segunda-feira, 29 de julho de 2019

Quantos...

Quantas madrugadas existem numa vida.
Quantas vezes o sol nos ilumina o rosto.
Quantas horas marcam o nosso caminho.
Quantos caminhos fazem o nosso destino.
Quantos sonhos sonhados de olhos abertos.
Quantos amores plantados em corações 
desertos.
Quantas flores a primavera nos
oferece.
Quantas vezes o luar nos embala e
adormece.
Quantas alegrias superam as  tristezas.
Quantas janelas são abertas, e portas fechadas.
Quantas são as quedas de que nos levantámos.
Quantas palavras de esperança nos são dadas.
Quantas vidas vimos nascer, crescer, morrer.
Quantos passos desenham a nossa estrada.
Quantas ondas já contámos no mar.
Quantas estrelas perdemos olhando o céu.

Neste infinito de  muitos quantos
que na vida sempre  conheceremos.
Que poucos sejam os lamentos,
E muitos sejam os encantos...

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Post.it: Estranha pessoa

Estranha pessoa eu, neste diálogo interior. Estranha pessoa, porque estou aqui e não me sinto aqui enquanto eu. 

Poderia ser outra pessoa, deveria, queria, desejaria, precisava… 
Não por um mero capricho como quem quer ter aquele brinquedo, ter o corpo elegante daquele modelo ou ainda ter a vida milionária daquela pessoa.
 Mas como quem vive num corpo que não é o seu, que não se encaixa, que não se sente bem nessa pele, que se olha e não se sente a pessoa que vê. 
Esse sorriso que lhe sorri é-lhe estranho, essa mão que lhe toca não lhe parece sua. E, depois a minha história, a minha memória, poderia ser outra, tantas outras, diferentes, belas, brilhantes, cheias de altruísmo, de aventura.
Estranha pessoa, eu, alma no meu corpo, tento assim explicar este desconforto, sem sequer saber se tenho alma, ainda nenhum cientista provou a sua existência e onde ela se aloja, dizem os poetas que nos entra na primeira inspiração quando nascemos e sai de nós no último suspiro quando morremos. 
Estranha pessoas, eu, em que há dias assim em que precisamos aprender a amar-nos, a aceitar-nos, porque tudo nos parece estranho, crescemos de repente, envelhecemos rápido demais, não ouve tempo para sentir a mudança. E um dia damos por nós a perguntar para onde fomos que não mais nos encontrámos.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Post.it: Linhas tortas

Os nossos caminhos parecem linhas, umas sobem, outras descem, retas ou cheias de curvas. Há momentos em que mais nos parecem um emaranhado de fios, e nós, como marionetas precisamos que esses fios nos digam que movimento fazer a seguir, que passo dar depois do passo dado. Ansiamos por liberdade, mas sentimos-nos incapazes de cortar as linhas que nos conduzem pela vida a fora, conduzir nós próprios o nosso destino parece fácil, mas revela-se difícil.
Há linhas que são tramadas desabafam uns. Há linhas que nos tramam, constatam outros. São as linhas tortas desta vida, declaram outros ainda, aceitando os seus desígnios.
E nós, tal como crianças lá vamos palmilhando a vida,  pé ante pé, passo a passo, tentando endireitar as linhas tortas do nosso destino. Quem sabe um dia descubramos a fórmula mágica de desenlear essas linhas, de as endireitar. Será preciso uma grande capacidade de paciência, uma pitada de perseverança, muita atenção e sobretudo uma grande dose de sorte, essa sorte que torna tudo mais fácil, que desmancha os nós de cada dia, que endireita o mais torto fado a que cada um está fadado. 
Também é verdade que muitas vezes testamos os limites, que enviesamos as  linhas para prolongar o prazer da viagem, porque se é verdade que a reta é a distância mais curta entre dois pontos, porque não ir em diagonal e entortar o momento só para quebrar a monotonia, tudo o que é certinho cansa, um pouco de desarrumação até dá estilo. Já agora, why not?


