sexta-feira, 31 de maio de 2013

Post.it: Para nós (crianças)

Para todas as crianças que ainda se maravilham com o nascer do sol, com o desabrochar das flores. Que se encantam com as cores do arco-íris, e que deixam o seu sorriso afluir pela coisa mais simples.
Que ainda acreditam numa humanidade mais humana. Que ainda acreditam num mundo melhor. Que fazem o universo girar quando se levantam, que cumprem a suas tarefas sem as deixar cair na rotina. Que ainda brincam com o olhar, que desenham nuvens no céu da sua fantasia. Que caem e levantam-se, enxugam as lágrimas e seguem, tentando esquecer a dor.
Para quem a ingenuidade não é um defeito mas a capacidade de reaprender a vida sem lhe fechar as portas, sem lhe bloquear as janelas do acreditar.
Que descobrem novas formas de fazer o caminho quando ele se torna difícil de prosseguir. Que encontram em cada momento negativo um lado positivo, que tentam de novo, mesmo se tiverem de começar do zero, sem desistir, sem ceder à primeira contrariedade.
Que sentem as dificuldades como desafios e tentam superá-los. Que valorizam mais o prazer da vitória do que tristeza da derrota.
Para os que ainda são assim, que saboreiam os sonhos que ainda conseguem sonhar  acordados.
Que no dia 1 de Junho, despem  a envergadura de ser adulto, libertam a criança que há em si e sentem a entrar-lhes pela alma a vontade e  o desejo de trocar alegremente meia dúzia de compromissos por um momento de prazer à sombra de uma árvore, ou um passeio à beira mar, de mão dada, talvez com outra criança que também se recusa a crescer e a perder a capacidade de ser infantilmente feliz.
“Nunca ninguém conseguirá ir ao fundo de um riso de criança, se conseguisse certamente encontraria lá o seu”.



quinta-feira, 30 de maio de 2013

Post.it: Coisas

Sou uma pessoa arrumada, talvez excessivamente arrumada. Gosto de caixas, de caixinhas, de gavetas e de gavetinhas. Tenho de ser arrumada porque gosto de guardar tudo, já que tudo são recordações, contam  histórias, momentos áureos de um brilho especial. E mesmo que hoje já tenham perdido a cor e sobretudo a sua função.
Como vou deitá-las fora, abandoná-las só porque estão velhas, só porque já não têm beleza, só porque já não me ligam à pessoa que as ofereceu, só porque a lembrança de uma outra pessoa me magoa através dos objetos que nos uniram.
Sou incapaz de me separar delas, de as deixar órfãs, sem a carícia de um olhar, sem o toque sereno de uma lembrança,  como se me posso separar desse pedacinho de   mim, arrumo-as em caixas e caixotes de onde talvez nunca mais de as volte a retirar. Mas dá-me tranquilidade sabê-las ali, para um dia em que precise delas para receber um abraço da lembrança, para compor com elas o puzzle da minha vida.
“São apenas coisas”, dizem-me com uma indiferença que me magoa. “Objectos velhos, estragados, partidos, esbatidos na sua cor, amolgados”, para os vossos olhos são apenas isso para mim são muito mais. São a infância que ainda ouço nas gargalhadas felizes quando brincava com os meus primos. Aquela flor seca entre as folhas de um livro, foi a primeira que romanticamente me deram, perdeu o cheiro mas não o som das palavras que acompanharam a oferta.
E se um dia um ladrão me invadisse a casa, me invadisse a alma, me despisse das minhas memórias, se me roubasse cada pedacinho do que fui e que estava guardado nessas gavetas e caixas,  que usurpasse o meu espaço tratando as minhas “pequenas riquezas” com desdém e revolta por não valerem  nada, por não significarem nada para si, mas tanto para mim.
Ficaria mais pobre, porque são coisas, apenas coisas, pequenas coisas, muito do que aprendi a ser, de tudo o que sou.



