quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Post.it: Sinto falta de tudo


Não sou saudosista, mas sinto falta de tudo: Dos primeiros raios de sol, das primeiras flores da Primavera. Dos cheiros da infância, da rebeldia da adolescência. Do nascer dos dias, do adormecer das noites. Do sabor das ondas, das folhas outonais, do nevoeiro silencioso. Dos suspiros de açúcar, dos suspiros do peito. Dos reflexos do olhar, da gargalhada cristalina, da lágrima solitária. Dos silêncios que dizem tudo, das longas conversas que não dizem nada. Do compasso das horas, da corrida dos segundos.
De ti e de mim, mas sobretudo de nós. Da imaginação com asas, da espera que é finita, da antecipação da chegada. Da alma aconchegada, da mão preenchida, do abraço apertado. Da certeza, do acreditar, do querer, do lutar e vencer. Dos passos que o mar levou, da chuva que o calor secou, da andorinha que partiu e não voltou, do sonho que no sonho ficou.
Sinto falta de tudo, tudo o que já vivi, mas sinto falta sobretudo daquilo que ainda, um dia, quero viver.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Post.it: As minhas raízes


Fui amiga de uma Oliveira, e ela foi minha companheira e confidente de fortúnios e infortúnios. Nesse tempo não tinha o mar onde afogar as minhas mágoas, apenas uma planície por onde se derramava o olhar e de vez em quando uma lágrima adolescente que ainda mal começava a desvendar os caminhos do coração.
Nos longos dias em que os desenhava nas nuvens para depois os seguir num sopro de vento. Poucas coisas entristeciam o espírito rebelde que se deleitava nas searas depois de ceifado o trigo. Poucas histórias toldavam a alma juvenil que se balouçava naquela velha oliveira que já não dava azeitonas, com uma sombra cada vez mais diminuta, com raízes a sair da terra, como se quisesse dizer “está na hora de partir” mas ficava. Ficava porque havia sempre quem buscasse nela algum consolo. Ficava porque não conseguia fechar os braços àqueles abraços que pareciam não ter outro alguém a quem abraçar, outro alguém a quem contar a causa do seu desgosto ou desabafar a sua secreta alegria, e que no seu tronco de uma resistência ancestral desenhavam corações com duas iniciais, talvez com fé de que ela lhes desse um pouco da sua perpetuidade, da sua solidez. Quantas dessas vidas cumpriram a esperançosa promessa, quantas permaneceram apenas nessa marca que o tempo não apagou nem as intempéries causaram alguma erosão.
Também eu lhe pedi para não partir, quando ela tentava novamente soltar-se da terra. E ela ficou até ao dia em que fui eu parti.
Não sei se ainda lá estará, na sua ilha de horizonte. Imagino-a protectora de outros corações no infinito ciclo de gerações.
Apenas sei que permanece em mim, com raízes de lembrança que nunca poderão partir.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

(Não) Tinha de ser


Tinha de ser,
Diz a estrela do céu.
Tinha de ser,
Murmura a estrela-do-mar.
Este amor não era para ser meu,
Este abraço não foi feito para me abraçar.

Tinha de ser,
Diz o vento ao surgir.
Tinha de ser,
Diz bem alto o luar.
Mas o coração não quer ouvir,
Nem a solidão aceitar.

Tinha de ser,
Diz o sol na madrugada a nascer.
Tinha de ser,
Diz o tempo impassível.
Porque nada pode acontecer,
Quando o acontecer é impossível.

