segunda-feira, 29 de abril de 2019

Perfil

SONHAR,
DELIRAR,
CONVERSAR,
BOCEJAR.


AMAR,
DESEJAR,
DAR,
PARTILHAR.

VIAJAR,
CAMINHAR,
NADAR,
VOAR.

FICAR,
REGRESSAR,
AO MAR,
AO AR.


sexta-feira, 26 de abril de 2019

Post.it: Um like

“Um dia fiquei sem computador e sem telemóvel, morri digitalmente”. Fala-se cada vez mais em robots, em inteligência artificial, em máquinas, em coisas que nos são próximas, mas exteriores a nós, ou, talvez não.
Agarrados, viciados, dependentes das máquinas tornamo-nos cada vez mais seus semelhantes. “Será que as máquinas se parecem connosco ou somos nós que nos parecemos com elas?” Falamos mais com elas e através delas do que com o vizinho do lado. Afinal, mal levantamos os olhos do nosso telemóvel para olhar em redor, só o fazemos para ver se é o nosso autocarro que chega. Chocamos com as pessoas mas em vez de lhes pedirmos desculpa, preocupamo-nos se o nosso aparelho móvel ficou bem, se perdemos a mensagem ou a imagem que estávamos a ver, se fomos vencidos no jogo que nos consumia a atenção e o tempo.
Sentimo-nos os maiores, os melhores, porque estamos ligados ao mundo, porque estamos dentro dessa rede universal, fazemos parte dela. Sem sabermos, estamos verdadeiramente presos a ela, tornamo-nos ela, deixamos que ela nos invada a privacidade, a intimidade, que nos conheça da medula ao tutano, não há segredos entre nós. Onde estamos, onde vamos, onde fomos, sabem tudo, contamos-lhe tudo. Mas é o que se faz com os amigos, não é? Portanto, não há nada de errado nisso!
Até os sentimentos mudam, acabaram as grandes conversas, aquele ombro amigo, aquele abraço que nos amparava e reconfortava. Aquelas palavras que nos iam afagando o ego, curando as feridas, embalando os sentidos, aprendemos a dar pouco de nós seres sensíveis e emocionais, e habituamo-nos a receber menos ainda. Não importa a qualidade do diálogo, o importante é a quantidade de visualizações. 
Agora recebemos um Like e isso, basta-nos (?).

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Post.it: Dia da terra

Hoje é dia da terra, esta terra que nos recebe, que nos abraça, que nos embala, que nos faz viver e de vez em quando, sobreviver. Por que há momentos em que também ela se zanga. E nessa altura, abana-nos, derrama sobre nós o seu infinito fôlego e os seus ventos tornam-se ciclónicos.
Como uma mãe a quem, nós filhos, desobedecemos, ergue a voz e reclama as suas seculares razões, porque as tem e nós muitas vezes esquecemos-nos de respeitar as suas leis. Então as suas lágrimas tornam-se rios que transbordam as margens, que derrubam árvores, que levam tudo por diante, arrastam casas, arrasam vidas. E nós assustados com a sua dor, mitigamos uma estranha orfandade.
Depois, quando a tranquilidade regressa, quando começamos a caminhar sobre os escombros de tanta mágoa, lamentamos a sua, choramos a nossa.
Todos os dias deviam ser dias da terra, para cuidarmos dela como ela cuida de nós. Enchemo-la de poluição e ela continua a florir, enchemos de lixo os seus rios e mares e eles continuam a navegar. Queimamos as árvores e elas continuam a renascer, destruímos o seu solo e ele continua a desabrochar.
Não somos os melhores filhos mas ela continua a ser uma boa mãe. Porque a terra, na sua infinita bondade ainda acredita que nós um dia cuidaremos dela como se cuida de uma mãe idosa que precisa do nosso amparo, que precisa da nossa gratidão. 
Hoje é dia da terra, que seja o primeiro de muitos, não só para o celebrar mas para lhe deixar em cada momento o nosso reconhecimento.


sexta-feira, 12 de abril de 2019

Não temos nada

Não temos sonhos para sonhar.
Não temos esperança de algo mais alcançar.
Não temos desafios que queiramos vencer.
Não temos metas para ganhar ou perder.
Não temos objectivos que nos façam mover.
Não temos forças para cada não demover.
Não temos sorrisos para partilhar.
Não temos abraços a quem os dar.
Não temos compaixão para os nossos erros reconhecer.
Não temos generosidade para as nossas imperfeições receber.
Não temos amor-próprio para nos amarmos.
Não temos ego nem eco para nos consolarmos.
Sem luz mergulhamos na nossa escuridão.
Não temos fé suficiente para nela vermos o perdão.
Não temos destino, apenas caminho para desbravar.
E no entanto continuamos a caminhar.
O que nos move perguntamos?
Cada dia que à noite conquistamos.
Talvez não o querer,
mas o simples crer,
neste continuo amanhã,
que vem em cada manhã.
E mesmo que venha cheio de nada,
mesmo que sejam pedras da estrada,
nos será infinitamente tudo, 
o nosso existir neste no mundo…


segunda-feira, 8 de abril de 2019

Um lar

Quantos dias,
Quantos despertares,
Quantas alegrias,
Quantos chorares.

