segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Post.it: O nosso tempo

O tempo passa, dizem. Mas talvez não passe, e sejamos nós não quem passa por ele. Nós com os nossos dias e a nossas noites. Com as pessoas que nos entram pela vida e as que saem avisando ou não. Pessoas que nos preenchem ou pessoas que nos esvaziam. Por entre as flores que nascem e murcham. Por entre árvores vestidas no calor ou se folhas despidas por um sopro de vento. Por entre as altas ondas e a doce acalmia. Por entre cais que são de chagada mas também de partida para  outros.
O tempo é sempre o mesmo, existe sem tempo, sem demarcação, não começa, não acaba, apenas existe. Nós gostamos de o rotular, de lhe colocar por datas, de o acondicionar nas páginas de um calendário, de o aprisionar em correntes de horas, em laços de meses, em fios de anos. Guardamo-lo em pedaços de memórias e chamamos-lhes, recordações. Sufocamo-lo no peito e chamamos-lhe saudade.
Enquadramo-lo segundo o frio e o calor, entre a chuva e o nascimento das flores e chamamos-lhes estações do ano, apeadeiros de encontros e desencontros.
Vem ao mundo e chamamos-lhe nascimento, damos-lhe a mão e dos passos periclitantes aos passos firmes chamamos-lhe crescimento.
A tecnologia expande-se, as pessoas mudam, chamamos-lhe evolução. A economia tem ganhos, tem perdas, a política manda e desmanda em todos os destinos e nós chamamos-lhe desenvolvimento. Cansamos-nos do nosso tempo, zangamos-nos com ele e chamamos-lhe revolução.
Culpamos o tempo da sua pressa, quando é nossa a lentidão. Acusamo-lo de morosidade, quando somos nós quem vai demasiado depressa.

O tempo não existe, o tempo não é alegre ou triste. Não tem principio, não tem fim. São definições nossas, num tempo que não é tempo, é o nosso tempo a permitir-nos sermos apenas nós.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Post.it: Do your mind

Outro dia li um titulo,  nesta moda de se escrever, de se dizer tudo em inglês, “Do you mind?”. Já comentei que um dia o inglês vai torna-se a nossa língua oficial, mas dizia eu que li esta frase, mas como nos é habitual lia apreendendo a ideia em geral, sem ler o lá estava realmente escrito, e o que  li foi “ Do your mind”.
Achei curioso o engano, talvez influenciado por uma corrente de pensamento que tem vindo a ganhar forma, que nos demonstra que somos o que pensamos, que o nosso cérebro por vezes condicionado pelos nossos receios e angústias nos engana, nos condiciona, apresenta-nos perigos que não existem.
Dá-nos receios sobre acontecimentos num futuro que podem nem suceder, mas nesse entretanto criámos expectativas, ansiedades desnecessária. Ora se o cérebro nos engana, nós também o podemos enganar, dizia-me outro dia a minha mestre de ioga. Vamos dizer ao cérebro que estamos bem, que estamos felizes, que a dor não nos dói assim , tanto 
Testei a hipótese, depois de muita insistência em querer contrariar a tendência de ser condicionada, pasmei; o cérebro acreditou em mim! E devagar, muito devagarinho, foi relaxando, foi sorrindo, foi-se aconchegando na mensagem de tranquilidade que lhe ia enviando.
É verdade, mesmo verdade que nós podemos fazer o nosso cérebro pensar algo positivo em vez de nos deixarmos dominar por pensamentos negativos que ele cria, quando ele nos diz que vamos cair, não nos está a evitar o perigo, como sempre nos fez acreditar, na verdade está a criar em nós o medo da queda, quando nos diz que estamos a ser traídos, humilhados, não é verdade, quem nos está a magoar são os nossos pensamentos, os nossos medos infundados, as nossas inseguranças a falarem mais alto, a gritarem dentro nós.
Está na altura de sermos nós a falar, a contrariar a tendência que temos em nos acomodarmos, de nos deixarmos guiar pela imaginação, pelos nossos fantasmas e assim vermos/sentirmos coisas que na realidade não existem.
Que tal ganharmos força e coragem não para vencer os outros, mas para vencermos as nossas próprias condicionantes. Alguns passos:
“Goste mais, acredite mais e seja mais feliz.”
“Os problemas têm a exacta importância que lhes damos.”
Até pode ser que não aconteça mas visualizar um momento bonito viver faz-nos felizes adormecer.
Limpe a mente e cultive apenas bons pensamentos.
“Não podemos ter todos os dias bons mas podemos ter algo bem todos os dias.”
O cérebro precisa de motivação, incentive-o, encoraje-o.
O cérebro precisa de inspiração, diga-lhe coisas bonitas. Afaste os pensamentos negativos. Nada é tão mau quanto parece. 
Se o seu cérebro dominar o seu espaço não viva com esse nó, faça um laço…

