quarta-feira, 28 de junho de 2017

Que nos valha S. Pedro e S. Paulo

Resta-me S. Pedro, ou S. Paulo,
Aos dois venho aqui implorar. 
Que nos ajudem, mesmo ao estalo,
Para alguma (sabedoria) despertar.

As eleições estão quase a chegar,
Será que o vão reconduzir à cidade ?
Parvos os que se deixam conquistar,
Com passeios para terceira idade.

O Povo quer Lisboa mais bonita.
O Povo quer é festarola e bombos.
O Presidente da Câmara acredita,
Que o Povo é um conjunto de tolos.

Precisamos de santos mais milagrosos,
Para tanta indiferença derrotar.
Parecem ter santos mais poderosos,
Para do nosso dinheiro nos alienar.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Post.it: Os nossos "bichanos"

Os animais “humanizam-nos”. Na relação com os animais aprendemos o desprendimento, o carinho, estregamos-nos a esse cuidar e recebemos em troca um amor incondicional, neles não há crítica, não nos julga nem nos lança olhares desfavoráveis, quando muito há curiosidade, vontade de conhecer o que o rodeia, conhecer-nos para ficar mais próximo.
Os animais ajudam os humanos, salvam vidas, são para isso treinados, mas uma grande parte, a maior parte, está neles, na sua capacidade de descobrir, de se entregar, de ajudar, de partilhar o seu tempo, a sua vida, tão curta, em generosa oferta e tudo isso é feito sem aparente esforço, tudo parece divertimento, um jogo onde todos se envolvem para que vença um bem maior, a sobrevivência.
São cães polícias, são cães que auxiliam deficientes, que atenuam os sintomas de doenças, combatem a depressão, afastam a solidão, avisam do perigo eminente, protegem, guardam quem mais gostam, o seu dono, quer sejam crianças, adultos ou idosos. São sem dúvida alguma o melhor amigo do ser humano.
Para os cães basta-lhes a companhia, a comida no prato, e uma bola lançada ao ar num desafio para a brincadeira, correr, saltar e depois deitar-se junto daquele corpo por vezes enfermo, aquele amigo. E eles sabem que não há nada melhor do que ser e ter um amigo, muitos dizem que é um interesse reciproco, não, é muito mais do que isso, é um amor reciproco. 
Que importa se em cachorros nos roem os sapatos, os móveis, a roupa, ou até a nossa paciência. Se correm à nossa frente e quase nos deitam ao chão. Se saltam sobre nós molhados do mergulho na praia. Se nos fazem sair à rua quando a chuva inunda as ruas. Se nos acordam quase de madrugada indiferentemente se é dia da semana, fim de semana ou feriado. Se nos deixam a cara lambuzada de lambidelas. Se lançam sobre nós um olhar triunfante por ter feito o chichi no jornal, claro que as patas da frente entraram no espaço do jornal mas as de trás ficaram de fora tal como a pequena poça molhada. Se nos oferecem aquele  ar de missão cumprida quando nos trazem os chinelos, ou melhor, o que resta deles. Eles adoram-nos e nós, claro, a eles.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Viva o S. João

São João vou-te festejar,
Com alegria e aos gritos,
Para o Porto vou emigrar,
Lisboa agora é só para ricos.

Os transportes a aumentar,
No preço e não na frota.
Os carros sem poder entrar,
Ficam estacionados à porta.

São João que és o encanto,
Da tua devota população,
Nunca ponhas em cada canto,
Um parquímetro ladrão.

Com o ideal de Robin em perigo,
Lembre-o em justiça e lealdade,
Tornando-se um Presidente amigo, 
Para quem trabalha nesta cidade.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

O mundo

Há qualquer coisa de silêncios,
Que te escuto suave na voz.
Oceanos há muito recônditos,
Que apenas te navegam a sós.

E as palavras que não dizes,
Talvez de todas as mais belas,
São olhos de inquietos petizes,
Abrem-se em claras janelas.

Sonhos que germinam sem dormir,
Que florescem de um viver acordado,
Acontecem no contínuo deixar-se ir,
Por rumo certo mas não determinado.

É então que tudo acontece,
Nesse renascer límpido de alma.
A uma velocidade que nos entontece,
Sem perceber a fluidez dessa calma.