quarta-feira, 29 de maio de 2013

Post.it: A tarde da vida

Quando é que a vida nos começa a entardecer? Ou seja quando é que se entra na velhice? Esta pergunta é cada vez mais subjectiva, sobretudo com o claro aumento da esperança média de vida, na Idade Média era-se velho aos 30 anos e hoje? Em termos demográficos coloca-se a baliza nos 65 anos mas esta convenção tende a dilatar-se. O Estado determina que a velhice oficial é marcada pela entrada na idade da reforma, cujos limites também têm vindo a ser alterados. Biologicamente considera-se que a mulher entra num processo de envelhecimento com o final da sua capacidade reprodutora, mas e então a do homem será marcada pela andropausa? Apesar de manterem ainda a sua fertilidade intacta?
A verdade, dizem os cientistas, é que a velhice começa logo com o nascimento de uma vida. Já ouvimos diversas vezes alguém referir-se a uma criança de 2 anos como sendo mais velha que outra com apenas 1 ano.
Afinal em que ficamos? No fundo a velhice é em grande parte um factor psicológico, independentemente das doenças e das marcas do tempo que se desenham na pele, “Os anos enrugam a pele, mas renunciar ao entusiasmo enruga a alma”.
Independentemente da soma cada vez mais infinita de anos, “a velhice não se abate sobre nós de repente avança lentamente”, dando-nos oportunidades de escolha. Podemos optar por ficar prostrados vendo o tempo passar por nós, roubando-nos o ânimo ou fazer de cada pequena dificuldade um grande desafio. Porque está também comprovado que a velhice é um estado de espírito.
Por isso em vez de denegrirmos a velhice,  devemos valoriza-la no que ela tem de melhor: a experiência vivencial, a sabedoria da longevidade, porque só “a tarde conhece aquilo que a manhã nunca suspeitou”.



terça-feira, 28 de maio de 2013

Post.it: Basta ser rio

Habituamo-nos a esta certeza e isso dá-nos confiança. A garantia de que o caminho mais tarde ou mais cedo ou mais tarde encontra o seu rumo. 
Só temos que esperar, só temos que deixar que a terra gire, que os mares ondulem, que as nuvens cinzentas passem, que o sol volte a brilhar depois de cada nosso inverno, que as flores a renasçam e desvende diante do nosso olhar uma nova Primavera.
Só temos que ter as mãos abertas prontas para receber outras que se estendem para nós, um  coração de portas abertas  para que entrem e se aninhem.
 Não devemos inventar desculpas, levantar dificuldades, sentir que há um rio, uma fronteira, um muro, entre nós e os outros. Não devemos culpar o tempo, a ausência do momento, a chuva o vento, o relógio que nos afasta.

 Basta a vontade, para que asas se estendam e cruzem os céus, basta a generosidade para que os braços se fechem num abraço, basta o querer que libertará o sentimento. Basta ser rio e navegar até ao mar da felicidade.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Post.it: Flores de solidão

Falamos tanto que nos esquecemos de ouvir. Deves ter coisas para me contar dos teus desertos, dos teus passos cansados, das páginas que viraste, das lembranças, do esquecimento. Porque tudo o resto já sei. Os sonhos que desenhaste nas nuvens e que nunca aterraram, “nem nos dias de nevoeiro”, dizias tentando gracejar.
Bem sei que te afoguei nas minhas teorias, e tu encolhias os ombros, incapaz de as refutar.
Percebias que era o furor da fugaz  adolescência, as primeiras pisadas na vida adulta. Quando eu achava que sabia tudo e tu dizias que não sabias nada, nem sequer para onde ir. A minha escolha estava feita, queria ser intelectual, “mas isso é lá profissão?! Rias com ternura perante a minha orgulhosa ingenuidade, “Sei lá, mas quero pensar, filosofar, emaranhar-me nas teorias e extrair delas a lógica das coisas”.
 Tu, fazias silêncio, não me contavas os teus planos. Pareciam-te demasiado simples perto dos meus, afinal, apenas querias ser feliz, encontrar a tua alma gémea e em conjunto rumarem placidamente em direcção a um  futuro perfeito. “Fantasias” clamava com jovial desprezo e tu baixavas os olhos envergonhada das tuas cálidas emoções.
Hoje sou eu que baixo os olhos com vergonha da minha altivez, bem sei que faz parte do crescimento, da necessidade de afirmação, mas não, não quero fazer disso uma explicação para me alhear da minha culpa, da minha indiferença. Hoje já não quero falar, percebi que sabia melhor ouvir, aprender sem julgar. Tenho saudades das tuas fantasias, tenho inveja da tua capacidade de acreditar e de construir. Porque tu construíste um lar, enquanto eu, semeei no horizonte flores de solidão.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Esquina esquecida


Sou apenas um som,
Cada vez mais um silêncio.
Sou apenas um tom,
Que sem dom fica vazio.

Sou apenas um nada,
De um qualquer caminho.
Trago despida a madrugada,
Sem o sol de um carinho.

E nada sendo apenas dou,
Os meus passos à estrada.
Deixando nela o que restou,
Da minha efémera jornada.
       
