sexta-feira, 29 de abril de 2011

Post.it: No topo da vida

Já fui crista de onda no topo das emoções. Quando tudo parecia infinito e o tempo tinha tempo para se gastar sem se contabilizar avaramente.
Já fui ardente de vida, palpitante de entrega sem conhecer limites ou condicionamentos.
Já fui a noite mais longa de todas as noites em que permanentemente se adia a madrugada.
Já fui estrela reluzente no imenso breu. E sendo uma entre tantas, sentia-me única e especial. Mais cintilante que todas as outras juntas.
Já fui estrada de vertiginosas curvas com ânsia de chegar e simultaneamente desejando que esse final não acontecesse para sentir que se eterniza no tumulto das emoções.
Já fui montanha, tão alta, tão forte, tão difícil de atingir que o cume se escondia por entre as nuvens criando uma auréola de mistério. Quando lá em cima ninguém via, derramava um rio que corria pela encosta. Era o nosso segredo que as nuvens ocultavam e o eco silenciava. Eles sabiam que até a maior fortaleza pode desmoronar-se a qualquer instante. Eles compreendiam que não se pode permanecer sempre no topo. De vez em quando descemos à nossa condição de humanos e aninhamo-nos nuns braços que foram feitos para ser o nosso doce consolo.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Post.it: Abraços

"Cresci sem abraços”, disse ela numa voz nostálgica. “E como senti falta desses abraços”, concluiu. Uma pessoa que conheço, diria, “Quantas histórias há iguais à tua”. Não é uma resposta reconfortante, mas tem um fundo de verdade. Há muitas histórias semelhantes, porque somos duma geração em que esse simples gesto mal existia. Evitava-se o contacto humano, quase que se fugia dele, talvez com receio que enfraquecesse o carácter da criança que se estava a formar. Com medo que ficasse mimada e incapaz de se tornar um adulto apto a assumir o seu papel na sociedade. Alguns  diziam naquela altura, que o carinho era sobretudo uma função maternal.
 O pai saía de madrugada para o trabalho, era o pilar da família, o seu sustento.
 A mãe ficava em casa, cuidava do lar e da educação dos filhos. Mas até as mães tinham dificuldade em dar um abraço, quando era mais fácil oferecer um raspanete.
 Amavam menos os filhos? Certamente que não, apenas o demonstravam de forma diferente.
 Hoje, dão-se muitos abraços, no pouco tempo em que pais e filhos estão juntos. Não diria  que são demais, porque não se contabilizam matematicamente os afectos.
Hoje dá-se tudo, como se estivéssemos a recompensar o que tempo que não temos para estar com os filhos ou então os abraços que nos faltaram na infância.
A atitude de hoje será melhor, será pior, estaremos a embrandecer e a mimar os futuros adultos? O tempo o dirá.
 Mas descobrimos com alguma surpresa, o conforto, a segurança e a tranquilidade que nos pode transmitir esse gesto partilhado.
“Cresci sem abraços”, não sabiam estes pais como era bom dar e receber, um abraço.


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Aguardo

Sabes onde estou?
no teu coração?
na tua recordação?

Para onde vou?
Talvez no vento norte.
Talvez no abraço forte.

A espera é vã, mas espero,
A demora é longa, aguardo.
Aceito, não desespero.
silencio e guardo.

Não posso escolher
Não posso decidir.
Se pudesse, queria ser
A razão do teu sorrir.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (30)

A luz da manhã difundia-se suavemente e a praia ia ganhando vida sob as suas tonalidades douradas reflectidas na areia e na leve ondulação das águas do lago que juntavam o seu marulhar à aragem da brisa e ao canto dos pássaros abrigados na barreira de espinheiros.
Ornix e Corix, concluído o processo de teletransportação, mantiveram-se imóveis na sua levitação, habituando-se lentamente à praia, à sua luz e á sua sonoridade. Corix refez-se completamente e verificaram ambos que a experiência tinha resultado em pleno. O corpo, a mente, a capacidade de sentir e comunicar e o brilho que emanavam estavam intactos. Os dois seres brilhantes mantiveram-se em levitação, esperando que, da parte das fadas, houvesse qualquer movimento.
As forças de segurança que vigiavam a praia também tinham recebido a mensagem tranquilizadora e ficaram ainda mais surpreendidas com a chegada dos dois seres brilhantes. A surpresa levou-as a permanecer imóveis enquanto todo processo decorria. À medida que o brilho ia sendo reconstituído em torno da cabeça dos visitantes, a ansiedade cresceu pois ainda não tinham a experiência de utilização da magia protectora que, afinal, funcionou e tornou possível olhar de frente os dois seres que, assim, aparentemente desprotegidos, se apresentavam destemidamente na praia, no reino que durante séculos fora seu inimigo.
Observaram-se mutuamente até que a fada que comandava as forças de segurança decidiu tomar a iniciativa e dirigiu-se aos dois seres brilhantes. Parou a uma distância que considerou segura e perguntou:
“Quem sois e o que pretendeis?”
Ornix recordou como lhe agradava a forma de falar das fadas e a sonoridade cantada da sua linguagem. Respondeu:
“Somos habitantes da ilha e vimos com a missão de negociar com a vossa rainha o regresso da princesa e dos magos que se encontram com ela.”
A fada comandante não teve tempo de continuar o diálogo, pois a rainha Amada, acompanhada pela fada Astuta e dois outros elementos da sua corte, acabavam de chegar á praia.
O grupo parou a curta distância e olhou de frente os dois seres brilhantes. O silêncio e a expectativa impuseram-se, enquanto se observavam mutuamente. Ornix e Amada reconheceram-se e ambos tiveram a certeza de que as intenções do outro eram puras e verdadeiras. A comunicação silenciosa entre os dois criou a confiança necessária para o início do diálogo. Foi a rainha Amada quem tomou a iniciativa:
“Sede bem vindos ao reino mágico!”
Ornix retribuiu a cortesia:
“Agradecemos as vossas palavras e, antes de mais, queremos assegurar-vos de que vossa filha e os jovens magos se encontram bem e em segurança.”
O silêncio voltou a impor-se. Os séculos de separação e inimizade pareciam querer manter o seu poder de divisão. Mas a vontade de Amada e Ornix foi mais forte.
“Quereis acompanhar-nos à cidade ou preferis negociar aqui na praia?”
Ornix e Corix comunicaram entre si e decidiram dar mais esse sinal de confiança.
“Escolhei vós, nós confiamos!”
Dirigiram-se todos para a cidade, onde chegaram, sob o olhar atónito de uma multidão, ao edifício de conferências da corte. Para assegurar a paridade das negociações, apenas a rainha Amada e a fada Astuta entraram com os dois seres brilhantes na sala de reuniões. Era num piso superior e tinha forma oval e janelas altas e largas, de onde se avistava a cidade em todas as direcções.
Como os seres brilhantes se mantinham em levitação, as duas fadas permaneceram em pé. Apresentaram-se mutuamente e deram início às negociações.

…………..
Continua
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terça-feira, 26 de abril de 2011

Post.it: A escada

A escada, olho-a, não sei se sobe, se desce. Sugere-me idêntico ao dilema da vida, nunca sabemos a direcção em que vamos. Os optimistas dirão que vamos em frente. Os pessimistas, acharão que só se anda para trás. Não querendo discordar de uns ou concordar com outros, digo que o que importa é caminhar. Caminhar sempre, quem sabe se um dia encontra-se o rumo certo. A escada, essa permanece inerte mas não indiferente, está ali como se fosse um convite para partilhar os seus degraus. Os corpos cansados dirão que é muito alta e que já lhes faltam as forças para subir. Para outros, as articulações dificultam o descer.
A escada, olho-a, sinto-a como um momento de evasão. Não sei se sobe, não sei se desce, mas leva-me daqui para algum lugar onde ainda não estou.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril

Com cravos
fez-se a liberdade.
Com cravos
conquistou-se a dignidade.

