questão profunda, de resolução difícil, mas complicamos o simples na tentativa falhada de a tornar mais clara e evidente. Evidente para quem? Para nós, sem dúvida alguma, porque para o nosso interlocutor cada explicação só gera mais confusão.
 Ossos do ofício dirão os professores, habituados a ensinar. Raciocínios fundamentados dirão os filósofos, habituados a divagar. Tudo em prol da justiça e da verdade dirão os advogados, habituados a arguir. Ou simplesmente os teimosos, convencidos, em suma, chatos, habituados a impor as suas ideias que já ninguém consegue ouvir. Porque não é a sua verdade, porque não é a sua opinião, porque não entendem, porque não são entendidos.
Então, caímos num silêncio magoado, já nada conseguimos dizer, já nada queremos escutar.
Olhamos para as crianças, num misto de surpresa e inveja, porque elas com um vocabulário reduzido conseguem atingir o seu objectivo, conquistar a sua meta, sem violência, sem gritos, sem lágrimas. Como? Questiona a nossa mente formatada pela condição de adultos. Talvez com um sorriso, um encantador sorriso que nos diz tudo o que o coração precisa de saber.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Só o hoje existe


          Hoje, só por hoje
          Vou estar calma, Não me vou preocupar.
          Vou ser tolerante, não vou criticar.
          Hoje, só por hoje
          Vou honrar o que sou e a vida agradecer.
          Vou ser aplicada em tudo o que fizer.
          Hoje, só por hoje
          Vou respeitar toda a natureza.
          Reconhecendo a sua eterna beleza.
          Hoje, só por hoje
          Não vou desperdiçar cada momento.
          Não vou sucumbir ao triste lamento.
          Hoje, só hoje
          É o tempo que tenho para viver.
          É o tempo que tenho para ser.
          Porque o ontem já passou.
          E o amanhã ainda não chegou.
          Uma certeza subsiste,
          Só o hoje existe…


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Post.it: O impossível em mim


Somos uma eterna procura, de caminhos, de sensações, de metas, de sonhos, de desejos, de felicidades, de saudades. E nessa busca em que por vezes nos perdemos, perdemos o sentido do que somos, porque é a nós que procuramos. 
Cansados de nos encontrar através do olhar dos outros, que nos vêm de forma diferente do que nos sentimos. Não, que nos julguemos perfeitos, mas talvez não tão imperfeitos como nos pinta cada olhar critico, desejosos de que correspondamos ao seu ideal e, sempre que tentamos, ficamos muito aquém, frustrados pelos outros, decepcionados por nós, nessa tentativa inglória de sermos muito mais do que somos e longe, tão longe do que precisam do que sejamos neles.
Porque não nos aceitam como somos? Porque não nos desenham no peito um  esboço de carinho? Para que nele nos revejamos e nos reconheçamos. Talvez porque também eles procuram sem encontrar algo que lhe preencha uma parte incompleta do seu viver. Será que é a nós, tal como somos que buscam? 
Enquanto eu apenas sou o que o impossível cria em mim. “Não sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio que vai de mim para o outro” Essa distância que nos medeia na liberdade do ser. 
Esse intervalo em que nos encontramos, em que nos conhecemos e aceitamos na igualdade e na diferença de cada impossível que eu sou e que tu és.


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Post.it: Sweet memories


São mais que saudades, são maresias que nos embalam os dias. Lembranças, são pedacinhos de nós que nos semeiam no peito e vão tornando mais sólida a nossa vida. Os que vêm, os que vão, por vezes com uma efémera questão.
“Que ficou de mim em ti? Não sei. Talvez o murmures nesse sopro de vento que não entendo, na dança das folhas cujo significado não alcanço, no cantar dos pardais que não compreendo, no som melodioso do rio que não apreendo.
Fica-se-me a pergunta sem resposta concreta e a esperança de que nem tudo tenha sido em vão. Que em cada pessoa que conhecemos, que recebemos e deixamos partir, nos leva na lembrança como se fosse uma asa de infinito que voando se liberta da linha redutora do horizonte. Não tenho a desmesurada pretensão de me tornar  uma lembrança duradoura, basta-me um segundo, aquele segundo que nos faz sentir um lampejo de luz mesmo que depois se apague no fechar de olhos, sem nunca voltar a surgir.
Que ficou de ti em mim? Um pouco de mundo, do teu mundo, aquele em que entrei, ou melhor espreitei com vontade de entrar, de conhecer e partilhar. Esse universo que tu és, de emoções, sensações, de harmonia e conflito, de alegria e tristeza, amargura e ternura, gotas de mar, raios de sol.
O que ficou de ti em mim foi a lembrança, longa ou finita, porque o tempo é apenas o caminho do nosso viver acontece e eu, sinto que me deixaste naquele instante, o coração abraçado pelo laço profundo de um sonho, que nem cheguei a sonhar”.
Mas ficam sempre as “memories, pressed between the pages of my mind. Memories sweetened thru the ages just like wine. Memories, memories, sweet memories” a ecoar na voz intemporal de Elvis.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Post.it: Um domingo perfeito


