quinta-feira, 31 de maio de 2012

Post.it: Porque estou aqui e não aí


Um dia, suponho, vou saber o porquê das coisas que acontecem, que escoam das nossas mãos, que se derramam do coração e que, por mais que queiramos, não conseguimos deter ou desviar a corrente.
Um dia, suponho, vou entender o significado de cada lágrima que derramei em vão, cada clamor que não encontrou eco na gruta de outra existência que, por um fugaz instante, quase tocou a nossa.
Um dia, suponho, vou compreender e tornar mais simples os grandes dilemas do ser humano,  vou quem sabe, encontrar a solução para cada teorema que a vida continuamente me coloca.
Um dia, suponho, vou deixar de fazer perguntas, aceitar o caminho e não olhar mais além do que a vista alcança, quem sabe, então aprenda a valorizar o que vejo e não o que vislumbro num olhar de ilusão.
Um dia, suponho, vou parar de correr para braços fechados. De transpor altivos muros, de rasgar fronteiras. Vou, quem sabe, até deixar de escrever e de dizer palavras que deixas caídas a murchar no chão, como se fossem flores que te esqueceste de regar com um sorriso.
Um dia, suponho, vou ter alguma certeza, mais que não seja a de que me deste o silêncio porque nada mais tinhas para me dar. E nesse dia vou deixar de querer encontrar para tudo um sentido, porque talvez ele nunca tenha sequer existido.
Nesse dia, suponho, vou saber a resposta para estar aqui, justamente aqui e não aí, onde sem saber porquê sempre quis estar.
Um dia, suponho, vou deixar de te sonhar, vou despertar e quem sabe o que esse dia me vai finalmente revelar... Algo de bom, suponho…

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Post.it: Mera aprendiz


O que não daria para ter a tua paz escrita nos gestos que elevas dançantes, quase inebriantes de luz.
O que não daria para ter a tua lucidez, a suavidade das palavras que proferes sem mágoa. Por mais que o caminho te tenha magoado, recusas-te a ser um copioso inverno, “para quê se as flores precisam de sol e eu preciso do seu aroma?” dizes numa voz cantante de rio.
O que não daria para conhecer os segredos do teu destino, aquele que te trouxe até aqui, nessa limpidez de espirito e benevolência.
Então na minha humildade, sublimo-te, piso as pegadas dos teus passos, faço as mesmas pausas para aliviar o cansaço. Imito-te os gestos, mas sinto-os desastrosamente grotescos perto da singeleza dos teus. Bebo as tuas ideias sempre tão singulares na sua quietude, quando tento repeti-las, morrem-me nos lábios porque não fazem sentido na minha boca.
Então paro, desço da montanha que subi para ficar à tua altura e deito-me a teus pés.
 Há pessoas que nunca poderemos igualar, mesmo que tentemos repetir a sua imagem, seremos sempre e apenas uma frágil imitação, uma débil cópia. Porque a sua personalidade nasce de uma fonte mais profunda, lá onde o coração se espraia em longínquos enlaces que tocam com serena doçura o infinito. Aceito a derrota do meu périplo e compreendo que a melhor forma de te homenagear é descobrir contigo e aceitar-me tal como sou, uma mera aprendiz da Vida.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Post.it: Recanto de fantasia


Via-a sempre sozinha, mas sem solidão. Via-a sempre de olhar perdido, mas não triste. Como se soubesse que a felicidade acabaria por a encontrar. Não como se esperasse, mas, com a certeza que virá…
Continua a caminhar sozinha, de olhar perdido, algures, no seu recanto de fantasia.
“Olho aquela estrela cintilando no céu e fico a pensar que tu também olhas para ela. Porque essa é a minha confiança, preciso dessa linha invisível no horizonte para saber que algo nos une no mesmo instante. E fico feliz com esse pensamento, esse pequenino alento, que me basta para me sentir viva no teu existir.
Se depois não acontecer mais nada. Se depois não te encontrar na minha estrada. Talvez não me importe, só isto me basta. Porque me preenche de sonhos e fantasias. Porque me enleva o ânimo. No entanto, sem desejos nem ansiedade, faço da minha saudade, um riacho de alegria, que se alimenta da esperança de te reencontrar um dia, mesmo que demore no tempo da vida. Mesmo que se torne longo no bater do relógio, chegará…
E nesse momento, toda a emoção vai aflorar nos meus olhos. Todos os sorrisos se vão rir para ti. E ver-me-ás de braços abertos. Sem marcas de amargura, como se fosses o começo da minha primeira alvorada, o início do meu primeiro ano, o renascer da minha vida, o princípio do meu futuro. Por enquanto, vou idealizando-te assim, quem sabe, até ao final de mim.”

