quarta-feira, 30 de março de 2016

Apenas o desejar

Que palavras te dizer,
Que não tenhas já ouvido.
Que flores posso oferecer,
Se já és um jardim florido.

Então de mãos vazias,
Ofereço apenas o desejar.
Que a noite seja nos dias,
O prolongar o teu sonhar.

Quem sabe para um lugar,
Onde a felicidade acontece.
E a conjugação do verbo amar.
Está no gesto que se oferece,

Então palavras novas surgirão,
Flores que só há no paraíso.
E os pássaros, todos eles cantarão, 
A melodia que há no teu sorriso.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Páscoa é...

Dá-me a Páscoa doce de um abraço,
Dá-me a lembrança terna da amizade.
Dá-me um lugar dentro do teu espaço,
Que seja de esperança e de felicidade.

Porque é essa a eterna mensagem,
Que nos enche de amor e de perdão.
Para que ao longo da nossa viagem,
Tenhamos onde pousar o coração.

Páscoa é doce porque o sonho o quer,
Páscoa é fraterna porque a partilhamos.
Páscoa é ter a alegria de um renascer,
Quando com carinho da vida cuidamos.

O mistério da Páscoa só é revelado,
Pela fé de vir a amar cada pessoa.
Que anónima passa ao nosso lado,
Com uma existência que a magoa.

Talvez só com um simples sorriso,
Ou mesmo partilhando o caminho.
E talvez, pouco mais seja preciso,
Para não ficar nesta Páscoa sozinho.


segunda-feira, 21 de março de 2016

Bem-vinda Primavera

Que eu te seja Primavera
Flor suave a amena.
Que cada dia de espera,
Nos seja leve como pena.

Para que esta estação
Que nesta data se inicia.
Traga a cada coração,
A mais perfumada alegria.

E se uma flor algures murchar,
Ela nunca será definitivo fim,
Há de florescer nesse lugar,

Com primaveril esplendor,
O mais belo e florido jardim,
Espalhando pétalas de amor.



sexta-feira, 18 de março de 2016

Abaixo!


Abaixo toda a poesia,
Abaixo toda a fantasia.
Abaixo a noite e o dia,
No acordar sem alegria.

Abaixo toda a alvura,
Abaixo a maior loucura.
Abaixo toda a criatura,
Que descrê na ternura.

Abaixo toda a razão,
Que rouba a beleza,
Que há numa paixão.

Abaixo toda a vida,
Que ao ver só incerteza, 
Não a deixa ser divertida.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Post.it: Puramente sentido

Amei (te), e este (te) suspenso na escrita, revela a ilusão do amar na ficção do ser. Porque sim amei, não exactamente a ti, pessoa exterior a mim. Mas aquela que existia desenhada nos genes devaneadores da minha existência.
Como um pintor, desenhei-te. Como um sonhador, sonhei-te. Como idealista, idealizei-te e como amante, amei-te. Um amor só meu, porque nem a ti o fiz chegar, não por egoísmo de  que o quer manter inteiro, mas por medo de o perder em ti, na descoberta do que eras.
Talvez não fosses, porque, não eras o meu amor. Então o (te) do verbo amar, manteve-se sozinho, prisioneiro do seu parêntesis. Para quê de lá sair, aventurar-se na avalanche das emoções, mergulhar na profundeza das sensações, perder-se num deserto de enganadores oásis.
Não tenho tempo psicológico para viver tal ventura, gastou-se-me no ruminar das dúvidas, escoou-se-me por entre mãos vazias de cândidos alvoroços. Porque sim, hesitei seguir-te. Vacilei em chamar-te, em conquistar-te. Escolhi sem arrependimento o meu caminho, sem ti.
Hoje, sem metas por conquistar, sem metas alcançadas, sinto que afinal a verdadeira meta é  chegar a esse lugar dentro de nós em que reconhecemos as verdades sem os fumos da fantasia. Por fim, há uma lucidez me invade, há uma tranquilidade me abraça.
E se voltasse para trás? Amava(te), sim sei que amaria, com a mesma ternura, a mesma doçura incauta e pura. E a minha felicidade de ontem, tal como a felicidade de hoje é continuar a amar(te) um amor puramente idílico. Bonito, demasiado bonito porque nada tem do meramente humano, foi desenhado no Olimpo, por inspiração dos deuses que nesse dia tinham decidido que amar(te) seria tocar ao de leve o vislumbre da perfeição.
E do sopro infinito da imortalidade saiu o teu nome, ansiosa quis escutar o meu formando com o teu um inseparável elo, mas foi outro sopro que o murmurou, na direcção oposta, deixei-me levar, deixei-me navegar.
Até que da tempestade dos anos imberbes surgiu a quietação. A beleza do sentimento está precisamente no apreciar sem macular, tal como as flores da primavera que é são tão belas colorindo os campos, numa jarra mesmo quando admiradas murcham, perecem de solidão, falta-lhes a raiz, a terra, a sua essência de vida. Falta-lhe o amar(te) tal como eu (te) amei…


sexta-feira, 11 de março de 2016

Maturidade

Mais que amor era tranquilidade,
Mais que paixão era liberdade.
Era um encontro reencontrado,
O ninho de vida há muito procurado.