Com cravos
Este país venceu
Com cravos
um direito que é seu.

Com cravos
Que ficaram na memória.
Com cravos
Que mudaram a nossa história.

Cravo, tão simples flor,
Sem beleza nem encanto.
Acabou com a nossa dor,
Tornou-se o nosso canto.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Boa Páscoa!


Páscoa
Época de renascimento
Talvez um novo Natal.
Lembrando o nascimento
Do nosso eterno ideal.

Páscoa
Por ser tão sofrida
A humanidade a adoçou.
Fechando a ferida
Que a falta de amor causou.

Páscoa
Tempo de ressurreição 
Tempo de mudança.
Quando entra no coração
Uma nova esperança.

Oferta de vida

O sol encoberto,
e o céu ausente.
Tudo se aquieta e cala.
Tudo, menos a chuva e o vento,
…tudo, menos o receio e a dor.
Tudo, até a vida e o passar do tempo,
…tudo, até a esperança e o amor.

Será o fim?
O acabar de uma vida gasta em vão?
Tantos passos e caminhos,
… tantas palavras e gestos,
… tantas centelhas de luz e fé,
… tantas multidões e gentes,
… tantas promessas de vida e paz!
Valeu a pena?
Será o fim?

Não! Não é o fim!
É a semente lançada á terra!
É a semente a deixar-se morrer…
… para germinar,
… para renascer…
… e voltar a ser vida e a crescer!

Não! Não é o fim!
É a semente de um grande amor
… feito palavras de inquietude,
… feito gestos de bondade,
… feito olhares de compreensão,
… feito entrega e perdão.

Não! Não é o fim!
É o preparar da mudança.
… o cumprir da promessa
… a oferta de esperança,
… o princípio da redenção.

Não, não é o fim!
É o anúncio da ressurreição!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O sentido de Amar

“Amar-te é dizer-te que nunca te deixo quando me afasto”
Este é o verdadeiro sentido do querer, do amar. Sem criar prisões, sem aumentar as distâncias. Sem contar os dias, as horas, os segundos. Porque amando, o outro está  sempre presente em si.

Afinal “O verdadeiro amor não se conhece pelo que exige, mas pelo que oferece” (J. Benavente)

Quantas vezes na dissonância entre o que se deseja e o que tem criam-se angústias, que reivindicam, no entanto  “O verdadeiro amor não subjuga, não amarra. Não negoceia, não acaba. Pelo contrário quanto mais damos mais temos para dar”.

Na abnegação  do sentir compreendemos por fim que “A maior prova de amor que podemos receber é saber que alguém nos ama pelo que somos e apesar do que somos” (V. Hugo).

Quando “O amor é uma luz que não deixa escurecer a vida” (C. C. Branco).

Todas as palavras serão sempre poucas para dizer o que sente o coração. Quando compreendemos agora que: “Nos grandes momentos de amor a melhor palavra é o silêncio” (Emílio M.).

Para que um dia olhando para trás não fiquemos com a saudade do ideal que não se concretizou e pensemos: “Oxalá te tivesse amado menos e gostado mais de ti” (Oscar Wilde).

Era uma vez: No reino mágico das fadas (29)

Os primeiros raios da luz matinal começavam a iluminar o lago das mil cores quando, no centro de investigação e pesquisa, o processo de teletransportação de Ornix e Corix se iniciava. Dentro do compartimento transparente, os dois apertaram as mãos e colocaram-se em posição de levitação, completamente imóveis. Sentiram a temperatura do corpo a aumentar lentamente, ao mesmo tempo que iam deixando de sentir peso e um formigueiro agradável e quase reconfortante ia tomando conta de todos os seus órgãos. Os olhos deixaram de ver o interior da sala e foram inundados por uma claridade de tranquilizantes tons amarelos e laranja que os envolveu e absorveu até que deixaram de sentir o corpo e se transformaram em energia e pensamento, tornando-se parte de um todo que não sabiam o que era mas que lhes dava a sensação de existirem para além deles, num estado de infinita tranquilidade. Ornix abandonou-se a essa agradável sensação de se sentir apenas pensamento e paz. Durante os breves momentos que durou a teletransportação nem Ornix nem Corix deixaram de saber quem eram e o que estava a acontecer. Toda a sua consciência e sabedoria se mantiveram intactas, apenas o corpo passou pelo processo de sublimação e reconstrução. Quando começaram a senti-lo novamente foram surpreendidos pela desagradável sensação de arrefecimento e retoma do peso corporal. Corix sentiu-se agoniado e quase não quase não conseguia manter-se de pé quando o processo terminou. Ornix também sentiu algum incómodo, sobretudo por causa do frio, mas rapidamente se recompôs e ajudou Corix a manter-se em posição de levitação até que tudo estivesse concluído.

No reino mágico das fadas, a luz da manhã inundou tudo como há dias não acontecia e com ela chegou uma sensação de tranquilidade que se foi difundindo por todo o reino. Todos foram surpreendidos por uma estranha forma de comunicação, não por palavras, mas por sensações e sentimentos que tomavam o pensamento de todos, concentrando-os numa espécie de mensagem claramente perceptível mas sem frases nem sons. Inexplicavelmente, todos conheceram a origem da mensagem e compreenderam o seu significado e intenção. Por isso, ninguém se inquietou e começaram o dia fazendo a sua vida normal. A única diferença é que se sentiam em paz e segurança, com a certeza de que a inquietação dos últimos tempos iria desaparecer e tudo seria resolvido em bem.

A rainha Amada sentiu exactamente o mesmo que todos os outros. Mas, para ela, essa sensação teve outro significado – a sua filha estava bem e o seu povo continuaria em segurança e em paz. Soube que os seres brilhantes tinham recebido a sua mensagem. Sentiu que tinha de dirigir-se à praia e chamou a fada Astuta para que a acompanhasse. Quando saíram para a praça, havia uma multidão que aclamou e seguiu a rainha.

Na ilha a mensagem também tinha sido sentida por todos, incluindo as forças militares do reino mágico, que se preparavam para regressar, e a princesa Marbel que, tal como os jovens magos, se encontrava quase completamente recuperada. Todos foram invadidos pela mesma sensação de tranquilidade e segurança que se sentiu no reino mágico.

Só ao lago das mil cores a mensagem não se difundira, impedia pela a luta entre os seres benéficos e os maléficos que não ainda não haviam sido totalmente dominados. Ainda persistiam algumas nuvens ameaçadoras onde se escondiam as criaturas aladas e negras que tinham servido Ansiex e os seus cúmplices.
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Continua
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No reino mágico das fadas (30)
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terça-feira, 19 de abril de 2011

Tudo pode ser diferente

Quando o braço
deixa de ser apenas braço
e estendendo-se torna-se abraço.

Quando a voz
deixa de ser apenas voz
e o coração fala por nós.

Quando o sorriso
deixa de ser apenas sorriso
e passa a ser o carinho preciso.

Quando o beijo
deixa de ser apenas beijo
e passa a ser doce ensejo.