E este som de brisa,
E este tom de mar.
Que a sorte profetisa,
De esquina sem luar.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Post.it: Ainda um dia tomaremos um café


“A vida é feita de encontros e desencontros” já dizia o genérico de um programa televisivo. De vidas que nos chegam, vidas que de nós partem, que existem nela de forma presente ou de forma ausente. Uma ausência que não parte de nós só porque os olhos não se cruzam, as vozes não ressoam no mesmo canal emissor, porque não aparecem no email, no facebook, em sms, no  skype, nem através de telepatia. Mas uma brisa da memória pode trazer-te de volta, e de repente estamos a questionar os neurónios sobre aquele perfume que nos tocou os alvéolos, aquela gargalhada que nos parece auditivamente conhecida, aquela frase que lhe era expressão habitual, aquele sorriso, idêntico que lhe dançava constante nos lábios.
Revolvemos os arquivos das lembranças, numa ânsia intemporal, e uma mágoa comprime-nos o sentido das emoções como de uma estranha orfandade se tratasse. Então numa quase surpresa que nos invade o peito vem sem se saber de onde um  longínquo suspiro ecoa o seu nome, ainda sem rosto  definido, ainda sem memória de momentos partilhados.  Mas ainda assim, invade-me uma saudade, uma vontade de voltar atrás, de retomar aquela estrada onde nos perdemos. No fundo é retomar do que eu fui, porque somos sempre um pouco o que os outros são, moldamo-nos, encaixamo-nos, embalamo-nos nessa forma que nos conforta. Quando há uma separação, um desencontro, há um laço que se corta, há um pouco de nós que se perde no outro e fica com ele até nos esquecer, nos apagar do seu passado sem nos levar para o seu futuro.
Levo a chávena de café aos lábios, sinto o seu aroma, o seu sabor amargo, porque, sim, continuo a gostar de café sem açúcar,  e lembro-me da tua última frase, “Ainda um dia tomaremos um café juntos”. Ainda não foi este, quem sabe o próximo…

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Post.it: Vemos muito (pouco)


Vemos, vemos muito, ou quase nada. Vemos essa luz que nos invade o despertar, que nos obriga a encarar o recomeço, essa paisagem de vidas que se cruzam com a nossa, vemos a cidade fervilhante de movimento e as árvores paradas à espera, talvez, do nosso olhar que poucas vezes a olha, só quando estacionamos o carro e tentamos não lhes bater para não riscarmos o nosso veículo.
Vemos, vemos muito, ou quase nada, desse mundo que amanhece para nós, que nos abre o caminho, que nos entardece, que nos adormece enquanto fica lá fora em serena vigília do nosso sono.
Temos uma vida demasiado presa a um ecrã: o computador, o televisor, o telemóvel, o ipad, o iphone, o dvd, as consolas de jogos. Vemos o universo plano, limitado às dimensões do plasma, do lcd. Imagens que mesmo surgindo a cores as sentimos a preto e branco na nossa quase indiferença pela forma como surgem.
Pouco vemos desse mundo táctil replecto de cheiros transportados pela mais leve brisa, o som dos pássaros que nos oferecem a sua alegria, o sabor acre e doce que nos invade as papilas gustativas sem que nos apercebamos verdadeiramente da sua textura, do seu conteúdo nutricional, apenas sabemos que nos alimenta o corpo, para que ele caminhe, para que ele sinta, para que ele veja.
Cegos de um olhar concreto, passamos por outros cegos que não nos sentem, que não nos tocam com um sorriso, com um momento de ver.
No entanto há pessoas, esperamos que muitas, de “corações limpos” que vêem todos os dias, mas em cada dia descobrem a beleza de ver como se fosse a primeira vez. Que pintam, que escrevem, que compõem músicas, formas de nos revelar esse mundo que nós perdidos no nosso universo individual continuamos olhar sem ver.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Post.it: Porque criamos blogues?


Porque criamos blogues? Muitas podem ser as razões: Solidão, dar nas vistas, revelar o nosso talento, para  “gritar” anonimamente aquilo que nos sufoca no peito, que nos revolta, que nos magoa e, tantas, tantas outras razões.
Mas sobretudo, porque precisamos de ser quem somos: “pelo passado sofrido, pelo presente desiludido, pelo futuro desconhecido”. E nesta “rede” que em vez de nos prender, nos liberta, abrimos o coração, revelamos o melhor e muitas vezes, quem sabe, o pior de nós.
E aos poucos, há uma catarse, as palavras tornam-se mais doces, as frases mais suaves, os parágrafos mais ternos e as conclusões mais serenas.
Porque então, só então, serenamos as nossas mágoas e suavizamos nossas feridas.
Talvez um dia possamos voar por céus mais amplos, sem a finitude das marcas que a vida nos foi depositando nas células da existência.
Talvez um dia possamos contar histórias em que acreditamos, sobre os sonhos que temos esperança de poder realizar.
Nesse momento o blogue deixa de nos pertencer, então, cortamos o cordão umbilical e deixamo-lo conhecer outros horizontes, na esperança que voe para lugares onde possa tocar o reino das emoções e aí criar pontes que ultrapassem a separação das muitas margens que existem dentro e fora de nós.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Post.it: As pontes