Que inveja, que sensação de ternura,
Me desponta em jardins no peito.
Primaveras de tão simples candura, 
De um sentir e existir tão perfeito.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Post.it: A (descoberta)

Morrer faz bem! Uma grande descoberta. Talvez mais importante do que a descoberta da cura para o cancro. Uma revelação onde, se calhar gastaram-se anos de investigação, quantidades de dinheiro, diversos investigadores, cientistas com grande currículo e idêntica remuneração, tudo, para chegar à brilhante conclusão, que morrer faz bem!
Talvez, afinal, acabam-se os problemas de saúde, os problemas económicos, as duvidas, as angustias com o futuro, a tristeza com os fracassos, as depressões por sonhos não realizados.
Acabam-se as lutas, as rotinas, as discussões com os chefes, as disputas com os colegas. Terminam as esperas, na fila dos transportes, do trânsito, do supermercado, dos centros de saúde, nos hospitais, na pastelaria para obter um café. Nos correios para ir levantar a misera reforma, no cabeleireiro para ir cortar os cabelos brancos, porque os escuros vão rareando.
Termina a solidão, a falta de solidariedade, de carinho, a ausência dos filhos, a indiferença dos vizinhos, o aborrecimento de quem tem de atender.
 É um final para o que se vive, para o que se desejaria viver ou seja acaba-se tudo, ou quase tudo, surgem os problemas de se ter morrido, mas isso já não é importante para quem parte, apenas para quem fica.
Lá está a velha questão de que o que faz bem a uns por reflexo fará mal a outros.
Mas isso é o de somenos. O que importa é que morrer faz bem, por tudo o que resolve ou deixa sem solução. Pela partida, quem sabe pela viagem, há até quem acredite numa chegada, ao Paraíso?
Isso vai para além do nosso além de conhecimento. Aguardamos por novas grandes descobertas, que não sejam como esta, verdades de La Palisse.


segunda-feira, 12 de junho de 2017

Milagre de Sto. António

Ai meu Santo Antoninho,
Por quem tenho muita devoção,
Já nem a sardinha e o vinho,
Me livram de tanta aflição.

Peço-te Santo de Lisboa,
Para minha total felicidade,
Não amor nem coisa à toa,
Mas sem parquímetros esta cidade.

Lisboa virou-se para o turismo,
E na Câmara o Presidente,
Mergulhado em estrangeirismo,
Esquece o trabalhador e o residente.

Quem tem vontade de festejar,
O Santo António milagreiro,
Se só para o carro estacionar, 
Fica-se o mês todo sem dinheiro. 

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Post.it: O que vale a pena recordar

Ontem recebi um telefonema, era um convite  para uma missa pelo aniversário de falecimento de uma amiga, uma simpática amiga, uma generosa amiga, suave, gentil extremamente polida, uma pessoa de outra geração, infelizmente já não há pessoas assim. Foi uma geração profundamente enraizada nos valores, educada na estima e pelos outros e respeito por todos, independentemente de tudo os que nos separa de vivências, de fé e crenças, de origens, de cor de pele, de local do mundo. Era uma amiga especial, porque era tudo isto numa só pessoa em (quase) todos os momentos em que a conheci, sim, quase, porque ninguém é perfeito e nós peças de uma sociedade nem sempre nos encaixamos em todas as arestas, alguma ficam a faltar ou a sobrar, ou simplesmente não têm a mesma forma.
Mas já faleceu, partiu para a viagem ao infinito, tão infinito que não tem regresso, podem dizer que as saudades a tornaram mais ideal ao meu sentir, que a memória a vai suavizando e colorindo, talvez, porque não, merece-o. A sua relação com os outros justifica-o. Já faz 2 anos e neste tempo foi construindo uma nova história, repleta de si. Por isso me magoa este convite, não pela lembrança da data porque essa permanece-me presente, mas pelo facto de ser esta mais claramente lembrada com honras de celebração litúrgica. Prefiro mil vezes recordar desse modo o dia do seu aniversário, o dia em que nasceu e durante muitos anos passados e futuro é seu.
Ontem quando recebi o telefonema, parei o pensamento, suspendi o sentimento e fui como ela e por ela, cordial, sim claro vou tentar ir… 
Não sei se irei, sinto que lhe estão a roubar a (vida) do que era, para apenas recordar a dor da partida. Não quero que doa mais, não irei. No dia do seu aniversário irei até ao mar, lançarei uma flor, quem sabe lhe chegará…

