sexta-feira, 30 de agosto de 2013

"I have a dream!"

Há sonhos maiores que nós
Para além de nós
Mais longe que o nosso tempo.
Sonhos que nos tomam a vida
Que não desistem dentro de nós
Que nos mudam o coração e o destino
Que nos sobrevivem.
Sonhos a que o tempo dá razão
E a História consagra
Conta em todas as línguas
E transforma em sementes de novo sonho.
Porque alimenta-se do sonho de mais além
sabendo que sem sonho não há mudança
Sem sonho não se avança, não há caminho
Sem sonho não há histórias nem vida!
Por isso, “I still have a dream!”
É semente a germinar
Que ecoa e cresce nos caminhos da vida
E há-de ser novamente História a contar:
Outros clamores de igualdade
E outras conquistas de liberdade.


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O tempo sem tempo

Tempo
Corrida
Viagem
Vida!

Corre, corre
Ao ritmo do horário
A trabalhar
A cumprir.
E quem vence?
O calendário!

Falta tempo e lugar
Falta reflectir
Conversar
Poder estar
Sentir
Amar!


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Era uma vez: Sementes de sonho

Sentada em frente do computador, Beatriz organizava mentalmente as ideias que iriam encher as páginas brancas. Quando se preparava para escrever uma nova história, já construída mentalmente, vinha-lhe sempre à memória a sua infância, época em que toda a sua fantasia fora criada e guardada, como um valioso tesouro de onde foram saindo todas as sementes da sua escrita.
Era no jardim das traseiras que, em miúda, passava horas esquecidas no abraço da penumbra sombria das árvores centenárias, que tinham assistido ao erguer do pequeno palacete, numa alameda relativamente próxima da pequena cidade, mas suficientemente afastada para garantir silêncio e isolamento – duas exigências do seu avô paterno, homem de posses, que o idealizara.
Beatriz habituara-se ao ambiente calmo e silencioso da casa e do jardim. Conhecia pouca gente. A estranha doença da mãe e o mistério em que todos envolviam as circunstâncias do seu nascimento tinham sido os motivos do isolamento social da família. Não fizera amigos, apenas sabia que existiam pelos livros que lia compulsivamente.
Com apenas cinco anos aprendera a ler, quando a mãe ainda conseguia resistir à atracção do silêncio de si e saía por algumas horas do seu mundo de tristeza. Com ela, aprendera a juntar letras, a formar palavras e a decifrar frases e parágrafos. Descobrira assim o mundo dos livros, onde aprendera a vontade de viver e o hábito de sonhar.
Num dia de Outono, esperara a mãe, em vão. Não quisera sair do quarto e os seus olhos ficaram perdidos em paisagens que mais ninguém via e que só a ela faziam sorrir. Percebera, mais tarde, que era um sorriso triste, de saudade e desistência.
Ninguém lhe explicara as razões de tal doença. Sabia, agora, que não era do corpo. Fora a alma que, nesse dia, não encontrara a vontade de viver e, assim, se escondera e sossegara.
Os avós, a ama e até a empregada que vinha todos os dias da cidade zangavam-se sempre que se atrevia a falar no assunto. Adivinhava a relação com o seu nascimento pela frieza com que os avós a tratavam – como se fosse a culpada da doença da mãe. Desistira de os questionar sobre o pai, tal era a fúria que lia no olhar do avô e a dor que se espelhava no da avó, quando respondiam contidamente: “– Não são assuntos para a tua idade. Dá graças pela vida boa que tens!”
Restavam-lhe as árvores do jardim. Nomeara cada uma e fizera de todas suas amigas. Lia-lhes, em voz alta, os muitos livros que a mãe coleccionara, a maioria de histórias e poemas. Era também com as suas altas amigas que lia os livros que o avô lhe trazia regularmente. Livros de História, Ciências ou Geografia – matérias que o avô dizia que ela poderia aprender sozinha. Para a Matemática, a Música e as Línguas, vinha uma professora pouco faladora, duas manhãs por semana, que se cingia aos assuntos de estudo.
O jardim era o seu mundo. Um mundo apenas seu, onde permanecia e de onde a sua mente viajava pelos oceanos e continentes da imaginação, sonhando voar acima das altas copas a que nunca tivera permissão de subir.
Nessas viagens de fingir, voara longe e descobrira tesouros que guardava nas páginas dos cadernos que nunca eram suficientemente grandes para tantas palavras, tantas ideias, tantas histórias e tantos desejos! Guardava ciosamente cada um deles numa caixa que escondera no tronco da velha tília, guardiã do seu tesouro e confidente das suas lágrimas, dos seus risos, sonhos e esperanças.
Assim se fizera adolescente e jovem mulher. Apenas adivinhara a beleza da amizade e do amor nas páginas dos livros. Vivera esses sentimentos nas viagens interiores, onde descobria e criava mundos que só ela conhecia e lhe ofereciam o que a vida real teimava em roubar-lhe.
Sabia agora que esses mundos e tesouros, só seus, lhe tinham permitido sobreviver e vencer a solidão, transportando-a em segurança para a vida adulta, onde veio a descobrir que todo o mistério, toda a tristeza que roubara a vida da mãe não passara de preconceito – um amor proibido, uma mãe solteira, uma filha escondida, um pai desconhecido e para sempre perdido.
Revoltara-se e cortara relações com o avô. Desprezara a avó pela sua submissa passividade, mas nunca pudera compensar a mãe pela vida roubada e aprisionada, nem compreender ou perdoar as vãs razões do avô - uma imagem a manter, supostos valores a preservar que, para ele, se tinham sobreposto à felicidade da filha e ao direito a crescer da neta.
Deixara a casa e o seu jardim. Esse trouxera-o na caixa dos tesouros que a velha tília tão bem soubera guardar, com os sonhos e a vida que se descobrira e crescera à sombra de tão altas e sábias amigas e que, por sorte ou providência, se transformara em imaginação, riqueza e dom que partilhava com os seus leitores. Talvez, algum deles, prisioneiro de um novo preconceito (sim, porque ultrapassado um, os auto-nomeados guardiões de valores inventam logo outro), se sentisse tão sozinho como ela fora.
Era para esse que ela contava as suas histórias, escondendo nelas asas de voar por dentro e sementes de sonho de vida respeitada e amada.
Quem sabe, talvez alguém as descobrisse e semeasse.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Vidas sentidas

