sexta-feira, 29 de outubro de 2021

O meu último poema


Lágrima que não caísse,
Flor que não murchasse,
Amor que não se visse,
Que só o coração sentisse.
 
De poucas palavras,
Mas que dissesse tanto,
Que ganhasse asas,
E pousasse no teu recanto.
 
Falasse com alegria,
Da mais triste tristeza.
Cheio de luz do dia,
Na escuridão da natureza.
 
E depois de tudo fosse vento,
Memória que parte mas fica,
Uma brisa de sentimento,
Que em silêncio nos grita.
 
Paz, amor, harmonia,
Um caminho de tranquilidade.
A sensação de magia,
Num segundo de felicidade.



segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Post.it: Os livros são casas

Abrimos a página e entramos pela porta. Conhecemos pessoas, as suas histórias, os seus dramas, os seus romances, alegrias, tristezas, que partilhadas encontram ressonância nas minhas. 
Tornam-se amigos, vivemos aventuras, corremos por longos prados, derrubamos fronteiras. 
Colhemos primaveras, desafiamos um mar de ondas, deixamo-nos cair cansados sobre a areia quente. 
Abraçamos, sentimo-nos abraçados. Vemos a chuva a deslizar nos vidros da janela, aconchegamo-nos no sofá, abrimos um livro que nos leva para mundos secretos. Reencontramos amigos, fazemos novos, guardamos os antigos, num lugar onde cabem todos. 
Passam-se dias, meses, anos, entrecruzamos vidas, por vezes, mortes. 
Nem todas as histórias têm um happy end
Depois, antes mesmo da despedida, há uma saudade que nos envolve, é quase doloroso virar a última página, deixar esse amigo pelo caminho. 
Cresce-nos uma quase solidão. 
Quase uma lágrima, uma tristeza que transformamos em alegria. 
Por fim, fechamos o livro, fechamo-lo devagar saboreando um sentimento de gratidão pelo enriquecimento que nos deixa no peito. 
Amanhã vou escolher outro livro. Há tantas casas que me convidam para entrar.



segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Post-it: Travessa da Espera

Na Travessa da espera, espera-se:
Que o dia amanheça e traga consigo a realização de planos, de sonhos, de momentos bons. 
Espera-se pelos transportes públicos apinhados de gente que vai para o trabalho, são quase sempre os mesmos e já se cumprimentam, já guardam o lugar para que o companheiro de viagem descanse um pouco as pernas já cansadas, não desse dia, mas de todos os anteriores. 
Espera-se pelo pequeno-almoço fumegante que lhe aqueça o corpo e com um pouco de sorte, lhe anime a alma. 
Espera-se por um trabalho que nos incentive, que nos alegre, que nos faça sentir que fazemos a diferença, que contribuímos para um mundo melhor. 
Espera-se que a escola dos filhos lhes ensine mais do que matemática e português, que os ensine a crescer com vontade de serem bons cidadãos. Que lhes dê ferramentas para que a engrenagem de crescer lhes seja favorável  no seu rumo ao futuro.
Espera-se a tarde como um sino da igreja que marca o final de um dia de labuta contra o relógio que corre e as tarefas que vão num crescendo marcando o ritmo da corrida. Há dia em que saímos vencedores, há dias em que saímos derrotados e deixamos  algumas delas para o dia seguinte. 
Espera-se a noite, depois de beijar os filhos, de dobrar a roupa, de arrumar a loiça, de desligar o televisor, de programar o despertador, de aconchegar o cão, de pendurar a roupa para vestir amanhã, de deixar os chinelos no chão e o corpo abandonado na cama. 
Espera-se o descanso, o sono, o sonho. Espera-se a esperança de um melhor amanhecer em cada novo dia. 
Na Travessa da espera, tal como noutras travessas, becos, ruas, avenidas, espera-se constantemente pela felicidade.
 

 

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Post.it: Os nossos heróis

Para os que querem ser heróis, para os que querem ajudar todos sem olhar meios ou distância. Para os que querem ultrapassar fronteiras. 
Para os que querem rasgar horizontes. Dar de si chegar ao outro. 
Para os que quando passam não viram os rostos. 
Para os que têm sempre um sim para dar. Para os que têm sempre um sorriso para partilhar. 
Para os que fazem do seu tempo um tempo de estar com mais alguém. 
Para os que fazem da vida um caminho para ser feito a dois ou muitos mais. 
Para os que encontram a felicidade no momento em ajudam quem de ajuda precisa. 
Para os que não acham que é uma obrigação mas sim um acto do coração. 
Para os que são amigos dos seus amigos. 
Para os que fazem todos os dias novos amigos. 
Para aqueles que sabem que fazer o bem não tem dia nem hora marcada, não escolhe agir, age-se. 
Não se pensa dar, dá-se. E não é preciso partir para encontrar, basta olhar para ver, pode estar ao seu lado, mesmo sem mão estendida, rosto sujo, roupas velhas. 
Pode ser aquela pessoa que perdeu o sorriso, que se fechou em casa, que calou as palavras, que escondeu as lágrimas. 
Para os que vêm com o coração e onde cabe sempre mais um. 
Sim, esses como tu, como muitos de vós pessoas anónimas, que continuam a ser poucas e ainda pequenas comparadas com a dimensão do que nos rodeia.
Aqueles que tentam ser heróis de silenciosas causas, que tentam vencer as contrariedades de cada dia e dar um pouco de sol à escuridão de cada olhar, o nosso OBRIGADO.


segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Post.it: O céu e a terra

A terra, o céu, um casamento de longa data, uma ligação feliz. Claro que há dias tranquilos e outros de maior diversidade. Há dias em que as nuvens regam a terra e esta, retribui com flores, com frutos, com searas douradas. 
Há dias em que o vento sopra gentil para oferecer brisas de frescura, mas também tem outros em que quase numa fúria de mau humor parece que tudo desarruma. Mas a terra gentil e serena vai deixando tudo voar a contento desse feroz sopro, ela confia que quando o vento amenizar, a aparente turbilhão revelará uma ordem que só a terra entende.
Há dias em que o  sol sorri resplandecente convidando a sair da penumbra até os mais tímidos, e os bezerros não se fazem rogados, correm pelos prados, onde são acompanhados pelos cães de guarda e pelo olhar atento do pastor. 
Na cidade, as pessoas correm para os transportes, mas não deixam de espreitar pelas janelas do autocarro, quem resiste a um sorriso tão belo do astro rei? Bem que gostariam de aproveitar em pleno a oferta solar e fazer um passeio pelos jardins ou ir mais longe e relaxar o olhar numa amena praia, mas o dever chama, e um suspiro adia para o fim de semana tais planos. 
Por fim, quando o dia adormece depois das mais diversas peripécias, o céu escurece e torna-se um manto de estrelas que cobre toda a terra, como a quisesse aconchegar. 
Amanhã, bom, amanhã veremos que novas e maravilhosas surpresas chegam do céu até à terra e com que longo abraço ela lhe retribui… 
As relações felizes são feitas de partilha, de generosidade, de espaço e de união, de problemas e de soluções, de respeito e de liberdade, de um caminho que se faz sempre, com o coração entrelaçado.