Tinha de ser,
Continuam as nuvens a repetir.
Tinha de ser,
Dizem as marés a ondular.
E o amor acaba por partir,
Triste por não poder ficar.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Post.it: Hoje não me apetece escrever(te)


Hoje não me apetece escrever. Já tenho lido que isto acontece com todos, ia dizer, escritores, mas não me considero como tal, por isso, é mais correcto dizer que acontece a quem escreve. É a famosa branca, preguiça dos neurónios, vazio do sentir. 
Talvez seja bom descansar o pensamento, relaxar o olhar. Mas a verdade é que me inquieta esta quietude, ver a inércia da caneta sobre a mesa, angustia-me a visão da folha branca, magoa-me o vazio em que a alma se prostrou. 
Será um estado de longa duração, quiçá perpétuo? Será indício de doença, ou quem sabe de cura deste quase vício diário de escrever.
Depois penso em ti, como vais saber de mim se a minha escrita emudecer e o silêncio for a ausência de uma ponte entre as margens da nossa vida.
Tolice, vaidosa pretensão a minha imaginar-te em suspensão do meu alento de palavras. Como se tivesses descoberto que escrevo para ti, só para ti, estendendo um abraço neste encadear de letras mal ordenadas que ultrapassam a distância seja ela qual for.
Mas hoje não me vais ler, porque hoje não me apetece escrever, tenho o peito cansado deste frio, desta espera que me vai invernando o coração. Talvez acenda a lareira. Talvez me enrole num cobertor, talvez durma, talvez sonhe que tudo isto foi um sonho nunca perdi a vontade de (te) escrever.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Vazio de ti


Alguém chorando,
Água fonte de um rio
Imenso mar em corrupio.
Dores cantado,
Em gotas cristalinas.
Que parecem pequeninas,
Só um o peito magoado,
Conhece a sua grandeza,
Que lhe causa a tristeza.
E esse cais de ti vazio,
Faz-me para a eternidade,
Navegante da saudade.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Post.it: A eterna idade dos porquês


Costumam dizer que estamos na idade dos porquês. Porque queremos saber tudo. Porque questionamos todas as coisas. Não basta que nos sejam apresentadas dessa maneira, tem de haver uma justificação para tal. 
É uma fase de descoberta mas também de orgulho na curiosidade que revelamos, sentimos que demonstra sobre nós, inteligência e perspicácia.
Passamos por outra fase, também ela de porquês. 
Então questionamos, “Porque nada dá certo comigo?. Porque é que só me acontece a mim?. Porquê, porquê?” Depois de tanta lamuria em que nos deixamos cair, esse dramatismo magoado que não  espera  uma resposta, apenas desabafa e espera que surja uma solução milagrosa passamos à fase seguinte.  
Depois de muitos porquês começamos a concluir que  não há respostas concretas para os mistérios da existência. Já não é um questionamento de curiosidade mas de revolta, de incerteza sobre a obscuridão do futuro.
Por fim, evoluímos, amadurecemos, já não questionamos o mundo afinal parece que até  o mundo não quer ou não sabe responder-nos. 
Nesta fase com orgulho borbulhento de teenager, pensamos que  “Já aprendemos  as respostas, todas as respostas; o que não sabemos é a questão”. Mas isso pouco nos importa, sentimo-nos donos da verdade. 
Até que um dia, numa qualquer manhã que não marcamos no calendário passamos a sentir que mais importante que perguntar é saber que tipo de pergunta vamos fazer para obtermos a resposta que queremos ouvir. Porquê? Porque a inteligência que nos rege e o livre arbítrio que nos pertence ensinou-nos que só questionando a vida se aprender a vive-la. “Afinal ninguém nasce ensinado”.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Post.it: Que a memória não nos esqueça


