quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Post.it: Fazes-me falta

 Fazes-me falta, o Teu calor quando me estás no coração. O Teu sorriso quando me dás pensamentos de alegria. O teu amor quando me sinto reconfortada. A Tua mensagem de esperança que me faz acreditar que o dia de amanhã será melhor.
Fazes-me falta  para que a solidão seja afastada pela Tua companhia. Que o silêncio se preencha pela Tua voz em mim. Que a Tua presença se manifeste nas pequenas e nas grandes coisas, nos gestos de conhecidos e de anónimos.
Fazes-me falta para Te encontrar em cada rosto triste que perdeu a tua luz. Em cada passo lento que se perdeu do Teu caminho.
Em cada mão vazia que já não se estende para o outro num gesto de quem dá ou pede ajuda.
Fazes-me falta para preencher este vazio de sonhos, este frio sem ânimo, esta paisagem a que o fogo roubou o verde, estes rios que sem chuva se tornaram riachos. 
Fazes-me falta, acredito que fazes falta a muitas pessoa  que perderam familiares, amigos, casas, que perderam tudo ou quase tudo que era a sua existência. Aos que sem tecto e sem afecto dormem nas ruas, aos que sofrem nos hospitais, aos que sofrem nos seus lares. Fazes-lhes falta, muita falta, para sentirem que a vida ainda tem sentido, que a felicidade mesmo que tarde, um dia vem. 
Fazes-nos falta, hoje, sempre, vem, estamos à Tua espera neste Natal para festejar  a Tua chegada a cada um de nós.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Trazia no olhar mundos tristes

O que me lembro, não sei, 
Sinto que no seu olhar, viajei,
Por montes, vales, histórias,
tantas, todas, boas memórias.

A voz, qual balada embaladora,
Era de toda a dor conciliadora.
Não era o que por vezes dizia,
Era sobretudo, como o fazia.

Os gestos, asas a pairar
Raios de sol em tons de luar.
Á sua volta tudo era mar,
Mas de um suave navegar.

Mas de tudo a maior recordação,
Foi o silêncio que vem do coração.
Quando um dia timidamente sorriste
Vi que no olhar havia um mundo triste.


segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Post.it: Um bocejo

Devem achar-me um bocejo, sinto-me por vezes realmente um bocejo no olhar dos outros. Imagino quantos bocejos dará quem me lê e se tiver coragem, quem me relê, porque é verdade há quem me relei-a.
Ouço os meus amigos a falar de política e o meu pensamento voa pela copa das árvores, ou por voos rasantes sobre o mar desafiando a crista das ondas. Mergulho de tal maneira nesta espécie de fantasia que por vezes até dou por mim a sorrir, o sorriso de quem não está presente nas discussões sobre o aumento dos impostos, sobre as guerras nacionais e internacionais. Sobre as privatizações empresariais, os créditos malparados, etc, etc, e muitos etc. mais. Sou completamente desligada, não por falta de interesse, não é que não me importe, que não me doa quando  mão alheia  me entra no bolso e “rouba” sem prévio aviso o parco pé-de-meia que vou guardando para velhice. Quem não teme pelas consequências normalmente funestas de uns e de outros e que de um  momento para o outro podem virar as nossas vidas do avesso. A verdade é que vivo no aqui e agora, ainda que aparentemente fantasioso, fico cada vez mais distante do passado, cada vez menos ansiosa com o futuro, só o agora me importa. E agora apetece-me voar com o olhar para horizontes mais soalheiros. Quando os meus sentidos regressam à mesa do café, ouço apenas um silêncio aterrador, quase reprovador, por fim alguém questiona – E tu o que achas? – O que acho, sei lá, não “pago” aos deputados para defenderem os meus interesses? Não elegi um ministro e um presidente para melhor servirem o meu país? Cada um que cumpra a sua função, tal como eu como cidadã cumpro as minhas! Mas os meus desabafos ficam para a escrita e mesmo nela sempre encontro um sentido positivo para quase tudo.
Mais uma vez, tenho a sensação de bocejo do leitor que mesmo sendo amigo, não deixa, talvez  de enfadar-se. Imagino o seu sussurrar contestante “Deixa lá de ser uma Virgem Maria sem altar, espevita esses neurónios, acaba com essas balelas de generosidade, de amor ao próximo. Tira do rosto esse sorriso conciliador, cala de vez essas palavras de esperança. Esse copo que para ti parece sempre cheio enquanto para mim está sempre vazio”. E num rasgo de quase malícia, acende centelhas de ténue sarcasmo “se eu fosse governo havias de pagar imposto só por te armares em boazinha, em benevolente e positiva, isso lá existe?” Ou existe? 
De repente a dúvida. Por essa dúvida, mas só mesmo por ela, vale a pena continuar a estar  aqui, a criar bocejos nuns, algum motivo de interesse para outros. No entanto, não vou cansar a voz, não vou gastar as palavras, só para te convencer de algo que não aceitas. Um dia o descobrirás (suponho/desejo)  se voltares aqui, é porque já o descobriste, então vem, mas traz contigo as asas do sonhar, do acreditar e vamos ser um bando de pássaros à solta, libertos do peso de ser infeliz. E respondo ao teu bocejo “Quem me dera que a infelicidade pagasse imposto, aposto que todos tentaríamos verdadeiramente, ser felizes”...

