sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Post-it: Ideais


Somos humanos incompletos, sempre em mudança, em construção.  Faz parte de nós esta insatisfação que nos faz procurar, descobrir, crescer. Temos sonhos, esperanças, ou seja ideais. Olhamos para o lado e sempre essa visão, talvez por nos ser exterior, nos parece melhor do que a nossa realidade.
 Queremos  a família ideal, os amigos ideais, a escola, os professores, os vizinhos, crescemos e começamos a delinear as relações afectivas ideais, os empregos ideais, os chefes, os colegas. O cônjuge ideal, os filhos, o futuro dos filhos, dos netos e do seu crescimento.
 Os nossos ideais vão diminuindo, começamos a idealizar pouco mais que a saúde ideal, dizem que isso é sinónimos de maturidade, mas pressinto que é também de  desilusão. Quando nos confrontamos com o passar da nossa já longa caminhada e constatamos que poucos ou nenhuns foram os ideais concretizados. Conformamos-nos, mas preferimos afirmar que simplesmente percebemos que a nossa felicidade não está nesses ideais mas na valorização da realidade vivenciada, fica bonito dizer isto, torna-se difícil senti-lo. É arrancar do peito anos e anos de planos, de um caminho que fizemos nessa direcção.
 Atrevemos-nos a idealizar, somos humanos, parar de sonhar, de ter esperança, de acreditar, de ter fé em algo melhor, é morrer antes da morte nos levar consigo. Por isso mesmo que baixinho, quase em silêncio, ainda aspiramos a um futuro sem data marcada, que nos seja solarengo de esperança, que nos encha de primaveril inspiração, que nos faça voar nem que seja apenas em pensamento e que se tivermos que pousar pesadamente despertando de mais um ideal fracassado então que seja sobre uma montanha de nuvens.


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Do que precisas?



Dum raio de sol?
Vou buscar o mais quente para te aquecer.
Duma nuvem para repousares?
Já te trago a mais fofa para te adormecer.
Dum arco-íris cheio de cor?
Descobrirei o mais belo para colorir a tua vida.
Dum oceano para afogares as tuas lágrimas?
Transportarei o pacífico para te acalmar a dor.
De uma onda que leve para longe as mágoas?
Encontrarei a mais alta para de novo te erguer.
De uma rocha onde te apoiares?
Acharei a mais firme para confiares.
Duma sombra para te refrescares?
Vou buscar a maior palmeira para te proteger.
De uma estrela para brilhar na tua escuridão?
Escolherei a mais cintilante para te iluminar.
De um abraço leal?
Ofereço-te, simplesmente o meu…



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Post.it: Somos diferentes


Sempre achei que éramos iguais, acreditava no senso-comum. Que a única diferença entre nós humanos residia no género, masculino ou feminino, apesar de agora se falar de outros géneros, não vou discutir a questão. Dizia-se em tom de brincadeira citando o título de um livro que os homens eram de Marte e as mulheres de Vénus, daí as diferenças planetárias de maneiras de ser e estar na vida. Mas o tempo foi-me ensinando que as diferenças vão muito além do género, das fronteiras, da fé, da cultura, do meio social, das gerações. Que as diferenças são raízes que crescem em nós e nos separam, há quem goste de orgulhosamente preferir dizer que nos individualizam, que nos caracterizam, mas a verdade é que nos afastam, que criam mares onde não chegam pontes.
Sempre achei que éramos iguais, mesmo quando debatíamos horas infinitas a mesma questão nos seus diversos pontos de vistas,  quando tu vias o copo meio vazio e eu sempre o via meio cheio. Não éramos diferentes, partíamos de premissas distintas, seguíamos por caminhos díspares mas chegávamos sempre ao mesmo ponto de encontro. E isso, descansava-me.
Claro que me cansava a discussão, para te revelar o meu ponto de vista, para tentar perceber o teu, mas sabia que chegaríamos à mesma meta fosse qual fosse a rota seguida, o argumento mais ou menos eloquente.
Havia, diálogo e por diálogo, entenda-se eram duas pessoas a falar ainda que com argumentos diferentes, sobre um mesmo assunto. E sobretudo, quando diálogo era falar mas também saber escutar e entender o que o outro dizia.
Sempre achei que éramos iguais, mas afinal, somos todos diferentes. Talvez a única coisa que nos torna semelhantes é querermos todos o mesmo: sermos felizes. E  lutarmos por isso, mas com “armas” diferentes.
Essa diferença, de repente, “torna-nos, tão sós, cada vez mais sós, fechados no nosso mundo, longe de todos, mas com a sensação errónea de que tudo nos está perto, quase ao toque da nossa mão estendida.”
Mas, não perdi a esperança de encontrar o nosso ponto análogo, por pequeno que seja, que seja  um principio, um começo, uma descoberta, um olhar simultâneo, um sorriso partilhado, um simples, o mais pequeno, o mais ínfimo encontro no caminho que um dia, quem sabe nos seja comum.