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Post.it: Rainymood


Como entender certas pessoas que entram na nossa vida e a desarrumam por completo. Que nos desarmonizam, que nos invadem de emoções contraditórias. Sem saber porquê, simpatizamos com elas e questionamos em que gesto, em que palavras nos prenderam no seu mistério que tentamos insistentemente desvendar. E fugimos sem sair do mesmo lugar, partimos, voamos para longe e voltamos, na expectativa de que tudo esteja diferente, mais sereno, mais terno…
Como se isso fosse possível, só um milagre, pensamos, por um momento. Aquele momento que nos faz vislumbrar que se tal acontecesse, perderia o brilho, perderia o encanto primaveril ladeado de graciosos invernos. Porque, sendo de nós tão diferente, desperta a necessidade que temos de ser desafiados, de conquistar um lugar que imaginamos, oásis, no deserto mais árido. O que nos cativa nestas pessoas?
 O seu humor de chuva, o seu olhar de tempestade. Pergunto-me muitas vezes que vendavais lhes invadem a alma, que vulcões lhes transbordam do coração. Mas admiro as suas guerras conquistadas em cada batalha. Porque então, choram e riem ou apenas, dizem, que lhes chove o olhar. Transformam-se em rio e quando julgamos que é de suave corrente, crescem em mar e as ondas engrandecem em palavras que magoam as nossas praias constantemente desprevenidas. Sobe-me o desejo de ser rocha, de lhes amuralhar o ímpeto sarcástico, mas eis que a onda se nos oferece em branca espuma da paz e mais uma vez, acabamos, rendidos ao seu humos, mesmo quando, é de chuva. 


sexta-feira, 25 de maio de 2012

Post.it: Os homens também choram


“Os homens também cuidam, os homens também choram, os homens também sofrem, os homens também amam”. Poderia ser este o mote de uma conversa, mas é simplesmente o desabafo de quem vive a sua história devagar.
Afinal, apreciava um bom debate de ideias, de gosto, uma conversa amena que por vezes aquecia e levava o debate argumentativo um pouco mais longe. Era um gosto que tinha desenvolvido com a sua companheira de uma vida em comum. Que o escutava impacientemente, com os olhos vibrantes de paixão pelas ideias que tentava desmontar. Hoje, diz com amargura na voz, não tem ninguém para o ouvir, que não tem ninguém com quem falar. Por vezes ainda tenta encetar um diálogo com a funcionária que lhe ajeita a roupa, que lhe passa um pente pelos poucos cabelos que teimam em despertar num total desalinho. Mas ela exibe-lhe um sorriso mecânico e afastas-e com a mesma pressa com que chegou, há muito trabalho para ser feito, “muitos velhotes para tratar” além disso, “não lhe pagam para os mimar”.
Os seus olhos mergulham no ecrã que está pendurado na parede. Preferia que fosse uma pintura de Cezzanne com as suas paisagens. Um Degas no seu tom de neblina onde o olhar pode encontrar aconchego, ou, porque não um Matisse vibrante de luz e de cor. Mas não é um quadro o que está pendurado na parede, é apenas um aparelho quase demoníaco de imagens em sobressalto, de sons gritantes que lhe ferem o sentido auditivo, aumentando a saudade de voltar a escutar um Ravel, Debussi ou Shubert, um sorriso desenha-se-lhe no rosto, recordando, “ela gostava de Chopin”, chorava quando ouvia os nocturnos, como se a sua memória navegasse para os longínquos  mares da memória. Começou a sentir-se excluído desse navegar. Então fechava-se no escritório e escrevia, poemas que nunca teve coragem de lhe oferecer. Certamente iria rir-se dos seus poemas, do amor que ainda acalentava no peito. Porque “os homens também amam”.
Lembra-se de quando começou a sentir o seu afastamento, quando se sentia uma sombra no seu olhar, quando ela começou a esquecer o seu nome e o passado em comum, chorou, porque “os homens também choram”.
Lembra-se quando começou a segurar-lhe o braço evitando-lhe alguma queda, porque “os homens também cuidam”.
Recorda-se quando ela partiu, ele partiu também. Ela para o céu, ele para um inferno de solidão. E sofreu, porque “os homens também sofrem”.
Está num lar que de lar apenas tem o nome. Não tem o calor que tinha o dela, não tem o seu sorriso, a doçura da sua voz. Não tem Monet, pintor que ela adorava. Não tem Chopin. Não a tem a ela…

quinta-feira, 24 de maio de 2012

post.it: Carta de amizade


Preferia contar-te sobre as minhas curvas, aquelas que fiz, rumo à luminosidade dos dias felizes. Preferia confidenciar-te as circunferências que me fizeram regressar, não por fracassar, mas por reencontrar o sentido de tudo o que vivi e a que  valeu a pena retornar.
Gostaria de te relatar todas as subidas que encetei, com a certeza que lá no cimo estaria o concluir do meu objetivo. Mas tenho apenas para te oferecer pequenas certezas e demasiadas dúvidas. Relatos de um caminho com demasiadas esquinas, que me expunham a alma na tentativa de conquistar um pouco de mim.
Claro que também conheci recantos, poderia considerar que eram sombrios, mas reconheço hoje que foram refúgios que encontrei no âmago do meu ser para não ter medo de crescer. Poderia fazer-te a descrição de cada lágrima, de cada dor magoada pela incompreensão de alguns olhares. Mas aprendi a construir pontes no peito, para passar por cima desses pequenos rios de águas turvas que nunca foram suficientemente fundos para afogar a minha esperança. Claro que em alguns momentos me atiraram algumas boias, não lhes nego a importância, porque, “A amizade não se agradece, retribui-se em dobro e reconhece-se em triplo”. Espero que, se um dia cair em espiral encontre a tua mão estendida para me agarrar antes de chegar ao fundo. Porque, seja qual for o meu sentido de direção, seja qual for a característica do percurso, nunca o farei sozinha, terei sempre a tua companhia, tal como tu sabes,  que terás a minha…