Imaginamo-las feitas de betão e ferro, longas, fortes, com colunas que se erguem ao céu. Imaginamos que unem margens, que suplantam rios, que abrem caminhos, que nos levam onde desejamos chegar. Imaginamo-las desenhadas, engenheiros, arquitectos, construídas por homens numa argamassa de suor e cimento. Olhamo-las com olhos extasiados de admiração pela sua maravilha.
Mas há outras pontes. Pontes que unem vidas, construídas com o coração, que enlaçam mães, que cingem abraços, que partilham  olhares, que repartem beijos. Não são menos importantes que as outras. Feitas de carne e osso, feitas de sentimentos, não são por mais frágeis. Suplantam os que rios, os mares, os continentes. 
São pontes de vidas unidas no infinito dos sentidos. São pontes individuais; “Ninguém pode construir em teu lugar/ as pontes que precisarás passar,/ para atravessar o rio da vida/ - ninguém, excepto tu, só tu.” Caminhando por essa ponte descobrimos que “O homem é uma ponte e não um fim. (Nietzsche)
Todos nós precisamos de pontes para ir para os outros ou para que venham até nós. “
Se você se sente só é porque ergueu muros em vez de pontes”. (Shakespeare)
E se ficamos extasiados com a beleza das pontes de betão e ferro, que dizer das pontes humanas! “A mais bela ponte construída no planeta é a distância entre um olhar e outro”
Byron chamou-lhe Bridge of sights, talvez a uma daquelas pontes que todos nós, um dia, quisemos atravessar e não o fizemos.
Resta-nos uma esperança “que nunca caiam as pontes entre nós”.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Post.it: Às portas do verão


“Às portas do verão e ainda está a chover”, o que vale é que estamos às portas do fim de semana, concluo tentando desvalorizar a situação. Até porque gosto de fins de semana com chuva a cair lá fora enquanto a fico a observar com romântica nostalgia.
Mas esta citação radiofónica logo pelo despertar, levou-me a questionar sobre o que na vida nos fica à porta e que talvez, só mesmo talvez, se atreva a espreitar pela janela: sonhos, expectativas, desejos, projectos que levamos dias, meses, anos a construir e que param perante uma porta, apesar de saber que para lá dela, pode estar um raio de sol, uma luz no fundo do nosso futuro.
Sem querer entrar em vãs filosofias, nem procurar causas, culpas ou desculpas, deixo o meu espirito prático ir mais longe, ensino-o a olhar cada porta fechada como um desafio e não uma desistência. Se aqui estou, então vou bater nessa porta, empurra-la, buscar uma chave que se encaixe na sua fechadura e se mesmo assim não a conseguir abrir, não vou baixar os braços, entregar-me ao destino como se nada mais me restasse do que deixar que outra mão escreva o que sou e o que serei. Afinal isso já eu sei, se desistir de mim, serei apenas uma vida fracassada, uma vida que nunca passou da soleira da porta.
“Às portas do verão e ainda está a chover”, então vou para a rua, de impermeável vestido, de chapéu de chuva e de alma leve.
O verão está à porta, há de entrar, mas agora está na hora de viver o momento, de encontrar nele a beleza que tem, e depois, arregaçar as mangas da vontade e entrar pela porta, pela janela, pela fechadura, até porque os sonhos, mesmo os grandes sonhos, entram e cabem em qualquer lugar por minúsculo que seja, e se não conseguirmos tocar o sol com o olhar, teremos sempre um luar para abraçar.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Post.it: Quando o meu blog adoeceu