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Poesia

É através de ti que falo.
É em ti que tanto calo.
É em ti que adormeço.
É em ti que esqueço.

É contigo que sonho.
Em ti a esperança ponho.
És a cura do passado.
És o futuro desenhado.

És neste passo a passo,
O mais terno enlaço.
A minha fonte de luz,
Que na noite me conduz.

És a palavra do meu querer,
Cada silaba do meu crescer.
Em ti liberto-me de cada dor, 
E em ilusão sou tão melhor.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Post.it: Mês do Natal

Já estamos com um pé no mês do Natal, mas falar de Natal neste tempo, é-nos doloroso, para uns mais do que para outros, para os que perderam familiares, amigos, uns por questões de saúde, outros por acidentes, outros ainda nos incêndios que avassalaram o nosso país, falar do Natal, talvez não faça sequer sentido. 
Mas também será difícil falar de Natal para os que, perderam os seus bens fruto de uma vida de trabalho, ou o seu único meio de sustento, nesses mesmos incêndios ou em outras catástrofes naturais. Não esquecendo o mundo que nos rodeia, esse universo de relações, que nos faz sentir cada vez mais próximo o perigo das ameaças belicistas entre países que se radicalizam. Ou, ainda, para todos nós que começamos a sentir as manifestações das alterações ambientais e o quanto nos choca a falta de consciência dos poderes de decisão sobre esta questão. 
Não esquecendo os muitos, que por razões várias sentem que a dor quase supera a fé, que nos rouba a  alegria da festa, e enche de penumbra o nascimento que deveria ser de renovada esperança.  
Falar hoje de Natal, abala-nos, confunde-nos, por tudo o que aconteceu e que nos deixou tão pouco para agradecer nesta época.  
Contudo, talvez seja agora que o Natal deve ser mais sentido, mais reforçado, mais unificado por cada um. Revelando a nossa capacidade de lutar para renascer das cinzas e seguir em frente, construindo, ou reconstruindo os sonhos perdidos, queimados, sonegados à nossa confiança. 
Devemos, por tudo isso, oferecer a quem mais precisa um Natal mais solidário, mais humanitário. Devemos presentear cada  coração com um abraço.  Oferecer a cada dia uma semente de esperança.  
Sairmos da nossa “ilha” não lhe chamarei “indiferença” mas de rotineira “apatia”  e darmos-nos aos outros em generosidade, em partilha, em presença. 
Este ano, devíamos em vez de acolher o pinheiro em nossa casa, plantá-lo numa floresta devastada, e ver surgir à volta do nosso, muitos outros. 
Vamos entrar no mês do Natal, vamos recebe-lo com carinho, ainda que a nossa alegria esteja magoada, que sintamos a nossa alma vazia, vamos enche-la de fé e leva-la a  quem mais precisar. Que este Natal não seja de presentes medidos pelo seu valor, mas que o seja pelo seu amor. Se o Natal vos bater à porta, sejam generosos, deixem-no entrar…


terça-feira, 28 de novembro de 2017

Post.it: Terra

Sinto-me feita de ti, de vento, de folhas caídas, de salpicos de mar. Sou montanha e planície, rio que te delineia as margens em voos que rasgam  a linha do horizonte. Sou onda que se estende pelos 7 mares onde ecoam sereias; sou nuvem que se alonga qual preguiça infinita no azul celeste. Sou como tu, feita de sonhos, de ilusões, de estranhas e doces paixões, ainda tenho esperança, ainda guardo resquícios de confiança, sou um velha no olhar, mas no coração uma criança. 
Sou tua, abraço-te e beijo-te, adormeço em ti e cubro-me com um manto luar. 
Sou eu, a ultima andorinha da Primavera, sim, as minhas irmãs já partiram. Eu, ando sempre atrasada, sempre perdida, sempre esquecida do tempo. Porque o tempo são-me asas e as asas só querem voar por terras sem fronteira, por regiões sem muros, por olhares sem grades, por corações sem medos. 
Estou atrasada, reconheço, mas culpa não é totalmente minha, afinal, a natureza não tem horas, não usa relógio, não segue as badaladas do sino da igreja, nem se rege por um calendário de folhas removíveis. Vivo ao sabor do vento e da chuva. Cantando ao namoro desencontrado do sol e da lua. 
Terra, és a minha mãe, a minha casa, o meu cais, o meu ninho, és o meu calor, o frio, a dor e a felicidade, a alegria e a tristeza, até a saudade.  
Por isso parto, por isso regresso, só porque quero, só porque me chamas, sigo-te, estou sempre onde estás, aqui, ali, pintando de verde e de azul a minha solitária existência.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Numa aldeia

Queria viver numa aldeia do interior,
Onde o frio se atenua com amor.
Viver numa casa de pedra baixinha,
Ter uma amiga em cada vizinha.