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Póst.it: O divórcio faz mal ao planeta


Já imagino os comentários mais ligeiros, a  pensar que estou muito defensora do ambiente. Mas retomando a ideia de que as pequenas coisas podem significar muito para a vida na terra e, sobretudo despertando os sentidos para a estreita ligação que a humanidade tem ou melhor, devia ter com a natureza. Um estudo recente que me chegou às mãos,  analisa dados curiosos que muitas vezes não temos noção da sua real importância. A estatística mais uma vez revela-nos as consequências por exemplo do divórcio, não só no núcleo familiar, na sociedade e,  neste caso específico, para o planeta
Numa simples leitura, verificamos que as famílias que se divorciam, ou relações que acabam, formam novos lares, adquirem novos espaços, casas onde os filhos podem estar com um dos elementos dessa família ao fim-de-semana. Há um maior consumo de água, luz e de outros recursos e matérias-primas. As cidades crescem roubando espaços verdes e aumentado por conseguinte o seu impacto no planeta. Este estudo conjuga dados a partir de  2005, e revela que, os custos dos divórcios e separações, exigiu um acréscimo de 38 milhões de quartos, que por sua vez elevaram os gastos com iluminação, aquecimento, locomoção e alimentação.
Além disso, os divórcios e separações produzem mais resíduos e poluição atmosférica, o que contribui para as alterações climáticas e provoca impactos acentuados na biodiversidade. Porque embora as estatísticas não o relatem de uma forma clara, quando o divórcio acontece, muitos objetos compartilhados são lançados no lixo, além de que se comprarem novos utensílios domésticos Sem falar das questões de saúde que os rompimentos acarretam como depressões, faltas ao trabalho, etc.
Por tudo isto e por muitas mais razões que se poderiam analisar, o planeta pede que se pondere amplamente, antes de se tomar uma medida que vai afetar não só a sua vida, a da sua família e a vida na Terra. Que se invista mais nas relações humanas, que se cuide melhor da vida familiar, que se encontre a felicidade na construção do dia a dia, partilhando problemas, encontrando soluções. Para que em conjunto a humanidade e o planeta usufruam beneficamente de uma coexistência pacifica e harmoniosa.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Post.it: O planeta agradece


Falar de crise surge-nos aos sentidos desde logo como uma palavra sinónimo de algo que corre mal. Uma crise é sempre uma coisa negativa, mas uma crise pode ser analisada nas mais dispares vertentes e quando julgamos que já observámos todas, surgem-nos novas hipóteses que nos mudam o olhar sobre os acontecimentos.
Claro que mais uma vez vou falar da nossa crise, não para espraiar lamentos. Mas para verificar que até a dureza lapidar dum Orçamento do Estado nos pode oferecer uma visão diferente da nossa realidade. Pois, segundo o OE, o ambiente está a beneficiar com as manifestas dificuldades económicas que nos afetam desde 2008. Claro que não somos imunes aos problemas que a crise geral nos causa, porque nos é evidente que o dinheiro escasseia nos bolsos, que a economia se está literalmente a afundar, que o poder de compra diminui, que as lojas estão vazias e os restaurante às moscas, que em cada celebração, os presentes são mais modestos e a felicidade uma conquista mais difícil de se atingir quando agregada a fatores económicos. O preço dos combustíveis sobe rapidamente, o que faz com que os carros circulem em menor número. Porém a natureza festeja e as árvores rejubilam com renovada alegria, passaram a respirar melhor. Até a atmosfera está mais límpida e mais leve com menos emissão de gases com efeito de estufa, logo também as nossas vias respiratórias agradecem com entusiasmo. Na União Europeia, registou-se um decréscimo de cerca de 7%. Em Portugal essa redução chegou aos 9%. As famílias começaram a prestar mais atenção aos contadores da água, gás e eletricidade. Contas que podem ser um choque brutal para o nosso orçamento e exigir de nós algumas medidas de poupança, uma vez mais, o planeta agradece. Embora nos pareça que a equação é desproporcional para um dos lados e a infelicidade de uns pode tornar-se estranhamente, a felicidade de outros, o bem-estar da terra, refletir-se-á sempre e diretamente em nós.
Por isso, aproveitemos o que esta crise tem de melhor e despertemos a consciência, para cultivar valores, e para cooperar num espirito de entreajuda.
Talvez seja o momento para despertar das quimeras e reaprender o real valor da vida, afastando-nos da tendência para um consumismo desenfreado, e aproveitando o que sempre esteve ali para nós, a natureza, que é grátis enquanto cuidarmos dela, caso contrário pode sair-nos muito caro
Será que a sabedoria popular tem alguma razão no que diz? “Há males que vêm por bem”?

