sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Post.it: Pausa

De vez em quando, é preciso uma pausa…
Parar o “mundo” o nosso mundo, cheio de rotinas, de hábitos, dos nossos usos e costumes.
Poderiam ser férias, se fosse essa a razão, partir à aventura,   despirmos-nos de nós prisioneiros do que somos durante o ano inteiro, mas não, não são propriamente férias, é uma pausa,  algo que fazemos não para “fugir” de nós mas para nos encontrarmos connosco. Para ouvir o pensamento, para sentir o coração, para olhar com olhos límpidos sem obrigações.
De vez em quando temos de fazer uma pausa para contemplar sem a pressa de cada dia. É um intervalo de sossego, de serenidade.
Precisamos de sentir uma pausa, esse silêncio entre as palavras, a suspensão do movimento, a interrupção momentânea de toda a acção.
Pausa, um instante em que nos é permitido vaguear, quase sonhar, quase sair da realidade e ser o sonho. Pode ser apenas para tomar um café, para fazer uma cirurgia, para mudar, melhorar ou para voltar a ser quem sempre fomos, com a tranquilidade e a expectativa do momento seguinte, o voltar, o acordar.
Seja qual for a razão dessa pausa, na verdade uma pausa não precisa de qualquer razão para o ser. 
E eu silenciosamente vou deixa-la habitar em mim sem lhe perturbar a paz. 

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Post.it: Chegar cedo


Cheguei primeiro, primeiro que o sol porque acordei cedo, primeiro que o vento porque quando  fui passear o cão ainda o vento dormia. Primeiro que todas as curvas porque o caminho foi quase todo feito por estradas de retas.
Cheguei primeiro que as notícias, as boas e as más, porque a papelaria ainda estava fechada, por momentos (sonhei) que nada no mundo tinha acontecido, mas logo de seguida abriram a porta e os jornais no escaparate já evidenciavam as letras grandes e as fotos das (desgraças).
Cheguei primeiro que o cheiro a bolos, não gosto de os comer pela manhã, mas gosto do odor adocicado que fica no ar, mas hoje cheguei cedo e só cheirava a noite mal dormida, cheirava a fadiga, a rio dormente, a perfume misturado com suor de quem saía das discotecas.
Cheguei primeiro que todos ao emprego para ouvir o silêncio de vozes, de passos, de portas, de armários, de teclas.
Cheguei primeiro que o cansaço, quando ainda as energias estavam em alta, dispostas a realizar todos os planos de hoje e os de ontem que ficaram por concretizar.
Cheguei primeiro que a esperança, nessa hora em que acreditamos que tudo de bom nos vai acontecer, porquê? Porque sim, não é esperança, não é fé, é plena confiança, como se tudo estivesse ao nosso alcance e para lá chegar só temos de estender a mão e agarrar o que é nosso.
Cheguei antes dos bons dias de quem passa e me olha com ar de quem não me quer ver, preferiam ter ficado aconchegados nos lençóis, abraçados à almofada. O meu bom dia, como que os desperta e os rouba repentinamente ao sono, quiçá ao sonho que era belo mas fugaz.
Sou mesmo essa formiguinha laboriosa, que anda na sua jornada de sol a sol como se cada minuto dependesse mim, como se só tivesse por objectivo a meta vencedora para receber a medalha de um recomeço, de uma folha em branco à espera de ser escrita com a tinta do querer.
E eu quero, quero muito chegar, mesmo que não seja a primeira, quero chegar a cada reencontro, acreditando que esse pode ser  o momento em que a felicidade espera por mim.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Post.it: Absolutos

Há dias que são… com os descrever? Absolutos!