As pessoas passam
Cada uma com seu ser diferente
O feitio do corpo, o arrumo ou desalinho do cabelo, as mãos, o pisar do chão, mas sobretudo o olhar e a expressão da boca.
Já repararam?
Cada particularidade aponta para um forma de estar na vida e de ser, para si próprio e para os outros.
E, se a ouvimos falar…
Então é quase fácil perceber a alegria ou a amargura, a desilusão ou a realização, o temor ou a esperança no futuro, o cantar ou o chorar que traz na voz…
Gosto de observar as pessoas e imaginar a vida que elas, em poucos momentos me revelam.
Imagino que as chamo e se sentam e contam.
Vidas sentidas, tantas vezes doídas, choradas.
E outras tantas, doídas mas cantadas.
Gosto do cantar da vida sofrida.
Que sofreu, mas cresceu e viveu, saiu de si e não deixou que as lágrimas fossem vãs.
A vida é doída, para todos.
Mas também tem um cantar que está ali, que não podemos ignorar.
Um cantar que nos põe o sorriso na alma, nos dá brilho aos olhos, nos ilumina o rosto e dá postura ao corpo.
Um sorriso, um brilho, uma luz que, em poucos segundos, podemos oferecer a quem quer que por nós passe e por momentos nos olhe.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Eu escolho o bosque

“Faz mais ruído uma árvore que cai do que um bosque que cresce”
Sábia afirmação do papa Francisco, a propósito dos escândalos provocados por alguns, que abafam a entrega diária e o bem que a maioria faz.
Tão verdade! Em todo o lado. Na família, no emprego, na escola, no grupo de amigos…
São árvores que vão crescendo e parasitando e abafando todo o bosque, escudando-se e servindo-se dele, para ganharem porte altivo.
Crescem e proliferam porque dão nas vistas, porque ganham dinheiro e têm sucesso e, tantas vezes, são vistas como exemplo. 
Enquanto estão de pé, todos admiram essas árvores, sem olhar para as suas raízes. Essas só se vêem quando elas caem. Então, vem o escândalo, a critica…
Para além da nuvem de poeira que levantam, ninguém repara no bosque, ninguém valoriza as árvores iguais a todas as outras, que trabalham, se entregam, procuram o bem comum. Por isso, não traem a confiança de quem os ama, voltando costas ao compromisso e à responsabilidade; não se promovem nem se encostam, prejudicando e sobrecarregando os colegas. São árvores normais que amam, trabalham e procuram estar à altura do seu papel na família, no emprego, na sociedade.
Um desafio: olhar mais para o bosque e menos para as árvores pomposas e de porte enganador. Ver para além delas e valorizar mais cada árvore que permite o crescimento continuado do bosque.