Meu blog ficou doente, apanhou um vírus. A situação parecia grave e a ameaça de um final eminente tornou-se cada vez mais presente. De repente vi-me perante a hipótese de desaparecer do espaço cibernético, de me tornar uma poeira cósmica e por fim um vazio, uma escuridão na web. Houve um silêncio quase sepulcral, uma ausência  na alma, uma dor no peito.
Será que o céu dará pela minha falta? Será que alguém notará a minha inexistência? Romanticamente quis supor que sim, que cada palavra teclada encontrava algures, em alguém um significado idêntico ao que me faz escrever, ao que me faz sentir.
Depois do pânico inicial, invadiu-me uma embaladora tranquilidade, já não precisava cumprir a minha quase missão de persistência, de desenhar caminhos, de construir pontes, de remar neste mar solitário contra ondas e marés. Tudo isto na estranha ilusão de chegar a ti, de te abraçar a alma, de te oferecer flores cujos espinhos vou retirando a cada frase que se espraia de ternura. Porque é para ti, sempre e unicamente para ti que escrevo na esperança de que cada parágrafo entre d mansinho na tua casa e encontre nela um lar de emoções onde me possa aninhar, mesmo que a partindo no dia seguinte, com as asas aberta que desenham no céu a promessa de um regresso, se me abrires uma janela, algures num computador perto de ti.
Mas o meu blog ficou doente, uma virose multirresistente a qualquer antibiótico. Só o tempo, a paciência e a expectativa de que me esperas o curará…

P.S. O meu blog já está bom, livre de vírus e cheio de vontade de voltar a “falar” contigo.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Post.it: Um encontro feliz


“A vida já não se faz de encontros”. Dizia num tom vazio enquanto o olhar rompia as nuvens cinzentas em busca dum sol que lhe aquecesse a alma.
“Qual alma, preciso é que o sol me aqueça os ossos, à noite já os sinto a ranger, juro que sim!” e nós riamos no nosso último sorriso de infância, porque é isso que somos, amigas de infância que nunca se perderam pelos meandros do caminho. “Claro que já estivemos distantes, que passámos "rores" de tempo sem nos vermos, mas lá posso passar sem os vossos disparates?”. “É verdade, a solidão já não existe, quando podemos estar junto das pessoas que gostamos, distância, o que é isso? 2 segundos de espera no skype e depois são 2 horas de “namoro”, de cusquices, transportam-nos o olhar através do pc, mostram-nos as vistas, a casa e até, com um pouco mais de paciência, o coração”.
“ A vida já não se faz de encontros”. Volta a repetir, na esperança de que alguém questione a afirmação. Faz-se um silêncio encorajador, a amizade faz-se destas pequenas coisas, não estamos lá muito voltadas para carpir dores, ou outras maleitas, mas “a amizade é um pouco como o casamento”, ‘na alegria e na tristeza, na saúde e na doença’, trocamos a fidelidade pela lealdade e o para sempre por cada momento. Claro que também há amor, sim, porque a amizade é a mais verdadeira forma de amor, sem os ditames alucinantes da paixão, nem a possessividade da monogamia.
“A vida já não se faz de encontros”, parece que não basta o silêncio para lhe dar coragem, é preciso que cada olhar pare no seu, num gesto de carinho, de aconchego, é então que  as palavras lhe brotam do peito numa torrente de rio. “Depois de tudo o que vivemos, o que conhecemos, já não há novidades, já não há a sensação “borboletas no estômago”, apenas a impressão de que é sempre uma repetição, de reencontro, e nas palavras que se dizem adivinhamos as que ficam por dizer”.
 “Mas isso parece-me ótimo, já não cansa andar a descobrir, já não há segredos, já não nos deixamos iludir, nem somos apanhadas à traição”. “E onde fica a história que se vai revelando, e onde fica o mistério, a surpresa?” Sem esperar resposta acrescenta.  “Sabem o que eu queria, mas queria mesmo? Esquecer o que aprendi, apagar as lições da vida, e voltar a sentir tudo como se fosse a primeira vez, sem estar a colocar sempre um entrave, uma barreira. Sem que a desconfiança marque fronteira, sem erguer as defesas em riste. Acreditar, mesmo que seja mentira.”
Olhámos para nós, para dentro de nós, procurámo-nos, onde estava aquela menina que corria pelas veredas da Primavera, que ria, que sonhava, que acreditava e acreditando era feliz. Não demos conta quando ela se desvaneceu. Mas no fundo, bem lá no fundo, sentimos que ela existe, que só precisa do momento certo para despontar. Porque afinal ainda acreditamos num encontro feliz com a vida, algures entre o sonho e a madrugada...