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Post.it: Gaivota de asa ferida

Não sei o que é feito de ti, de mim, em resumo, ando por aqui. Uns dias melhor, outros pior. Há dias de chuva, há dias de sol. Há dias cheios de histórias, acontecimentos que à noite, apenas quero esquecer no dormir. Há dias em que acontecem coisas tão boas, que à noite não quero adormecer, para não esquecer. Há dias em que me questiono sobre o objectivo do existir, sobre mim, sobre os outros, sobre a diferença, sobre a indiferença. Há dias em que sinto que sei todas as respostas e isso tranquiliza-me, por outro lado que sobre as que não sei, simplesmente aceito a forma como são e sigo em frente. No fundo a vida é isso mesmo, seguir em frente com maior ou menor dificuldade.
Há dias em que sinto que nada me derruba, sento-me imortal, construtora da minha vitória, sabe bem esta confiança quase inabalável, esta fé, esta coragem, esta alegria, esta… hesito um instante para a nomear e concluo num desabafo, esta felicidade!
Sim porque sou feliz, nesses dias, nesses momentos e celebro o sol por entre a chuva e as flores por entre os espinhos.
Mesmo que amanhã tudo seja diferente. Que o amanhã me roube este sentimento, que venha qual ladrão voraz e queira alienar-me do hoje, do ontem, daquele momento quase mágico, quase perfeito, ainda que essa força negativa venha usurpar as minhas recordações, tenho o agora, e ele está guardado em segurança dentro do meu coração.
Não sei o que é feito de ti, se ao menos, me deixasses cuidar  de ti, se ao menos viesses cuidar de mim, se chegasses  envolta de num manto de luz e amizade para me contares os teus segredos, aqueles que te fazem rir ou até mesmo os que te fazem chorar. A amizade é isso mesmo, a partilha de momentos de luz e de escuridão, se viesses, sei que os meus dias ficariam certamente mais completos com os teus…
Porque na verdade, sinto-me sempre incompleta, nesta ilha singular que nos vamos tornando.
Por companhia, as ondas do mar, os cais vazios, os barcos de redes lançadas, os pescadores sem horizontes, os navios fantasmas mergulhados no oceanos, os peixes em cardume, mas, por vezes ouço ou a minha solidão pensa ouvir o canto de uma sereia… De novo a realidade, uma gaivota irmã solta gargalhadas às asas da minha imaginação e eu batendo asas, procuro uma corrente de ar para fugir, para me encontrar...