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A falta que nos fazem!

Habituamo-nos a certas coisas, pequenas coisas que nos sabem e fazem bem.
Um café, no silêncio e frescura da manhã, com um bolinho ou um sorriso luminoso, para adoçar o dia.
Um carinho, um sorriso, uma palavra, naqueles momentos em que só nos resta aceitar o que a vida traz, porque não adianta lutar, porque não está na nossa mão mudá-la.
Um “gosto de ti!”, ao acordar e no final do dia, que nos faz sentir acompanhados e saber que podemos partilhar o caminho, nas suas agruras e alegrias.
Ou coisas mais simples que, tantas vezes nos custam: uma refeição para decidir, uma cozinha para arrumar.
Um trabalho para realizar, com metas a alcançar e com a preguiça da segunda e a expectativa da sexta.
E tantas, tantas pequenas coisas!
Daquelas coisas que, só quando as não temos, se revelam tão grandes e nos fazem tanta falta!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

É assim a Amizade

Tarde de verão
Sol, luz, calor
Caminho
Cansaço
Vontade de desistir
e….
… uma árvore
Sombra
Que abraça
Descansa
Anima
E faz bem!


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Tejo da minha vida

Descobri há pouco tempo (santa ignorância!) que “Tágides” é o nome que Camões chama às ninfas do Tejo! Sim, passei pelo último ano do liceu logo a seguir à revolução dos cravos e não estudei os Lusíadas. Em vez disso, li Sofia de Mello Breyner e Alves Redol e Soeiro Pereira Gomes, que me fizeram olhar para o Tejo com outros olhos e amá-lo e, às vezes, querer odiá-lo.
Vejo-o correr há mais 50 anos, sempre ao alcance da minha vista, parte da minha paisagem quotidiana, da minha vida! E afeiçoei-me a ele e ao seu mar largo e brilhante ao sol, ou cinzento e ponteado de espuma branca de tempestade.
Chega a Vila Franca e as margens alargam-se, deixam-no espraiar-se por entre os mochões, diante do olhar, ora atento ora indiferente, das cidades apressadas e das lezírias planas e ciosas dos seus campos e das suas pastagens, dos seus cavalos e touros. Essas lezírias saudosas das searas e dos gaibéus, dos telhais e dos seus miúdos, dos avieiros e das suas redes, da vida que viveu entre as águas e as margens, tantas vezes galgadas e alagadas, enchidas de pranto e cobertas de lodo e lama. O pranto e a lama que fazem crescer e renascer a vida .
É deste Tejo, carregado de memórias de vidas que nele se fizeram e por ele vieram e partiram, que eu gosto e às vezes desgosto e me zango. Quando se esquece que é água de vida e leva quem ainda não pôde viver.
Não é culpa dele, certamente. Mas fico zangada. Não sei se com ele, que corre sereno à mercê de quem o olha e por vezes não entende, se com quem não se lembra que é rio forte e maduro, com rugas profundas onde a correnteza correr ainda mais, sem tempo para ver se há miúdos curiosos e inquietos, sedentos de água e aventura de quem os adultos se distraíram.
E apetece-me invocar as tágides - que aquietem este rio e cuidem de quem não lhe conhece a força escondida na mansidão das suas águas.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Redobrar o amor

Finalmente
Cresceram
Começam voar!
Mas…
  ... surpresa!?
Não é que o ditado tem razão!?
“Filhos criados
Trabalhos dobrados!”
É a nossa vida a repetir-se neles
Tomar a nossa vida nas mãos, doeu
Ver a dor do crescer dos filhos dói mais
Nada de novo.
É assim desde que há filhos.
Que fazer?
Se os trabalhos dobram
Só resta redobrar o amor!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Minha escrita

