segunda-feira, 30 de março de 2015

Sempre

Sempre que o sol brilhar,
Sempre que a primavera florir.
Sempre que o mar ondular,
E um cais de abraços se abrir.

Sempre que a brisa dançar,
Sempre que a árvore se erguer.
Sempre que uma gaivota voar,
Sem do céu querer descer.

Sempre que o dia cansado partir,
Sempre que a escuridão regressar.
Sempre que a noite voltar a pedir,
Para o sonho te continuar a sonhar.

Será sempre, esse para sempre,
Porque o tempo o teima em guardar.
Esse sempre que não se desprende, 
Que partindo, sempre parece ficar.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Post.it: Nova oportunidade

 Quantas vezes inventamos os outros, reiventamo-nos a nós, não por uma mera fantasia, um sonho do qual acabamos por acordar, mas por um desejo, uma vontade que ergue velas e nos faz navegar. Então vemos tempestades num mar de bonança. Pegamos nos remos e queremos fugir. Fugir de um perigo que afinal não existe, é apenas o nosso peito triste que o cria, que o teme. É sempre difícil sair da nossa área de conforto e encarar o outro tal como ele é e não como o queremos consonante com a nossa maneira de ser. Acreditamos que é aí que está a paz e a felicidade e continuamos em crescente na nossa guerra. Mas o outro, será sempre o outro por mais que nos estime, admire, ame, não é um reflexo, uma extensão de nós, do nosso querer.
Podemos tocar, abraçar. Podemos dar-lhe o melhor do que somos e esperar não a reciprocidade, mas que continue a ser a pessoa que é que entrou na nossa vida porque deixámos entrar, que ficou porque deixámos ficar, não porque nos era um ideal mas porque era alguém que de alguma forma acrescentava algo em nós, que nos permitia ver algo que sozinhos não conseguimos ver. Porque nos fez sentir algo que sozinhos não conseguimos sentir. E por isso, nem que seja só por isso, ficamos gratos. Por esse encontro que podia nunca ter acontecido. Afinal há centenas, milhares de pessoas com quem nos cruzamos em toda a nossa vida, que bom que é que exista alguma que nos toca e que tocamos, ainda que por momentos, que podem durar meses, anos, quiçá, o resto da nossa vida em que lhe damos algo de nós e recebemos algo de si. Pode ser eterno num limite de tempo, mas pela intensidade, conquista dentro de nós a verdadeira eternidade. Depois, que importa o depois, não vamos tornar a primavera em gélido inverno, não vamos acrescentar espinhos às flores só porque nos perecem os amores, porque se afastam as amizades. São belos todos os momentos, magníficos e devem ser vividos como se não houvesse amanhã. E se o amanhã vier, será mais um feliz hoje. Se no entretanto, numa qualquer curva do destino, nos desencontramos, que nos fiquem motivos, muitos..., para guardar como semente para a próxima primavera, talvez assim  ela volte de novo a florir e a ser a mais bela e perfumada que não se deixou afogar na dor, que não se prendeu à saudade e que teve a coragem de abrir as pétalas ao futuro. O futuro que será sempre, sempre, não o que quisermos, o que idealizarmos, imaginarmos, sonharmos, mas unicamente o que nele somos de luminosidade, ou de penumbra. Por isso, se esperares, espera com um sorriso. Se lutares, luta com fé. Se encontrares, aprecia cada momento. Se perderes algo ou alguém, acredita que nunca será uma perda, mas antes o ganhar de uma nova oportunidade para recomeçar, para fazer melhor, com mais maturidade, com mais amor para dar e para saber receber.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Post.it: Já espreita pela janela

A Primavera já espreita pela janela, vem cheia de luz, de cor, de perfumes florais. Inunda-nos o olhar, invade-nos os pulmões com um ar leve e esvoaçante. Por ela dançam-nos os pensamentos, renascem os mais ternos sentimentos.
O Inverno com o seu ar entristecido, quem sabe por se sentir preterido, acena ventos de despedida, o frio suaviza e descongela-nos o querer, e queremos, queremos com a maior ansiedade, despir o casaco, as camisolas grossas e mergulhar em pleno numa planície de girassóis, de papoilas, de açucenas, de alecrim e alfazema.
Precisamos desse céu límpido de nuvens outrora carregadas com tantas e magoadas águas.
De repente num voo rasgado de esperança surge uma andorinha, depois outra e mais outra, vêm felizes anunciando a chegada da nova estação. Incrédula, baixo o capuz, solto o cachecol, apuro o ouvido, perscruto o horizonte, é verdade, a Primavera está a chegar! Rejubilam-me os sentidos, correm-me os passos sem sair do lugar e vão através do imaginário explorar caminhos floridos. Estendo as mãos, quase, mas apenas quase acaricio as brandas pétalas, eis que inesperadamente majestosas gotas de água caiem sobre a terra, contrariando o antecipado festejo. Por instantes sinto que vou ceder à tentação de juntar a chuva do olhar à chuva do céu, mas logo de seguida o coração sorri, “é só por hoje, amanhã, uns dias mais…” 
Em breve, muito em breve a Primavera chegará e ficará durante o tempo que quisermos que fique, em presença ou em recordação, até lá fica-nos a certeza que ela vem, que já espreita pela janela.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Quem passa...

“Quem passa pela nossa Vida não passa em vão
Deixa uma semente de si no nosso coração”

Sei que passa, e que ao passar,
Um dia apenas que seja,
Quanto nos pode tocar,
Que se sente sem que se veja.

Como então vamos esquecer,
Como então dizer que não.
Ao que nos fez de novo viver,
Um minuto mais de ilusão.

E mesmo que doa a lembrança,
Que nos faça sorrir ou chorar.
Como é bom guardar a esperança,
De a voltar sempre a recordar.

O tempo que nos acalenta,
O tempo que nos parece cura,
O tempo que tanto lamenta,
Não ser eterna toda a ternura.

O tempo, não sei se mente,
Para nos dar melhor solução.
Ao que cá dentro se sente, 
Quando o escondemos da razão.