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Post.it. Nunca peças desculpa


“Nunca peças desculpa, é um sinal de fraqueza”, Foi assim que leu a frase, foi assim que a sentiu e guardou no cofre fechado do orgulho. E, no entanto, bastava um pedido de desculpa para ela o conhecer, bastava esse pedido para ela o receber no peito magoado. Para apagar a história, para atenuar a tristeza.
 Essa palavra, contudo nunca saiu dos lábios dele, nem sequer aflorou no seu olhar. Preferiu desviá-lo, enfrentar as consequências de um final anunciado. Talvez por nunca acreditar que esse desfecho acontecesse, de tão convicto que estava no seu poder de sedução.
Na conquista desse coração que lhe pertencia, por um direito que a sua vaidade concebera. O pedido, nunca chegou. Por mais que o desejasse, ela nunca ouviu essa palavra que lhe acariciaria a alma, uma alma ávida por se oferecer generosamente a um simples pedido de desculpa.
Por fim, percebeu quem ele era, o quanto se enganara na sua avaliação. “O amor é cego”, dizem com algum fundo de verdade.
 O orgulho, acabou por sobrepor-se à humildade para reconhecer que errou, que a magoou. Porque, ele nunca errava, os outros é que o interpretavam erradamente.
“Nunca peças desculpa, é sinal de fraqueza”. Mas esqueceu-se de ler o resto da frase, “Evita o erro, só assim serás forte”.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Chovia no mar...


Chovia no mar, chovia…
Quando a tarde anoitecia.
Quando o céu te procurava.
E o vento há muito te chamava.

Chovia no mar, chovia…
Todos olhavam, ninguém via.
De onde as lágrimas caiam,
Onde essas gotas se escondiam.

Chovia no mar, chovia…
Quando já a dor adormecia,
E a nuvem carregada de água,
Inundava o mar com a sua mágoa.

Chovia no mar, chovia…
Enquanto a saudade partia.
No barco outrora Esperança,
Chamava-se agora Lembrança.

Chovia no mar, chovia…
Nessa noite que já foi dia.
Quando o sol foi repousar,
Sem o abraço terno do luar.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Post.it: O romance de um escritor


Era um escritor famoso, daqueles que  enchem as estantes, daqueles que ganham prémios. Era um escritor de sucesso, daqueles que todos conhecem a obra e o nome, mas não os sonhos, não os desejos, nem os fracassos, as mágoas, a solidão...
“Escreves bem” Era o que ela lhe dizia e, ele acreditava sem acreditar, num misto de modéstia e receio. “Não, não escrevo!” Nem todos os elogios do mundo te bastam, pois não?” Continuava ela.
“Claro que não!” Respondia num ímpeto de confissão, eternamente calada. Enquanto que por dentro o peito lhe gritava “Se escrevesse bem, entenderias, o que digo nas linhas que deixo no papel, nas outras que enuncio e em todas aquelas que silencio. Então não me elogiarias a escrita em palavras que voam nas imensas asas do vento e que me deixam apenas uma sensação de lamento. 
Um lamento que nasce de escrever bem, mas não o suficiente para chegar perto de ti, tocar-te o coração e lá permanecer por um tempo infinito. 
Em momentos  que não são feitos apenas de palavras ditas ou escritas, mas sobretudo de gestos, de olhares que não cabem em todas a linhas dos meus extensos monólogos."
“Escreves bem” continua a ouvir a repetição da sua voz num eco da memória enquanto os anos passam, continua a senti-lo no número crescente de livros que ela lhe inspirou, nos volumes que aumentam enquanto a esperança, continuamente diminui. 
E pensa no que gostaria de lhe dizer, ao olhar para as estantes onde arruma os romances que lhe dedicou,  são “páginas e páginas onde derramei o meu querer e depois de tanto te escrever, continuo a ter tanto ainda para te dizer. Se tu ao menos, ainda me quisesses ler…”

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Post.it: Terras sem sombra


Sou dessas terras áridas pelo abraço quente do sol. Onde a alma se desvanece ofuscada pela visão da charneca florida. E o coração ardente, palpitante desse calor, derrama-se sobre o trigo dourado de tão vastas planícies.
É daí que eu venho, desse silêncio que perpassa o horizonte. Reino de todos os pássaros que entoa uma suave melodia. Uma canção, pensa quem ouve, mas que não é canção mas um chamado, uma resposta que nunca chega para lhe retribuir o eco. O sino entra na  pequena sinfonia e completa o acorde ao compasso das horas. Porque aqui, o tempo tem um ritmo certo. O galo cumprimenta o dia e a manhã espreguiça-se ao levantar-se devagar. A natureza segue o seu pendor de rio com uma amena corrente, não tem pressa, sabe que há-se sempre chegar, lá, onde outras águas se enlaçam num mesmo e terno abraço.
Foi aqui que aprendi a escutar o coração da terra, a conhecer a sua cadência. Foi aqui que aprendi a estender o olhar. Porque não há limites no horizonte e a terra é um espaço longínquo que toca ao de leve o infinito.
Foi aqui que aprendi a apreciar o belo e o divino, do lugar que me fez ser o que sou, caminho que se faz caminhando, cruzando realidades, partilhando vidas, crescendo, aprendendo a ser humilde e pequena para merecer a frescura do escasso arvoredo. E se parti, ali fiquei transportando o calor dessas terras sem sombra.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Post.it: Recordações de uma nota