Quando os olhos
deixam de ser apenas olhos
e passam a ser luz dos sonhos.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Post.it: Dias da música

Dias em que os sons se completam para nos oferecer a mais sublime sensação de paz e harmonia com o mundo.
Num primeiro momento o suspense que aumenta a expectativa, os primeiros acordes, cada instrumento no seu tom procura a nota que os unifica e quando nos parece que tal momento nunca vai acontecer, a melodia surge, cresce, entra-nos pelos ouvidos, pelos olhos, percorre o caminho de nosso corpo, brinca com as células, que animadas correm como se tivessem uma mensagem  urgente  para entregar. Chegam ao cérebro, invadem o coração, inundam a alma.
No momento de apogeu, nós, a  música e o universo somos um todo, um só elemento, um só ser fremente de sensações,  palpitante de vida.
Dias da Música, apenas 3 dias, deviam ser 365.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Post.it: PPR - Plano Para Recordar

Há muito que não me recordava daquela senhora de generosa idade e olhar complacente.
Nunca lhe perguntei o nome, mas gostava muito de a encontrar de quando em vez. Tinha sempre um sorriso desenhado nos lábios. O corpo já meio debruçado acusava o cansaço dos anos, mas insistia em continuar a trabalhar. Quando eu a via, ainda o dia mal acordara mas ela já tinha lavado as escadas do seu prédio e ia comprar uma carcaça para tomar o pequeno almoço. O bom dia vinha pronto e cheio de energia, um dia perguntei-lhe a idade. Fez um sorriso de menina e encolheu os ombros sem me responder, deixou no ar a incógnita que só o merceeiro desvendou. – Tem 91 anos, não parece pois não?
Parecia feliz, como se fosse possível ser feliz com aquela idade em que todas as dores e maleitas incomodam.
   Lá incomodar, incomodam. Respondeu-me.  – Mas faz parte, já as conheço há tantos anos que nem lhes ligo. Porque cada dia é um presente e envelhecer não tem que ser triste, desolador, como os mais novos pensam. Não é um tempo de acabar mas de começar. Começar a andar devagar mas também a ver melhor o caminho, a paisagem à nossa volta.
A solidão, não tem que ser solitária se tivermos aproveitado a vida para fazer o que gostamos. Dessa forma guardámos recordações  que nos fazem companhia.
Por vezes brinco e digo que no meu tempo de juventude não havia PPR(s). Mas que eu tive sempre o cuidado de ir juntando, não dinheiro que este mal chegava para o dia a dia,  mas lembranças e criei o meu PPR (Plano Para Recordar)
Muitos idosos vivem tristes porque só guardaram tristeza.
Colocou-me a mão no rosto e disse sabiamente. 
– Olhe, sabe o que lhe digo?  Comece hoje a sorrir e a juntar sorrisos para no futuro recordar. E quando chegar à minha idade faça viagens de prazer e não de culpa.
Porque o que passou, passou.   Recorde apenas o que de bom  ficou…

Era uma vez: No reino mágico das fadas (28)

A noite caía na ilha, ameaçando tornar-se mais escura de sempre, quando os quatro grupos de fadas exploradoras tinham entrado na cidade por quatro pontos opostos entre si. Percorreram sem serem detectados todos os caminhos que iam dar à praça central e acompanharam sem serem detectadas vários grupos de seres brilhantes que, invariavelmente, falavam da conspiração de Ansiex e do receio das possíveis consequências das mensagens falsas que enviara ao reino mágico das fadas. Quando os quatro grupos se encontraram no centro da cidade e trocaram as informações recolhidas, rapidamente concluíram que o ataque não poderia concretizar-se, pois tinha sido induzido por uma artimanha alheia ao conselho de decisores da ilha que, como a rainha Amada e a sua corte, desejavam manter a paz e resolver o incidente da princesa Marbel pacífica. Apressaram-se a regressar para comunicarem às fadas-comandantes as boas notícias.


Enquanto isso, Ornix, já nos seus aposentos particulares e sem conseguir dormir, obrigava-se a permanecer imóvel, para descansar e ganhar a concentração necessária ao cumprimento da missão a que se propusera. Era um quarto amplo com várias janelas que deixavam ver o exterior: as luzes da cidade e o céu carregado de nuvens negras que substituía, naquela noite, a habitual a visão de um céu tenuemente iluminado pelo brilho da lua e das estrelas, matizado de mil de cores emprestadas pelas águas do lago. Ornix sentia o passar lento de todos os minutos daquela noite que lhe parecia a mais longa de sempre. A esperança de que tudo se resolvesse era grande, mas não abafava o receio de que o seu encontro com a rainha Amada viesse a tornar-se impossível, assim como a manutenção da paz.


Muito antes da hora marcada para o início da inovadora viagem ao reino mágico das fadas, Ornix entrou no edifício dos serviços de investigação e pesquisa científica. Os professores Inventix e Corix já haviam chegado. Também eles tinham passado a noite com alguma ansiedade. Encontraram tudo pronto, pois a equipa responsável por aquele projecto tinha ficado toda a noite a trabalhar na preparação da viagem. Ornix e Corix entram num pequeno compartimento de um material transparente cujo fundo e tecto eram constituídos por um painel onde brilhavam milhares de pequenos dispositivos comandos dos dispositivos electrónicos que concretizariam todo o processo de teletransporte e que poderiam ser utilizados pelo pensamento, sem necessidade de contacto físico. Os corpos dos dois seres brilhantes seriam teletransportados, através de um processo de fusão de células que transformaria toda a matéria orgânica em pura energia que seria enviada, à velocidade da luz, em direcção ao reino mágico. À chegada, aconteceria o processo inverso e toda a energia voltaria a assumir a sua forma original. Este processo havia sido experimentado com animais e plantas e resultara. No entanto, os seres brilhantes eram mais complexos, sobretudo ao nível da mente e das suas capacidades. Era esse o maior perigo da experiência, pois desconhecia-se se a mente, com todos os seus pensamentos e conhecimentos voltaria a ser totalmente e bem reconstituída. Ornix e Corix estavam conscientes deste perigo, mas também sabiam como importante e necessário corrê-lo.


Algumas mensagens de voz tinham sido transformadas em pensamento e seriam enviadas em ondas de rádio também para o reino mágico, num comprimento de onda que poderia ser sentido e compreendido pela rainha Amada e pela população do seu reino. Assim, quando Ornix e Corix chegassem e os seus corpos se materializassem novamente, poderiam ser bem recebidos. Pelo menos era o que se esperava que acontecesse.


Entretanto, as forças militares do reino mágico estacionadas na ilha já conheciam as informações recolhidas pelos grupos de fadas exploradoras e, aos primeiros anúncios da madrugada, tinham chegado as fadas aladas com a ordem de retirada enviada pela rainha Amada.


A tempestade também dava sinais de amainar em resultado dos avanços dos seres benéficos da ilha que tinham conseguido aprisionar, de novo, as feiticeiras e começavam a dominar os seres maléficos que, lentamente, iam sendo empurrados para as águas profundas. As cores começavam a voltar ás águas do lago que, a pouco e pouco, iam reconquistando a sua serenidade.

