terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Post.it: O encantamento do Natal

Ainda a falar do Natal? Já quase vos adivinho a cansada surpresa, cansada porque ainda estamos mal recuperados do preparar a festa, do durante e agora do depois.
Ainda o Natal, sim, porque não? Se o Natal pode e deve ser todo o ano, e deve sê-lo na solidariedade, na partilha, na atenção e no cuidado que devotamos aos que amamos e aos que nos são desconhecidos mas que precisam do nosso auxílio, uma moeda, uma sopa, um cobertor ou até um cigarro para quem não suplanta o vício seja em que situação for.
É este o encantamento do Natal, não somente as luzes que iluminam as ruas e as nossas casas, mas também as que nos iluminam o coração para que possamos sentir melhor o que se passa à nossa volta. Não só as iguarias típicas da festa que nos adoçam a gulodice mas sobretudo aquelas que partilhamos com quem não as tem não só por dificuldades económicas mas também por motivos de saúde. Um Natal que é feito pela presença da família em redor de uma razão maior, a memória de um amor grandioso que se propagou pelo mundo e o juntou numa só fé, a do amor ao próximo. Uma família que pode ser feita por laços de sangue, por laços de amizade ou simplesmente por laços de generosidade aos que estão à nossa volta. Mas há ainda as prendas, ai as prendas que tantas dores de cabeça nos dão, para tentarmos agradar a todos, para chegar cada ano a mais. Prendas que não têm de significar coisas que embrulhamos para surpreender e receber em troca um maravilhado sorriso, as prendas mais importantes são as que não cabem num embrulho; a presença, a visita a um amigo, familiar, a um doente, a um vizinho solitário, dando-lhe apenas um sorriso, um momento de atenção, uns instantes de companhia. Pequenas coisas que têm tão grande valor, prometemos que vamos tornar a fazê-las durante o ano, não cumprimos, mas no Natal, recordamos a promessa e já não queremos adiar mais a vontade de partilhar e receber a dádiva da gratidão. 
Quando vem Janeiro, e a festa termina, tiram-se os enfeites, despem-se as ruas do seu colorido, há uma tristeza que nos invade, inconfessada, escondida, quase magoada de tão enternecida, é a saudade do Natal não do que se foi mas do que nos fica no peito, órfão de momentos que o tornam feliz na dádiva da humanidade a que nos orgulhamos de pertencer.


quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Post.it: Olá

Ouvi no rádio do carro quando vinha para o emprego, que hoje é dia de falar com quem não falamos há muito tempo. 
Para obedecer há “tradição” aqui estou, escrevendo, “falando”.
E de várias pessoas com quem não falo há muito tempo escolhi-te.
Porque tudo na vida, ou quase tudo, são opções.
De entre as pessoas que não falo há muito porque perdi o contacto, porque perdi a vontade, porque perdeu o sentido, porque se perdeu a amizade, porque nos perdemos voluntariamente ou por obra do acaso; outras há que sabe-se lá porquê, não as perdemos da lembrança, talvez porque tenhamos ainda algo de que falar, algum assunto para descobrir, alguma razão para sorrir. Não sei, não importa, só quero dizer um “Olá”. Não um desses  "olás" acenados ao vento e que nos voam sem nos tocar, não desses lançados apressadamente por entre os pingos da chuva e que acabam afogados nas poças de água na rua do esquecimento, ou ainda esses outros apenas murmurados de tão estranhamente arrancados à nossa vontade porque a boa educação o exige. Não é nenhum desses cumprimentos que quero aqui deixar e que me apeteceu neste dia oferecer. E lá dirás, que me lembrei apenas porque algo me obrigou a isso, tipo cumprir calendário. Talvez tenhas razão, mas não importa como um gesto começa, o importante é o que ele transporta. Neste caso, transporta, um breve, simples, despretensioso, atencioso e até afectuoso “Olá” desejando que hoje tenhas um de muitos dias felizes.
Oferece-me um "Olá" se te apetecer, ou oferece a quem não falas há muito tempo…


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Escutando os sentidos

No meio do tudo, sou apenas nada,
Um nada que é quanto me basta.
Como ao sol lhe basta a madrugada.
Que renasce e nunca parece gasta.

No meio do ruído, sou o silêncio,
Um silêncio que tudo e a todos diz.
Que na sua quietude não está vazio,
Que na sua eterna solidão está feliz.

Porque é bom sentir que se faz parte,
De um lugar que em tudo é como nós.
Como se fosse estranha peça de arte,
Que ouve os sentidos e lhes dá voz.