Outro dia, fui visitar uma velha amiga. Considero-a assim, porque o somos há muito anos, mas simultaneamente uma jovem amiga, porque os seus 86 cultos anos, fazem-me sempre desejar, “quando for grande” ser como ela. Noutros tempos os nossos memoráveis lanches eram feitos nas pastelarias mais curiosas que descobríamos nos recantos de Lisboa, com scones fumegantes e um vasto buffet de compotas, sem esquecer a interminável lista de chás que nunca encontrei igual, um dia arrisquei a provar chá de fumo, não era mau, mas nada substituí o clássico Lúcia-lima. Mas a companhia era tão agradável que até trocava o meu vício de café pelo saboroso chá das 5.
Mas desta vez fui eu que levei o lanche em jeito de piquenique, porque a minha amiga já pouco sai de casa, a falta de vista, as dificuldades de locomoção, são para quem percorreu o mundo uma autêntica prisão. Restam-lhe as recordações, porque a memória ainda lhe é fiel e a generosidade de carácter não lhe rouba em momento algum a placidez e o sorriso.
Neste dia falava-me ela com a sua ternura habitual, de um acontecimento que lhe sucedera. “As coisas curiosas que a vida nos proporciona”. Dizia-me ela ao relatar que reencontrou uma amiga que não via há 70 anos e que curiosamente, sem disso terem conhecimento moraram perto uma da outra, frequentaram os mesmos lugares sem contudo se encontrarem. Só agora que outra amiga comum fez a ponte, retomaram o contacto. Avivaram memórias, riram, choraram das velhas histórias sentindo-as como se fossem novas. Um reencontro feito pelo telefone, porque agora que vivem a cerca de 15 quilómetros de distância uma da outra, elas que já palmilharam o mundo, não conseguem ultrapassar essa curta distância que se tornou pelas suas limitações físicas, uma imensidão quase intransponível. “Talvez um dia a minha filha me leve lá de carro”, diz num suspiro, com o olhar brilhante de esperança.
Esta história apertou-me o coração, e de repente dei por mim a questionar, de quantas amizades já me distanciei ou se distanciaram de mim? Será que as vou reencontrar daqui a 70 anos? Cresce-me uma angústia, uma saudade avassaladora.
Peço-te, estejas onde estiveres, não deixes que o tempo se entreponha entre nós e crie uma tão longa extensão, um dia, talvez, impossível de superar.
Não deixes que o silêncio seja uma fronteira e que a memória se esqueça de nós.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Post.it: Um lugar feliz


“Olho para o mundo, cada lugar onde não estou. Porque este, velho e gasto de tão palmilhado já perdeu o encanto. Aquele encanto que nos faz desejar torna-lo melhor, e lutamos, lutamos, plantamos árvores, atiramos sementes amor que não germinam, porque o temporal inunda a terra, numa avalanche de indiferença. Talvez seja tempo de mudar de rota, erguer a âncora, soltar as velas e procurar novos ventos de mudança. Mas as ondas riem-se de mim com gargalhadas de espuma. E num murmúrio de sensatez obrigam-me a entender que não há fuga possível, que a culpa não é do mundo nem dos lugares. Podia viajar pelo universo que continuaria a sentir que a nenhum local pertenço. Porque aquele de onde verdadeiramente sou está dentro de mim, na minha ilha de emoções. Na minha gruta de escuridão. Nos meus extensos desertos de solidão. Nas profundezas dos meus oceanos de tristeza.”
“Essa é a tua tristeza quando olhas para o mundo, eu  que olho para ti como se fosses o meu mundo. Não sei se te entendo, se te quero entender, magoa-me essa solidão que não preencho, essa tristeza que não alegro, esse deserto de que queria ser um oásis. Aproximo-me, construo uma ponte entre nós para que nem as margens marítimas nos separem. Mas vejo o teu olhar já noutros voos, mais longínquos, estendo um cordão de amizade que não apanhas. E vais, não sei para onde, digo-te adeus, e parto de ti com uma saudade que nunca chegou a nascer entre nós.”
 E porque tudo passa como as “águas de março”, haverá sempre entre nós, “um lugar feliz”.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Post.it: Vamos aboborar