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Continua

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No reino mágico das fadas (29)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Post.it: Gastamos o tempo

A vida é curta dizemos frequentemente. Mas ela tem o tempo necessário para que façamos todas as coisas para o qual fomos destinados. Que deve ser e fazer os outros felizes. No entanto não aproveitamos devidamente esse tempo quando o gastamos em coisas contrárias ao sentido da nossa existência.
Gastamos o tempo:
- A julgar os outros.
- Quando os devíamos apoiar.
- A dizer palavras que podem ferir.
- Quando devíamos oferecer palavras de amizade.
- A expor o nosso eterno descontentamento.
- Quando devíamos valorizar o que temos.
- A clamar o nosso pessimismo.
- Quando podíamos encontrar em tudo algo de positivo.
- Com queixas, culpas e medos.
- Quando devíamos lutar para chegar à vitória.
- Com exacerbadas preocupações.
- Quando devíamos aproveitar os pequenos prazeres da vida.
- Com acusações e egoísmos.
- Quando devíamos compreender e partilhar com os outros.
- Com rancores do passado.
- Quando devíamos esquecer as mágoas e lembrar as coisas boas.
- Com palavras vãs.
- Quando devíamos respeitar o silêncio que fala por nós.
- Com pensamentos que nos enfraquecem.
- Quando devíamos reconhecer a nossa força interior.
- Quantas vezes a dizer, não consigo.
- Quando devíamos dizer, eu sou capaz!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Como te esquecer

Saudade,
que nome te hei-de dar
Prisão na liberdade.
de querer em ti ficar.

Saudade
Que hei-de fazer contigo
Minha doce ansiedade
Encontrou no peito abrigo.

Saudade
Como te esquecer
Se és a verdade
do meu estranho viver.

Saudade
Sem te abandonar um só momento
És mais forte que a vontade.
Lembro-te até no esquecimento.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (27)

No conselho de decisores chegou-se, entretanto, a consenso sobre o destino dos responsáveis pela situação de perigo em que se encontravam, mas guardaram para mais tarde a sua aplicação, pois urgia decidir sobre o que fazer. Os dois investigadores expuseram as possibilidades de aplicação da nova tecnologia, alertando para o facto de ainda não ter sido testada e, além disso, poder ser condicionada pela violência da tempestade. Comunicar à distância seria o ideal. Porém, como saberiam a resposta das fadas se elas não dispunham da mesma tecnologia? Logo, seriam necessários pelo menos dois voluntários para experimentar o teletransporte. Havia o perigo da experiência não resultar e poderem perder a vida. Mas ser resultasse, seria a forma mais rápida e segura de comunicar e chegar a um entendimento com as fadas.
Ornix tomou a palavra.
“Eu desejo participar nessa experiência!”
O zunido de espanto agitou o anel de luz e quase todos os decisores oscilaram na sua levitação. Não era, de todo, usual nem aconselhável que o líder do conselho tomasse parte em tais missões.
“Sei o que estais a pensar. Porém, sinto-me um pouco responsável pela acção de Ansiex. Fui eu que o eduquei e talvez até a sua participação neste conselho tenha sido influenciada, embora involuntariamente, pela sua familiaridade comigo.
A agitação que se fez sentir na sala mostrava bem que ninguém concordava com tais afirmações. Ornix sempre fora exemplo e a educação que dera a Ansiex seguira todos os padrões e princípios que vigoravam na ilha. Ninguém lhe atribuía qualquer responsabilidade pela conduta do sobrinho. Foi isso que vários decisores expressaram quando tomaram a palavra para reflectir sobre esta proposta de Ornix.”
Contudo, o líder do conselho foi persistente na defesa da sua posição e conseguiu convencer os restantes membros com a sua determinação:
“Agradeço todas as palavras de apreço que aqui ouvi. Porém, além de todos os argumentos que já expressei, há mais dois: Não tenho filhos nem outra família além de Ansiex, que já não precisa de mim. Tive já uma vida longa e feliz, com responsabilidades no governo da ilha e sinto-me honrado pela confiança que sempre depositaram em mim e, deixai-me dizê-lo, orgulhoso do progresso e da qualidade de vida e das relações sociais que todos ajudámos a criar e a alcançar. Permiti-me fazer isto. Tomai-o como uma necessidade de, mais uma vez, viver ao serviço da paz, ou morrer, se for caso disso.”
O argumento maior guardou-o para si. Desejava ver a rainha Amada. Esta seria a forma mais rápida e talvez a única oportunidade de o conseguir.
O conselho acabou por decidir a seu favor. A ele juntar-se-ia um dos investigadores – Corix – pois, de acordo com as razões que apresentou, seria bom que um dos participantes na experiência conhecesse a tecnologia para melhor poder utilizá-la e, caso fosse necessário, ajustá-la.
A partida ficou marcada para a manhã seguinte, pois a noite aproximava-se e seria demasiado perigoso desafiar a tempestade e a escuridão simultaneamente.

Entretanto, as forças militares do reino mágico das fadas começavam a avistar a concentração de nuvens densas e negras que cobriam a cidade dos seres brilhantes. As fadas que as comandavam decidiram que era melhor parar e mandar pequenos grupos exploratórios fazerem um reconhecimento do território, pois não seria aconselhável avançar para o desconhecido. Formaram-se rapidamente quatro equipas de voluntários. Cada uma entraria na cidade por um dos pontos cardeais e encontrar-se-iam no centro para regressarem todas juntas com as informações que conseguissem recolher.

No reino mágico, a fada Astuta dava ordem de partida ao grupo de fadas aladas que iriam enfrentar a tempestade e o lago com as suas forças maléficas na tentativa, que não poderia falhar, de impedir o ataque da ilha pelas forças do reino, devido a um tremendo mal entendido que poderia destruir a paz alcançada e comprometer um futuro de entendimento e até cooperação.
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Continua
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terça-feira, 12 de abril de 2011

Post.it: Só um bilhete


Fui ao cinema, não é importante o que escolhi para ver mas o que entretanto aconteceu. Fui ao cinema sozinha, não por não ter companhia, mas porque me sentia bem assim. Sem ter que negociar horários, filme, local, comentários durante a exibição ou ter que dividir as pipocas. Quando pedi um bilhete, o jovem fez um olhar incrédulo, quase me ri e apeteceu-me dizer “Sou gira mas nem tanto que seja estranho vir ao cinema sozinha”, parecia hesitante ao dar-me o bilhete, esse bilhete único, pedacinho de papel, triste de tão sozinho. Sorri-lhe, e com o meu habitual bom humor disse-lhe “Só se você quiser fazer-me companhia?”. Corou: - Não posso sair daqui. Respondeu-me. Mantendo o tom de boa disposição, retorqui, “Vê, até você me deixa sozinha, triste e abandonada!”. Este breve diálogo durou o tempo da compra de um bilhete. Um solitário bilhete comprado por alguém que não se sentia só. Um solitário bilhete vendido por um jovem sozinho no seu posto de trabalho, sem que alguém  lhe dissesse algo mais do que a informação de quantos bilhetes pretendia. Senti-me satisfeita, porque a minha “solidão”  fez-lhe por um instante companhia. Afastei-me feliz porque sentia ainda o seu olhar a acompanhar-me, e porque perspectivava que o filme oferecer-me-ia um excelente  final de tarde...
 