Até que de repente e já sem pressa,
Toda a vida nos desfila no caminho.
Já sem tempo que acelere e meça,
O que o coração nos diz baixinho.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Post.it: Sinta-se hygge

Hygge, (huga) como se pronuncia, é um termo que começamos a ouvir falar, Importado dos dinamarqueses, considerado o povo mais feliz do planeta, que nos revelam numa só palavra, o segredo da sua felicidade.
O conceito de hygge é a obtenção do contentamento, satisfação, uma felicidade ténue, compassiva mas que nos preenche, que nos sacia e afasta a angústia, a solidão. Sem a ansiedade da busca, de tentativa em a alcançar a qualquer custo, porque está ali, à distância da nossa mão, tão perto que podemos e conseguimos tocar-lhe.
O conceito de hygge é o cuidar de nós, não por narcisismos ou egocentrismos, mas antes um cuidar porque o merecemos e porque é um dever nosso mimar-nos, aconchegar-nos, depois de um dia cansativo de trabalho. A satisfação de um dever cumprido que nos faz sentir merecedoras de um pequeno mimo.
Em hygge, dá-se primazia aos sentidos, sentir a vida na ponta dos dedos, saborear devagar aquilo que mais gostamos, sem culpas, sem críticas entregues ao momento.
Dar atenção aos sons; o estalar da madeira na lareira, os pingos da chuva, o sopro do vento por entre as árvores, o canto dos pássaros no nascer do dia.
Respirar fundo e deixar que o ar replecto de aromas nos conduza para boas e longínquas memórias, o cheiro da relva acabada de cortar, a terra molhada, o pão acabado de fazer.
Mas também sentir o toque no rosto de uma manta macia e quente, e nos dedos a suavidade de uma pétala de rosa, ou uma escultura com linhas deleitosas, harmoniosas.
Olhar e ver com toda atenção, quase devoção, a dança das luzes, a descoberta das sombras, os raios de sol reproduzindo-se numa parede em convecção de cores, um quase arco-íris que podemos admirar de perto.
Hygge é plenitude, é dar a devida importância aos momentos mais simples. Para cada pessoa hygge pode ter o mesmo sentido mas significar uma escolha diferente, porque a felicidade é individual, uma opção particular, para uns pode ser o ficar deitado no sofá num domingo de inverno, vendo um bom filme com uma caneca de chá fumegante. Para outros basta-lhes desligar o telemóvel, o computador, colocar uma música que se gosta e deixar os sonhos fluírem dançantes.
Com hygge sentimo-nos mais tranquilos e em paz, aproveitando o aqui e o agora. 
Tudo isto é hygge, um sentimento suave e terno de felicidade, que nos embala, que nos acalma. Mas é mais, muito mais, é o que cada um quiser, o que cada um apreciar fazer, sentir, saborear. Porque hygge é uma atitude simples perante a vida, dedicando-lhe tempo. É qualquer coisa que nos reconforta a alma e podemos realizar facilmente e com a frequência que desejarmos. Afinal, a felicidade não é algo que se compra, é uma prática, dedicando-lhe tempo que é simultaneamente um tempo dedicado a si próprio. Em síntese, pode-se dizer que hugge significa, gostar de si e tornar-se feliz. Hoje imite os dinamarqueses, pratique hygge e sinta a felicidade em si.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Post.it: Conselhos a, talvez, seguir