Quando a conheci, cheirava a nova, soberba nas suas cores ainda muito vivas. Imaculada na textura. Era jovem, demasiado jovem para saber o que o futuro já lhe adivinhava.
Voltei a encontra-la, anos mais tarde, e não tinham passado tantos anos assim, no entanto, mal a reconheci de tão diferente que estava, tinha um trejeito de humildade estampado nos vincos das dobras que as muitas mãos por onde passou lhe deixaram. Tinha restos de lágrimas daquele olhar que mal lhe conseguiu apreciar as cores, nem sentir o  doce sabor de pertença, trocou-a por uma sopa quente que lhe reconfortou o estômago vazio, e recuperou por instantes  o animo que parecia cada vez mais ausente.
Toquei-a, ainda estava quente daquele bolso de tecido gasto onde habitou durante dias, quase meses, sentindo-se acariciada como se fosse um pequeno ou grande tesouro para quem nada mais tinha que aquela nota, que guardava sofregamente para uma maior necessidade que não tardou a acontecer. Lembra-se de como foi difícil partir, sair do porto seguro onde a tinham depositado e fazer-se de novo à estrada. Seguir na boleia de um camião, passar pela máquina de compra de bilhetes. De entrar em restaurantes, de sair das tabernas. De ser um presente meio escondido, envergonhado, por entre outros de maior valor. De ser perdida numa mesa de jogo, de ser roubada a quem nada mais tinha.
Trazia, sem conseguir contar, muitas histórias, muitos segredos, que só o silêncio conhecia, histórias de dor e lamento, de uma noite comprada numa esquina da cidade. Das madrugadas que lhe deixaram cheiro a ribeira, a flores que foram oferecidas como símbolo de bem-querer.
Quando a desdobrei, notei que parecia cansada, o papel envelheceu, adquiriu um toque fino de tão gasto. Quase tenho receio de lhe tocar, de a rasgar. Por fim encontro-lhe outro segredo, versos anónimos, declamam um amor marialva que ainda não encontrou a felicidade.
É um diário de vidas, de sonhos, de lágrimas, de alegrias. Que para todos, não passa de uma nota de poucos euros.


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Post.it: Biografias


Contam histórias de vidas para que não fiquem esquecidas. De onde vêm, para onde vão. O que fizeram, o que fazem para estar aqui, para merecerem ser notícia, para venderem revistas ou livros. E nós que os compramos, por curiosidade ou por admiração nem sempre conseguimos saborear com prazer a leitura que antevíamos enriquecedora. Folheamos cada página, lemos todas as letras com a avidez de quem procura algo, sem encontrar. Porque não descobrimos a verdadeira pessoa, em nenhum parágrafo, não a reconhecemos em cada frase, não a sentimos em cada palavra.
Resta um estranho vazio, uma deceção na nossa esperança de chegar mais perto, de quase lhe sentir a alma vibrante de vida ou de memórias.
Sentimo-nos traídos no ideal que construímos com pequenas sementes afeição. Fechamos o livro e cresce-nos na alma um lugar despojado da sua lembrança, essa que a fez crescer, quase a tornando um herói invencível, incorruptível, sólido, convicto da sua verdade. Fechamos o livro, dessa história que nos deixa órfãos de um modelo que vislumbrámos sem encontrar uma correspondente imagem. Porque, na verdade, todos precisamos de heróis, necessitamos de ídolos, de mentores que nos sirvam de exemplo. Um exemplo de sabedoria, de virtude, para fazermos deles o nosso caminho, para lhe seguirmos as pegadas.
Acabamos por reconhecer, que são apenas seres humanos, como os seus defeitos, com as suas dúvidas.
Não são caminho de ninguém, porque nem eles sabem para onde vão. Sabem apenas que vão. Nós vamos também, talvez acompanhados, talvez sozinhos, enquanto seguimos em busca do destino, escrevendo nele a nossa biografia.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Post.it: Adolescentes dos 24 aos 30 anos?


“Vivemos numa  sociedade que sustenta a imaturidade”. Refere um artigo que li numa revista cujo assunto se referia a adolescentes entre os 24 e os 30 anos. 
Consideram que a culpa é dessa sociedade que não lhes dá condições para “crescer” economicamente e socialmente. Porque os “obriga” a permanecer na casa dos pais cada vez por mais tempo. Porque os habitua a não assumir os seus actos, as suas lutas. 
Curiosamente, este artigo  não aludia à sociedade portuguesa mas à francesa, o que nos faz concluir que estas questões são transversais à Europa e certamente a muitos outros países do mundo. 
O artigo apresenta o depoimento de um “adolescente” de 28 anos, casado e com um filho. Confessa este “adolescente” que não se sente bem no mundo dos adultos, que nem sequer é um universo que lhe interesse. Porque aliás, por adultos considera os seus pais.
Por uns instantes a minha imaginação visualizou a imagem, do seu filho de 4 anos, dirigindo-lhe um olhar inquiridor para aquele pai que não se assumia responsável.
Será culpa dele? Muitos dirão que não, porque preferem imputar essa culpa na sociedade, como se ela fosse o eixo estruturalizante de tudo o que de bom e sobretudo de mau existe ou acontece. 
Onde começa a nosso comprometimento, a nossa escolha, de pais, educadores, formadores e de modelos a seguir, mas sobretudo de cidadãos? Terá este “adolescente” de 28 anos culpa da sua incapacidade em assumir um papel de adulto? 
Talvez essa culpa já lhe seja anterior, herdada dos seus pais. Deixa-nos, a leitura desta entrevista, a antevisão de estranhas balizas geracionais. 
E uma grande questão, será que esta herança vai continuar para o seu  filho, um futuro adulto, que se vai  recusar a crescer, porque o mundo dos adultos é, entretanto, o dos seus avós, enquanto o seu pai eternamente adolescente o conserva para sempre criança?