Era uma vez: No reino mágico das fadas (26)

Finalmente, os magos mensageiros completaram a viagem de regresso e ultrapassaram a barreira de espinheiros. Respiraram de alívio, pois a magia da bolha protectora começara a enfraquecer e a nenhum deles sobrava forças para a reerguer. Assim ficaram visíveis, foram recolhidos pelas forças de segurança que se encontravam de vigilância na praia e, apesar de extremamente cansados, pediram para ver imediatamente a rainha Amada. À medida que se aproximavam da cidade, a tempestade começava a amainar e o sol ia rompendo as nuvens negras que se haviam apoderado dos céus do reino mágico.
Ao mesmo tempo, nos laboratórios dos serviços secretos, os técnicos tinham conseguido descobrir, finalmente, o significado da luz verde que piscava nos pequenos aparelhos metálicos e dirigiam-se também para o palácio.
A rainha Amada recebeu-os a todos em conjunto, pois rapidamente percebeu que as informações estavam todas relacionadas. O relato dos magos mensageiros da maquinação política que se passara na ilha, a mensagem escondida pela luz verde do robotix e finalmente encontrada e a nova proposta de Ornix para um encontro de negociações pacíficas, tudo batia certo e constituía uma lufada de esperança que poderia ainda salvar a paz, se agissem prontamente.
Não havia tempo a perder. Era necessário travar o avanço das forças de ataque que haviam partido para a ilha. A fada Astuta organizou um grupo de fadas aladas treinadas especialmente para viagens muito rápidas e especialistas na magia da comunicação de pensamentos a grandes distâncias. Uma magia difícil de pôr em prática e que exigia grande concentração.
Porém, as forças do reino mágico, acabavam de chegar à praia da ilha e avançavam para a floresta. Apesar da organização e eficácia dos serviços de defesa liderados pelo Guardião, o contingente militar não foi detectado e rapidamente deixou para trás as areias revoltas da praia e penetrou na floresta.
A tempestade parecia ganhar cada vez mais força e era difícil encontra caminho por entre o arvoredo em reboliço. Assim, os magos e fadas, ainda protegidos pela magia que os tornava indetectáveis, resolveram elevar-se e sobrevoar a floresta, embora corressem maior risco de ser descobertos e ficassem mais expostos à fúria do vento e da chuva. Aos pouco, foram progredindo e começaram a avistar a cúpula do edifício da clareira onde supunham que ainda se encontrava a princesa. Deixaram aí um contingente de mil efectivos a cercar a clareira. Os nove mil avançaram em direcção à cidade que se encontrava completamente coberta por densas nuvens negras.
Na sala do conselho, Ornix e os restantes decisores encontravam-se reunidos. O anel de luz que os unia era intenso e a intermitência do zunido era acompanhada pelo ondular inquieto das paredes. Todos conheciam já a manobra de Ansiex e decidiam o que fazer em relação a ele e aos seus cúmplices que, àquela altura, já haviam sido encontrados e aprisionados.
Foi uma discussão longa e difícil pois há séculos que tal tipo de decisão não era necessária. Além disso, esta acção que colocava a ilha e todos os seus habitantes em perigo era ainda mais grave por ter sido liderada por um membro do conselho, o que punha em causa o próprio sistema de escolha dos elementos deste órgão decisor. Porém, neste momento, essa reflexão política não poderia ser feita. O que se impunha era evitar a todo o custo que a actuação revoltosa de Ansiex tivesse como resultado uma guerra entre os dois reinos. Por isso, encontravam-se também presentes o Guardião e os investigadores que estavam a aperfeiçoar a técnica de comunicação e transporte à distância já possível, mas pouco aperfeiçoada.

No lago das mil cores, que separava os dois reinos, a feiticeiras haviam conseguido libertar-se e lideravam, agora, os seres maléficos que se ocupavam a tentar dominar e manter nas águas frias e profundas do lago os seres pacíficos que, habitualmente, controlavam as águas superficiais, mantendo-as calmas, livres de magias e feitiços maldosos e prejudiciais e com uma ondulação suave de mil tonalidades suaves e tranquilizadoras. Com a tempestade e a vitória das feiticeiras, tudo isso desaparecera. As águas do lago enovelavam-se em latas e violentas ondas de tons de cinza e de vermelho vivo e ameaçador. A luz do sol não chegava à superfície havia várias horas e os ventos e chuvas de granizo e ácido cada vez mais forte e fétido pareciam querer dominar o lago para sempre.

Porém, do lado das margens do reino mágico das fadas, a luz do sol começava a ganhar força e lentamente começava a ganhar brilho e força. Ainda haveria esperança?
………......…
Continua
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No reino mágico das fadas (27)
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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Post.it: A idade

“A idade nunca terá a suficiente idade para nos fazer sentir que temos esta ou aquela idade”. Anne Pakerson
Parece uma frase absurda mas a verdade é que a idade é apenas distância que se contabiliza entre o nascimento ao firmamento.
Claro que há dias em que acordamos e  sentimos “o peso da idade”, dizem alguns. Outros menos idealistas preferem acusar a balança, outros escondidos em esfarrapadas desculpas culpam o tempo: a teimosa  humidade, a chuva, o vento ou até o sol. Seja como for há sempre um argumento para quem consciente da sua idade recusa aceitar que chegou a essa idade. Para esses costumo dizer: - Se estás infeliz com a tua idade então vive a idade que sentes, que importa se sobre a idade mentes?. Não é mentira, garanto-te, que culpa tem o corpo da dissonância etária do coração? Se este ainda permanece jovial enquanto por fora os cabelos brancos começam insistentemente a surgir por entre os outros como se fosse uma invasão de heras dominantes.
Por isso não esqueçamos que a “A idade dos homens, vista de dentro, é eterna juventude”. Hugo Hofmannsthal.
Conta a idade por aquilo que verdadeiramente importa, “Conta a tua idade pelo número de amigos, e não pelo número de anos. Conta a tua vida pelos sorrisos, e não pelas lágrimas". John Lennon

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Post.it: Inquietude

Finalmente se aquietara, as mãos repousavam sobre o colo, o olhar encontrara um lugar onde descansar. Como me cansava por vezes esta minha amiga. Irrequieta nas palavras e nos gestos. Tomar um café com ela era demasiadas vezes sinónimo de garganta escaldada. Ela que o bebia num único trago e logo de seguida erguia-se e desafiava-me a acompanhá-la num longo passeio. As conversas eram uma torrente de comentários saltitantes. Narrativas sobre assuntos diversos que começavam e acabavam antes de os apreender, antes de os racionalizar.
Finalmente se aquietara, pensava eu. Mas o silêncio crescia, começava a ficar preocupada, quase assustada com a sua imensidão.
-Estás bem? Questionei.
Olhou-me sem responder. Mergulhou-me nos olhos. Senti que me afogava nos seus. Vi neles um grito trémulo de desespero.
Depois afastou o olhar envergonhado da silenciosa confissão. “Preciso de ajuda” dizia sem o expressar oralmente.
“Estou aqui” respondi-lhe no mesmo código de silêncio.
Caminhámos devagar, lado a lado, confiantes, já não estávamos sós e havia de surgir uma solução.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (25)