Ouço cada expressão que me deixa (atónita), boquiaberta, estupefacta, perplexa, admirada, abismada, acho que já gastei todos os sinónimos da minha surpresa. Mas até gostei da expressão depois de a visualizar na mente. Do meu pensamento adquirir a forma rechonchuda, pesada, tranquila, forte. 
Algo que permanece no tempo, que amadurece sem pressa. E depois, há a sua cor, algo indefinida, sem ser vermelha nem amarela mas a junção de ambas numa combinação harmoniosa que conseguiu conquistar solidamente a sua autonomia. 
Mas em que se aplica a sua forma e a sua cor num exemplo de vida? Em que se assemelha no dia-a-dia stressante que vivemos? Talvez como um grande sábio do tempo, de que não vale a pena correr porque devagar também lá chegamos e com menos cansaço, ou com a aceitação feliz de que não somos únicos, nem o melhor, nem tão pouco o exclusivo, mas apenas um, entre tantos a construir o mesmo, a cumprir a mesma missão de viver. 
De ser apenas o degrau mas não a escada, de ser a gota de água mas não o mar, ser a pedra mas não a montanha, e assumir esse papel com a consciência da sua importância, grande ou pequena, mas sua parte essencial. 
E se não for agora, hoje, amanhã ou depois, será quando for, para nos dar tempo de  sentir a ternura do   vento, de observar a beleza da chuva, a luz do sol, a plenitude da vida. 
Se não lhe sentir o sabor, se não viver o prazer do instante, ele passará veloz e um dia ao olharmos para trás teremos deixado de viver os pequenos momentos em busca dos grandes que nunca o chegaram verdadeiramente a ser pela exigência das nossas expectativas. Então, passamos a repetimos frases cansadas, teorias esgotadas: “o tempo voa”, “A vida é breve”, etc., etc. 
Deixe aboborar, viva com calma sentindo o prazer dos dias, mas não ceda à tentação de murchar quando ainda pode florescer para uma nova primavera. 


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Post.it: A vida é um pássaro II


“A vida é um pássaro, agarra-se um e é-se feliz ou infeliz para sempre”, dizia-me um velho amigo, contador de histórias. “Porque os pássaros não devem ser agarrados nem aprisionados, têm voar em liberdade e livremente escolher o seu ninho”. E no entanto construímos gaiolas, e no entanto lançamos fitas de encantamento, julgando que podemos enclausurá-los no peito, por mais doce e terno que esse peito passa ser. “A vida é um pássaro e a sua beleza reside na sua independência, prende-o e ele esmorece”, insistia o velho contador de histórias. É verdade, perde o cantar, perde as penas, perde a vontade de abrir as asas, perde a capacidade de sonhar e nós,  que nos maravilhámos com o  seu voo choramos a sua tristeza e acabamos por deixa-lo partir. Percebendo que, a vida é um pássaro e por isso tem de voar.
“Dê a quem ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar” (Dalai Lama). Porque, “Não há maior liberdade do que voar num horizonte qualquer e pousar onde o coração quiser” (Cecília Meirelles).
Mesmo que os nossos olhos fiquem perdidos  no infinito do céu, em busca de uma asa que nos ilumine a alma, quem sabe regressa, diz um suspiro que se esfuma no vento.
Entretanto, ocupa-se o tempo a escutar o velho contador de histórias, talvez algum dia ele nos conte aquela que queremos ouvir, a nossa, e lhe acrescenta  um final de voo com horizontes comuns.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Post.it: Inquietação


Há palavras que nos tocam, palavras que já passaram por nós, que já ouvimos aqui e ali, mas que rapidamente esquecemos. Palavras que nos fazem parar para pensar, para sentir, para a ver como se fosse a primeira vez.
Hoje escutei-a e sem saber bem porquê tocou-me, bateu à minha porta, de mansinho e mesmo assim, sobressaltou-me. Deixei-a entrar, sentar-se na minha sala, sussurrar-me não sei bem o quê que temi ouvir. Fiz um silêncio respeitador, quis saber tudo, mas não lhe perguntei nada, esperei, de coração apertado, de alma dorida. Esperei, com o ar em suspenso, com o olhar perscrutador. Esperei, fingindo uma calma que não sentia. Esperando ou melhor desesperando, porque a sua preocupação me envolveu os sentidos. 
Mesmo quando estremeci, desenhei no rosto um sorriso de confiança, uma confiança que já tinha perdido, algures nesse curto mas demasiado longo impasse. 
Então, uma lágrima quis chorar-te, mas prendi-a no peito, sufoquei-a com todas as minhas forças e amarrei-a com laços vacilantes de esperança, talvez partisses silenciosa como vieste sem me avassalar a vida de mágoa. Sem destruir os meus sonhos, sem dar razão aos meus medos, sem que me fiques a palpitar no coração. 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Post.it: A vida é um pássaro