O inverno já espreita na janela numa chuva copiosa, talvez com saudades de um verão que se despediu precocemente. O vento bate furioso na porta como se tivesse pressa para entrar em busca de um Outono brincalhão que se esconde por entre as folhas das árvores. Quase cedo à tentação de  o abrigar , de o proteger desse Inverno que nos quer entrar pela vida a dentro, afinal ainda estamos em Novembro, e cada estação no seu tempo, penso com um sorriso maroto enquanto me instalo no sofá. Sabia-me bem uma lareira acesa, mas vou ter de contentar com um cobertor quente. Sabia-me bem um chocolate a escaldar mas esqueci-me de o comprar, por isso vou ter de me contentar com um chá menos confortante mas que dá para enganar o corpo febril.
Sabia-me bem abrir um livro e sentir-me acompanhada por uma bom e clássico romance, mas já li e reli todos os livros da minha estante, além disso não conseguiria ler com os olhos lacrimejantes, o pingo no nariz e esta tosse que não me dá tréguas. Aborrecida, acendo a televisão, desligo-a logo de seguida, não me apetece ver contínuas repetições.
 Por um momento, um rápido momento quase que me deixo levar por um rio de queixumes prestes a correr-me do peito.
Mas decidida a não me deixar abater por meros pormenores, resolvo tornar o meu domingo perfeito, agradeço o conforto do meu humilde lar, a companhia reconfortante de um cobertor, um chá fumegante e de Chopin a encher de poesia musical cada recanto da minha sala, sim porque nenhum domingo de quase inverno é perfeito sem Chopin.
Quando o domingo anoitece sinto que apesar da constipação, apesar do frio, da chuva, da ausência de um chocolate quente, de um livro, de um filme na televisão, foi um domingo perfeito.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Post.it: Desde o primeiro fôlego


Podemos dizer adeus mais de uma vez. Tantas quantas o coração o permitir. Tantas quantas o rumo da nossa vida o conduzir. Tantas quantas os desencontros o redefinirem. Tantas quantas as venturas nos levarem para novos futuros, novos projectos. Mas o que nos define é o antes desse adeus, antes de partir, de mudar, de começar ou recomeçar. Porque é mais cómodo ficar, porque é mais seguro permanecer, porque temos medo do desconhecido, adiamos, protelamos a vida numa gaveta onde escondemos os sonhos, por medo de os sonhar. Estreitamos os objectivos, dilatamos as metas. Esboçamos um sorriso quando nos lembramos do tempo em que desejávamos tudo para ontem, quando ambicionávamos que tudo acontecesse no hoje. Quando podíamos deixar para amanhã. Porque havia sempre um amanhã, esse que se estende num tempo, que se derrama sem termos dele percepção.  Encontramos cada vez mais requintadas formas de conformismo. Até que num momento, num impulso de arrojo, abrimos a gaveta e permitimo-nos sonhar de olhos abertos.
Porque nesse dia descobrimos que podemos dizer adeus mais do que uma vez, mesmo quando dizer adeus nos magoa. Uma dor que nos ensina a suplantar cada obstáculo. Tudo passa, sussurra-nos o vento dançando nos nossos pensamentos, acariciando-nos os sentimentos. Tudo passa, porque somos feitos de tempo, de coragem, de alento. Do primeiro fôlego ao último suspiro.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Post.it: A mente e o mar