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Post.it: O espanto

Continuo a surpreender-me comigo, com os outros, com a natureza vegetal e animal. Continuo a descobrir-me em mim e nos outros. Continuo a crescer nos sorriso de uns ou a diminuir no silêncio de outro. Continuo a caminhar na direcção de quem me espera e a afastar-me na direcção de quem já nada me diz.
Continuo a ter coisas para dizer mas na maior parte das vezes nada digo, porque eles já sabem a verdade, para que repeti-la e voltar a tocar nas mais profundas feridas.
Continuo a fazer coisas, cada vez menos, falta-me o tempo, a vontade, o empenho, a dedicação, desculpas de quem já não as quer fazer, se ao menos aparecessem feitas…
Continuo a sonhar, cada vez mais, apenas quando durmo, e durmo cada vez menos, coisas do meu relógio biológico que passou a dormir nos minutos e a viver nas horas.
Continuo a virar a página do calendário, não para saber como se arrumam os dias nos mês seguinte mas para ter a certeza de que o mês anterior não se vá arrepender e querer repetir-se.
Continuo a contar a estrelas do céu, são cada vez mais, alegra-me a sua luz cintilante. Quando era criança diziam que eram a alma de quem tinha partido para o céu e eu incrédula na minha crédula expectativa procurava com olhar ávido pela prima Graciete, pelo Adelino, pelo Sérgio (da Conceição), se lá estavam não sei, mas entristece-me pensar que há cada vez mais estrelas, mais almas?
Continuo a deixar-me navegar por pensamentos e fantasias, este meu lado de criança que não cresce nem que viva 100 anos, que conheça da dureza da estrada mil vezes palmilhada, que me roubem os sonhos, que me queiram invadir de medos, que os fracassos superem as vitórias, haverá sempre em algum lugar de mim um velha e doce história, cheia de moral e de luz. Porque, sim, continuo a acreditar que há luz por detrás das nuvens mais cinzentas e que a chuva não serve apenas para nos molhar mas para fazer desabrochar no nosso jardim as flores da esperança.



sexta-feira, 2 de junho de 2017

Post.It: A vida é simples

A vida podia ser simples, fácil de se viver. A vida podia ser feliz, não só num momento mas em todos. A vida podia ser o que quiséssemos sempre que  cada um de nós  quisesse ter uma boa vida. Mas complicamos, arranjamos problemas para a vida e ela responde-nos num aparentemente sem solução. Torna-se triste, combativa, deprimida, apática, revoltada, torna-se o que nós somos e nós o que ela nos é.
Passos sem destino, cansados, arrastando os dias como se lhe pesassem as toneladas de decisões, de acções. E poderia/deveria ser simples. Como?
Devem estar a questionar os que ainda procuram mudar o seu rumo.
Impossível. Murmuram os que já desistiram e instalaram-se na vida tal como ela é. Mas a maior parte, a que  não acredita nem deixa de acreditar, encolhe os ombros, deixa-se ir no arrasto da multidão.
A vida podia ser simples, para isso cada um devia pensar no que o incomoda, no que o desgosta,  não podemos mudar de lugar uma montanha, mas podemos apreciar a sua beleza sem a olhar só como um obstáculo. Se temos que a subir, que seja com prazer na jornada, pensando na chegada ao topo, na visão panorâmica que nos oferece, a essência do ar mais límpido. Subir que seja apenas a dificuldade de construir um caminho, depois de lá chegar tudo é mais claro, simples, fácil.
Viver podia ser simples, é simples, quem sabe se seguir pequenas regras essenciais:

Não faças aos outros o que não gostas que não te façam a ti.
Vive o hoje, pois o ontem já se foi e o amanhã pode não vir.
Tem paciência, tudo tem o seu tempo.
Superar é preciso. Seguir em frente é essencial.
A prepotência faz-te forte por um dia, a humildade para sempre.
A vida é um eco, se não gostas do que recebes, observa o que estás emitindo.
Viver é a coisa mais rara do mundo, a maioria das pessoas apenas existe.
Queres saber o sentido da vida? Para a frente.
Ama a todos, confia em poucos e não faças mal a ninguém.
A consciência é a mais fofa almofada.
Da vida não querer muito. Apenas o que se tentou e pôde ter.
Deve-se falar sem aspas, amar sem interrogações, sonhar sem reticências, viver e ponto final.
A vida é simples, tu é que a complicas!