“A vida é um pássaro”, ávido de voos inconstantes, para encher o peito de azul, desafiar os raios de sol, cruzar as nuvens e mergulhar sem medo nas profundezas oceânicas.
A vida é um pássaro rebelde com asas de vento, incitando o tormento como se fosse imune a todas as mágoas que sempre trazem as águas por nós a passar.
A vida é um pássaro veloz que grita na sua voz a pressa de chegar à liberdade, de partir por ter medo de ficar. Como é insensato e imprudente, este pássaro adolescente, contemplador de fantasias, de um horizonte que é a sua estrada e da lua, a sua eterna morada.
Mas o tempo começa a pesar-lhe nas penas e os sonhos já vão partindo. Já sem o ímpeto de outras primaveras, faltam-lhe as forças para voar e nesse voo alcançar o arco-íris que a chuva deixa no ar quando o sol a faz sorrir.
Começa a pousar, com a alma ainda a navegar. Fecha as asas, voa na lembrança dessa longínqua esperança.
Porque a  vida é um pássaro, que apesar de tanto voar, no fundo só quer encontrar um ninho nesse distante  lugar que se chama coração.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Post.it: Sou uma mulher comprometida


Com os dias, com o emprego, com a relação que estabeleço com os outros, com os amigos, os familiares, com o ambiente, com tudo, com todos.
Um comprometimento que não é anelar, que não é somente de coração, que é sobretudo de consciência, de personalidade, de vontade.
Um comprometimento que não tem começo nem final, que não pode ser adiado, que não pode ser esquecido. É um comprometimento real, como quem tem de regar a primavera para que volte a florir, como quem tem de embalar as ondas para acalmar o mar, despertar o sol para iluminar o dia, moldar as nuvens para enfeitar o azul do céu,  aplanar a estrada para que tu e outras pessoas possam caminhar sem tropeçar nos mesmos obstáculos, sofrer as mesmas dores, curar as mesmas feridas que eu já conheci.
Um compromisso que assinei com todas as células do meu sangue, com a intensidade plena do meu ADN.
E no entanto, sou uma mulher livre, “só uma pessoa livre pode comprometer-se verdadeiramente”. Uso o meu livre arbítrio, escolho as minhas batalhas, as minhas armas para defender os meus direitos para realizar os meus deveres e vencer as minhas guerras com gestos de paz. 
Porque sou acima de tudo, uma mulher comprometida, com a vida.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Post.it: Uma lágrima no mar


Voltei ao mar para vir buscar a minha lágrima. Uma lágrima que um dia perdi quando era menina e era feliz sem o saber. Pedi ao mar que a devolvesse, mergulhei, naveguei, esperei no cais, mas não a encontrei. Perscrutei todas as ondas, colhi cada gota de água mas nenhuma era ela. E o mar riu-se de mim, da minha fracassada busca. E num eco ondulante a sua gargalhada entrou pelas grutas das rochas e ressoou na minha tristeza.
Como a distingues de todas as outras? Perguntou-me o vento. Respondi-lhe com clareza, - A minha lágrima era doce e todas as outras são salgadas. A minha lágrima era quente e todas as outras são frias. A minha lágrima tinha o meu reflexo nela e estas refletem apenas o mar. Também o vento se riu de mim, e entre gargalhadas disse-me “ A tua lágrima misturou-se com as outras lágrimas que alguém como tu a “abandonou”. Desesperado o coração quis gritar-lhe, “Não, não a abandonei, caiu-me dos olhos quando andava a brincar no meu olhar.
Então houve um silêncio, até o mar se tornou murmurante, e o vento sussurrante, enquanto da minha alma saia uma voz clamante “ Sinto saudades da minha lágrima, preciso dela, não para chorar mas para rir, rir de felicidade. Porque ela era a minha última gota de infância, sem ela já não consigo sonhar. É a minha gota de esperança, sem ela já não consigo acreditar.
O mar que parecia calmamente escutar, de repente como que enfurecido, elevou-se numa imensa crista de espuma e nesse instante saltou dele uma gota, vinha quente, vinha doce, refletia o meu rosto da menina que outrora fui. Era a minha lágrima perdida, recolhi-a na mão e como duas grandes amigas partimos de mãos dadas pela praia fora partilhando confissões e recordações. O mar acenou-me um adeus. Já com saudades da minha lágrima pediu-me para voltar e eu prometi-lhe que voltaria, voltaria para chorar, mas sobretudo para rir. Não pensem que o mar ficou mais pobre ao perder uma  lágrima, porque ganhou uma amiga.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Post.it: Desejo-te o suficiente