Casa de pedra escura,
Onde a noite mais tempo dura.
Campos cheios de neve,
Onde a brisa que nos toca é leve.

Acordar com os sinos na passagem,
Dos rebanhos que vã para a pastagem.
O pastor com o cajado comandando,
O cão ao redor dando ordens ladrando.

Queria viver numa pequena aldeia,
Onde a todos com bom dia se presenteia.
Partilhar histórias ao calor da lareira,
E nos Santos cantar e saltar a fogueira.

Queria viver numa aldeia aconchegante,
Onde o tempo passa suave e devagar.
O rio percorre a margem deslizante,
E o olhar parece pelos campos voar.



terça-feira, 21 de novembro de 2017

Post.it: Estatisticamente estática

Queria construir jardins feitos de tinta, uma tinta     que não pinta mas escreve e descreve a aura da emoção. Queria fazer flores, oferecer amores em tons de primavera em ternos odores, mas, eu que apenas escrevo, ou melhor, tento escrever, acreditando que pelas palavras consigo dar um pouco de mim, sinto e sei nada mais faço do que míseros rabiscos sobre as linhas.
Rabiscos que parecem, ou melhor que quase, mesmo parecem, palavras. Tão simples, tão banais, mas também elas têm de passar pela mudança, uma quase transformação onde ainda me sinto aprendiz e criança, o papel passa a ser um ecrã e a caneta é uma tecla.
Felizmente ainda há dedos dedilhando e aquecendo a frieza do teclado. Felizmente ainda há a mão ponta do caminho que começa suave no coração para que possa desenhar jardins e que nele cresçam flores. Para que cada semente em forma de letras cresça em árvores com doces emoções que embalam o fim das tardes.
Por fim, quando os sentidos se desligam das máquinas e são novamente humanas, frágeis, sensíveis, quando libertam olhar prisioneiro desse plano direito e estático,  podem, então, abrir as asas e voar sem receio, pelos contornos do horizonte.
De vez em quando, é preciso, ser-se pessoa e viajar pelos caminhos da alma, ser mais do que estatística, ficar mais do que estática e, ouvir os passos ao compasso do coração.


sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O meu lugar

A vida é o meu lugar,
Onde eu sou apenas eu,
Essa gota tão leve de ar,
Dançando no azul do céu.

A vida é o meu estado,
Meu já corpo cansado,
Sonho algures abandonado,
Horizonte de pó, apagado.

A vida é a minha noite,
Um renascer após a morte,
Onde arrisco a minha sorte,
E busco um rumo sem norte.

A vida é o meu longo dia,
Sol que explode no peito,
Estranha dor sabe a alegria, 
E me expulsa do quente leito.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Post.it: A nossa história

Temos uma história, um passado, um presente, uma história feita de histórias, como se nos fossem degraus para chegarmos mais adiante. Somos a nossa história, escrita nas células do viver que por dentro lhe vão dando sentido. Que por dentro nos vão erguendo muros de separação, ou construindo pontes de união. Tudo se passa aqui, algures, entre o cérebro e o coração, entre o querer e a razão. Por vezes há uma sintonia, um encontro de ideais, uma harmonia e nesse instante, nesse mero instante, tudo faz sentido. Como se víssemos para lá do finito que a vista alcança, um horizonte que só o sentir consegue revelar-nos. 
Por isso, nem que seja só por isso, por esse instante de luz interior, tudo vale a pena é o nos identifica, nomeia, compõe. Temos afinal uma missão, que talvez não seja feita de heroísmos, de grandes dádivas, sacrifícios, é antes um encontro, não aquele que tão ansiosamente procuramos, mas o que tão discretamente encontramos ou que nos encontra. Nesse  mediar  existir ente a luz e a escuridão, entre as cores mais luminosas e os tons mais pálidos e cinzentos, aprendemos a subsistir, a sorrir. 
Enquanto nos dizem, que toda a dor passa. O tempo tudo cura. Mas não passa, mas não cura, apenas muda de nome, apenas muda de tom. E já não dói tanto e já não se chama assim. Passa a chamar-se saudade. Passa a ser uma lembrança, uma memória, uma cada vez mais breve história. 
Afinal a dor passa, passa por nós e o que fica, torna-se ténue como um rasto de rio, que no seu percurso se vai transformando em ribeiro, em riacho, em pequeno curso de água, quase no fim em gota e depois em, pouco mais do que nada. 
Seca-se nos olhos, enquanto ainda escorre no coração e um dia passa a ser um consolador embalo. 
Afinal, o tempo que tudo cura, quando nos vai afagando as mágoas, com palavras de vento, com abraços de brisas.  Em nós vai crescendo uma história, a da nossa vida...


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Ode ao mar

Tens um olhar de alvoradas,
Mesmo até na noite escura,
Que no teu abraço de enseada,
Encontro um cais de ternura.

Se ao menos não fosses quem és,
Se ao menos tivesses tempestades.
Partiria com as mais frias marés,
E não voltaria nem pelas saudades.

Não querendo sempre a ti regresso,
Pelo desejo dessa tua felicidade,
Que une o meu querer disperso.

