Post.it: Vidas suspensas

Há vidas que param, que são atropeladas pelo tempo. Porque o tempo, haja o que houver, não para. Segue em frente na sua corrida para uma meta que nunca atinge.
Por momentos imaginamo-lo como se fosse o coelho da Alice no país das maravilhas, sempre cheio de pressa, mas sempre atrasado para ir sabe-se lá onde. Quem sabe a um lugar imaginário, onde supõe ou deseja que estejam à sua espera. 
Assim é o tempo, sem tempo para se deter em nós. Não pára para ver quem ficou para trás, quem nesta corrida já não o acompanha. Nós ficamos mais vazios sem estas vidas, o tempo, indiferente a tudo, não fica vazio, porque está demasiado cheio, de assuntos, tarefas, objectivos, etc, etc. 
Enquanto nós vamos vivendo neste tempo actual, que nos parece estranho, indesejado  e atípico. O tempo parece não  notar esta mudança, as horas, dias e meses vão-se sucedendo, sem interregnos, sem confinamentos. 
Por vezes, quase gostaríamos de “prender” o tempo para que ele não nos fuja, para que ele espere por nós, que não o podemos viver tal como desejaríamos. Continuamos a ter aniversários que permanecem solitários, nascimentos que não podemos receber nos nossos braços, mortes que não podemos consolar.  
O calendário diz-nos que naquela data foi Natal, que a Páscoa se aproxima, e nós, suspensos, como que a viver numa realidade paralela, festejamo-la no peito, abraçamo-la sem abraços e viajamos até aos momentos felizes do passado para nos lembrarmos como era festejar sem restrições, sem ausências. 
Estamos suspensos no tempo, estamos fechados na vida, guardando no coração todo o amor que esperamos, que desejamos, brevemente voltar a partilhar.

 

27/03/2021

Primavera 2021

A primavera chegou,

A pandemia infeta o mundo.

Mas a primavera renasce,

As guerras vão destruindo.

A primavera floresce,

Apesar da morte, fome, dor.

A primavera de novo acontece,

Sobrevivendo ao inverno.

A natureza numa lição de vida,

Diz-nos que podemos vencer.

Que há sempre uma esperança,

À espreita para nos acontecer.

Sejamos primavera, vamos florir,

Com o coração a sorrir. 

A vida tem dessas coisas

 A vida tem dessas coisas,

Nascimentos, aniversários, mortes.

A vida tem dessas coisas,

Primaveras de esperança,

Invernos de mágoa.

A vida tem dessas coisas,

Caminhos, escolhas,  vários nortes.

A vida tem dessas coisas,

Crescendo a cada lembrança.

Não somos mar, nem rio, apenas água.

Post.it: Recomeços

 "Talvez devêssemos recomeçar tudo”.
 “Pode-se começar de onde se quiser”.
 A vida está cheia de novas oportunidades, em cada hoje, em cada agora, que deixamos para amanhã. Talvez não valha a pena mudar, não vai servir de nada mudar, já é demasiado tarde. Estes e tantos outros argumentos a que cedemos sem forças para contradizer. Talvez, quem sabe, um dia, quando estiver mais forte, quando ganhar coragem, quando o sol nascer, quando a chuva passar, quando... Não me julguem, não é fácil.
Só é preciso dar o primeiro passo, dizem em forma de incentivo. Já dei muitos primeiros passos, foi fácil, o difícil é dar os seguintes para fazer o caminho. 
Mudar significa reconhecermos que algo está errado, é uma consciência que nem sempre temos quando a nossa realidade nos tolda o olhar. 
Recomeçar tem o incentivo de um novo começo cheio de esperança, isso traz-nos leveza e alegria.  Mas recomeçar  também significa um final, cortar com um passado que carregamos com glória e sacrifício, causa-nos dor, invade-nos de receios. 
O velho já conhecemos, o novo como será? Acomodamo-nos, conformamo-nos, aceitamos a vida tal como ela é. Mas será que a vida é mesmo assim, ou somos nós que nos deixamos levar na corrente sem tentar nadar ou pelo menos agarrar cada bóia que nos lançam?
 A vida é apenas a estrada, mas os passos serão sempre teus na escolha da direção por onde queres seguir. 
Começa hoje, recomeça amanhã, retoma no dia seguinte, reinicia sempre que seja preciso. Recupera as forças, reconquista cada passo, retoma a luta, restaura a confiança. 
Continua, prossegue, na caminhada de seres verdadeiramente quem és.