A mente é complexa, umas vezes é mar outras vezes é rocha. Mas quando o mar se rende à rocha. Mas quando a rocha se rende ao mar. Surge um instante de magia em que a razão, escuta a voz do coração. E para cada pergunta há uma resposta certa. Para cada dúvida, uma certeza. Para cada problema, uma solução. Para cada escuridão, uma luz. Para cada procura, um caminho.
Mas a mente é complexa, o mar tem tempestades e a rocha é majestosa na sua rigidez. Só quando a onda embala a rocha. Só quando a rocha abraça o mar na sua enseada, há um momento, em que num ápice de encantamento, a paz e a harmonia geram no ventre do infinito, uma semente de felicidade.
Então o mar rejubila em vendavais de ternura, então a rocha por entre as grutas, ecoa múrmuros de alegria.
A mente é complexa, mas de vez em quando consegue, unir o desunido, torna possível o impossível e o sonho em realidade…

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Post.it: O livro antigo


Queria-vos falar do Livro, não do seu conteúdo  enquanto veiculo transportador de um texto, mas do livro como objecto histórico. Porque ele é muitas vezes isso mesmo. Hoje quando, “passeamos” o olhar pelas estantes de uma livraria, somos atraídos por um titulo, um autor, uma capa colorida. Mas no passado, o Livro antigo (obras que datam de 1501-1800), tornava-se ele próprio, história. Porque encontramos nele a história do seu caminho, do seu crescimento. Parece-nos estranho compreende-lo assim, mas é verdade o livro também cresce ao longo dos anos na informação que fica registada nas suas páginas. Desde o “nascimento” do livro no Escriptorium de um convento, passando pelo gráfico, um trabalhador ambulante que andava de terra em terra, procurando alguém que com algum poder económico lhe encomenda-se a confecção e reprodução de uma obra. O gráfico que sem oficina ainda e  com parcos conhecimentos literários, revelava vastos conhecimentos da sua arte, para colocar os caracteres móveis na forma inversa que depois iriam surgir direitinhos na grande folha de papel que dobrada em diversas partes iria constituir um caderno, sem trocar a ordem natural do texto, porque raros eram os livros desta época que tinham paginação. Cadernos que permaneciam assim para serem vendidos, sem serem cozidos, ou encapados. Cabia a quem o adquiria encomendar uma capa, mais rica ou mais pobre, em pergaminho, pele,  ou tecido, com brasão incrustado a ferro quente ou letras em fio de ouro. Quando o folheamos, estes detalhes surgem silenciosos à espera de uma observação e lenta atenta, minuciosa, e porque não, carinhosa. O texto, esse, talvez seja supra conhecido pelas diversas reimpressões, mas aquele exemplar que nos veio parar às mãos, é único, tornaram-no exclusivo pela riqueza de pormenores. Alguns quando lhe colocaram a capa acrescentaram mais um caderno com 12 dobragens correspondendo a 24 páginas em branco, isto desperta-nos a curiosidade, mas a resposta surge-nos evidente, o possuidor desse livro, quis acrescentar a sua opinião sobre a obra, inspirar-se nela para os seus escritos ou torna-lo um diário dos seus desabafos. Alguns fazem-nos sorrir pela cortesia, ou pelo tom irónico. Com que mágoa, com que delicadeza viramos cada página, encontrando aqui e ali marcas da sua vivência, assinaturas, dedicatórias, manchas de (lágrimas?) de (risos?) de velas que o iluminaram nas longas noites em que fez companhia à solidão. Páginas com texto desgastado de tão lido, de tão sentido.
E o livro de hoje? Pouco nos diz, apenas é portador de um texto literário. Tem um percurso de vida tão curto, tão desvalorizado, abandonado, lido e esquecido. Poucos lhe acrescentam algo para o futuro, talvez uma assinatura, uma mera rúbrica.
 Poucos os levam até às próximas gerações. Sem a durabilidade de materiais que tinha o livro antigo, perece depressa e sem história.
A história que o Livro já teve no seu longínquo passado, quando era um bem de riqueza, sempre presente nas casas reais e elemento obrigatório nos saques, ao lado do ouro da prata e dos diamantes. O Livro já foi um tesouro que se tornou nos nossos dias, um bem de “consumo imediato”. Felizmente que ainda posso “ler” alguns livros antigos e tocar ao de leve, a riqueza do seu passado.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Post.it: As mesmas novas palavras