segunda-feira, 8 de julho de 2019

Sentimento exacto

É preciso dar o devido
valor ao núcleo do problema.
Para que este  seja resolvido
sem ficar marcas de dilema.
Não há ciência exacta
para os intuitos do coração.
Porque só a voz da Razão
é que põe fim e  desata
o complicado nó da questão.
Quando um e um não dá dois.
Alguém que tome uma decisão.
Sem a deixar para depois.
Mas quando se fala de amor,
O sofrimento que nos espera.
É como se o arrancar duma flor,
Matasse toda cor da primavera.




sexta-feira, 5 de julho de 2019

Post.it: As memórias

Não devemos (agarrarmos-nos) às coisas, nem às pessoas; estamos só de passagem… Esta vida é um mero aceno e, entre o olá e o adeus é um ápice. No entanto, são anos, por vezes vários anos, nunca diremos (muitos), de estar aqui, de estarmos juntos.
De repente, há uma porta que se fecha, um coração que se sente pequenino de tão apertado, de tão assustado. E verdade que outra porta se abre, cheia de oportunidades e promessas, mas… ai a saudade que nos sufoca o olhar, que nos estrangula as palavras, que nos inunda de dúvidas o pensamento. Ai a saudade, que nos faz esquecer os dias escuros e só nos deixa recordar aqueles em que o sol brilhou.
Porquê? Questionamos, que tinham aquelas paredes de pedra e cimento para nos deixar tão doce e profundo sentimento? Tinham tudo, abrigavam pessoas, algumas que nos ficam cravadas na alma como que fazendo parte dela. Momentos, tantos, todos, até os que nos magoaram, davam asas aos sonhos mesmo até aos que nunca concretizámos.
Passei naquela casa mais tempo do que nesta, onde moro. Deixei ali muito do que fui e aquilo que hoje sou, por entre os seus recantos ainda ouço a voz dos que partiram, ainda sinto os seus passos subindo e descendo as amplas escadarias. Cada janela, tem um olhar que ainda espreita para os telhados de Lisboa, para os jardins onde saltitam os melros, onde debicam os pardais.
Na minha janela ainda encontro vestígios dos beijos que os passarinhos deixaram quando, teimavam em espreitar. Outros, mais persistentes vinham dar pancadinhas no vidro. Eles queriam entrar, eu, quantas e quantas vezes, desejei sair, para voar com eles.
Não devemos agarrar-nos ao tempo que passa, às memórias, mas que somos nós sem elas, um mero corpo vazio que perdeu ao longo do tempo a essência do que é viver. O passado é algo que construímos, não podemos simplesmente virar-lhe as costas e seguir em frente. Até porque um dia,  teremos mais passado para contar do que futuro para construir.
Queremos guardar tudo na memória, aquela casa, cada recanto, cada degrau, cada pessoa que lá morava, que lá trabalhava; aquela rua, cada esquina, cada pedra da calçada; os vizinhos, inclusive, os que vimos quase nascer, crescer, casar, partir para as suas vidas, longe das nossas.
Não se iludam, não estou parada no tempo, gosto de mudanças, de coisas novas, mas continuo a gostar simultaneamente das antigas. Porque, na verdade, nunca gostei de fechar portas, prefiro, abrir janelas para se tiver de partir, saber que está ali, sempre que queira lá voltar…




terça-feira, 2 de julho de 2019

Post.it: Não rasguem a mensagem

Se não querem ler estas palavras, se não as querem ver,  então, não as pisem,  porque são estrelas, que mesmo não estando no céu do horizonte, querem brilhar, um pouco que seja, no vosso olhar.
Se não conseguem sentir as frases, não as esmaguem, são escadas que apenas vos querem ajudar na vossa subida. Que anseiam por vos transportar para bem alto, lá onde a fantasia e a realidade se confundem.
Se não conseguem entender a mensagem, não a rasguem, não lhes fechem as páginas, não as condenem à escuridão de uma gaveta, elas são caminho, um percurso que gostaria de percorrer convosco. 
Não por ter grande generosidade ou possuir sábia filosofia, nem talvez tenha algo importante para vos oferecer, mas porque sei que cada um de vós me enobrece o coração. E enriquece o meu ser.  Partilho-me porque só assim me sinto mais inteira.