Depois de quase um dia de busca, o corpo de vigilantes da ilha encontrou os prisioneiros, ainda na mesma caverna escura e fria, agora também bastante húmida, onde o zunir dos ventos se ouvia ameaçador e inquietante.
A princesa encontrava-se inconsciente, pela falta de conforto e de alimento, e não se mexia há vários dias, o que preocupava os jovens magos que, mais resistentes e apesar da fraqueza física, se mantinham semiconscientes. O estado de carência alimentar, a temperatura baixa e a humidade tinham debilitado os seus corpos e reduzido totalmente as suas faculdades mágicas e a sua capacidade de comunicar através do pensamento. Assim, e como se encontravam amordaçados, já não podiam nem sequer falar ou alentar-se mutuamente. O vigilante que com eles fora aprisionado, há muito que deixara de dar sinais de vida.
Foram prontamente transportados para a cidade, para a unidade de cuidados de saúde, onde vários médicos se empenharam na sua recuperação. Ornix tinha esclarecido bem a importância do sucesso dessa recuperação. Talvez só isso pudesse evitar o confronto com o reino mágico das fadas.
Entretanto, na corte da rainha Amada, discutia-se a organização do reino para enfrentar o perigo que viria, certamente, assim que as forças do reino atacassem a ilha. No coração da rainha ainda havia uma réstia de esperança acalentada pela luz verde do pequeno aparelho cujo significado e função os serviços secretos continuavam a tentar descobrir. Mas o ruído e o negrume da tempestade que, finalmente tinha vencido a magia do reino mágico e cobria toda a cidade, espalhava o temor e o desânimo entre a população que, perante o perigo, esquecia as normas do reino e começava a utilizar as artes mágicas para resolver problemas tão simples como pequenos acidentes ou desentendimentos, gerando exactamente o oposto do que seria necessário – a união de todos.
Enquanto isso, na ilha, o Guardião preparava os serviços de defesa para um eventual ataque, dando ordens para que não fosse utilizada violência desnecessária e fossem envidados todos os esforços para evitar e anular os confrontos. Ornix fora bem claro – a guerra tinha de ser evitada a todo o custo. Os séculos de aposta no progresso e no desenvolvimento não podiam ser agora anulados por um mal entendido provocado pela ânsia de poder do seu sobrinho!
Os magos mensageiros que ainda enfrentavam a tempestade nos céus do algo começavam a avistar a praia e a barreira de espinheiros envoltos em nuvens de areia e batidos violentamente pelo vento. Os quatro jovens sabiam da importância da sua missão. Por isso, apesar do cansaço, mantiveram-se empenhados em progredir o mais rapidamente possível. Mal sabiam eles que, no sentido oposto, um grande contingente de magos e fadas militares venciam rapidamente a tempestade e a distância e começavam, por sua vez a avistar as praias da ilha, também batidas violentamente pelas águas e constantemente erguidas em remoinhos de areia pelo vento.
Apesar de ter passado apenas uma escassa dezena de dias, todos sentiam já como longínqua a vida tranquila que os tempos de paz haviam oferecido e que a irreflexão da princesa e a ambição do poder político ameaçavam destruir.
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Continua
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No reino mágico das fadas (26)
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quinta-feira, 7 de abril de 2011

É urgente...

Criança perdida
no mundo e no medo
esconde-se até da vida
e guarda um segredo.

Quer brincar e sorrir
ter amigos e contar
fugir do quarto escuro
que não a deixa sonhar.

Chora por dentro,
sem lágrimas.
Revolta-se e grita,
em silêncio.
Ninguém vê
Ninguém ouve
Ninguém chega
Ninguém, ninguém!

Crime. Dizemos todos!
Não basta dizer!
É preciso ouvir e ver!
É preciso e urgente chegar!

Nota: Abril é o mês dedicado à prevenção dos maus tratos na infância. Infelizmente é necessário. Quem dera que não fosse!

Post.it: Segue o olhar do coração

Ele tinha acompanhado na vida muitos inícios e os fins de relações. Por medo de ser mais um a viver uma história semelhante, recolheu-se a um espaço de tranquilidade e segurança. Se era feliz assim? Não, não era, sentia um vazio, um silêncio que  crescia que lhe invadia a alma.
Ela cuidara sempre dos outros e poucas vezes tivera tempo para si, acompanhou os irmãos mais novos, a doença dos pais, e escolheu por dedicação, ser enfermeira e continuar a cuidar dos outros. Esse parecia ser o seu destino. Se era feliz? Convencia-se que sim, quando olhava para um doente que lhe oferecia um sorriso agradecido pelo reconforto na dor.
O caminho tem tanta estrada para percorrer que em algum momento temos de nos sentar e olhar em redor.
Quantas vezes se sentara naquele banco de jardim, olhando para a natureza e em direcção ao topo das árvores. Naquele dia os seus olhos cansados preferiram repousar mais em baixo, ela estava  de olhos fechados. Admirou-se, quem  fecharia os olhos num local tão bonito. Quem teria coragem para não encarar o que a mãe natureza lhe oferecia?
Ela estava cansada, tão cansada naquele dia, quem lida diariamente com a vida, lida igualmente com a morte e fora o que sucedera, assistia à morte de um doente. Depois disso não foi para casa, apeteci-lhe mergulhar num mundo sem dor, cheio de imortalidade. Fechou os olhos e sonhou. Sonhou com esse mundo. Quando abriu os olhos ele olhava-a, com o espanto desenhado no rosto. Ela riu-se, sem saber porquê mas riu-se. Dizem que é bom quando logo no primeiro momento a pessoa que nos é estranha nos cativa um sorriso.
Ela sorriu, ele aproximou-se e de repente teve a maravilhosa sensação de que já a conhecia há muito tempo. Desconhecia o seu nome, mas sentia-se tão bem na sua presença, como se ao fim de uma longa vida a tivesse finalmente encontrado. O coração disparou, assustou-se. Temeu  que este início se tornasse um final. Mas logo acalmou e entendeu que era ele a celebrar o amor que nascia assim: incrédulo, jovial,  e sonhador
Ele aproximou-se num passo lento mas decidido, parecia que vinha trazer uma mensagem muito importante. Hesitou, ela pensou que tinha mudado de ideias. Ele prosseguiu, sentou-se ao lado dela. As palavras não saiam mas e no entanto não havia silêncio. Ela sentiu que todo ele era promessa de sonhos que nunca se permitira sonhar. Sentiu  que dizia, “agora que te encontrei, vou cuidar de ti, vou amar-te e fazer-te feliz”. Mais tarde contou-lhe a sua impressão e ele confirmou que tinha pensado tudo isso, mas na sua timidez não o conseguira expressar.
Os anos passaram, nunca mais se separam. Construíram  uma relação de carinho, de cumplicidade, de companheirismo. Sentiram o amor neles a crescer como um filho que geraram e do qual desejavam cuidar até à eternidade. Pensavam que já era tarde para eles, que nunca iria acontecer. Mas descobriram que nunca é tarde para amar, porque o coração não tem idade. Continuam a partilhar  hoje o mesmo ideal de sempre, defendendo que nada faz sentido neste mundo se não tocarmos o coração de uma pessoa. E que a vida está cheia de pequenos e constantes momentos de felicidade, só temos que direccionar para lá o nosso olhar.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Post.it: Sobreviver à crise

Já estou angustiada de tanto ouvir falar da crise. Por isso pensei, já que ela se instalou como uma hóspede que não convidámos, o melhor a fazer é aprender a conviver com ela.  Resolvi fazer uma lista de pequenas coisas que posso fazer sem agravar mais ainda as minhas finanças. Aqui vão algumas hipóteses:
1      – Dar  longos passeios, caminhar a pé. Há por este país  muitos locais bonitos e gratuitos.
2      – Ler,  tenho  na estante vários livros que ando continuamente a adiar para as férias de verão. E porque não reler os que já li e que me deram tanto prazer?
3      – Ouvir  boa música,  tenho uma grande quantidade de CDS que já não ouço há muito tempo.
4      – Vou talvez  dedicar-me  aos amigos, conversar, rir, partilhar ideias.
5      – Vou passar algum tempo na cozinha, o jeito pode não ser muito mas com um pouco de  imaginação e criatividade quem sabe se não sai um bom e barato petisco?
6      – Que tal abrir o baú das roupas, a moda é cíclica, o que é de outros tempos volta a ser um must nos dias de hoje. Combinar cores, tecidos, divertir-me a desfilar e a criar modelitos.
7      – Ou então escrever, quem sabe se dentro de mim não estará o próximo Nobel da Literatura? Se não estiver pelo menos diverti-me.
8       Depois quem sabe, meditar um pouco, acalma o espírito e a mente. Dar primazia à  imaginação, permitir-me ir a lugares paradisíacos sem sair do meu sofá.
9      – Tenho ainda como alternativa, sorrir, dançar na sala, cantar a plenos pulmões. Os vizinhos vão compreender que de vez em quando temos de libertar a  criança que há em nós.
10   – Porque não mimar-me? Dedicar-me algum  tempo, ao meu corpo. Passar um creme hidratante. Se tiver alguém por perto ainda dava mais jeito, quem sabe conseguia uma massagem.
11   – No final do dia, vou encarar a crise de frente, para evitar ser dominada pelo stress. Não quero antecipar o sofrimento. Deve-se viver um dia de cada vez  e preenchê-los com boa disposição.
12   – Adormecer, sonhar e acordar  tranquila, espreguiçar-me. E começar o dia com  pensamento positivo.