Quem escreve,  usa as palavras como sementes que planta na terra. Umas florescem, outras murcham sem ver a luz do sol. Quem escreve, acaba por escrever sempre as mesmas palavras, com as mesmas letras, talvez noutro lugar da frase. Talvez pensem que quem escreve se cansa das palavras, essas que nos parecem surgir sempre repetidas. Mas então pergunto, por acaso alguém se cansa de pensar, de sentir? Podem ser os mesmos pensamentos, os mesmos sentimentos, mas são os nossos, não nos cansam, preenchem-nos elevam-nos num sonho, também ele, sempre o mesmo. Claro que quem escreve procura novas palavras. Ou procure talvez,  dizê-las de outra forma,   escreve-las de diferentes maneiras.
Mas todas elas já foram ditas e reditas milhares de vezes, por milhões de pessoas.
Palavras que se repetem constantemente nos mais diversos pontos do globo, nas mais variadas línguas.
São sempre as mesmas mas, de cada vez que são ditas, de cada vez que são sentidas, adquirem o sabor de novas em cada boca que as profere, em cada pessoa que as escuta.
Tornam-se únicas, tornam-se nossas, apenas nossas, numa doce pertença. Porque envoltas na magia do momento, ninguém as consegue proferir com a mesma entoação, escutar com a mesma emoção.
Quem escreve, procura novas palavras, sem as encontrar, percebe, que é a forma como são vividas e oferecidas que as torna novas, diferentes e especiais.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Post.it: Faltou-me esse voo


“Faltou-me, algo que não sei bem o quê, uma grama de coragem, uma dose generosa de vontade. Um pouco de iniciativa. Faltou-me esse querer, que se quer com a força que move montanhas. E, no fundo, bastava apenas um sopro de vento vindo do fundo da alma. Mas não o fiz, gastei as minhas energias com desculpas, “não era para ser”, “nunca daria certo”, tive medo. Medo de tentar, de arriscar, de lutar, de voar, de cair, de chorar. E no entanto se “tivesse um golpe de asa”, teria tocado o sol, sem me queimar. Teria mergulhado no azul do céu. No entanto, troquei o assombro pela paz. Troquei o sonho pela realidade.
Por um momento foi quase amor. Quase princípio, quase de felicidade que se tronou numa quase saudade.
Nesta vida que foi quase, quase vivida, essa “asa que se elevou mas não voou”, deixou-me onde estou, onde sempre estive, sem chegar mais longe.
Hoje vagueio-me em silêncios do coração impedindo-o de gritar o nome que entretanto já  esqueci no deserto dos dias. Se ao menos tu (esperança) estivesses à minha espera. Eu voltaria e, quem sabe desta vez, até voasse.”
E voa, voa com o olhar, voa com o pensamento. Voa sem asas, porque já não precisa delas. Os anos permitem-nos isso, libertos da razão, dos conceitos, preconceitos, do certo e do errado, podemos por fim dar deixar voar o coração. Mesmo que seja tarde para a vida, ainda é madrugada, para o dia.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Post.it: Enquanto a morte dormia


Enquanto a Morte dormia, a Vida nascia, crescia, irrequieta, saltitante e feliz. De vez em quando, perante uma voz mais sensata de mãe, parava, questionava e prosseguia no seu fervor de juventude.
Cansada da Rotina e da Sensatez, amigas de longa data, que inúmeras vezes a mandavam obedecer à Razão outra amiga mais serena e ajuizada, a Vida pensava travessa e obstinada, qual será o problema de acordar a Morte? Que ela resmungue como uma velha de mau humor? Ora que disparate! A Vida não temia lamurias. Então desafiava a Morte, pé-ante-pé, abanava-a e, como nada acontecia de terrível, voltava a aproximar-se, espicaçando a sua indolência. Tornara-se um jogo divertido. Claro que, não ficava sempre isenta de mágoas e de marcas, umas esfoladelas, aqui, umas quedas ali, mas a Vida rapidamente esquecia, afinal era jovem. Tinha uma energia que nem a Morte, velha e cansada, lhe podia roubar.
Até ao dia em que viu a Morte tal como ela era, grande e dominadora. Incapaz de a deter, a Vida tentou fugir, mas a Morte correu mais rápida. Surpreendida perante tanta agilidade, a Vida, tentou tudo, prometeu que iria portar-se bem, pediu-lhe desculpa por todas as provocações, implorou uma segunda chance. Mas nada resultou, então a Vida, olhou a Morte com humildade, sorriu-lhe sem revolta, estendeu-lhe os braços para receber o seu definitivo abraço. Por fim, a Morte compadeceu-se, olhou a Vida e enterneceu-se-lhe o coração. Para aviso, já bastava, afastou-se suavemente e deitou-se de novo na sua cama de nuvens. A Vida suspirou, agradeceu e continuou o seu caminho, desta vez com cuidado para não despertar a Morte que de novo dormia.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Post.it: Viver é preciso