Em sol ardente contenho o ensejo,
A mais doida e apaixonada vontade, 
De por inteiro me afogar no teu beijo.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Post.it: Como se tivesse asas

As palavras, ai as palavras, sempre as palavras, não as que escrevo, mas as que gostaria de escrever, essas que fazem voar como se tivéssemos asas, não são minhas, apenas me saem da  boca, do pensamento, do sentimento. 
Por vezes, agarro-as, prendo-as na voz com laços de suspiro, mas elas desprendem-se num sorriso e partem. Depois, fica um silêncio que magoa, uma saudade crescente. Porque, sim, gosto delas, sinto que algumas, chegam, também, a gostar de mim. A abraçar-me e num atrevimento que me surpreende, roubam-me um beijo num gesto de brisa. Ruboriza-se-me o rosto, escondo o embaraço, mas não me ofendo. 
Gosto delas, tanto ou mais do que elas gostam de mim. Só me entristece que nem sempre as encontre, que me deixem só perante a folha em branco, o pensamento vazio, o horizonte replecto de um estranho nada. 
Porque sem elas, que importam as flores, as ondas do mar, as montanhas, os prados cobertos de relva, o sol radiante, a chuva pungente. São elas que me fazer ver e sentir tudo o que existe em meu redor. 
São elas que me fazem navegar na orla marítima, correr pelas verdes planuras, saltar riachos, atravessar pontes, romper a linha do horizonte e adormecer feliz numa duna com lençóis de maresia, mesmo que sejam apenas por palavras de sensações, algumas apenas sonhadas e nunca vividas.

Nos dias solitários murmuro-as no vento e ouço-lhes o eco que segue rumo ao infinito. Invejo-lhes a liberdade, elas que já sofreram milenares prisões. Continuam a ser humildes, tímidas, retraídas, por vezes até inseguras, outras vezes envergonhadas, mas também são corajosas, arrojadas, destemidas, valentes, tudo o que queria ser e, reconheço, não sou. 
Estremeço de medos infindos, escondo-me nos armários das emoções e choro, sim, por vezes, demasiadas vezes, choro, lágrimas inexplicáveis aos olhos, à razão. Elas são melhores e maiores do que eu, erguem bandeiras, ultrapassam fronteiras, chegam à lua e dançam com as estrelas.  
 Por vezes sinto que as tenho nas mãos e fecho-as com receio de que fujam, mas logo elas numa gargalhada intrépida revelam que  não estão nela mas sim no coração e eu, por fim, descanso, enquanto as sinto a ser-me.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Post.it: A herança

Quando se fala de herança, de imediato pensamos em bens materiais, quando há outras quiçá, bem mais importantes, a herança genética, essa que transporto e prolongo mas que, por opções do destino não transmiti para o futuro.
A verdadeira herança, no entanto,  é a que vamos deixando ainda em vida, as pequenas ou grandes marcas que ficam de nós nos outros e dos outros em nós quando somos também seus herdeiros. É essa a herança, que posso e tento deixar em forma de gratidão.
O que fica de nós na vida dos outros e na natureza que nos recebeu e aconchegou é uma herança imortal, infinita no tempo e no espaço. Gostava de pensar que a minha pegada humana não foi demasiado grande e  que se  não tornei  o mundo um pouco melhor, pelo menos que não o deixei pior à minha passagem por ele.
Quanto aos outros, a família, os amigos, colegas, vizinhos, conhecidos e até desconhecidos, entristeço-me sempre que causo uma lágrima, uma mágoa, uma tristeza por mais pequena que seja. Já a minha alegria nasce de um simples sorriso, sobretudo se a tiver causado.
Os bens materiais, podem comprar, (quase) tudo no mundo, mas as coisas que mais importam, a serenidade, a paz, a conciliação, a concórdia, a harmonia, a solidariedade, a cooperação, o companheirismo, a amizade, isso não se compra, herda-se na aprendizagem e no carácter.
Permitam-me que vá deixando em vós a minha herança, “que a minha presença vos  anime e a minha ausência vos conforte” (S. Estanislau)