Sou teimosa por vocação, persistente por querer, vou, insisto, sim, é verdade nem sempre dá certo, na maior parte das vezes. Mas detesto aquelas pessoas que nos estão sempre a “aconselhar”, quase a “proibir”, sempre a ver as coisas pelo lado negativo, “não vais conseguir”, “vais cair”. E caio, às vezes, quase sempre, mas a verdade é que me levanto, umas vezes a rir da queda, outras a chorar sem lágrimas, para que os “moralistas” não se fiquem a rir. Porque se riem, riem sempre, mesmo que façam um ar pesaroso e digam com carinho “eu bem que te avisei”. Pois avisaram, mas experimentar tem outro sabor, amargo, por vezes, mas um dia, ou melhor daí a muitos dias ou anos, esse amargo torna-se uma doce recordação e quando nada mais restar, contamos e recontamos essas pequenas aventuras.
Quando os amigos se forem, os familiares partirem, a saúde acabar, os anos se tornarem uma longa estrada com mais de passado do que de futuro, sabe bem sentarmo-nos no sofá, recostar a cabeça e lembrar, vamos rir das quedas e ficarmos, quem sabe até, gratos por cada uma.
Ainda bem que tentei, pelo menos mostrei garra, um pouco mais de sorte e teria conseguido. Mas e depois de vencer? “A felicidade é breve, a dor é longa”, uma companhia que se torna suave e doce. Também ela tem algo de bom, ensina-nos, faz-nos crescer. E eu cresci, como cresci. Tenho histórias que se tornam “velhas” amigas. Lembras-te?  Se me lembro, ainda bem que nunca desisti, de ti, de mim, de nós. Aprendi todas as lições que a vida me ensinou, porque estive presente e não porque me facilitaram a jornada.
Ao longo do tempo, a todos vou agradecendo: os avisos, o cuidado, agradeço sobretudo o depois, o amparo, a solidariedade, a amizade, o carinho… 
“Teimosa”, diziam-me os pais. “Tem cuidado”, repetiam os avós. “Não insistas”, replicavam os amigos. Bons conselhos, segui alguns, não a maioria, porquê? Porque é preciso viver a vida na pele, na carne, em cada lágrima e sobretudo no antes e no depois, em cada gargalhada.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Post.it: As dores

Às vezes tem-se dores grandes, tão grandes que o nosso instinto de sobrevivência, a nossa capacidade de nos suplantar as torna pequenas, menores que nós. Então suportamos-las, superamos-las, vencemos-las e seguimos em frente, sentindo que somos heróis da nossa vida. Não da nossa história, porque também aqui somos grandes na humildade, na modéstia com que sentimos e declaramos-nos apenas humanos.
Às vezes tem-se dores pequenas, tão pequenas que nos dominam, afligem, corroem, minam-nos o corpo, a alma. Sem sabermos como, deixamos que se apoderem de nós, que nos vençam, tornam-se, nós, em pensamento, em existência.
Os amigos aconselham-nos, os familiares amparam-nos, empurram-nos para a sua visão da realidade, tentam mostrar-nos uma luz que não vemos, uma beleza que não sentimos existir.
Às vezes temos dores, simplesmente dores, não sabemos se grandes ou pequenas, porque na verdade a dimensão da dor é relativa a quem a sente e como a sente. Pode ser pequena para quem observa, aponta e crítica. Pode parecer enorme para quem, vê com maior acuidade e percebe a dimensão, não da dor mas da pessoa que a sente. Todas elas são dores, porque nos doem, porque estão em nós, não porque as queiramos, mas porque chegaram até nós, como órfãs em busca de um pouco de carinho, de um curativo que as faça ficar melhores, menos dolorosas.
Que remédio há para as dores? Depende do que as causa, ou do local onde elas estão instalada, responderam.
Mas, e quando um comprimido não resolve? Resta-nos, olhá-la de frente, tentar percebê-la, limpar-lhe as lágrimas depois de chorar com ela e sorrir-lhe, mostrar-lhe que para tudo há algo de positivo, até para as dores.
Fazem-nos andar mais devagar, olhar para nós e para os outros. Fazem-nos cuidar, fazem-nos curar, fazem-nos perceber a nossa dimensão. Não temos que ser super heróis, mas também não nos podemos entregar a ela e deixar que nos vença e convença que é mais forte que nós. 
A dada altura é bom haver uma separação, uma despedida. Acreditar que vamos conseguir caminhar sem “muletas”, que a nossa força nunca nos abandonou, nós é que nos esquecemos de a procurar no nosso íntimo. A nossa força está lá, para tornar as grandes dores em pequenas e as pequenas em nada. Há quem diga que as dores por vezes não necessárias, que nos alertam para evitarmos males maiores, pode ser, mas é sempre melhor viver sem elas.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Post.it: Gosto muito de ti