Quando lhe perguntavam a idade sorria e respondia: – Muitos! já estou a dever anos há vida. Deparara-se com a morte algumas vezes, depois do primeiro susto, do segundo, do terceiro, passou a encará-la com naturalidade.
– Quando ela chegar cá estarei à sua espera.
Tínhamos longas conversas numa delas disse-me.
– Por vezes pensamos que já chegámos aqui, já passámos por tudo, já vimos de tudo, já chorámos o bastante e rimos outro tanto.
Podemos sentir que se passamos a viver a vida com a tranquilidade dum rio a fluir enquanto nos deixamos simplesmente ir. Mas de repente algo desperta-nos desse doce torpor e surpreendentemente sentimos que ainda temos muito mais para sofrer, para ver e sentir.
O coração que se habituara a navegar sente-se magoado, ferido na sua delicadeza. Como dói a injustiça, a incompreensão, a sensação de que se dedicámos em vão a momentos que nos pareciam bonitos, duma jovialidade luminosa.
Roubados no nosso ideal sentimos que nem que se vivamos 100 anos haveremos de compreender a complexidade humana.
Que fazer? Pergunto-lhe. – Deixar acontecer, aceitar, recolher-se e navegar porque, viver é preciso.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Post.it: Vamos voar...


Voo mais alto para ficar mais perto. Voo mais longe para chegar a ti.
Quero que me acompanhes. Se não conseguires voar, vem de avião, ou nas asas do sonho. Mas vem, acompanha-me. Vamos libertar o coração dos grilhões dos sentimentos fracassados. Vamos rasgar os nevoeiros. Romper as cortinas de fumo, dos medos e preconceitos. Vamos partir os raios ultravioleta nocivos à vida e, tapar o buraco de ozono.
Depois, podemos descansar na orla nuvens, quem sabe fazer nelas um piquenique de esperança, enquanto fantasiamos com Invernos junto à lareira. Com Primaveras que rendilham de cor os prados. que sobrevoamos embebidos no perfume das flores. Com a luminosidade do verão quando nos refrescamos nas ondas do mar. Convido-te para a aventura, para a ventura dos sentidos. Convido-te para a liberdade de viver longe de tudo mas perto de nós…
Não tenhas medo, porque não te exijo promessas que não possas cumprir. Não te imponho condições impossíveis de realizar. Não te reivindico que completes os meus sonhos. Nem te obrigo a seguir pelo meu caminho. Convoco-te apenas para que voes comigo, pelo menos no meu devanear…

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Post.it: Falando com a solidão


Uns falam com as pétalas, outros com o mar, com a noite que parece infinita quando o sono não chega para lhe fazer companhia, falam com os seus pensamentos, com as suas recordações, sobretudo com a solidão. Falam do que se lembram com receio de esquecer, falam do que esqueceram para vencer o vazio de lembranças.
Falam, falam da crise, falam dos filhos que não vêm há muito tempo, do cônjuge que partiu sem reterem a data exata, foi num dia triste, repetem com voz longínqua, porque os anos vão formando uma ponte de saudade dentro do peito.
Falam, mas cada vez mais ficam em silêncio, porque ninguém os quer ouvir, afastam-se cansados da repetição das mesmas histórias, vezes e vezes sem fim. Impacientes de seguir em frente, deixam-nos cada vez mais, para trás. Eles nem notam, não têm noção de tempo, dizem, sem certezas, querendo desculpar a falta de tempo, de vontade para escutar, para se sentar ao seu lado e ouvir uma lembrança que o tempo vai lapidando e a nostalgia vai colorindo. Por isso falam com as pétalas, com o mar, com a noite, enquanto o sono não lhes dá outras histórias para sonhar e sentir por um breve momento que é a sua realidade. Quando o sol os chama, respondem num torpor de esperança e dor, caminham para o jardim, para aquele banco, quem sabe hoje alguém os queira escutar, não que isso importe, há sempre uma flor, um pombo, uma folha caída à sua espera para lhes fazer companhia e escutar, talvez  a história  de sempre, contada, recontada, por vezes até, reinventada só para espantar a solidão.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Post.it: Os livros vão desaparecer