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Post.it: Dedico-te

Dedico-te esta lágrima, sim, é triste, mas por ser triste não significa que seja mau. Dedico-te esta lágrima, porque a mereces receber embrulhada num presente de riso e ternura, tudo o que me foste, tudo o que me és, hoje, sempre. A beleza das coisas, não desaparece, só porque algo ou alguém perece. A beleza é eterna e termina apenas com a nossa finitude.
Dedico-te esta lágrima, por todas a que me fizeste verter enquanto ria das tuas graças, porque até mesmo as desgraças contadas por ti ganhavam contornos de comédia. Continha-me em suspense, o momento, o assunto a isso o aconselhava, mas depois rias e eu ria contigo.
Dedico-te esta lágrima, adiada, apanhada de surpresa, fiquei estática, parou-se-me a vida, o ânimo que lhe dava movimento e sentimento. Estava ali, mas não estava, buscava-te em outros lugares, aqueles por onde navegámos, mas nem aí te encontrei.
Quase em desespero procurei-te nos lugares por onde sonhámos que um dia iríamos, mas nunca chegamos a ir, quem sabe, agora,  tenhas ido, sem mim.
Mas não, de certeza que não estavas lá, como o sabia? Sabia-o porque estavas aqui, palpitando-me no peito, mas, estranhamente, fisicamente,  tão longe de mim.
É ilógico pensar a vida sem te ter no caminho, às vezes apanho-me a marcar o teu número, a pensar que te vou contar o que me aconteceu nesse dia. Disparatado, talvez, mas ainda tenho longas conversas contigo. E chego até quase, ainda que apenas quase, a ouvir-te rir dos meus medos, das minhas tolices, das minhas lamechices.
Por isso, dedico-te esta lágrima, que não é chorada, que já não é sofrida, é uma janela entreaberta que deixa escapar um suspiro em forma de gota de água, criei-a, só para te a oferecer. Límpida, cristalina, parece um pequeno cristal translucido, parece vazio mas se a olharmos bem para dentro dela está tão replecta de mim, de ti, em cada memória que partilhamos.
Hoje, sempre, com menos vazio, com mais carinho dedico-te, este sorriso…



sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Post.it: Os nomes

Gosto do meu nome, é pequeno, é simples, claro, directo, conciso. Fácil de ser pronunciado, fácil de ser entendido. Gosto do meu nome, diz tanto de mim, na sonoridade suave, na humildade.
Contrário aos nomes grandes, intensos, contraditórios, duros na sua sonoridade.
O meu nome é uma segunda pele, veste-me, reveste-me, caracteriza-me. É neutro diferente daqueles que têm nomes de flores, de lugares, de coisas, o meu nada quer dizer e diz tanto. Fala de mim sem me elogiar, nem me derrotar. Quando o digo, todas as pessoas o identificam, parece-lhes familiar, sorriem e eu sorrio-lhe de volta, como se o meu nome fosse apenas isso, um sorriso.
Gosto do meu nome, não tem rococós de jet set, nem maneirismos de nobreza. É um nome do povo, plebeu e aristocrata porque é imparcial e isento de conotações.
Há nomes com passado, com história, com herança de vidas que já os tornaram únicos, o meu foi posse de algumas figuras importantes, mas todas elas generosas na sua vivência. Não foram mulheres de “armas”, foram mulheres que lutaram com o coração. Orgulho-me de transportar o seu nome, agora também meu. Orgulho-me de quem eram e, tento na minha modesta pessoa ser um pouco como elas. 
Mas pretendo, sobretudo, honrar o meu nome, mantê-lo imaculado, puro, sinónimo de pessoa com valores, boa cidadã, respeitadora da natureza, solidária e amiga da humanidade, boa filha, irmã, tia. Para que quem me conhece possa pronunciar o meu nome sem medo, sem arrependimento mas com alegria, com simpatia, amizade e afeição. Que o meu nome seja uma nuvem branca num universo azul celeste. Que exista e permaneça o tempo que é seu e depois se esfume sem rasto de mágoa. 
Gosto do meu nome mesmo que seja igual a tantos outros, mesmo que seja banal. Não é que o meu nome seja melhor que o dos outros. Nem que o dos outros seja melhor ou bonito que o meu, mas, gosto do meu nome, porque é meu, porque sou como ele e nele, sou eu.


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Post.it: Em chamas

Este país está a arder em chamas de revolta. Este país está queimado, esquecido, magoado. Este país está em lágrimas de devastidão, as únicas águas que tentam  sem conseguir, apagar o fogo do seu desespero.
Neste país arderam vidas, casas, florestas, ardeu a esperança, a confiança naqueles que lhes garantiram segurança e  protecção, que,  não chegou ou chegou demasiado tarde.
O país está em  cinzas, em pó,  espalhado por vales e montanhas que se vestem de um negro enlutado.
Este país está triste, uma tristeza cheia de lamentos que nenhum abraço consegue consolar.
Procuram-se os responsáveis, que são todos, mas a poucos são imputadas as culpas. Um pedido de desculpas, não resolve, sobretudo se é arrancado e não generosamente, solidariamente oferecido.
E aqueles que conscientemente e maldosamente atearam o fogo devastador, que lhes “arda” a consciência! Que lhes “queime” no coração cada vida destroçada, cada mãe sem filho, cada filho sem mãe, cada família sem tecto, cada trabalhador sem emprego, cada floresta sem verde, cada animal sem pasto. Este país vai erguer-se, renascer da cinzas, voltar a sorrir, sim vai!
Mas vai ser preciso muitos anos, muito trabalho e sobretudo muita coragem. Porque se é fácil erguer paredes, plantar árvores, é impossível fazer ressurgir as vidas que o fogo na sua passagem levou consigo. É preciso continuar a apagar o “fogo” que ainda arde em cada pessoa que o viu destruir-lhe a vida, um passado de labor para erguer o futuro. 
É preciso encontrar soluções para o agora e para o amanhã para que tal calamidade não volte a marcar a história deste país.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Diário