“A crise embora possa “doer” não é necessariamente uma coisa má. Pode ser também uma lição e uma oportunidade.”

Era uma vez: No reino mágico das fadas (24)

Ao mesmo tempo que Ornix questionava o sobrinho sobre a troca de mensagens e descobria, com a colaboração do professor Inventix e da sua tecnologia de leitura dos pensamentos, toda a trama urdida por Ansiex, a fada Astuta encontrava-se diante das forças militares do reino mágico. Jovens fadas e magos, usando fatos justos de um padrão que combinava cores e tons que se adaptavam e confundiam com o espaço envolvente, armados com a força da união de corações e mentes e com a confiança que lhes davam as magias secretas e poderosas que só eles sabiam utilizar, perfilavam-se na praia, olhando de frente o temporal que ameaçava desfazer-se em granizo e ácido e as nuvens negras que se elevavam como altas muralhas sobre as águas revoltas que, contudo, não ousavam atirar a rebentação das ondas além da linha de algas e musgos que delimitava o lago.


À ordem da fada Astuta, o contingente mágico formou grupos que, pela magia da bolha protectora, se foram tornando invisíveis, um após outro. Esta magia tinha sido reforçada, o que permitia aos militares manter a mente livre e activa, com atenção plena ao percurso e a tudo o que os rodeava, podendo mesmo agir sem que a força se desfizesse. Foi assim que foram avançando no meio da turbulência da tempestade, afastando os perigos que se elevavam das cores maléficas do lago que, naquela altura e reforçadas pela tempestade, já tinham dominado completamente as cores benéficas e os seres pacíficos que habitavam as águas.


Aos poucos o lago transformara-se num mar de maldade e raiva que tornava a tempestade mais violenta e, ao mesmo tempo, se alimentava dela. Nos céus negros e revoltos, um numeroso bando de criaturas negras volteava ameaçadoramente e formava uma barreira que, à ordem de vários seres brilhantes apoiantes de Ansiex, vigiavam as possíveis rotas de passagem entre o reino mágico das fadas e a ilha. Felizmente, os revoltosas desconheciam a magia da invisibilidade das fadas e, por isso, não deram pela passagem dos jovens magos mensageiros que, a esta hora, começavam a avistar a praia, sem terem sido vistos e sem terem detectado a força militar que se dirigia para a ilha. A magia protectora revelava assim a eficácia do seu poder que, nesta situação, foi desfavorável para todos. O contingente de ataque do reino mágico avançava com alguma dificuldade, mas ia vencendo tenazmente os perigos dos céus e das águas do lago das mil cores.


Na ilha, o conselho de decisores fora posto ao corrente das manobras de Ansiex, já imobilizado e impedido de se comunicar com os seus cúmplices. Os serviços de segurança da ilha preparavam-se para desmantelar a teia da revolta, enquanto um corpo de vigilantes se dirigia para as montanhas dos ventos uivantes, a fim de encontrar a princesa e os jovens magos. Temiam que estivessem maltratados ou até sem vida, pois os pensamentos de Ansiex não haviam mostrado clareza sobre o estado dos prisioneiros, por astúcia ou confusão natural devido á situação difícil em que se encontrava. Esta possibilidade ensombrava ainda mais o coração de Ornix que, assim, via comprometidas as hipótese de entendimento com o reino mágico das fadas.


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Continua

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No reino mágico das fadas (25)
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terça-feira, 5 de abril de 2011

Post.it: Por onde passo

Por onde passo, gostaria de deixar pegadas de esperança. Porque a esperança é como uma bússola que nos indica o caminho quando andamos perdidos. Por onde passo gostaria de deixar a lembrança não de uma nuvem, mas de apenas uma pequena gota que dela deslizou.
Por onde passo gostaria de deixar um sorriso mesmo que não fosse a felicidade, mas apenas uma vaga sensação de bem-estar. Por onde passo gostaria de deixar uma flor, não a mais bela do jardim, mas aquela que mesmo sem ser singela tem a delicadeza de não picar. Por onde passo gostaria de deixar um pouco de coração, não aquele que a todos abriga de igual forma, mas o que em algum momento tocou outro, mesmo que tenha sido apenas um único. Por onde passo gostaria de deixar o caminho aberto, pode não ser o mais fácil mas que seja um pequeno carreiro para o rumo certo. Por onde passo gostaria de ficar, não para a eternidade da existência, mas apenas para a eternidade do instante.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Não baixes os braços

Não baixes os braços,
cansados de lutar.
Não feches os olhos,
cansados de chorar.
Não feches a boca,
cansada das palavras vencidas.
Não feches o coração,
cansado de sofrer.
Porque preciso dos teus braços,
para me abraçar.
Porque preciso dos teus olhos,
para me iluminar.
Porque preciso dos teus lábios,
para te beijar.
Porque preciso do teu coração,
para continuar a amar.
Não te deixes vencer.
Não te deixes perder.
Um verdadeiro  vencedor,
Reconhece-se na hora da dor.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (23)

Mas os portadores da mentira de Ansiex tiveram foram mais rápidos e chegaram ao outro lado do lago antes do centro da tempestade e, por isso as nuvens ainda não tinham encoberto o sol por completo, começaram a avistar o areal que separava a barreira de espinheiros das águas do lago das mil cores, ao mesmo tempo que as forças de segurança os viram a eles. Resolveram não arriscar e fizeram um voo super rápido sobre a praia, deixando cair o robotixis que continha as palavras ardilosas cujo poder talvez não fosse possível suster.

O pequeno aparelho metálico foi prontamente levado para as instalações dos serviços de defesa, onde a fada Astuta mandou reuniu, de imediato, as dez fadas-comandantes e os dois magos dirigiam os serviços de pesquisa sobre a tecnologia dos seres brilhantes. Todos repararam que, desta vez, não existia nenhuma luz verde, apenas uma luz vermelha e intermitente. Foi a própria fada Astuta que ligou o dispositivo que fez soar a gravação. Era a mesma voz autoritária e ameaçadora que os primeiros aparelhos tinham trazido até ao reino mágico das fadas. Todos ficaram em completo silêncio e com o coração apertado, enquanto as palavras rompiam e quase feriam o ar:

“Não vos canseis a enviar mensageiros que apenas aumentarão o número de prisioneiros. A nossa decisão está tomada. A princesa e os jovens magos nunca serão libertados! Nada nos demoverá de os castigar pelo atrevimento de entrarem abusivamente na ilha. Se não quereis retaliações, ficai no vosso território e não volteis a entrar em contacto com o nosso reino. Ainda somos inimigos e nada mudará isso!”