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Post.it: A coragem de ser rosto


De onde lhe vem a coragem de ser rosto, rosto desnudado que mergulha todos os dias na multidão, que lhe dirige o olhar, que lhe oferece um sorriso, que lhe esconde uma lágrima.
Rosto anónimo para o universo de vidas, para o cosmos de estrelas. Para este sol que lhe queima a pele, para cada sombra que lhe oculta a verdade do que é, do que sonhou ser.
De onde lhe vem a vontade de estar com os outros mesmo quando lhe negam o olhar, quando lhe recusam o direito de existir, de chegar a algum lugar mais cimeiro, a tocar ao de leve os seus corações. Ou quando lhe e usurpam a luz do luar com a sua crítica reprovativa do que é, ou do que vêm no seu rosto com um olhar deturpado pelo preconceito e avaliação social, moral, cultural.
E mesmo assim prossegue neste universo de dias, de anos, que lhe foi desenhando que no rosto sulcos dos caminhos que palmilhou.
As minhas mãos inertes de habilidade, não conseguem desenhar os traços de amor que lhe esculpem a face.
Ao meu olhar, falta-lhe a sensibilidade necessária para compreender as linhas que o sentir deixou visíveis na suavidade da sua pele e, que nem a erosão dos tempos lhe conseguiu apagar.
De onde lhe vem a vontade de nos anunciar um reflexo de si, de nos oferecer sem medo, a coragem de ser rosto?



sexta-feira, 10 de maio de 2013

Post.it: A inércia dos dias


Já me cansa a inércia dos dias, porque nascem e findam sem serem meus. Não os possuo, não os conduzo, deixo-me levar por eles. Deixo-me navegar por eles sem saber onde vão dar. A que mar, a que terra, mas sigo na esperança de alcançar um lugar a que chamar meu e nele aconchegar a vida, e nele repousar os sonhos,  e nele afastar os medos, e a ele confiar o coração, e a ele entregar o perdão.
Já me atormenta esta apatia dos meses que não trazem mudança de vida, quando muito, trazem a mudança de estação e mesmo essa mostra-se confusa, quando fica sol no inverno e chove no verão, quando as flores tardam em florir e o frio em partir.
Já me devora este marasmo de vento que vai e volta com se não tivesse lugar especifico onde ir, como se rodopiasse à toa, como se fosse no oceano uma pequeniníssima canoa.
Fatiga esta indolência das horas que marcam num compasso rígido de medo cumprindo um ritual quase místico de seguir sempre ao mesmo ritmo para não se perder e ficar sem marcação, sem compasso, sem perceber qual é o seu espaço.
Já me enfada letargia dos anos, presentes que se desembrulham já sem criar expectativa, quase como se conhecêssemos o seu conteúdo.
Mas de repente a terra abana, um vulcão solta um grito da suas entranhas e o eco da montanha repete-o de uma forma uivante, então o mar acalma as suas ondas, desce de mansinho sobre o areal.
Um trovão junta-se ao apelo envia raios de luz para iluminar a escuridão de quem nela se deixou aprisionar. Uma árvore tomba e faz a ponte entre as margens para que não exista qualquer fronteira.
Por fim um silêncio, um silêncio diferente daquele que nos fatigava de rotina os sentidos. Os pássaros entoam uma melodia, o riacho acompanha numa entoação que não destoa e a canoa lança ancora num cais de abrigo. Uns braços erguem-se para a vida, para a esperança, para o recomeço, para o despertar do dia que venceu a inércia e renasceu.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Os ecos vão-se calando


No bater do coração
Já não ressoa a paixão.
Mas cada cicatriz,
Ainda ao longe me diz.
Que aquela história,
Mesmo sem ter glória.
Guarda um pouco de loucura,
Guarda um pouco de ternura.
Que agora dança no vento,
Já sem tom de lamento.
E navega pelo alto mar,
Sem ter medo de naufragar.
No peito os ecos vão-se calando,
E as nuvens de chuva dissipando.
A lembrança é uma asa ferida,
Que já curada enceta a partida.
No bater do coração,
Já não ressoa a paixão.
Abre as asas, quer voar
Nem que seja no sonhar.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Post.it: A viagem (II)