Enviaram-me um e-mail desejando que eu recebesse o “suficiente”. Fiquei a tentar perceber o que isto queria dizer. "O suficiente", pareceu-me simples,  algo do senso comum. Mas esta verdade  de La Palice não é assim tão óbvia, porque na nossa característica humana, queremos tudo  na dimensão do nosso desejo:  
Todo o amor que possamos dar e receber.
Toda a felicidade que a vida nos possa oferecer.
Toda a riqueza que o mundo nos possa oferecer.
Todo o sol daquele Verão.
Toda a chuva que a terra necessite para florescer.
Queremos tudo, porque o suficiente nos parece sempre insuficiente. Afinal, ninguém se contenta com o suficiente quando se pode sonhar por muito mais. E depois de sonhar, lutar para o conquistar. Com muita coragem, com muita vontade. Claro que podemos fracassar, mas temos a certeza, a certeza absoluta que tentámos. Só depois, muito depois de todas as mágoas, de todos os cansaços e de todas as quedas é que percebemos que afinal nos bastava o suficiente:
O sol suficiente para continuar a ser radiante.
A chuva suficiente para depois apreciar o sol.
A felicidade suficiente para alegrar o espírito.
A dor suficiente para que as menores alegrias da vida nos pareçam muito maiores.
O dinheiro suficiente para obter os pequenos prazeres materiais.
Compreensão suficiente para que percebamos que o suficiente nos basta.
Um dia suficiente de tarefas para apreciar o descanso da noite
As perdas suficientes para que apreciemos tudo o que possuímos.
Os “olás” suficientes para que  cheguem connosco ao adeus final.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Mantém-te feliz

Mantém-te criança,
Com um sorriso no rosto.
Nunca percas a esperança,
Só ela vence o desgosto.

Mantém-te feliz,
Faz da felicidade a tua vida.
Não escutes quem diz,
Que ela não pode ser divertida

Mantém-te fiel,
Ao teu coração.
Não deixes que o fel,
Te roube cada emoção.

Mantém essa luz,
Acesa pela vida fora.
Porque ela te conduz,
Ao sucesso de cada hora.

Mantém-te criança,
Não deixes o crescimento.
Deixe apenas na lembrança,
A magia desse momento.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Post.it: Prazo de validade


Um estudo americano-europeu que durou 15 anos concluiu que o Amor tem prazo de validade, 2 anos e depois já não resta nada, ou melhor resta muito: filhos, divórcio, divisão de bens, de dívidas, de culpas. É o fim que já esqueceu o início, quando a loucura amorosa tornava tudo perfeito. Mas segundo os experts, esta “loucura”, nada mais é do que um engodo ou quem sabe uma forma ancestral de auto preservação da natureza para evitar que a humanidade desapareça da terra.
Pouco românticos, estes cientistas, que roubam ao Amor todo o sentimento, toda a emoção que nos faz sonhar com um Happy end e com um Forever.
Porque esta sociedade que julgamos consumir e afinal nos consome, a vida amorosa nasce floresce e murcha numa “busca constante e vã do parceiro cada vez mais perfeito”. Já que segundo parece o  “amor é hoje uma religião que não consegue produzir crença, fé ou compromisso: é uma droga que vive do desejo de querer estar sempre na fase apaixonada”.
E a poesia? E os romances? Será tudo um embuste? Questiona-me a química dos sentidos. Nem tudo pode ser: adrenalina, noradrenalina, dopamina, serotonina e endorfinas e outras.
Não podemos reduzir os sentimentos a teorias da tecnologia, da neurociência, da psicologia/psiquiatria, da desfragmentação do ADN.
Ponho um basta em tudo isto, já não quero ouvir mais! Desligo o televisor, apago o computador, ponho o telemóvel no modo de silêncio e marco um encontro com Camões no sofá da minha sala, preciso com urgência de reencontrar em mim o “fogo que arde sem se ver”, sem prazo de validade.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Post.it: Um dia voltarás...