O silêncio impôs-se, pois todos os presentes conheciam as consequências desta recusa de negociações pacíficas por parte dos seres brilhantes. A fada Astuta deu as instruções necessárias para que as forças de defesa passassem ao plano de ataque e ficassem prontas a agir, assim que a rainha Amada desse a ordem definitiva. Informada da situação, a rainha não teve tempo para lamentar ou sofrer. Assumiu o comando e deu ordem para que os planos fossem postos em acção. Já haviam vencido os seres brilhantes mais que uma vez. Desta também o conseguiriam. Conheciam os avanços científicos e tecnológicos do inimigo, mas estavam preparadas para eles. As forças de defesa do reino também tinham feito muitos progressos e as magias que tinham desenvolvido permitiram atacar os seres brilhantes no seu território e proteger a população do reino. Porém, a rainha sabia que seria impossível poupá-la por completo ao sofrimento e que, na guerra, há sempre imprevistos impossíveis de evitar e controlar cujas consequências são, na maioria das vezes, irreparáveis. Mandou reunir a corte e, sem rodeios, expôs a situação e comunicou a sua decisão. O silêncio impôs-se e ninguém comentou. Todos estavam desiludidos com a resposta dos seres brilhantes, sobretudo aqueles que sempre haviam defendido o reiniciar de negociações. Mas ninguém se opôs à rainha. Havia decisões que, mesmo dolorosas tinham de ser tomadas.



Enquanto no reino mágico tudo se preparava para o ataque, a tempestade estava no seu auge e tinha já atingido a praia e ultrapassado a barreira de espinheiros. Sobre o reino mágico, os seus ventos perdiam força e as nuvens dissipavam-se, pois há séculos que as fadas tinham aprendido a controlar as tempestades maléficas do lago das mil cores com a sua magia. Porém, desta vez, o temporal jogava a seu favor, uma vez que encobria os movimentos das forças militares e permitiria que alcançassem a ilha sem serem detectadas. Apenas esperavam a ordem da fada Astuta para iniciarem a travessia.



Sobre o lago das mil cores, lutando contra o vento e a chuva de granizo e ácidos, os magos mensageiros progrediam lentamente conseguindo manter intacta a bolha protectora através de uma união de mentes e coração que não permitia qualquer desconcentração. Os seres brilhantes, montados nas criaturas negras, passaram sobre eles sem os detectarem. Mas o arrepio que sentiram ao vê-las quase os desconcentrou, atrasando-os um pouco.


Na ilha, Ansiex já fora chamado ao conselho. Teve receio de que desconfiassem dos seus movimentos secretos, mas o excesso de confiança que tinha em si próprio fez com que descurasse essa hipótese e dirigiu-se, confiante, ao edifício central da cidade onde seu tio o aguardava.

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Continua

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No reino mágico das fadas (24)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Post.it: A lágrima não chorada

Ficou suspensa, trémula, hesitante. Muitos diriam que ela teria medo de enfrentar a queda. Mas tal não era verdade. Indecisa no momento da saída de uns olhos que pestanejam como se a quisessem expulsar, ela não tinha receio de cair.
Apenas a entristecia que a sua vida, a sua existência tenha sido tão curta. De brilhante cristal transparente passaria a ser um pequeno charco no chão. Nesse chão que muitos palmilham sem notar a pequena lágrima derramada, que se tenta erguer para chegar ao rio, ou quem sabe ao mar para voltar ao seu elemento natural. Antes disso, no chão esquecida em breve evaporar-se-ia e seria substituída rapidamente por um sorriso.
Triste lágrima não chorada, não entendia que a preterissem e trocassem por esse movimento de rosto, por essa gargalhada desafinada que a muitos ilude quando lhe chamam alegria.
Enquanto divagava nos seus pensamentos, a lágrima não chorada mantinha o seu periclitante equilíbrio até que cansada da sua solidão, desistiu, deixou-se cair, entregou-se ao seu infortúnio. Mas eis que não sentiu a dureza do solo no final da viagem mas a maciez de uma mão, que a amparou na queda, que a acalentou e a guardou no coração.
Não para que fosse eternamente uma lágrima não chorada, mas para que ela nunca mais sentisse a tristeza que a fez surgir naquele olhar. De agora em diante a lágrima não chorada seria lembrada como o mais belo cristal de felicidade.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (22)

Na sala do conselho foi grande a surpresa de todos quando entraram mais dois jovens magos que haviam entrado na cidade do mesmo modo que os seus companheiros. O facto de os verem bem e constatarem que se preparavam para regressar com uma mensagem animadora, ganharam confiança e mostraram a mensagem da rainha Amada e a gravação do robotix que traziam consigo.
O nome de Ansiex foi o primeiro que aflorou ao pensamento de Ornix. Foi fácil deduzir o que se passara. O seu rosto contraído e a intensidade do seu brilho deixavam adivinhar o desgosto e a preocupação que o consumiam.
“Guardião, reúne o corpo de intervenção e procura Ansiex. Temo que esteja por detrás de tudo isto.” “Ornix” – advertiu Inventix – “talvez seja bom ponderar melhor a situação. Não temos provas de que tenha sido ele e, além disso, mesmo que seja responsável não deve ter agido sozinho. Temos de ser cautelosos.”
“Sim. Tens razão”. E dirigindo-se ao Guardião: “Colocai todas as forças em alerta e procurai saber urgentemente quem está com Ansiex e como foi possível tal mensagem ter chegado ao reino mágico das fadas.”
O Guardião saiu para dar cumprimento à ordem de Ornix. Este continuou a falar, mas para Inventix.
“Usemos da mesma manha. Vou mandar chamar Ansiex como se fosse para tratar de um assunto do conselho. Assim, poderemos utilizar o leitor de pensamentos para verificar se a nossa suposição é correcta, sem que tenha ocasião de avisar os seus cúmplices.” E voltando-se para os jovens magos:
“Vós, parti imediatamente e ponde a rainha Amada ao corrente da situação. Nos robotixis que enviámos, há uma luz verde. Se ainda estiver acesa, como a deste que trouxestes, é porque ainda têm a verdadeira mensagem, escrita, do conselho de decisores. O compartimento deveria abrir-se por iniciativa dos robotixis mas, como foram alterados, o dispositivo não funcionou. Inventix dar-vos-á as instruções necessárias para que a rainha Amada possa aceder a essa mensagem. Fazei com que aceite o encontro de amanhã. Talvez ainda vamos a tempo de evitar uma tragédia!”
Os jovens magos uniram-se para formarem a bolha protectora e, assim portegidos, partiram para a missão mais importante das suas vidas.

Enquanto isso, no reino mágico das fadas tomavam-se todas as precauções defensivas e preparavam-se as forças de ataque, com novos poderes mágicos e bélicos que ainda não tinham sido experimentados em situação real. Em poucas horas tudo estaria pronto.

Sobre o algo das mil cores abatera-se uma violenta tempestade. Ventos uivantes e chuvas de granizo e ácido acordavam todos os seres maléficos das profundezas que eram desafiados pelas feiticeiras aprisionadas na superfície das águas a usarem as suas artes de destruição até onde fosse possível chegar o seu alcance. A tempestade, que se estendia para lá das margens do lago e cobria parte da ilha e do reino mágico das fadas, obrigava a todas as cautelas e dificultava a travessia. Mesmo assim, os mensageiros de Ansiex, nas suas criaturas voadoras e mais negras que as densas nuvens de chuva, conseguiam prosseguir lentamente, elevando-se a uma altitude que lhes permitia sobrevoar a tempestade.
Porém, os jovens magos, tiveram muita dificuldade em iniciar a travessia do lago. A sua bolha protectora parecia não querer resistir à força do vento e ao impacto da chuva de granizo e ácido. As memórias deste tipo de tempestade perdiam-se no tempo e, por isso, a magia protectora não havia contado com esta possibilidade. Todavia, os jovens magos enfrentaram tenazmente a tempestade e elevando-se o mais acima possível, começaram a sobrevoar as águas turbulentas e ameaçadoras. Tudo dependia deles. Essa seria a sua força.
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Continua
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No reino mágico das fadas (23)
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