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Post.it: Lições da Primavera


Por vezes sentimos que nada tem solução, que nada tem sentido. Consome-nos uma dor, que não conseguimos debelar. Porque não é doença, diz o médico com toda a sua certeza científica. Sentimo-nos perdidos, como se o sol já não fosse um farol iluminando a nossa vida. Mergulhamos num Outono e afogamo-nos quase plenamente no inverno em que sentimos a nossa vida. Ouvimos ao longe murmúrios de frases que já decorámos e esquecemos porque nos sufoca a alma ferida. O que nos magoa? Demasiadas coisas, ou quase nada, que mesmo não sendo nada nos impede de ver o caminho. O tempo vai passando, as árvores ficam nuas, mas resistem sem vacilar ao frio e à neve, os solos abrem sulcos rasgados pela força das águas que desabam dum céu que parece enfurecido, gritando rouco, um sem número de expressões que não entendemos. Depois o silêncio, o sol espreita a medo, como um menino que se esconde por detrás da saia da mãe. Por fim revela-se em todo o seu esplendor, as andorinhas rodopiam felizes anunciando a sua chegada, as flores desabrocham e enchem de colorido a paisagem, os ramos das árvores enfeitam-se de novas folhas, os rios do degelo correm alegres cumprimentando as margens. E nós? Seremos capazes de aprender a lição da natureza? Seremos capazes de renascer depois de cada tempestade, de cada vendaval causado pelas tempestades da vida? Teremos capacidade para  secar as lágrimas  e voltar florir a alegria em nós?
Acredito que sim, se, erguermos o olhar para lá de nós. Se observarmos a generosa oferta que a natureza nos faz, ensinando-nos lições de renascimento. Do irromper da semente ao nascer da flor.


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Post.it: O beijo não roubado


“Porque não roubei o beijo que esperava por ser roubado? Fui travada pela minha delicadeza, ou pela minha tacanha educação. Conjugadas com uma volátil  mistura de timidez com uma pitada q.b. de orgulho feminino. E no entanto beijei-te mil vezes, com o olhar e abracei-te outras tantas. 
Sentiste-o? Claro que não. Mas sem o saberes foste a razão da minha felicidade naquele dia e nos seguintes, quando a lembrança me levava nas suas asas de maresia para um lugar que era só nosso. 
Questionei a minha falta de coragem para roubar esse beijo que ainda me dança nos lábios. Mas agora que os dias marcharam sobre os meses e os meses sobre os anos. Fiz de todas as dúvidas a certeza de que te amei intensamente. 
Mas como é possível? Perguntas com incredibilidade na voz. Afinal foi algo tão fugaz... 
Talvez não saibas, mas as emoções não se medem pelo tempo que duram mas pela intensidade que com que se sentem. 
E mesmo sem o roubar, fiquei presa a esse beijo que transformei entretanto, num sorriso.”
Fica no ar a dúvida, quantos beijos ficaram por ser roubados? A quantos ainda estamos presos?  Espero sinceramente que, todos eles se tenham transformado em sorrisos…

terça-feira, 8 de maio de 2012

Post.it: S. Miguel


Se o paraíso existe, ele mora aqui, nesta ilha, pérola verde no meio do Atlântico.
Se o paraíso existe, encontrei-o, em cada curva que nos revela uma paisagem de encanto. Que nos entra pelos olhos, que nos abraça o coração e que sai da boca num suspiro de espanto. Depois…, faz-se silêncio, porque só o silêncio condensa todas as palavras que não sei dizer. E mesmo quando tento, todas as palavras que são sempre insuficientes para exprimir o divino quadro que a natureza nos oferece. Esta mãe da criação que nos surge no seu estado mais puro, mais verdadeiro, talhado por artistas do infinito. Se o paraíso existe, ele revela-se nesta terra, fecunda de esplendor, onde em cada recanto surge uma encosta, em cada miradouro uma varanda sobre o mar. 
Se o paraíso existe, reconheci-o, na majestade da sua vegetação que se ergue serena mas firme no seu objetivo de acariciar o céu. Ou no seu vasto horizonte quando o azul do mar casa em plena felicidade com o verde das suas encostas escarpadas de verde.
Caminhamos sem desistir, aceitamos o desafio de espreitar e descobrir os esconderijos onde a serenidade de duas águas separadas, uma de tom verde a outra de azul, se aninham em abraços de lagoa. Falam as velhas lendas,  de um amor de que restam apenas as lágrimas com a cor dos olhos dos jovens apaixonados porque a lei dos homens não permitiu a sua felicidade. No entanto a  natureza, sempre mais justa, uniu-os na serenidade das suas águas. Ao longe, as cascatas ecoam a melodia da terra, num outro recanto fervilha das furnas um calor que lhe vem bem do fundo, lá, onde mora o seu coração latejante de vida.
A fauna e a flora concretizam o mais belo quadro desta pérola que já não cabe na concha. Para a completar, falta, recolher do seu povo, esse sorriso insular, essa voz que, ressoa cantante, ecos de vento e de maresia ondulante.
Se o paraíso existe, eu, estive lá. Nesse lugar onde a alma ganha âncoras e se sente incapaz de partir sem plantar uma lágrima que não é de dor mas de felicidade, por descobrir tão perto esse paraíso, que, realmente existe...