Há muito, muito tempo trabalhei num infantário, cada criança era linda à sua maneira, na sua diferença complementar de ser. Todos eram felizes, porque as crianças até nas maiores desgraças encontram formas de ser felizes. Aprendi isto com elas, a ter este olhar que vê para além da escuridão e encontra nelas as estrelas, mesmo até as que não brilham.
As crianças são alegres, são competitivas, competem desde cedo por tudo e por nada, por atenção, por carinho, por um colo, por estarem mais perto. E estão todas dentro do nosso coração. Mesmo as que fazem birra, porque depois da birra, sorriem, retomam a brincadeira como se nada tivesse acontecido. Mais uma das características que lhes invejo, esquecerem depressa a mágoa e seguirem em frente sem mitigarem os porquês de tudo o que lhe acontece.
As crianças amam sem limites, sem receios, sem pudores, são espontâneas, dão-se por inteiro. Manifestam esse amor a cada instante, não precisam de ocasiões especiais.
Na minha sala tinha diversas crianças, não me recordo de quantas, recordo-me daquelas que mais me tocaram pelo melhor e pelo pior, porque estar com crianças horas, dias, meses e anos seguidos tem de tudo um pouco, momentos em que nos apetece abraça-las, momentos em que nos apetece fugir e não voltar. Mas voltamos, porque já não conseguimos viver sem aqueles rostos que nos olham com um olhar límpido, que gritam, partem tudo, rasgam os cadernos, atiram os brinquedos ao ar mas que também nos abraçam, e com vozinha doce dizem “gosto de ti”, “gosto muito” dizia o outro querendo mostrar que gostava mais, mas logo outra vozinha se impunha nesta competitividade de afectos “eu gosto muitão”. Sim ele venceu, não por gostar mais, mas porque me fez rir, porque quebrou as minhas barreiras de adulto e me fez querer ser criança a seu lado e como ele inventar palavras maiores que as dos outros meninos, gostar mais, revelar mais, dar-me mais. 
Passaram-se anos, muitos anos, já não me recordo do seu nome, já nem dos seus traços, mas lembro-me da palavra que disse, nessa e em muitas outras ocasiões. Espero que ele, agora crescido, continue a gostar “muitão”, tal como eu gostei “muitão” do o ter conhecido.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Dia de Reis

Nos seus camelos montados,
Seguem por terras de ninguém.
Vêm de seus longínquos reinados,
E seguem em demanda a Belém.

Por guia a estrela uma brilhante,
Indica-lhes o caminho e dá-lhes luz.
Até ao Menino que na terra distante,
Nasceu e recebeu o nome de Jesus.

Os Reis levam prendas e sabedoria,
E recebem do Menino a esperança.
Que o seu nascimento seja de alegria,
E que ao crescer se mantenha criança.

Criança na sua força de acreditar,
E na sua eterna dádiva de amor.
Criança no seu sorrir, e no sonhar,
Com a sua generosidade e fulgor.




segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Post.it: Ano Novo na vida

Cá se fazem cá se pagam. “É karma” etc., sinceramente não acredito nestas frases feitas, mas para quem acredita, talvez lhe custe menos por aceitarem que estão a cumpria a sua “pena”.
Não acredito porque há tantas pessoas a fazerem o mal a tantos outros milhares e continuam impunes, não condenados pela humanidade nem julgados pela sua almofada. Dormem o sono dos “justos” convencidos que o são. Enquanto isso vão ceifando vidas em nome de causas próprias, mas que sei lá como ou porquê vão conquistando massas. Há quem diga que é fruto desta sociedade degradada, sem valores, de revoltas interiores e exteriores, de jovens que têm tudo mas que se sentem sem nada, outros que não têm nada e que acham que têm tudo pelo menos em direitos que reclamam seus por mera existência. Empunham uma arma, quer seja pistolas, veículos, explosivos, facas, etc., ou as próprias mãos e com elas exterminam seres inocentes que apenas viviam de forma pacata as suas vidas.
É neste impasse que estamos, depois do ano que passou, este que ainda mal começou e já carrega nos seus frágeis ombros a herança do descalabro que foi o seu antecessor. Nada se avizinha de bom de tal herança. Mas de vez em quando, os “filhos” conscientes de tudo isso negam-se a seguir as pegadas dos seus “pais” e é nesta esperança que acordamos todos os dias, que continuamos a trabalhar, a encarar os obstáculos e a superá-los um a um.
Prefiro abraçar a ideia de “Ano Novo vida nova”, não adianta lamentar o passado, mas torna-lo energia positiva para um amanhã quem sabe, menos cruel.
Houve um tempo em que as nossas ambições nos levavam a desejar habitar a Lua, visitar Marte, construir mundos virtuais, fazer amizade com extraterrestres, hoje com os pés mais assentes na terra, queremos apenas que a natureza não pereça, que a poluição não nos sufoque, que os vizinhos sejam nossos amigos e sobretudo que seja respeitada a dignidade humana na vida e na morte.
Que o ano de 2017 nos traga a concretização dos nossos desejos de Paz entre os Homens conscientes de que o “bem” não pode ser nunca conquistado com o mal.