Toda a vida quando escrevi,
Foi um pedido de socorro.
Que não leste, que não senti,
Ultrapassar o denso morro.
Corrigi a minha caligrafia,
Para que a mensagem voasse,
Fui esmorecendo em cada dia,
Sem que a resposta chegasse.
Vou apagar o escrever,
E o coração deixar calado.
Por mais cais a que vá ter 
Sou solidão em todo o lado.

sábado, 14 de outubro de 2017

Post.it: A viagem


Há um caminho que fazemos juntos, que temos de fazer, uns devagar e apreciando a paisagem, outros com pressa, ansiosos por chegar, por descobrir onde o caminho os leva.
Mas o caminho não leva ninguém, as pessoas é que vão nele, através dos seus passos, conduzidos pelo (coração), pela (razão).
E pelo caminho, vão falando, pensando, descobrindo-se, percebendo que tudo é tanto, mas muito pouco comparado com o que há para ser.
Sentimo-nos eternos discípulos da vida, humildes perante o mestre tempo que, na sua sabedoria, nos vai guiando. Com ela, as nossas dúvidas vão-se dissipando. Com ele, as nossas certezas vão crescendo.
E, nesse percurso , vamos dando algo de nós, vamos recebendo algo dos outros. A bagagem, por vezes, torna-se pesada, aqui e ali perdem-se algumas coisas, recuperam-se noutro sítio, tantas memórias, tantas histórias, coisas a que nos agarramos como um náufrago a uma bóia de salvação. Outras, simplesmente, deixamos que partam e sigam também elas o seu caminho.
O ideal seria prosseguir de mãos vazias mas de coração cheio, cheio de olhares que vêem para lá do crivo pessoal e cultural. Nem sempre crescemos bem, nem sempre, sequer, crescemos. Apenas vamos, andando, porque nos ensinam a andar, porque acreditamos que faz sentido andar.
Mas há momentos em que temos de parar, parar de procurar e perceber que encontramos, que estava guardado, escondido dentro d e nós. Por quê só agora, questionamos? A resposta fácil é que tudo tem a sua hora, o seu momento. A difícil é que dependeu sempre de nós, de a vermos, sentirmos e aceitarmos quem e como ela é. E isso é doloroso, chega a ser tenebroso. Somos nós a crescer por dentro, reconhecer que esteve sempre aqui, o que procurámos tão longe. Gastámos os passos, cansámos os sonhos, fizemos e continuamos a fazer o nosso caminho e, independentemente da estrada por onde vamos e formos, cresce-nos a certeza de que a viagem é, sobretudo, dentro de nós.


segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Post.it: Depende...

As pessoas não nos decepcionam, nós é que nos iludimos acerca delas. Elas são o que são, não o que precisamos que sejam.
Somos uma multidão, uma civilização de pessoas, de mundos, um universo de existências, vivemos através dos nossos crivos culturais que nos identificam e distinguem, que nos tornam diferentes, únicos.
Sabemos isso, mas a verdade é que aqui e ali tentamos moldar os outros à nossa forma. Ou deixamos que nos moldem pelos meandros da ternura, sonhamos, idealizamos que essa alteração nos torna melhores e simultaneamente, complementares e completos.
Reconhecemos os contornos das margens que os especificam, identificamo-los como se nos fossem caminhos com trilhos que devemos evitar, mas também com outros por onde nos sentimos felizes por seguir.
No entanto, nem isso é totalmente exacto, somos seres complexos, intrincados de dor e de esperança, pessoas crescidas com sonhos de criança.
Porque há dias em que o céu nos escurece o olhar, nos tira o sorriso, nos rouba as palavras, nos usurpa o alento. Dias de nevoeiro e tudo o que nos acontece com os outros é tenso, é denso, parece que uma tempestade pode nascer de “um copo de água” que se entorna e de repente não nos conhecemos em nós nem nos outros.
Porque há dias em que se tivéssemos asas voaríamos por tanta leveza, tanta luminosidade que nos avassala o coração e nos faz acreditar que seres excepcionais, maravilhosos, que nos levam à lua apenas e só por se sentarem ao nosso lado, segurarem as nossas mães e dizerem que está tudo bem. 
Mas quantas vezes nos encontramos perdidos na multidão, sufocando de solidão. Quantas vezes nos sentimos tão acompanhados só por nós. Não por sermos perfeitos, não por sermos melhores, afinal também o nosso, eu,  por vezes, consegue decepcionar-nos, a diferença é que  apesar  de errarmos, da revolta, do diálogo exacerbado, do silêncio abismal das nossas guerras internas, sabemos, que estaremos sempre ali, presentes para o resto das nossas vidas. Quanto aos outros, nunca o saberemos,  talvez sim, talvez não, depende…