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Post.it: Uma questão de visão...


 “Vês bem?” Pergunta-me depois dum prolongado silêncio. Como as conversas com ela nunca são meras conversas, começo desde logo a procurar o sentindo do assunto.
 – Depende do que se quer ver, mas suponho que sim. Nunca me faltou visão.
Continua de olhar perdido como se visse algo que eu não vejo. Sigo na mesma direção, não vejo nada, ou melhor, nada de especial. Uma planície despida de árvores, de pessoas. Mas certamente com muito para ver, e ela, parece ver algo muito mais interessante, muito melhor do que a minha vista alcança. Fecho os olhos, talvez a audição me traga essa forma de visão, ouço o vento, ouço o voar dos pardais, ouço ao longe um ribeiro a deslizar. Ouço a sua voz, que me faz sair do meu quase estado de hipnose.
“Não precisas fechar os olhos para ver”. Logo agora que estava a entrar na sua “onda” pensei, ela diz-me que ainda não é isto que devo ver!
– Que devo ver afinal? Pergunto-lhe já num desespero de busca e desencontro.
– "O Bem." É a resposta que me dá, como se fosse um sopro de vento antes de cair no seu habitual mutismo.
O Bem, murmuro em silêncio, enquanto a palavra me dança nos pensamentos. Mas como o ver, se a visão não basta. Como o ouvir, se a audição não o alcança? Talvez ele não esteja nos elementos banais que compõem o nosso dia a dia, com factos e objetos que vemos só talvez, para evitarmos esbarrar neles e nos magoarmos. No entanto, quero acreditar que consigo ver  o Bem, na origem de tudo o que existe, antes de seguir um rumo diferente. Num sorriso, antes de transformar numa lágrima. Num abraço, antes de transformar numa partida. No sonho, antes do despertar…
Sim, é verdade, o Bem não se “vê” de olhos fechados, nem mesmo de olhos bem abertos quando o buscamos no  aparente, no que um rápido olhar nos oferece. Temos de abrir bem os olhos, não o procurar mas encontrá-lo quando o conseguirmos sentir, visível no coração.

domingo, 6 de maio de 2012

Post.it: Mater cor est eterna amor


Será sempre um cais de chegada, um porto de regresso. Será sempre um encontro de paz, uma união de harmonia.
Então porque me sorri o peito? Talvez de concordância, reconhecimento ou  de alguma discordância, distanciamento…
“Estendo a lembrança à outrora adolescente que fui, impaciente por passar a fronteira, deixar de ser criança e impor-me como aprendiz de pessoa adulta, gritando nãos só para não aceitar os sins. Mas depois das mágoas, das batalhas perdidas, sabia que podia sempre regressar ao meu refúgio com a certeza que ele estava lá para mim. Nele depositava todo o meu sentimento de confiança. Hoje, desloco o olhar para os seres que coloquei no mundo, encontro neles a mesma fervilhante rebeldia,  mas o meu sentimento, agora, é de esperança no caminho que os faça retornar ao carinho que os criou”.
Porque mesmo que o síndrome de gerações se coloque entre nós, sabemos que haverá sempre um cordão umbilical inquebrável e, que depois de tudo, até depois das pequenas tempestades. Rasgaremos o nevoeiro e encontraremos o regresso a esse porto seguro.
“Porque também somos filhos, sabemos que  há sempre um momento em que precisamos de ser embalados por uns  braços que nos conhecem como ninguém.”
Em abraços que são  canoas a navegar nos mares da vida, a transportar-nos no corpo, a acalentar-nos na alma e a eternizar-nos no coração. Herdeiras dum legado de esperança que passa na corrente sanguínea, uma célula perfeita que já vem destinada a chamar-se Mãe.
Porque “Mãe é o coração do eterno amor”.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Post.it: Conta a minha história