Dizem que os livros vão desaparecer. Pouco importa, desde que não morram as palavras. Desde que não pereçam os sentimentos que as unem. Desde que não cessem as emoções que lhes dão vida.
Podem acabar os livros, podem esvaziar-se as estantes, desde que os corações continuem a bater ao ritmo das frases de amor escritas no vento, nas nuvens, na rede cibernética, nas ondas do mar, nas correntes dos rios, na areia da praia…
Mas enquanto houver uma mão aberta para acalentar outra. Enquanto existir um olhar que mergulha ternamente num outro. Enquanto houver uma voz ansiosa por dizer tudo o que desejamos receber. Enquanto houver uma árvore com o sonho de ter asas, haverá um livro que abre as suas folhas e torna feliz, a realidade de quem pouco ou nada sabe de felicidade.
Dizem que os livros vão desaparecer, simplesmente porque já não são livros, mas, faróis que iluminam os caminhos insondáveis do tempo, folheado devagar, antecipando a sensação de happy end.


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Post.it: Sempre grata


Quem me conhece sabe que tenho sempre as palavras certas prontas a surgir para que um momento seja ele qual for não caia no vazio. 
Quem me conhece sabe que estou sempre disposta a sorrir, a ouvir, a correr a seu lado, a parar sempre que seja necessário. 
Quem me conhece sabe como sou, faço questão disso, de estar inteira e verdadeira em todos os momentos da minha existência, mas há sempre quem me imagine melhor, muito melhor do que sou e que por isso me preencham com o seu carinho, que nem sempre sei se mereço. 
Então as palavras que fluem naturais em mim, embargam-me a alma, inundam de admiração o meu ser e o silêncio, um silêncio de deslumbramento invade-me o coração. 
Quem me conhece sabe que tenho sempre muitas palavras afluir de uma fonte aparentemente inesgotável, mas há momentos em que nenhuma palavra é suficientemente bela e profunda para agradecer a amizade, a ternura, o amor que nos dão. 
Quando nos batem à porta, quando nos fazem levantar da cama onde a doença nos mergulhou e nos oferecem um picnic de sabores, de cores, como se trouxessem o sol naqueles sacos térmicos que ao serem abertos cheiram e sabem a uma primavera de mimos. Quem me conhece sabe que tenho sempre algo a dizer, mas agora, apenas consigo dizer: Obrigada!


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Post.it: O nosso continente de vida


Já escrevi várias vezes sobre a amizade, mas continuo a encontrar motivos para voltar a este tema, para reflectir sobre ele. A amizade é certamente a melhor coisa que temos na vida, é o nosso pilar, o nosso ancoradouro. 
Quando todos partem, os amigos ficam, choram e  riem connosco. O ciclo de amizades não é estático, há os que vêm, há os que por instâncias da vida partem. Mas como surgem? Uma parte surge ainda na escola e esses crescem connosco. Depois vêm os colegas de trabalho, outros  com os quais nos cruzamos e desponta entre nós um enlace. Mais importante do que encontrar um amigo é conservá-lo. 
Costumo dizer que a principal regra da amizade é o Respeito. Ele deve manifestar-se na lealdade, compreensão do outro naquilo que o caracteriza. Mas o respeito começa a ter necessidade de ser entendido e quase explicado. Porque cada um na sua individualidade e por vezes insensibilidade não o tem em atenção na sua atitude. Uma amiga dizia-me um destes dias com lágrimas nos olhos.
 - Aquela pessoa que considerava ser minha amiga magoou-me.
Como a compreendo, e porque isso acontece demasiadas vezes, respondi-lhe o que a vida me ensinou. “Não fiques assim, porque não era um amigo. Um amigo não magoa, auxilia. Não fere, cura, não se ri de nós, ri connosco. Um amigo não é quem nos coloca em baixo, mas quem nos ergue”.
A ti que lês estas palavras, não desligues de imediato, com o pensamento de que não te são dirigidas. Tens a certeza que nunca magoaste um amigo? Eu confesso que já. Errei porque sou apenas humana. Mas e depois o que fazer? Reconhecer o valor dessa amizade e saber pedir perdão. Foi o que fiz e tornei-me uma amiga melhor.
Quanto à minha amiga, aquela que em tom de desabafo me levou a esta reflexão, não sei se ouviu um pedido de desculpa e com isso ganhou um verdadeiro amigo. Espero que sim, porque “a amizade é o continente que nos impede de sermos ilhas”