Fez anos ontem, apagou as velas e nesse mesmo instante partiu/fugiu, claro que fisicamente só o fez no dia seguinte, pegou numa mochila encheu-a com algumas peças de roupa e saiu em silêncio, sem deixar qualquer explicação. Não a tinha para dar, nem ele sabia bem o que dizer, nem ele sabia bem do que fugia, apenas sentia que era a última oportunidade de mudar o rumo dos seus dias.
O comboio começou a avançar devagar, sentiu um frio no estômago, uma felicidade, uma alegria de ter vencido o seu comodismo, de ter tomado a iniciativa daquele gesto. Pensou no emprego, na secretária vazia e sentiu-se livre. Pensou na mulher, imaginou-a atordoada de surpresa, e o peito apertou-se-lhe de uma estranha saudade. Pensou nos filhos, imaginou-os como sempre, indiferentes, pegando contrariados nas mochilas da escola e perguntado num tom de desapego “E agora quem é que nos vai levar à escola?”. Sentiu o peso do fracasso, sentia-se sempre assim quando olhava para a distância que aumentava entre ele e os filhos, sentia que o tempo lhos roubara e agarrava-se às lembranças dos seus primeiros anos para não os deixar fugir do peito.
Fechou os olhos, quis esquecer a culpa e apenas sonhar com a luz que lhe iluminava o túnel de uma nova vida.
Quando anunciaram o final da linha, despertou do seu torpor, saiu do comboio, olhou em redor e em vez de uma felicidade nascente, sentiu um vazio que lhe bateu forte no coração, de repente não conseguia respirar, não conseguia andar. De repente sentia que lhe tinham arrancado a vida, não a que iniciava agora, mas aquela que começara a construir ao longo do tempo. Pouco a pouco foi acalmando a explosão de emoções, foi percebendo que não adiantava fugir, porque era nele que residia o problema e também a solução. 
Então, como que desesperado, correu para o comboio retomou a viagem, não uma viagem de fuga mas de reencontro. Compreendeu finalmente que a felicidade do futuro estava algures onde a tinha deixado, no passado, só tinha que a ir buscar. Só tinha que voltar a abraçar como antes, rir como antes, acreditar como antes, amar como antes.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Post.it: A viagem (I)


Sentou-se no comboio com a sensação de uma felicidade adolescente, uma felicidade que já não sentia há muito tempo. Que idade tinha? Digamos que a adolescência já estava longe, muito longe. Mas sentia-se a recuperá-la nesse momento, como se nunca dela tivesse partido, apenas a tivesse guardado algures no peito. Arrumadinha como se fosse uma foto secreta, amarelecida pelo tempo, uma saudade que agora lhe suspirava pelos poros exalantes de esperança. Quem sabe poderia agarrar o tempo que lhe fugiu, não sabe bem quando, não se lembra bem onde.
Para trás fica o emprego de uma rotina sufocante, 20 anos numa mesma secretária que nem o bicho da madeira queria corroer. Foi sempre um funcionário exemplar, tinha sempre uma palavra de simpatia para com os colegas, cumpria com rigor o seu horário e as suas funções, que cada vez lhe pesavam mais nos braços, nas pernas, no corpo inteiro. Começou por se acomodar, pensou que era o peso dos anos, os problemas de coluna a espreitar, mas depois foi percebendo que era mais do que isso, era um cansaço de cada dia a pesar-lhe na alma. Tentou afastar essas ideias e olhar para a sua vida pessoal, a mulher, companheira de tantos momentos de alegria e de tristeza, conheceu-a no liceu, sentiu de imediato que era o seu destino, a sua alma gémea. Mas, com o passar do tempo, ela foi mudando e ele também, admite com alguma dificuldade. Já não se riam como antes, já não se abraçavam como antes, já não se esperavam como antes, já não se amavam como antes. No início pensou que era uma fase, a fase da gravidez, do serem pais, das noites mal dormidas, as crises profissionais, os problemas de saúde e outras tantas fases que a memória já não consegue enumerar para apontar como desculpa para esta fuga. Porque, por mais que tente negar, é uma fuga desse destino que escolheu ou que prefere pensar que alguém escolheu para si e que já não o satisfaz. Olhou uma última vez para a estação, encheu o pensamento de firmeza para afastar qualquer receio. Porque não é fácil partir e deixar para trás tudo o que se foi sem saber o que se será. Mas estava na hora de começar a descobrir.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Post.it: Um jardim sobre o mar