“Um dia volto para vos contar”. Mas não voltou, e eu, continuo à espera. Sempre cumpriu as suas promessas, sempre foi pontual. Agora ainda está dentro dessa pontualidade, porque disse, que um dia voltaria. 
Não disse em que dia, em que mês, em que ano, por isso continuo à espera. Disseram-me para não esperar mais, que não virias, mas não desisto, não desisto de ti, porque acredito que de alguma maneira, voltarás. 
Talvez em forma de vento e soprarás as palavras de afecto que me habituaste a ouvir. Ou em forma de chuva só para nas gotas de água esconderes as minhas de saudades de ti. 
Quem sabe nessa onda que vem ter comigo e quando a tento apanhar foge de novo, como se brincasse comigo à apanhada, faz-me lembrar de nós da nossa infância, da adolescência, dos encontros e desencontros da fase adulta. 
Em que tu partias, mas eu tinha a certeza que voltarias, e tu, voltavas, voltavas sempre. Por isso continuo à espera. E mesmo que passem os dias, as estações do ano, que as nuvens ensombrem as manhãs, que o luar adormeça as noites, que o sol brilhe no despertar, sei que cumprirás a tua promessa, nem que seja nesse encontro celeste, quando as estrelas compuserem a mais bela melodia para dar voz ao que me vais contar. 
Porque prometeste que voltarias para nos contar. Não, não te preocupes, não te cobrarei a demora, cobrarei apenas o abraço que continuo à espera de te dar, no dia em que voltares…

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Post.it: O Homem centenário


“A vida é uma derrota”, diz o Homem centenário, que só por isso merece o meu respeito e admiração.
Só por isso, porque eu, que ainda não cheguei ao topo da montanha existencial que define a esperança média de vida, digo com plena convicção, que a vida é uma conquista.
Claro que não esqueço o aviso de Camões na voz do Velho do Restelo, “cuidado com as vitórias porque podem redundar em derrotas”.
É possível que sim, diz-me o bom-senso, mas “vale sempre a pena, se a alma não for pequena”, recito mentalmente, porque, afinal, temos sempre que dar esse passo rumo ao futuro, mesmo que não consigamos alcançar  todas as nossas metas. Vale a pena, pelos sonhos que cada momento nos fez sonhar, pela alegria que nos fez sentir, pelas asas de esperança que nos permitiu voar.
“Tudo o que a gente faz é um pronúncio de derrota”, insiste o Homem centenário, aquele que já viveu muito, que já alcançou muito, que já travou as suas batalhas, que já perdeu muito.
Perto dele, sinto-me uma adolescente contrariando teimosamente os seus conselhos, esquecendo quase de imediato os seus avisos, talvez, sábios, e prosseguindo na senda do perigo, na rota dos meus ideais.
Então o Homem centenário, percebe que não pode evitar as minhas quedas, que não pode impedir os meus fracassos, nem tão pouco antever as minhas vitórias, estende-me um sorriso de incentivo, oferece-me um olhar de dúvida, quem sabe a minha escolha não me leva para caminhos que ele, Homem centenário, nunca conheceu. Por fim acena-me um leve adeus de partida, sem acreditar no regresso. Fica a ver-me desaparecer no horizonte, sem uma palavra, porque a única que lhe quer sair do peito é de inveja, inveja pela minha teimosia, que também ele já teve.
Inveja por não ser mais novo para também ele desafiar o tempo, derrotar a dúvida e obter a certeza de que a vida será sempre “uma vitória”.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Post.it: Minha boa e velha amiga


