sexta-feira, 27 de junho de 2014

S. Pedro


S. Pedro das chaves guardador,
Escolhe a certa para mim,
Aquela que me revele um amor,
Que me acompanhe até ao fim.

Serei grata por toda a vida,
E por toda a vida te celebrarei.
Por ver uma primavera florida,
No olhar de quem sempre amei.

Mas S. Pedro porque demoras,
Quando o dia já quase adormece,
Enquanto eu vou contado as horas,
À espera de quem me esquece.

Mas a sardinha já salta na brasa,
E o manjerico perfuma a noite.
S. Pedro não vou ficar em casa,
Vou para a festa à procura da sorte.


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Post.it: Aniversários

São datas que festejamos porque as gostamos de  recordar, de guardar algures na memória, algures no peito. Então abrimos as asas à alegria de poder repetir vezes sem conta essa celebração de continuidade. Porque essa data nos dá motivos para gostar dela, para a enaltecer. É o culminar de mais um ano, de momentos, talvez nem todos completamente perfeitos, “houve dias de sol, houve dias de chuva”. Mas a grande felicidade é que houve “dias” que se multiplicaram por semanas, meses, anos. Celebramos aniversários, que são sempre de nascimento, de surgimento de algo de bom na nossa existência: o começo do amor, o casamento, o nascimento dos filhos, o início de uma carreira, a concretização de um sonho, projectos, viagens e até o início de uma amizade.
Então festejamos sem nos cansarmos, repetindo em nós a sensação do seu começo, a novidade, a surpresa, a alegria, o salto descompassado do coração, o tocar o céu, desenhar as estrelas, a descoberta única de uma felicidade que nos atingiu em pleno no corpo e na alma.
Mas há datas que entretanto já não festejamos por razões que só a vida, mentora de realidades, gestora do tempo, o pode explicar. Porque nós, embora já não tenhamos motivos para celebrar essa data, continuamos a recordá-la, sem aquela grande alegria, é verdade, mas, guardamo-la num recanto muito íntimo de nós, esse lugar a que chamamos Saudade.
Para todos os que celebram aniversários de algo, parabéns.
Para os que já não celebram algumas datas, que lhes seja possível voltar a celebrá-las.
Para os que não têm datas para celebrar, recomecem novos aniversários, comecem agora a festejar, nem que seja o dia de hoje, 26 de Junho de 2014.

terça-feira, 24 de junho de 2014

S. João

S. João estás no Porto,
Mas Lisboa não se importa.
Se nos levares o desgosto,
E o amor bater à nossa porta.

João que nos és santo,
Pelos milagres conhecido.
Torna a vida no encanto,
De ser um sonho acontecido.

E hoje que é o teu dia
Celebrado neste país.
Que só te pede a alegria,
De voltar a ser feliz.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Post.it: Como não gostar do verão...

Gosto do verão e já os acalorados suspiram e abanam um leque ansioso por agitar o ar, por fabricar brisas de frescura. Enquanto outros mergulham de imediato no armário em busca de calções, camisolas de alças, de chinelos e todo o corpo grita por uma liberdade que os espartilhos do inverno agrilhoaram por um tempo que nos pareceu infinito na trilogia de chuva, vento e frio.
Gosto do verão atrevo-me a repetir enquanto olhares fulminantes parecem querer matar-me as palavras; ligam as ventoinhas, os ares condicionados, escondem-se nas sombras urbanas, bebem litros de água como se o calor lhes ardesse no peito, e arde, “é da idade” dizem entre um sorriso que se solta porque nem tudo na “idade” é mau, também cresce a tranquilidade, a sabedoria de quem percebe o sentido da vida: aprende-se a vive-la em todos os seus momentos e retirar de cada um o que tiver de melhor. Porque a “idade” ensina-nos que a vida é infinita se for vivida e apreciada mas rapidamente finita para quem estende o olhar, o coração ao horizonte longínquo e não vê, sente, o que lhe está perto. 
Gosto do verão, insisto, mesmo com todas as picadelas de insectos, que digo em tom de graça que são beijinhos, afinal nem chega a ser desgraça e tudo acaba com uma injecção antialérgica. Depois lá ando com coloridas protecções: pulseira amarela, ultrassons em tons de azul e branco e quando a escuridão desce do céu, à minha volta desenha-se o que poderia  ser uma cena de ultra-romantismo, mas é apenas um conjunto multicolor de velas repelentes de insectos.
Mesmo assim, permitam-se a repetição quase estóica, “gosto do verão”. Quando as noites tardam em chegar e o dia se prolonga numa ténue  luz que suavemente se  dissolve por entre os ramos das árvores, deleitando-se pelos telhados, estendendo-se lânguida e terna pelas ruas, tocando rostos, acariciado as flores que aos poucos se vão fechando recolhendo para um sono profundo. O dia adorna-se  com o mais belo pôr-do-sol que se dissolve gentil sobre um leito de mar, cresce um silêncio de profunda admiração pelo pintor celestial que compôs tão bela e harmoniosa paisagem. 
Como não gostar do verão…

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Milagres de Sto. António

Sto. António quantos pedidos,
Tens nesta época de atender.
Corações que andam perdidos,
Amores que se querem entender.

Mas os milagres já pagam imposto,
E não há descontos para a felicidade.
Grátis, só se for algum desgosto,
Em promoção, só se for a saudade.

Mas Sto. António ainda acreditas,
No poder da mais sincera oração.
E nas tuas festas alegres e bonitas, 
Lá vais pondo fim a muita solidão.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Se Camões soubesse...

Se o amor soubesse,
Que amando sofreria.
Talvez amor não houvesse,
Para amar em cada dia.
Se o amor soubesse,
Ser a causa de tanto infortúnio.
Talvez o amor se escondesse,
No mais longo e profundo rio.
Se o amor soubesse,
Ser tão grande desventura.
Talvez já ao peito não viesse,
Revelar tanta amargura.
Mas o amor se verdadeiro,
Sabe que na sua realidade.
É um sentir bem fazeiro.
Que só traz felicidade.
Nunca pode a beleza do amor,
Magoar o mais nobre coração.
Lá porque o rimam com dor,
É a mais linda flor da emoção.
Se amor não houvesse,
Que nos declamaria Camões?
Um mundo que nos anoitece,
Sem nos iluminar os corações?
Agradeço ao amor por existir,
Agradeço aos poetas que o contam
Agradeço à primavera por florir,
Em todos os que o amor encontram.