Estive lá, lá onde a terra cresce em direcção ao céu e o quer tocar, e o quer abraçar. As casas salpicam aqui e ali a encosta escarpada, agarradas firmemente à terra.
O coração quase nos salta do peito de susto, de temor pela sua obstinada tentativa de ai se fixarem matizando o verde de uma vida diferente, argamassa de terra, cimento e suor humano.
Estive lá, nessa ilha de profundos vales incrustados por entre os altos picos que acompanham toda a suave costa.
Estive lá, nesse  jardim flutuante de flores que ladeiam as estradas numa companhia para quem por elas sobe com esforço a ingreme montanha. No topo a floresta de Laurasilva que confere ao norte da ilha uma paisagem diferente é de uma admirável imensidade verdejante. E a viagem continua torneando as apertadas curvas onde um  rio contínuo de Levadas  nos acompanham cumprindo a sua missão de  transportarem as águas do norte mais húmido para o sul mais seco, numa generosa partilha desse bem tão essencial para a sobrevivência para que floresça o verde e humano.
Estive lá, nas “Terras do vento leste”, terra de sabores cruzados, de costumes, de lendas e de folclores.
Estive lá, não sei se lá regresso,  nunca sabemos os desígnios do destino, mas talvez nem precise de voltar, porque  trouxe essa ilha no recanto do olhar, no ar do peito que ali bebeu desse azul, tão imensamente azul de um mar que não existe em mais nenhum lugar.
A cultura, o carácter, o orgulho peninsular de quem ai quer nascer, crescer e permanecer, cruzar o oceano mas regressar porque esse é o seu lugar, essa ilha onde o coração desperta e adormece embalado pelo mar e protegido pelas montanhosas escarpas que se erguem para ficar mais perto do céu e do sonhar.
Estive lá, nesse “jardim sobre o mar onde se uma pétala caísse toda a ilha ficava triste”.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Post.it: As melhores coisas da vida são grátis

As melhores coisas da vida são grátis, dizia hoje a canção da rádio que foi o meu despertar, um despertar de sexta a "estourar" de cansaço mas, simultaneamente de uma certa alegria na antevisão da cura; dois “comprimidos dourados” a que chamamos sábado e domingo. Preenchendo  o vazio do pensamento pus de imediato os neurónios a trabalhar ainda que a “meio gás” para combater a inércia matinal.
E enquanto cumpria o ritual de cada amanhecer, enquanto lavava a preguiça, penteava os resquícios da noite e vestia o sorriso, redescobria a verdade dessa melodia, realmente as melhores coisas da vida são grátis: O nascer do sol, o azul do céu, o desfile de nuvens, a brisa que nos murmura um suave “bom dia”.
E o mar sempre o mar, esse “ombro” amigo, confessor de todas as horas, que nos oferece generoso as suas águas para nelas “afogarmos” as nossas mágoas.
Mas também o verde das árvores presenteando-nos gentil com a sua sombra de frescura, as flores dos jardins que nos enchem de cor o olhar e acariciam com o seu aroma o coração. Um coração carente de sonhos, que também são grátis, de abraços que não têm preço, de caminhos sem portagens que nos levem ao lugar onde queremos parar e ficar por um tempo que seja infinito e também ele sem custos mas de imenso valor.
Os olhos já se enchem da luz do dia e confirmam felizes, as coisas belas que a vida nos oferece todas as manhãs e todas as noites, porque não podemos esquecer também esta oferta do luar, das estrelas, que nos guiam pela estrada da fantasia até encontrarmos a mais esplêndida realidade.


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Post.it: Gosto delas


Há quem diga que as palavras gostam de mim, talvez, mas não tanto quanto eu gosto delas. Rompem o silêncio, aproximam as pessoas, ensinam-nos caminhos, dão-nos luz, conforto, limpam  lágrimas, oferecem-nos sorrisos, abraçam-nos. Claro que também nos podem magoar, também nos podem revelar o outro lado do espelho, podem desnudar-nos a alma, arrefecer o espírito, fazer-nos fugir, encolher na dor que nos provocam.
Mas acredito que se podem tornar ecos, ondas de momentos felizes, que nos podem fazer crescer, engrandecer, revelar o melhor de nós.
E se algumas persistirem no seu eterno pessimismo, talvez possamos acender-lhes uma luz; e se outras permanecerem no seu inverno emocional, podemos sempre revelar-lhes o calor do sol; se outras ainda insistirem nas suas tempestades de sensações, podemos tentar demonstrar-lhes a beleza da bonança.
Acredito que podem florir no peito mais gentil e tornar a primavera numa estação perene. Acredito que nos podem tornar os dias mais suaves quando nos despertam sonhos. Acredito nas palavras, independentemente das letras, da ortografia, da gramática, dos acordos ou desacordos ortográficos. Independentemente de nos serem sussurradas ao ouvido, gritadas de alegria à nossa chegada. Independentemente de serem muitas, de serem poucas, longas, concisas, leves, profundas. Independentemente de nos surgirem em sms ou em email. De navegarem pelas linhas telefónicas, pelos cabos de fibra óptica, pelo ar que nos transporta a voz. Independentemente de chegarem de perto ou de virem de longe, valem pelo que são, valem pela intenção. Valem pelo conteúdo e não pela forma. Têm mil rostos, outros tantos encantos, alguns, poucos prantos e muitos espantos. Gosto das palavras, quando saem de mim e chegam a ti me fazes acreditar que as palavras também gostam de mim.