sexta-feira, 29 de maio de 2020

Post.it: Momentos quase zen


É difícil estarmos connosco, com os nossos pensamentos, com os nossos lamentos, com os nossos sonhos, com os nossos pesadelos, com as nossas preocupações, frustrações e medos. Precisamos fugir, escapar-nos de nós, mergulharmos num vácuo que nos faça sentir leves e livres. Nessa fuga entramos numa espécie de zen ocidental, esvaziamos os sentidos e deixamos simplesmente de sentir.
Depois dos computadores, os telemóveis são um escape, uma fuga para a frente, ou melhor para lugar algum, porque ficamos aqui com a sensação de estar ali, seja onde for, é indiferente, pode ser em qualquer parte do mundo. Deixamos o olhar perder-se em imagens que nos confortam, que nos animam, que parecendo ser o vazio nos enchem de serotonina, a hormona da felicidade.
É verdade, somos felizes, por ver sorrisos, por ver a contagiante alegria dos outros. Crianças a brincar ou a disparatar, cachorros oferecendo-nos gestos quase humanos de carinho, aventuras de quem ousa desafiar a lei da gravidade, ou apenas, mensagens que nos fazem sorrir por fora mesmo quando choramos por dentro.
Coisas importantes, coisas sem importância alguma. Que lembramos para o resto da vida ou que esquecemos no momento seguinte. Mas por breves minutos, por breves instantes, tivemos um encontro fortuito com a nossa paz individual.
Entretanto, a viagem no transporte público chega ao fim, está na hora de voltar à realidade, de voltar a nós…


sexta-feira, 22 de maio de 2020

#SaiDeCasa


Sai de casa,

Deixa o ninho, abre a asa.

Sai de casa, não tenhas medo,

A vida amanhece cedo.

Sai de casa pelo teu país,

É ele que te faz feliz.

Vai para o trabalho com alegria,

Volta a ser o sol de cada dia.

Sai de casa, está na hora,

De mandar o vírus embora.

Dos outros mantém-te distante,

Mas em todos confiante.

Sai de casa, escuta o coração,

Ele quer sair da solidão.

Pé no chão, olhos na rua,

Sorri, porque a vida continua…



sexta-feira, 15 de maio de 2020

Post.it: Depois do confinamento


A aventura de regressar ao trabalho, de sair de casa, de viajar nos transportes públicos, de encontrar rostos cobertos com máscara.
Cada dia tornou-se uma descoberta do melhor e do pior. Digamos que uma larga maioria de pessoas agia com respeito pelas novas regras do uso de máscara, uma maioria mais pequena, pelo cumprimento do distanciamento. Mas diga-se em boa verdade que por mais que tentássemos o distanciamento nos transportes públicos revelou-se no avançar dos dias desta semana, uma cada vez maior impossibilidade. Na carris e no metro, a coisa ainda corria bem nos primeiros dias mas para o final da semana começou a instalar-se a confusão e a involuntária aproximação, com estes transportes cada vez mais apinhados de gente. Mas nota negativa desde a primeira hora recebe a Rodoviária de Lisboa que anunciava regras de só transportar 2/3 dos passageiros mas a verdade é que andava superlotada.
Mas falemos das minorias, felizmente poucas mas merecedoras de destaque e quem sabe de um estudo psicológico ou sociológico. Todos os dias os encontrava, todos os dias tentava falar com eles, aprimorando o discurso para não ferir susceptibilidades. Desde o jovem que no autocarro coloca a máscara para baixo do queixo para mascar pastilha elástica e fazer balões, realmente é impossível fazer balões com máscara, alguém que invente uma máscara para estas situações! Mas do mal o menos, pedi ao jovem que colocasse a máscara e ele acedeu.
Há pessoas que entram nos transportes com a máscara na mão em vez a ter colocada no rosto, deve ser para a mostrar ao motorista, como se fosse a validação de titulo de transporte. Depois alguém diz a outro alguém que coloque a máscara e a resposta não se faz esperar – Em mim ninguém manda! Passando pela senhora ao lado de quem me sentei e que vinha a falar ao telemóvel, mexia e remexia na máscara, tentei perceber o que se passava e a constatei que a senhora tentava a todo o custo baixar a máscara para melhor falar ao telemóvel, acabou por a colocar por baixo do queixo. Fiz-lhe um gesto indicando para subir a máscara, deitou-me um olhar fulminante. Pedi-lhe com bons modos que a colocasse, deitou-me mais um olhar matador. Por fim disse-lhe, “Que não se preocupe com a saúde dos outros, é egoísmo, mas entende-se, mas que não se preocupe com a sua saúde é suicídio”, levantei-me e fui para outro lugar.
No dia seguinte mais uma aventura e à minha frente sentou-se um jovem sem máscara. Lá tentei falar com ele “Jovem a máscara?” Não me respondeu, mas não foi por falta de educação, tinha os ouvidos ocupados com os fones e ouvia-se em fundo a pseudomúsica que deles saia. Quando olhou para mim, aproveitei a oportunidade e gesticulei (a máscara?), sorriu-me e disse “ – Esqueci-me dela em casa” e mergulhou a boca e o nariz para dentro do blusão enquanto o olhar ficava novamente preso ao telemóvel.
Mais um dia mais uma aventura, desta vez sentei-me em frente a um homem, quando levantei o olhar constatei que ele estava sem máscara colocada, lá pendia ela como um brinco de pechisbeque. Sempre persistente na minha missão de salvação/sobrevivência, disse ao homem, “- coloque a máscara se faz favor”. Sorriu-me e nada fez. Insisti, “- É obrigatório podem passar-lhe uma multa” com o mesmo sorriso de ironia, respondeu “- Sou rico, posso pagar”. Sem me abalar com o discurso, tentei de novo, “-Se não se preocupa com a saúde dos outros , pelo menos pense na sua!”, o sorriso foi substituído por um olhar de indiferença, “- Estou protegido, todas as pessoas têm máscara”. Desisti, que fazer para mudar e responsabilidade de cada um?
Já agora, onde pára a polícia? Essa que aparece nos noticiários, mostrando que cumpre e faz cumprir as normas? Pois, é isso mesmo, é aí que estão, em frente às câmaras da televisão, quando esta aparece para fazer uma reportagem, depois ninguém os vê. Compreende-se, estão a manter o distanciamento de (quilómetros).
Perante isto só posso pensar que se nos safarmos do ataque do Covid19 foi apenas por sorte. Resta-me desejar que a sorte nos seja sempre favorável e ter a esperança que apesar da falta dos comportamentos descurados de alguns prevaleça o respeito e cuidado de muitos.