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Post.it: Saudade

Noutro dia ouvi alguém dizer que detestava a palavra saudade, soou-me estranho, contraditório com o povo que somos, tão agarrados à sua concepção. 
Mas depois, deixei os pensamentos navegar e comecei a sentir que também eu detesto a palavra saudade, essa expressão que nos seduz e de imediato nos aprisiona, a um momento, a um passado que nos deixou boas e más recordações.
Mas também uma outra saudade, que se torna a nossa segunda pele, quando ficamos incapazes de a despir, de afastar de nós os sonhos que sonhamos mas que não realizamos. Quanto tempo perdemos nesse mergulho de fantasia, quanto tempo ficámos sem ver a realidade, sem respirar a verdade que nos rodeava?
Depois caímos nos queixumes de que o tempo voa, que não sabemos para onde ele foi, que não demos conta de por nós passar.
Até aqui, nada de novo, afinal faz parte de nós, povo da beira-mar, deixarmos o pensamento velejar e, nesse erguer das velas com o pano da esperança, deixar que o vento nos venha de feição e nos conduza até ao nosso destino.
E a saudade, quer se goste ou não, está-nos entranhada no ADN, em cada célula de vida que nos mareia o corpo, como se fosse um barco condenado a viajar-nos. Nós, com passos deambulantes, entre o paraíso e o inferno vamos levando os nossos dias, as nossas noites de insónia e escrevendo, na estrada de tantos caminhos, a mesma palavra, o mesmo sentimento que não queremos lembrar mas tememos esquecer. 
Saudade, apenas te peço: se não podes mudar de nome, muda pelo menos de destino!



segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Esta (infelicidade)

 Sinto-me por vezes infeliz,
Pela tortura do que não fiz.
O amor não confessado,
O sonho sempre adiado.

Esse olhar que foi fugidio,
Esse inverno solitário e frio.
Foi por medo, por cobardia,
Que deixei partir esse dia.

Toda a minha vida vou sentir,
O que de nós podia existir.
A dúvida a me martirizar,
A incerteza a me magoar.

O passado que não tivemos,
O presente que não vivemos.
O futuro que de ti tão distante,
Este coração quase emigrante.

Se te contasse ririas, sei que sim,
Da saudade que navega em mim.
Os meus passos que sem direcção,
Perguntam pelos teus onde vão.



sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Post.it: Hábitos

Não tenho uma vida, tenho o hábito de viver. Não tenho um emprego, tenho o hábito de ir trabalhar, de me levantar cedo, tomar duche, engolir o pequeno almoço e sentar-me na paragem à espera do autocarro, que tem o hábito de se atrasar.
Por hábito, digo bom dia aos colegas, sorrio ou terá sido um espasmo muscular?
Pico o ponto, sento-me na cadeira giratória em frente à secretária e começo a “falar” com o computador, mais do que um hábito, começa a ser uma fiel amizade, ele está sempre presente nos meus dias, meses, anos, ali, constante das 9 às 18 horas, de segunda a sexta. Se falta a luz é uma catástrofe, como se tivesse morrido um parente próximo, um amigo do peito. Fico sem norte, sem sul, sem rumo, sem hábito, perco-me de mim. Número de cidadão, de NiF, de NiB, etc., etc., não sei, está tudo no computador! Eu estou no computador! A minha identidade, os meus segredos, sonhos, vitórias, fracassos. Porque, a dada altura tornou-se um hábito, um quase vicio, partilhar a vida com o meu PC.
À noite, regresso a casa, mas antes disso, por hábito, sigo os mesmos caminhos, conto os mesmos passos até à esquina, antes de atravessar na passadeira, sento-me no mesmo banco de jardim, dou pão aos mesmos pombos, bebo um café, ouço as mesmas conversas. Por hábito, apanho o mesmo autocarro, com as mesmas pessoas, já nos cumprimentamos.
"A Joana hoje não vem?"
"Atrasou-se, tinha uma reunião" 
"E a Teresa, não a tenho visto, estará doente?"
"Não, está grávida, mas como é de risco devido à idade, tem de ficar de repouso nos primeiros meses". 
"Hoje o autocarro vai mais cheio, começaram as aulas, lá vêm os miúdos carregados com as mochilas furando pelo corredor!” 
”Pois é, já me tinha habituado ao sossego neste autocarro, agora é uma algazarra de gritos e conversas, só espero que não haja muito trânsito para chegar a casa depressa e relaxar um pouco, antes dos filhos chegarem com o pai”. 
Porque a dada altura já não se tem um casamento, tem-se um hábito.
Adaptamo-nos, moldamo-nos, encaixamo-nos, acomodamo-nos, aceitamo-nos a nós e aos outros, por amor, amizade, ou quem sabe, por hábito.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Post.it: Este Outono