Quanta entrega,
Quanto carinho,
Quanta partilha,
Num abraço de ninho.

Quantos invernos,
Quantos verões,
Que pareciam eternos,
Mas iam com as estações.

Quanta luminosidade,
Quanta escuridão,
Quanta a amizade,
Que vencia a solidão.

Quantas dúvidas,
Quantas certezas,
Curando as feridas,
Superando as tristezas.

Quantos finais,
Quantos reinícios,
Marcados por ideais,
Matando os silêncios.

Quanta construção,
Edificando um lar,
Onde o coração,
Quis um dia habitar.


sexta-feira, 5 de abril de 2019

Post.it: Juras de Primavera

Um dia jurei que nunca mais falaria de amor. Imbuída de um espírito, misto de desilusão e  fracasso. Numa argamassa que não se definia se devia  concluir-se em decepção ou esperança, porque deixava continuamente um rasto de nuvem no horizonte do azul celeste.
Um dia jurei que fecharia o coração a todo e qualquer sonho. Porque se tornava cada vez mais doloroso o acordar e ser arrancada precocemente desse mundo de fantasia. Um dia jurei, que viver seria apenas o somar dos dias e adormecer o corpo cansado sobre os lençóis da noite. Mas, reconheço que não sou grande cumpridora das minhas promessas.
Porque é impossível viver sem amor. Basta abrir os olhos e receber a beleza que nos oferece cada quadro da natureza.
A Primavera, de renascimento e esperança, dá-nos o perfeito exemplo de perseverança, quando no meio mais adverso, desponta a frágil papoila, no seu vermelho imponente que não deixa indiferente a quem por ela passa.
O Verão, quando o sol abre o seu mais radiante sorriso e a sua luminosidade penetra no mais recôndito esconderijo de um peito magoado e o aquece com o seu abraço.
 Ou o Outono que nos embala e desenha no chão um manto de folhas para atenuar a dor da caminhada.
E o Inverno, que com o seu frio, oferece-nos deliciosas alternativas de aconchego, uma lareira que nos reconcilia as dissonâncias, roupas macias que nos confortam a alma. Como não falar de amor. Como não sentir o amor a vibrar em cada recanto do caminho? 
Quando partem de nós, o amor permanece, magoado, é bem verdade. Com saudades, é inevitável, mas florescente porque o coração ainda palpita dentro do peito. Afinal o amor não é o outro que o dá e o  leva consigo ao partir. O amor está em nós, quando o partilhamos e oferecemos, com a alma plena, como se fosse uma fonte inesgotável.


segunda-feira, 1 de abril de 2019

Post.it: Estradas

Há estradas que nos pedem para ser caminho. Há na sua solidão um apelo de companhia, com árvores frondosas que estendem os oramos como abraços. Ramos que atravessam a via e chegam à outra berma num entrelaço que nos protegem da invasão solar, que nos refresca o olhar. E a passadeira de alcatrão estende-se longa e convidativa a um percurso sem pressa.
Aqui e ali, uma curva, um quase embalo. Uma lomba que anima a atenção quase perdida na contemplação da paisagem, campos verdejantes, arados pela mão humana surgem alinhados à espera de florir, tão direitinho parece penteados por um pente gigante, por uma mãe que em gestos graciosos com zelo e amor os tornou mais belos.
Mas eis que surge rebelde e inquieto o vento, lança-lhes vigorosos sopros, mas a mãe natureza sabe como proteger o seu filho campo e sorri dos fracassados intentos que nenhuma ventania consegue abalar.
Há estradas que nos trazem de volta ao caminho de que fazemos parte, que nos levam para longe do reboliço da cidade e nos permitem um reencontro com as nossas raízes.
Há estradas que são mais do que um encontro, são o feliz reencontro, connosco, com a nossa essência, com aquela parte de nós que anda em corrida por estes campos. 
Há estradas e estradas, há as que nos  levam para longe, enquanto outras, as mais belas, são as que nos trazem a um feliz regresso.