quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Post.it: A rotina dos dias

Há dias em que tenho dificuldade em despertar. Não por ter sono, até porque normalmente acordo  cedo, ainda antes do sol cumprimentar a lua.
Tenho é alguma dificuldade em despertar para a rotina que compõe os dias. Quando estes se preenchem de compromissos que pautam a vida. Obrigações de se ser adulto responsável. Obrigações de quem tem que pagar os seus impostos e a sua sobrevivência ou até os seus pequenos prazeres. (Porque afinal a felicidade compra-se).
 Quantas vezes me apetecia não ter deveres por cumprir, já F. Pessoa o dizia: "Ter um livro para ler / E não o fazer! / Ler é maçada, / Estudar é nada. / O sol doira Sem literatura. / O rio corre, bem ou mal, / Sem edição original. / E a brisa, essa, De tão naturalmente matinal, / Como tem tempo não tem pressa...".
 Levantar-me, dirigir-me meio sonâmbula até à cozinha, fazer um café cujo fumo e odor me invadam os sentidos e acalentavam o espírito. Abrir a janela, deixar a natureza entrar por ela, o vento para dar asas ao pensamento, o sol para me aquecer a alma e o canto das pequenas aves para encher de melodia o meu dia. Depois sentar-me na minha velha secretária, que vem comigo de viagem em viagem, sólida, companheira que me transmite confiança pela sua presença ao longo do caminho. Pegar numa esferográfica, sim é verdade, continuo fiel à escrita à mão porque preciso de ver a alvura do papel ser preenchida pela tinta azul. Preciso de sentir o deslizar da mão sobre o papel. Só assim sinto que desenho, imagens de palavras esvoaçantes. Só assim me sinto ligada à solidez da terra fértil de sensações. Então escrevo, por vezes nem sei bem o quê. Deixo-me guiar pela fluidez dos sentimentos. E então choro quando as palavras saindo de mim são uma torrentes de emoções. Mas também me rio de muitas palavras que rodopiam e brincam diante dos meus olhos como se soltasse do meu ser um delirante sentido de humor. A escrita,  essa quase magia em que me envolvo, revela os mistérios que me vão na alma, e na alma vão asas de vento, flores que crescem em suspensão num jardim de fantasia.

8 comentários:

  1. Anónimo24.2.11

    O teu post soube-me tão bem, deu-me um doce despertar. Senti o cheiro do café e apeteceu-me deitar no sofá. A escrita não é o meu forte, mas da forma como a descreves quem me dera ter esse dom. Bjs Amália

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  2. Anónimo24.2.11

    Gostei muito deste despertar, deste sair da rotina, do café a fumegar, de me sentar numa velha e amiga secretária, que dá solidez à vida.Bjs Leonor

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  3. Anónimo24.2.11

    Gosto tanto de “te” ler. De te encontrar em cada frase que nos ofereces. Até gostei desse café, quase que lhe senti o cheiro… Bjs A.

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  4. Anónimo24.2.11

    Parecem-me bons planos, quem sabe para a velhice, quando tivermos tempo para saborear as coisas boas da vida, nem que seja um cafezinho bem quentinho. Beijocas C.

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  5. Anónimo24.2.11

    Gostei mas não tenho tão bom despertar. Acordo furiosa porque ainda dormia mais umas 2 horas. Arrasto-me para o duche. Arrasto-me para o carro. Arrasto-me para o emprego, nem vejo as colegas estou a dormir de olhos abertos. Acordo só para ler o teu post.it. Então o meu dia começa com a mais energia. Porque és um sol que entra na nossa alma. Bjs

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  6. Anónimo24.2.11

    Que inveja tenho do teu espírito criativo aos despertar, eu acordo “podre”. Nem posso ouvir os miúdos que estão sempre com energia para dar e vender. Sento-me no sofá e fico à espera que o corpo acorde. Entretanto alguém me grita, já devias ter saído de casa e ainda estás nesse estado!. Um duche de água fria acorda-me logo. Como é que alguém acorda com vontade de escrever? admiro-te!

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  7. Anónimo24.2.11

    A sua escrita é leve e tão agradável que o assunto mais banal ganha contornos de poesia.Um abraço, Antero

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  8. Anónimo24.2.11

    Que inveja dos teus sonhos. Quem me dera ter outros semelhantes. Claro que só quando chegar idade da reforma. Mas ainda assim, são óptimos planos. Espero que um dia os concretizes.Bjs

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