Já te posso chamar assim, depois de tantas viagens, de tantas paragens. De tantas entradas, de tantas saídas em apeadeiros que não passaram disso mesmo. Depois de tantas Primaveras, umas floridas, outras, nem tanto. Depois daqueles Verões com ou sem mar mas sempre, sempre com calor, o da temperatura e o dos amigos, mais ou menos, ternos. E dos Outonos  esses que me são ainda próximos, com a queda da folha mas não do desalento. Quando já o Inverno espreita de mansinho, olho-o com um sorriso, convido-o a entrar, tenho estado à sua espera, preparei o corpo, aqueci a alma, aconcheguei o coração, nenhum frio o vai arrefecer. Nenhum vento me vai demover desta nossa velha amizade. Nenhuma chuva me vai invadir o olhar, porque ainda tenho muito mais para ver, e para partilhar contigo.
Saudades? Não tenho. Será um indício de senilidade? Talvez, mas esta é a minha verdade: viver cada momento como se fosse o único. Porque aprendi ao longo do tempo que pode realmente sê-lo.
Não tenho saudades, nem mesmo de quem “partiu”. Porque ter saudades é reconhecer a perda, e eu que tive a vossa amizade e carinho, nunca perdi, apenas ganhei, e cresci em gratidão convosco.
Saudades do que passou? Não! Porque isso é um desmerecimento para com presente que se nos oferece generosamente em cada dia.
Não, minha velha amiga, não tenho saudades, nem de ti quando eras nova, porque hoje, embora estejamos diferentes reconheço-nos iguais, com algumas fragilidades, alguns achaques, mas também com mais tempo para apreciar os pormenores que antes me passavam despercebidos.
 Por isso, minha boa e velha amiga, como costumo chamar-te, minha vida, vamos continuar a viver plenamente cada instante, lado a lado pelo tempo fora, para não nos tornarmos um dia, apenas um amontoado de saudosas recordações.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Só tu sabes...


Quem sabe para onde vai a estrada.
Só tu, se escolheres por ela caminhar.
Quem sabe para onde vão as estrelas.
Só tu, se as deixares brilhar no teu olhar.
Quem sabe para onde vão os dias.
Só tu, se os quiseres viver.
Quem sabe para onde vai o sol.
Só tu, se aceitares o teu coração aquecer.
Quem sabe para onde vai o mar.
Só tu, se nele desejares navegar.
Quem sabe para onde vão as gaivotas.
Só tu, se com elas quiseres voar.
Quem sabe para onde vai o vento.
Só tu, quando o envias em terna missão.
Quem sabe para onde vai o eco.
Só tu, se nas palavras puseres toda a emoção.
Quem sabe para onde vão os sonhos.
Só tu, se os conseguires tornar realidade.
Quem sabe para onde vai o arco-íris.
Só tu, se nesses tons construíres a felicidade.
Quem sabe em que abraços dorme a noite.
Só tu, se lhe abrires os teus braços.
Quem sabe para onde vais.
Só tu, no rumo que desenhares para os teus passos.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Novo ano para Portugal


Portugal,
Dá-nos o alimento,
Para a alma, a vida e o coração.

Portugal,
Põe fim ao tormento,
Deste viver em solidão.

Seca as lágrimas deste mar,
Que nos manteve sonhadores.
Neste cais de tanto esperar,
Os navios das nossas dores.

E se a Europa te abandonar,
Nas marés que te deixam sem norte.
Portugal não deixes de navegar,
E conquistar de novo a tua sorte.

Porque a esperança,
Ainda teima em erguer
As altas velas da confiança
Nas ondas do nosso viver.

Portugal tens um ano novo,
Para revelares o teu valor.
Torna feliz este povo,
Que sempre te deu o seu amor.