Minha prosa
Meu poema
Meu verso
Meu sonho
Minha liberdade

És tu que me chamas
E pedes que te dê vida
E te deixe falar e gritar
Com as minhas palavras
Que afinal são só tuas

Tu é que as vais chamar
E as trazes todas até mim
Em ideias, sentimentos e desejos,
Para que eu as pense e escreva
E assim as possas dizer e libertar

São tuas, as palavras e o que dizem.
Dou-tas todas, tal como as segredaste
Para que as guardes, semeies e repartas
Entregando-as a quem por aqui passar

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

As luzes da nossa História

Uma multidão
Uma praça
Atrás, o nosso rio
O arco ilumina-se
Silêncio
Música e luz!
A História passa diante dos olhos
Depois de cada obstáculo, uma vitória
Depois de cada queda, um novo erguer
A fé, a persistência, um objectivo
Continuar, construir, legar
A História passa diante dos olhos
Diante da admiração
  Pelos feitos de ontem
  Pela arte de hoje
A arte de iluminar o passado
  fazer crer que há futuro
  criar vontade de fazer História
  vontade de construir e legar!

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Alcançar o céu e as estrelas

Subir, ir mais acima, mais longe,é um sonho antigo da humanidade – conquistar o alto céu e alcançar as distantes estrelas .
Mas será também o meu? Será o teu? Será o nosso sonho?
Talvez. Porque eu e tu, nós, somos humanos e queremos o que a humanidade quer, nascemos nela, caminhamos com ela e vamos aonde ela for. 
Porém, a profundidade do firmamento e o chamamento do brilho longínquo não podem distrair-nos e impedir-nos de chegar ao nosso céu e apreciar a luminosidade das estrelas que cintilam perto de nós:
. uma semente a germinar
. uma flor em botão
. uma fonte a jorrar
. uma mão estendida
. um sorriso aberto
. um coração magoado
. um olhar inquieto
. um choro de criança
. um riso de mulher
. uma lágrima a cair
. a gargalhada dum palhaço
. as palmas do público
. e até um grito de dor

As estrelas somos nós: eu, tu, ele, ela, eles, nós, isto e aquilo…
O céu, em azul, cinzento, carregado de nuvens, desfeito em aguaceiros ou zangado de trovões e granizo, nasce do coração, faz-se de palavras e emoções e gestos, envolve-nos e cerca-nos, enche-nos e, às vezes, desfaz-nos.
O céu é o azul inesperado e surpreendente e é também o cinzento ameaçador e o negrume avassalador.
Pode ser subida, escalada, ir mais acima, chegar mais longe.
Mas quantas vezes é recuo e precipício sempre a cair mais fundo e mais fundo?
É por isso que existem as estrelas. Para iluminar, guiam, guardar e encher o azul profundo de sinais, transformando-o em tonalidades de dádiva e esperança, em caminho que tão depressa é largo como estreito, íngreme ou plano, tantas vezes infinito e outras tantas sem saída que se vislumbre. 
Mas é caminho e há-de conduzir-nos ao céu e às estrelas.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Frescura de verão


Manhã fresca

O sol encoberto

As nuvens

O cheiro da chuva na terra

E as gotas de orvalho

A relva molhada

As rosas felizes

Frescura de verão

Sabe a pausa

Sabe a descanso

Sabe bem

Faz bem!




segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Post.it: Há mar e voltar

O mar, ali tão perto, num infinito horizonte de azul e prata, onde o céu e a terra se unem e confundem.
Chama-me, alicia-me com a água límpida e ondulante, promete frescura e conforto e embalo.
Os olhos afundam-se nele.
Depois, o coração à procura dos sonhos que trouxe e que neste verão, quem sabe, talvez consiga encontrar.
Mas o mar é fundo e tão vasto!
O sol empurra o corpo e, finalmente, o mergulho acontece. Por momentos, tudo é tão simples e puro e bom!
Mas o ar obriga-me a voltar à tona. O cansaço e o primeiro arrepio dizem-me que não é ali o meu lugar, que há uma terra à minha espera. 
E volto, com o mar no olhar e o sonho ainda no coração.