"Conta a minha história, porque só tu a sabes contar. Conta a minha história, não quero que caia no esquecimento, nem quero que se transforme num lamento.
Escreve as minhas memórias, por curtas e vazias que possam ser. Só tu a sabes contar, encher de sentido e mostrar que não foi uma história vivida em vão. Que valeu a pena ter estado aqui deste lado oculto do sol, convivendo com as minhas sombras e, porque não reconhecer, com algumas luminosidades. Conta a minha história, preenche-lhe os momentos tristes com a tua serena alegria, porque foram muitos, demasiados para que só eles fiquem registados. Não te esqueças de contar que lutei, que nunca desisti. Que a cada queda me reergui. Inventa-me alguma coragem, aquela que não tive para romper os grilhões do destino e reescreve-lo com novos caminhos. Não precisas de colorir cada capítulo, mas também não lhe dês tons demasiado cinzentos. Não fales só dos meus invernos, não me vistas de tristeza, preciso que me idealizes princesa mesmo que no meu castelo de cartas. Preciso que me pintes alguns sorrisos que o rosto endurecido, já não sabe esboçar. Atenua-me as rugas, molda-me algumas curvas na alma, alguma ternura no coração.
Conta a minha história, da forma como tu sabes. Como se fosse uma Mona Lisa pintada por palavras, aquelas que só tu conheces quando as deixas florir no peito. Sei que serás generosa com os elogios, porque tens um olhar complacente. Sei que tornarás suaves as minhas falhas, que encontrarás uma forma de justificar os meus erros. Sei que me tornarás melhor do que sou. Mas ainda assim, peço-te, sê benevolente comigo, sê paciente com a minha impaciência para ler o final que me escolheste. Se não for pedir demais, inventa-me um final feliz. Mesmo que não seja real. Assim, certamente vão gostar de mim, na tua história…"

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Post.it: O tempo sem tempo marcado


O relógio da nossa existência não bate no mesmo ritmo do relógio mecânico que transportamos no pulso. Porque a vida não consegue adaptar-se à rapidez com que se sucedem os dias. Nem apagar os acontecimentos que nos entristecem, na sucessão dos meses. Ou adaptar-se à ligeireza com que passam imparavelmente os anos.
Há dias que nos duram na alma como se fossem anos de espera e chegam ao fim sem sucesso algum para relatar. Há anos que narrados ao pormenor não preenchem a totalidade de um dia. Há amigos, que permanecem nas nossas vidas por tempos infinitos e que no entanto, a recordação que temos deles só leva uns minutos a contar.
Há amores que guardamos por anos, que nunca chegam a ser concretizados e que duraram mais, muito mais que os acontecidos. Amores que nos deixaram no olhar da esperança, beijos e abraços que nunca chegaram a ser trocados. Há pessoas que caminharam ao nosso lado por meses e, nos trouxeram a importância de anos.
Quanto ao tempo, esse de que somos feitos, mesmo quando o tentamos arrumar nos 365 dias do ano, nem sempre o conseguimos acompanhar, porque ele não nos dá uma pausa, para nos permitir retomar o fôlego. Mesmo quando as tristezas insistem em prolongar a sua estadia por meses, anos.
Mas há acontecimentos que nos marcam de tal forma, que nos acompanham pelo resto da vida. Que não se apagam com o simples virar da folha do calendário: os nascimentos, as mortes, a conquista dum sonho, o final de algo que desejávamos que fosse eterno e, outros, muitos outros que permanecem indefinidamente em nós.
Porque em cada viagem que iniciamos, nesse tempo, sem tempo marcado, não devemos valorizar somente a chegada, nem lembrar apenas a partida. Devemos sobretudo, apreciar  a paisagem do caminho que vamos conhecendo. Porque é esse tempo que vai brilhar no nosso olhar quando o sol desaparecer do horizonte. Quer se chame saudade ou desejo de o viver. É esse compasso que vai dar ritmo ao coração para nos levar a novos capítulos da nossa história. Num tempo em que tudo parece efémero, vamos afastar o olhar do relógio e aproveitar o tempo das emoções, esse que constitui a verdadeira essência do nosso tempo.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Post.it: Os telemóveis fazem bem à saúde


Esta não é uma afirmação retirada de algum estudo médico ou científico, cheio de teses e argumentos. Mas está provado que os telemóveis fazem bem à saúde. À saúde física, à saúde mental, emocional, à tristeza, à solidão…
“Porque, quando precisei de ti, estavas lá, sempre com tempo para me escutares. Sempre com as palavras que necessito de ouvir. Com lágrimas na voz, solidárias com a minha dor. Com gargalhadas de paz para me reconciliares com a vida. Com argumentos que me abraçam, firmes como um cais onde descanso os meus medos. E sem te ver, adivinho-te as expressões, a doçura do olhar, o desenho das linhas do teu rosto.
Não são rugas, digo-te sempre, com alguma inveja, são sorrisos, esses que nunca recusas oferecer, mesmo que deixem caminhos que se aprofundam na tua pele, são caminhos felizes, dizes, sem perder o sentido de humor.
Enquanto eu, que poucos vincos de expressão tenho, sinto a rapidez com que as lágrimas deslizam sem se deterem, nem me permitirem que sobre elas faça uma reflexão mais profunda, anulando-lhes a sua real importância.
Muitas vezes, falo contigo apenas por 5 minutos ou 1 hora, não é o tempo que importa, mas a paciência com que me atendes e sei que entendes. A minha solidão, o meu coração. E quando desligo o telemóvel, sinto que estive verdadeiramente contigo. Momentos em que dás sentido à palavra amizade e esvazias de significado o conceito de distância.
Em  todas as vezes confirmo que o telemóvel faz bem à saúde.”