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Post.it: Porque é Carnaval

Hoje, só hoje, deixem-me ser quem sou, deixem-me guiar os meus passos, soltar os meus gestos, despir-me de qualquer obrigação moral, religiosa, cultural, educacional e ser apenas eu, pessoa, humana.
Hoje, só hoje vão vou trabalhar, nem acordar cedo e enfrentar a multidão de gente anónima, de rostos que me olham e não me vêem.
Hoje, só hoje vou deixar o smartphone desligado e ter conversas cara a cara, partilhando o mesmo ar que respiramos, o mesmo sorriso que oferecemos.
Hoje, só hoje, vou gritar a minha verdade, dizer que não sou assim, como me imaginas, como queres que seja. Vou dizer-te que também tenho lágrimas mesmo quando rio, que também me magoas mesmo quando digo que está tudo bem. Vou confessar-te que detesto a distância que o silêncio impõe, que preciso de palavras que me abracem.
Hoje, só hoje vou desfilar nua de preceitos, de preconceitos, de mentiras piedosas. Vou fingir que esta que vês, que ouves, a quem chamas amiga, a quem dizes amar, não sou eu, que me disfarcei de pessoa frágil, sensível, delicada.
Hoje, só  hoje, vou desfilar neste Carnaval que é a vida, iludindo-vos, desiludindo-me, mas sendo (real). 
Porque hoje, só hoje, Vou soltar o meu espírito de criança e dançar à chuva, saltar nas poças de água, escorregar na lama, deitar-me na relva e rebolar pela encosta abaixo, desenhar figuras com as nuvens do céu. Soltar bolas de sabão, e abraçar as cores do arco-íris. 
Depois, adormecer cansada e sonhar que o hoje, mesmo que seja só o hoje me vai ficar eterno e feliz, escondido no coração.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Post.it: Mezinhas de colo e carinho

O mundo muda todos os dias, os dias mudam em todas as horas e nós permanecemos. Impávidos e serenos, aparentemente, porque lá dentro o coração pulsa, salta e corre com a pressa de quem quer apanhar o vento.
Cá dentro temos autoestradas de células por onde nos desliza a vida. Por vezes algumas dessas células entram em contra mão e gera-se o caos, de repente ardemos em febre, caímos na cama impotentes, sem forças para travar qualquer batalha.
Depois vêm as mezinhas, um chá com mel, os vírus aplaudem tanto cuidado para os manterem quentinhos e aconchegados, como dizia a minha tia-avó “até lambem os beiços de tanta doçura”. O melhor remédio é um copo de aguardente respingava o meu tio-avô. “ora querem lá ver que o homem quer embebedar a criança!”
E a criança com duas rosetas no rosto esboçava um sorriso, cansada de guerras terapêuticas, adormecia. Era uma criança feliz, à sua maneira, porque as crianças arranjam sempre maneira de serem felizes, de verem tudo com um olhar puro e ingénuo.
Têm uma memória selectiva, amanhã já não se lembram dos “ralhos” de hoje e voltam a brincar, a sonhar, a acreditar, a ter confiança na proteção dos país, a aceitar sem receio os remédios caseiros da tia-avó que a afastava dos disparates do tio-avô.
O mundo muda todos os dias, os dias mudam em todas as horas e nós que aparentemente permanecemos sempre iguais, na realidade também mudamos, ao nosso ritmo. Muitas vezes já sem pais para nos proteger, sem tios-avós para nos curarem com mezinhas de colo e de carinho.
Crescemos e tentamos ser felizes como as crianças, para tal como elas, voltar a confiar, a acreditar, sobretudo a perdoar e a não levar para o amanhã as mágoas do hoje. Entretanto os vírus espreitam sorrateiros por um momento de fraqueza para fazer a sua invasão e nós cansados adormecemos. Não desistimos, não nos damos por derrotados, é uma pequena trégua para recuperarmos as forças, preparem-se vírus amanhã a vitória será nossa.



terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Post.it: O sentir

Escrever é, por vezes, olhar para dentro, falar de nós para nós, dos outros para os outros. Ser um rio que cresce até ao mar e que revela, por vezes, os nossos vendavais. O que escrevemos são fantasias, dizem, supõem. Mas nunca o são totalmente. São sonhos, desejos, aspirações.
É simplesmente o nosso querer que surge, espreitando, em cada letra. A nossa vontade de chegar até vós, que perscruta em cada intervalo de palavras, que se confessa por entre o silêncio. 
Um silêncio que luta para ganhar voz, ser audível aos olhos dos outros, quando captam a mensagem e a enviam para o cérebro, numa intrincada lógica de feixes e neurónios, caminhos e estradas do conhecimento, da linguagem, dos sentimentos, das sensações e, de repente, tudo faz sentido. As letras tornam-se expressão, emoção, fazem rir, fazem chorar, tocam-nos só com o correr da linha, só com a harmonia das frases, com a dança consonante das palavras. 
Lembro-me de quando aprendi a ler, quando as letras unidas começaram a ser identificadas com palavras que, em conjunto com outras, contavam histórias, revelavam coisas que, antes, me pareciam apenas rabiscos ilegíveis. 
Foi uma descoberta, uma conquista, um mundo novo que abriu, que se mostrou perante os meus olhos cheios de curiosidade, famintos de conhecimento. Lembro-me que lia, lia tudo, tudo o que tivesse letras, coisas sem importância que, para quem começa a ler, é magia. 
Uma magia que não sei de onde vem, se das palavras, se dos olhos, se do coração ainda tão puro; ou ainda se vem da vontade, da bondade ou se do cérebro com todas as suas intrincadas ligações, se do simples facto de sermos humanos e não robôs. 
É verdade que tanto nós como eles conseguimos interpretar o código ordenado de símbolos a que chamamos escrita, mas só nós, seres de carne, osso, sangue e alma podemos sentir o que essa escrita nos revela. Por mais sofisticado e inteligente que seja o uso de fibras óticas, por mais pixéis, bytes, mega, terabytes e tudo o mais de que são feitos os robôs, eles podem comunicar, emitir raciocínios lógicos, encontrar soluções. Mas, enquanto não encontrarem uma fórmula lógica para o sentir, só nós, humanos, teremos o privilégio de ter e partilhar sentimentos e emoções.


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Post.It: Mês de S. Valentim

Estamos no mês do amor, mês de S. Valentim. As montras ganham novas tonalidades, novos adereços, lembrando os mais esquecidos, enternecendo os corações mais desatentos. É só um dia, dentro do mês, perdido no ano, hibernando por vezes durante uma vida, mas quando acorda, não é um despertar, antes um renascer.
Não há amor como o primeiro, dizem, mas não é verdade.
Porque não há amor como o último, o que está connosco, o que nos acompanha, o que permanece, o que nos leva cada dia ao seguinte. O que nos faz sonhar e é real. O que nos faz acreditar que o melhor de cada um de nós, afinal, existe e é continuamente dado, continuamente partilhado.
Quanto ao primeiro amor, esse e talvez os seguintes, se por acaso o nosso coração se deixou por mais de uma vez habitar por esse sentimento. Desses amores, fica a história embalando a memória. Foram e serão sempre parte de nós, de momentos, do que nós eramos. E quando a recordação nos questiona se seriamos capazes de sentir aquele amor agora, sabemos, que não. Já não somos totalmente essa pessoa, crescemos, evoluímos, sorrimos, sofremos, houve entretanto tanto mar navegado, tanta terra palmilhada, tanto céu observado, mudamos e hoje somos assim, e assim queremos ser amados. Nós diferentes, os outros, certamente que também passaram pelas suas mudanças e também eles amam de outra maneira, à sua, que já não é a nossa.
Saudades? Certamente que sim, não talvez desse amor, nem dessa flor, mas da primavera que éramos, desse sol que nos inundava o olhar, dessa esperança, confiança, dessa dádiva que sentíamos, no que dávamos e simultaneamente recebíamos.
Seja em que profundidade for que o amor se manifeste, quer seja por uma pessoa que nos é especial, ou por um filho, pais, amigo...
A verdade é que não há sentimento como o amor...