Dias que nos são inteiros, que nos preenchem, que nos são bons, quase perfeitos e, só não o são porque nós, humanos, achamos que a perfeição é algo que está sempre mais além, que nunca a conheceremos, por isso, mesmo quando nos cruzamos com ela, não a reconhecemos, e continuamos com o nosso olhar sempre no longínquo.
Mas mesmo assim, reconhecemos esse dia, respiramo-lo com calma, devagar, com prazer, como quem prolonga até ao infinito aquele sopro de ar em forma de suspiro. Não, não é saudade, não é tristeza, é um suspiro de gratidão à vida e se não for na sua totalidade, até porque há dias bons e maus, agradecemos este dia, que nos é absoluto.
Sentimo-nos vivos, como se todas as células do corpo despertassem e corressem em plena alegria para uma festa estival. Há como que primaveras a despontar e cada recanto da alma. Nesse dia que se for inverno nos surgirá radiante de azul imáculo de nuvens. Mas se for verão, haverá nele uma brisa de outono para limpar as folhas secas e já sem função do nosso pensamento.
Quando o lusco-fusco se aproxima, recebemo-lo de sorriso aberto, porque o entardecer não é triste, este é um entardecer que rima com enternecer como se tivesse braços estendendo-se para carinhosos abraços do quase noite.
Porque nesse dia, até  a noite é perfeita, na sua luminosidade, no seu manto aconchegante de estrelas, no seu luar, no seu reflexo espelhado no mar, no cais onde adormecem os barcos, no leito onde a tranquilidade tem sabor de vitória e o prémio é a leveza de um sonho que nos faz voar em mundo onde o absoluto acontece todos os dias. Quando a realidade nos despertar, sorrimos, talvez o hoje não seja tão absolutamente belo como ontem, mas tem a singularidade de ser a ponte por onde passamos para o acordar de todos os amanhãs.




segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Post.it: Na minha pele

Eu, dentro de mim, deste corpo que é o meu. Eu, por baixo desta pele, desta carne, gordura, músculos, ossos.
Eu, por entre órgãos que vão cumprindo a sua função, como uma fábrica de funcionários, uns melhores que outros, uns mais lentos outros mais rápidos por despachar o trabalho e ir para casa no final do dia, dormir e sonhar.
Eu, por entre a realidade e a fantasia de cada noite e por vezes de cada dia. Eu, coberta de esperança, de espectativas, de metas, de desejos que se vão perdendo pelo caminho feito de tempo, de alegria  e de mágoa.
Eu, levando cada pé a tornar-se passo e cada passo a transformar-se em espaço, daqui para ali, para a frente e para trás, para longe ou para perto.
Eu, apenas célula, tão pequenina, tão insignificante, quase invisível, resquício, migalha, um quase nada de mundo e no entanto vida, ar impulso, construção, decisão, riso e lágrima.
Eu, dentro de mim, universo de constelações moleculares, átomos de energia anímica. Tudo, tanto, e no entanto, apenas um quase nada deste Eu, dentro de mim.



sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Post.it: Férias de verão

Férias, acordar tarde, aproveitar cada minuto do dia para fazer o que nos apetece.
Sair de casa com ou sem rumo. Ir para fora cá dentro,  visitar todas as feiras medievais e as actuais. Estar presente em todos os festivais de música, em todos os arraiais. Ir até à terra que nos viu nascer, a pequena aldeia, reencontrar familiares, amigos, aquelas pessoas que mesmo sem nos conhecerem nos dão os bons dias com voz de aconchego. Quase apetece ficar ali, para sempre, esquecer o barulho da cidade, a monotonia dos dias, a nostalgia das horas marcadas ao compasso de cada
compromisso que corremos para realizar.
Férias, também o ir para fora e meter cada experiência cá dentro, encher o olhar de novas cores, culturas, histórias da sua história. Por vezes também aí nos apetece ficar, para sempre, pela sua beleza e civilidade. Queríamos ser assim quando nos comparamos com as grandes culturas, ou, orgulhamos-nos de ser quem somos porque mesmo pequenos crescemos e temos capacidade para crescer mais.
Férias, não ir, ficar e simplesmente, relaxar, desligar o despertador, despir o espartilho da roupa profissional, trocar os saltos altos pelo básico chinelo. Caminhar pelas ruas, as nossas ruas, aquelas onde estamos o ano inteiro mas nem lhe conhecemos as curvas, só olhamos para a paragem do autocarro ou para a fila de trânsito. As explanadas que saem do café e invadem as calçadas, os parques verdes para passear com as crianças ou até fazer alguns exercícios nos aparelhos de ginástica. Reencontrar os vizinhos, os filhos dos vizinhos, como crescerem sem darmos conta. Ir para férias ou ficar em cada em férias, abrir aquele livro que nos deram no Natal, com um sumo de abacaxi, hortelã e gelo ao  lado, nesse espaço de silêncio com a companhia do  sol.
Férias é tempo de ter tempo, para nós, para os outros. Para o repouso do corpo e do espírito. Para contemplar a natureza, para o reencontro com o nosso “eu”. Para descobrir, para nos descobrirmos. 
Férias, em suma: descansar, ler, pensar e sorrir.