quinta-feira, 7 de maio de 2020

Post.it: Girassós e outros sóis


 A primavera chegou e quase nem demos pela sua entrada. Os jardins encheram-se de coloridas flores, mas nós continuámos a ver a realidade em tons cinzentos. O sol brilhou e nós nem espreitámos pela janela.
A Páscoa foi quase apenas uma data no calendário, sem darmos amêndoas em forma de abraços, sem recebermos ovos de chocolate em forma de beijos. Quase que nem relembrámos a Paixão de Cristo. Na nossa vontade de chegar a todos, de tocar todos os nossos familiares e amigos, telefonámos, enviamos mensagens, desejámos a todos uma Boa Páscoa, menos “doce”, mas presente para compensar a ausência. Compensou? Claro que não! Mas recuperaremos cada momento, prometemos aos outros e a nós.
O 25 de Abril não foi um dia de liberdade e as canções de lutas foram entoadas num grito de desespero e de esperança. Já não se temia as guerras partidárias, os condicionamentos políticos, mas a luta pela vida contra um inimigo viral.
O 1 de Maio passou em marchas silenciosas nas ruas desertas. As lutas pelos direitos dos trabalhadores foram trocadas pela homenagem a quem trabalha para arrancar da pandemia vidas em sofrimento e as trazer de volta à sobrevivência e aos seus lares.
Este vírus que retirou vidas, que separou famílias, que nos isolou em ilhas desertas de afectos, mas cheias, por vezes muito de medos. Revelou a nossa fragilidade, demonstrou a nossa coragem.
Não estamos vencidos, nem convencidos de qualquer derrota. Os dias são de luta, cada um por si, para vencermos todos.
O ficar em casa vai pouco a pouco transformando-se num voltar à rua. Abrimos a porta, espreitamos receosos, olhamos cada pessoa com uma estranha familiaridade, estamos todos no mesmo caminho, com um único objectivo, ficar saudável. Cuidamos da nossa saúde e da dos nossos o que significa igualmente da vossa e dos vossos.
A inconsistência das palavras, tornou-se a consistência dos actos e ideais, nunca houve um isolamento que nos unisse tanto.
O futuro pertence a nós e não ao Covid; temos esperança, tentamos ter confiança e acreditar, é isso que nos dá força para sair para a rua, entrar nos transportes públicos, ir trabalhar e no final do dia regressar a casa. 
Vamos ficar bem…

sábado, 2 de maio de 2020

Mãe não há só uma


Mãe é aquela que no ventre nos carrega,
Que nos torna a sua missão e entrega.
Aquela que traz a nossa vida ao mundo,
E a sua se torna nossa desde aquele segundo.
Mãe é que nos dá colo e adormece,
Aquela que de nós nunca se esquece.
Mãe é quem vela por nós pela noite fora,
E que mesmo cansada não se vai embora.
Mãe é quem nos ergue quando caímos,
E aquela que nos espera quando saímos.
Mãe é quem brinca connosco no chão,
E à noite estuda connosco a lição.
Mãe é aquela que supera a sua dor,
E apenas partilha connosco o seu amor.
Mãe é aquela que nos guarda no coração,
E esconde num sorriso qualquer preocupação.
Mãe é aquela que até no silêncio nos entende,
E tem sempre um abraço que nos estende.