O outono bateu-me à porta, vinha suave, tímido, como um namorado arrependido. Não foi uma chegada mas um regresso, afinal, quantos outonos já conheci? Muitos, começo a somá-los, devagar, porque a dada altura da vida, já não se tem pressa, chega-se lá é a nossa cada vez maior convicção e por lá entenda-se a um destino que por vezes existe paralelo aos nossos desejos. 
No entanto, outono, o nosso outono, acrescenta em nós uma gratidão que nos era desconhecida nos áureos tempos de natural rebeldia. É normal, faz parte, de se começar a “crescer”, porque é isso que sente, um crescimento prazeroso. 
 Uma amiga que tenho sempre bem-humorada, começou a ganhar alguns quilinhos mais, fez dietas, todas as que ouviu na rádio, na televisão, na internet, fechou a boca, bebeu litros de água, por fim, reflectiu e desistiu, “não estou gorda, estou é cheia de sabedoria!”. 
Quem me dera ter a sua sabedoria humana, a sua capacidade de caminhar sobre as folhas de outono sem as amachucar, com a leveza da sua cordialidade. 
O outono bateu-me à porta, abri-a devagar com receio que as promessas de fidelidade, de carinho, de companheirismo não fossem cumpridas e que as folhas voassem no primeiro sopro de vento e ele entrou, sentou-se na minha sala com um sorriso renovado, pediu-me esperança e eu voltei a acredita, pediu-me confiança e eu confiei.  
Como negar-lhe que entre, que fique e que faça da minha vida a sua terna morada? Somos cada época, cada estação, florindo, rejubilando de sol, somos folhas que caiem para que se possam renovar, somos frio, vento e por vezes chuva, para que tudo comece, recomece, renasça e volte a ser com promessas mesmo que não cumpridas o melhor de nós.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Post.it: Por este rio

Imagino o tempo como se fosse um rio, um rio que passa lá fora e eu numa das margens, observo-o e deixo-o passar. Sinto que passa por mim, por vezes passa em mim, e nesse passar vai deixando fios de neve no meu cabelo enquanto o rosto outrora liso e luminoso ganha socalcos de foz e sombras de luar.
Há quem veja esse rio repleto de lágrimas, de histórias sofridas. Há quem apenas o veja com declives, pejado de pedras rolantes, frio, apressado, que correndo para a meta quase revela uma cascada para onde caiem os sonhos, as esperanças, os desejos, a confiança.
Pobre rio, penso ao olhá-lo, que incompreendido és…
Navega na sua placidez até que uma vida mais tempestuosa o agita, turva-lhe as águas e afoga nele os seus medos. Procuramos culpados para as nossas culpas, perdidos por entre os labirintos humanos, baixamos os braços, deixando que o rio feito de tempo navegue e nos conduza ao longo da corrente. Por vezes sufocado pelas margens dos nossos condicionalismos morais, sociais, educacionais mas  também isso é apenas uma desculpa, uma tábua a que nos agarramos evitando a morte certa de tudo aquilo que somos.
Há quem tenha forças para ir mais além, verdadeiros heróis que tentamos sem conseguir, imitar. Aqueles que não temem a morte, essa morte que permite o renascimento. Sair da sua área de conforto, sair do rio, mergulhar em pleno no mar, afogando-se no peso da sua história construída como o cimento de toda uma vida de padrões, de grilhões herdados do ontem e carregados ao longo dos ‘hojes’ transportados por outros tantos ‘amanhãs’.
É cada vez mais necessário libertar-se, vir à tona da água e respirar o ar fresco de quem encontra outro caminho que abraça como seu. 
Imagino o tempo nessas águas onde sou barco por vezes à deriva, por vezes remando com todas as forças da fé, outras sonhando que tenho o motor e vou mais rápido mas sem pressa. Afinal beleza do tempo está no nosso modo de o olhar, se o olhar a partir do rio só vemos o sufoco das margens mas, se for partir das margens, conseguimos ver o tempo/rio tal como é no deslizar suave das águas. Cada cabelo branco, cada ruga é consequência  do seu embalo.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Chovia de alegria

Quando nasci, chovia,
Não sei se de tristeza ou alegria.
O céu em tom de profecia,
Olhava-me do alto e não sorria.

Quando nasci era manhã,
Minha mãe em estranho afã.
Com tanto ainda por fazer
Antes de me fazer nascer.

E eu buscando a luz,
Que ainda hoje me seduz,
Como se uma vida de escuridão
Me toldasse já o coração.

Mas a magoada profecia,
Que me acompanhava noite e dia,
Anos depois se desvaneceu,
Quando o meu sobrinho nasceu.

No dia do seu nascimento, chovia,
Não de tristeza, mas de alegria.
Eram lágrimas minhas e do céu,
Que cada um em amor lhe ofereceu.


domingo, 17 de setembro de 2017

Post.it: O segredo dos segredos


O segredo do perdão é olhar sem julgamento
O segredo da fé é não esperar por provas
O segredo do carisma é olhar com amor
O segredo da saúde é sentir e manter a alegria
O segredo da força é fazer vencer a vontade
O segredo do amor é amar com inteligência
O segredo do destino feliz é ir pelo caminho positivo
O segredo da paz é encontrar em si o equilíbrio
O segredo da harmonia é observar a natureza
O segredo da beleza é ver com o coração
O segredo dos sonhos é tentar concretizá-los
O segredo do caminho não é a meta mas a viagem
O segredo de um bom dia é cuidar dele de manhã à noite
O segredo de obter respeito é saber respeitar-se
O segredo da escuridão é que ela permite ver as estrelas
O segredo da chuva é que faz renascer as flores
O segredo da vida perfeita é apreciar tudo o que ela nos dá
O segredo dos segredos é estar atento para os descobrir