terça-feira, 29 de junho de 2021

S. Pedro 2021

 S. Pedro não fiques triste,

Se a tua festa for pequena,

O que importa é que existe,

Uma devoção em nós plena.

 

E em breve, temos esperança,

Com saúde, paz e alegria,

Celebraremos com pujança,

A liberdade de abraçar cada dia.

 

S. Pedro pega nas tuas chaves,

Fecha o vírus com a mais forte,

Ou que ele migre como as aves,

E vá congelar para o polo norte.





sábado, 26 de junho de 2021

São João 2021

 S. João, S. João

Mais um ano sem te cantar,

Mas nenhum vírus mata a devoção

Nem a máscara nos fará calar.

 

S. João, S. João

Abraçaremos com o olhar,

Mesmo sem darmos a mão,

Tens no nosso querer um lugar.

 

São João, meu santo bonito,

Não esquecemos o teu dia,

Mesmo sem sair de casa acredito,

Que festejamos com igual alegria.




sábado, 19 de junho de 2021

Post.it: O gato amarelo

Quando era criança ia passar quase todos os fins de semanas na quinta onde moravam a minha tia, primos e  priminhos. A minha tia tinha um gato amarelo, enorme, silencioso, discreto, pouco amigo de festas no pelo. Desde que me levantava até que me deitava ele andava sempre ao meu lado. Sentávamo-nos no muro e ficávamos a ver o despertar dos primeiros raios de sol na madrugada. Nunca lhe acariciei o dorso e nunca ele se roçou em mim, nunca falei com ele, nunca ele miou para mim. Mas durante muito tempo fomos companheiros inseparáveis, quando ele morreu, chorei-o. 
Tempos mais tarde, o meu vizinho do andar e cima, arranjou um gato, o Sebastião e para minha alegria, era amarelo. O Sebastião era meio vadio, ficava todo o dia em casa mas ao entardecer punha-se a miar junto da porta, a pedir para sair. Voltava pelas 2 horas da madrugada, punha-se a miar junto da minha janela e eu meio ensonada lá lhe ia abrir a porta da rua. Subia de imediato e deitava-se silenciosamente no tapete da entrada da porta do meu vizinho. Tínhamos uma amizade discreta, no fim de semana, dava-lhe um sermão – Sebastião tens de vir para casa mais cedo, todos os dias na borga até às 2 horas da manhã? Isso tem de acabar! Ele rolava no chão e oferecia-me a barriga para que lhe fizesse festas. – Não merecias, mas, não te resisto! Claro que pelas 2 horas da manhã lá estava o Sebastião a miar na janela, mais pontual que um relógio. Quando o Sebastião morreu atropelado, durante muito tempo ainda lhe ouvia o miar às 2 da madrugada, até se silenciar na memória. Passados uns anos, o mesmo vizinho adoptou outro gato, surpresa das surpresas, era amarelo e assim foi batizado. Era um gato vadio que por ali apareceu, dormia na rua e à hora das refeições aparecia para o meu vizinho lhe dar comida. Todas as manhãs quando eu ia para o trabalho, lá estava o Amarelo à espera que lhe abrisse a porta da entrada do prédio, entrava sorrateiro e subia rápido as escadas. Um dia disse-lhe, - Amarelo, mas nem se diz bom dia? Ele parou, olhou para mim, miou e prosseguiu o seu caminho. Não sei se me entendeu, mas desde esse dia, quando lhe abria a porta, olhava para mim, miava e só depois subia. Passados alguns anos, desapareceu. Mas, dizem as pessoas do bairro que na rua de cima aparecerem vários gatinhos amarelos, talvez filhotes do Amarelo? 
Um dia uma amiga ofereceu-me um cachorro, para grande felicidade minha, era amarelo. Olhei-o nos olhos e num flash da memória, juro, que vi o olhar do gato amarelo, companheiro da minha infância, o Sebastião que adorava andar na borga e o Amarelo a miar-me os bons dias. Talvez os amarelos não renasçam, talvez,  vindos da memória nos visitem o coração.




sábado, 12 de junho de 2021

Santo António 2021



Meu querido Santo Antoninho,

Lisboa já não te festeja,

Porque aquele maldito bichinho,

Nos roubou a festa por inveja.

Da afeição que a cidade te tem,

De cada bairro que conta a história.

Santo António que como ninguém,

Fez do amor a sua maior vitória.

Já os manjericos nas janelas, renascem,

Já Lisboa em quase silencio anoitece.

Em cada casa os devotos não desistem,

E em cada coração a tua festa acontece.




sábado, 5 de junho de 2021

Post-it: Ânimo!

Neste tempo que nos consome há
 uma dor que não dói mas que nos  vai corroendo. Uns chamam-lhe dúvida, outros sussurram que é medo. Um temor do desconhecido,  um receio que nos vai crescendo, que nos vai invadindo os sentidos. 
A solução demora, a normalidade tarda. Cansados, já não fazemos perguntas, apenas desejamos respostas que não sejam meras suposições. Que não sejam hipóteses matemáticas, conjecturas científicas, presunções técnicas, pressupostos percentuais, subtilezas políticas, especulações de quem conta um conto e lhe aumenta um ponto ou artifícios que a alma engendra para nos conciliar com o desconhecido. 
Sim, precisamos acreditar, necessitamos de ter confiança, urge a esperança. Já não nos basta ouvir dizer que vamos ficar bem. Nem ter ânimo só porque nos dizem para o ter. Sentimos que esse encorajamento deixou de ser um conselho, passou a ser uma ordem, como se nos dissesse, coragem, não desistas. 
Mesmo que percas elementos da tua família, amigos, o teu emprego, a tua casa, os teus sonhos, a tua razão para sonhares. Cresce-nos uma necessidade para a qual não basta uma palavra, não basta uma vacina.
 Precisamos de portas abertas, de rostos sem máscara. Precisamos de liberdade, de solidariedade. Precisamos de palavras que se transformem em actos. 
De promessas que sejam cumpridas. Precisamos de matar o bicho, antes que ele nos sonegue o corpo ou a alma. 
Precisamos de ti, de todos. Porque a minha força nasce da tua, inseparável da de todos.