Mais que sonho era um acordar,
Mais do que querer era o chegar.
Era um sorriso enchendo o som, 
Quando a felicidade parece dom.


Mais que caminho era o caminhar,
Mais que companhia era acompanhar.
Era como o sol quando já não há luz,

Era o olhar que serenamente conduz.
Era dizer sim, só porque se é assim,
Mesmo quando começa já perto do fim.


quarta-feira, 9 de março de 2016

Post.it: Dia internacional da mulher

Dia internacional da mulher, “ainda bem que existe"
. Porque é o resultado da conquista de mulheres que venceram barreiras, que ultrapassaram impedimentos sociais, culturais e até religiosos.
 “Que triste é que tenha que existir”.  Para que se lembrem dos direitos que na verdade deviam ser nossos por inerência de ser humano. Tivemos de trabalhar, de lutar, porque como diz M. Rodoreda “o papel da mulher que, em definitivo, é a mãe do homem”, haverá força maior, capacidade mais gloriosa do gerar vida, criá-la e dá-la ao mundo? Para depois ser esse mundo quem a olha de soslaio, num patamar de fictícia superioridade, sonegando-lhe a sua verdade, a sua história, a sua vitória, a sua vida feliz.
Hoje não é dia da mulher, pelo menos no calendário das celebrações, das lembranças que podem cair no esquecimento. Não escrevi ontem, foi de propósito, porque não quis cumprir o ritual de ter esse dia, unicamente esse dia como meu. Porque sou mulher, para minha graça, para algumas mulheres,  para sua desgraça, ainda assim é. Seja qual for a bandeira que se erga de vontades, de lutas, para elas, são parcas as vitórias. Terão de nascer e crescer as filhas, as netas, bisnetas e quem sabe quantas mais gerações. Para que nos olhem e nos reconheçam como iguais, mesmo que sejamos em muitas situações melhores, no entanto, uma vez mais, generosamente, maternalmente damos-lhe essa falsa ilusão, essa benesse de deixar nisso acreditar. 
É isso que nos torna humanamente superiores, a nossa generosidade, essa complacência, essa coragem de prosseguir e escrever no parto da história cada retalho da nossa vida.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Regressei

Sempre aqui estive,
Quem por nada já espera.
Porque devagar se vive,
E ao tempo não desespera.

Já as estações mudaram,
Já a chuva por aqui passou.
Já os ventos se dissiparam,
E a primeira flor murchou.

Sempre aqui estive e estarei,
Sem buscar qualquer razão.
Como se me fosse gene ou lei,
Pela vontade ou pelo coração.

Escutá-lo é tudo o que sei.
Senti-lo é tudo o que sou,
Parti mas sempre regressei. 
Ao que de mim aqui ficou.

terça-feira, 1 de março de 2016

Post.it: Festa

Festa é quando estamos juntos, não somente num aniversário ou outra celebração específica mas em cada dia. Não precisa de ser todos os dias, nem de ter data ou hora marcada. É quando acontece o encontro numa tarde, numa noite, num qualquer momento. Esse momento que se torna calorosamente especial. Então recorda-se, conta-se, partilha-se, dá-se o melhor de nós. Seguros que somos recebidos com a mesma saudade, com a mesma alegria com que nos damos a esse encontro. 
Crentes de que partiremos tal como chegámos, felizes com a sua felicidade, tristes com a sua tristeza. E prometemos persuadidos de que cumpriremos o nosso e o seu desejo de um novo reencontro, num amanhã, muito em breve. Felizmente que na amizade o tempo não se conta em cronologia, em folhas viradas num calendário, em estações do ano mas em ocasiões, aquelas que vivemos juntos e as outras que passam a ser comuns quando relatadas com risos e lágrimas. 
Faz parte de nós, do nosso viver ir além dos obstáculos, das perdas, das doenças, das quedas. Faz parte de nós a conquista, a busca de metas, de superação, de vencer. Faz parte de nós a dor mas também o amor sem intrínseca correlação.
Faz parte de nós seres sociais o estar com os outros, ajudar, compartilhar; tal como faz parte de nós a solidão, a introspeção, a porta fechada com uma janela aberta. Porque é o festejar a vida connosco e com os outros que nos anima, que nos revela, que nos estimula, que nos desperta e que nos encoraja. Mas, festa só é festa, quando a celebramos com as pessoas de que gostamos e que, sabe-se lá porquê, também gostam de nós.