sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Feliz Ano Novo

De repente, num momento fugaz,
Os fogos de artificio a estalar,
Anunciam um ano novo a chegar,
O ano velho acena e fica para trás.

De repente, há uma alegria,
Há uma renovada esperança,
Que parta a amarga lembrança,
E que a felicidade nos sorria.

De repente, em qualquer nação,
Língua, credo, origem ou cor,
Só se fala de bem e de amor,
Dando asas ao querer do coração.

De repente, voltamos a acreditar,
Que o mundo é o nosso lugar,
Que só temos que dele cuidar,
Para que se torne real o sonhar.

Um Novo Ano cheio de prosperidade,
É o meu desejo mais sincero e profundo,
Não fique triste, se não poder fazer tudo,
Desde que o que faça seja com bondade.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Post.it: Natal hoje

Depois do dia de Natal, há um outro Natal que ainda sentimos em nós. Depois do dia de natal há um cansaço que nos deixa felizes e, tudo começa devagar, desobedecendo ao ritmo do relógio. Olhamos em redor, as luzes da árvore de Natal continuam a cintilar, as figuras do Presépio continuam a sorrir-nos, a casa cheira doces. Sentamo-nos no sofá, o olhar ainda não está refeito de tanto que viu, o rosto ainda guarda os sorrisos do dia anterior, então, sem pressa, começamos a desembrulhar as lembranças, não aquelas que vêm cobertas de papel colorido mas as que nos chegam através de cada pessoas que se cruza connosco, que nos estende um abraço, que se senta ao nosso lado, que partilha memórias, vivências, como correu o ano desde o Natal anterior. As novidades, os sucessos, as mágoas, os nascimentos, as partidas, as vidas de cada um que tocam a nossa com maior ou menor profundidade. 
Essa troca de sentimentos, essa partilha de momentos, os risos, os silêncios, de tudo isso é feita a festa e, o Menino Jesus, na manjedoura deitado, assiste a tudo, não como quem pede atenção sobre si, mas como quem nos incita a continuar a celebração, orgulhoso com o sucesso de uns, solidário com o fracasso de outros, num incentivo de esperança para que prossigamos Para que a cada momento renasça em nós a força que nos é coragem. Porque como li uma vez,  “coragem não é ter força para prosseguir, mas o prosseguir mesmo quando nos falta a força”. Que o Natal enquanto sentimento de confiança, fé, ânimo, expectativa e alegria, continue sempre presente em nós.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Post.it: O Natal é das crianças

"O Natal é das crianças". Sim da criança que existe em cada um de nós. Uma criança que nos faz sorrir nos dias tristes. Que nos dá esperança nos momentos de desalento.
É essa criança que nos faz enfeitar a nossa casa e as ruas, que nos faz ver os outros com  um terno olhar. Que nos faz desejar a todos um Feliz Natal, como se isso significasse um acontecimento que se repercute por todos os dias do ano.
É essa criança que nos salta no peito e para fora dele em corridas loucas para comprar ou fazer as lembranças para todos os entes queridos. E que essa lembrança em forma de um  presente que se oferece, seja a partilha de um afecto, de um momento especial em que lembramos e somos lembrados, em que amamos e somos amados.
Natal é o momento em que a ternura do ser criança se derrama sobre a terra. Que a alegria de criança nos contagia. Que a inocência de criança nos faz de novo acreditar. Que a coragem de criança nos faz renascer.
Que a vontade de criança nos faz ultrapassar os obstáculos.
Que a paz das crianças põe fim às nossas guerras interiores.
Natal é das crianças, por isso, deixem ressurgir a criança que há em vós e sejam felizes neste e em todos os Natais que vos aconteçam diariamente.



segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Presentes de Natal

Para o teu inimigo, confiante perdão.
Para um filho, educação com afeição.
Para um mau vizinho, muita tolerância.
Para qualquer chato, eterna paciência.
Para um terno amigo, o teu coração.
Para um familiar que precisa, dedicação.
Para o teu amor, todo o teu carinho.
Para cada ave canora, o mais fofo ninho.
Para os mais necessitados, caridade.
Para mim, a mais generosa humildade.
Para todos vós, uma vida de felicidade.


sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Post.it: Melancolia

Que olhas de olhos fechados? Que procuras ai parado? Quantas dúvidas nos suscita a certeza de busca em nós de tantos vós. Certeza efémera esta perene dúvida em que vendo tudo à nossa frente, nada encontramos. Labirintos onde perdidos do universo redescobrimos o nosso mundo.
Solidão, diz quem passa. Solidões prefiro anuir, porque há dias assim e outros que assim não são.
Se ao menos fossemos pássaros, se ao menos pudéssemos voar, mas não, estamos presos a este planeta pela força da gravidade que nos circunda.
Mentiras que contamos para nos convencer que não somos livres. Quando as únicas grades que nos impedem de partir são os grilhões da consciência. Feliz de quem não a tem, pareces dizer enquanto observas o vazio.
Um vazio que não está no olhar, um vazio que já ultrapassou os limites do horizonte, que mergulhou em ti, que se perdeu em mim e juntos na nossa contínua distância prosseguimos estrada fora.
Tu estátua inerte suscitando tantos movimentos ao pensamento de quem como eu passa e para, nem que seja só para ver o que tu vês, a vacuidade que nos impele a ser matéria de preenchimento.
Quem lhe roubou o coração? Quase nos apetece perguntar. Mas não é só esse órgão que lhe falta. Falta-lhe toda a essência que o humaniza, toda a atitude que o revela feliz. 
Estranha ilusão de óptica que nos constrange e angustia, olharmos para ti e vermos por alguns momentos assustadores a nós…


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Post.it: O pinheirinho de Natal

Era uma vez um pinheirinho que vivia no meio da floresta, rodeada pela sua família e muitos amigos. Todos os anos por altura do Natal vinham pessoas de todos os lados e escolhiam os mais belos para levar consigo. Mas o pinheirinho lá ficava, nunca ninguém o escolhia. O pinheirinho ia ficando vez mais triste, perguntava aos outros pinheiros a razão de nunca ser escolhido mas ninguém lhe sabia responder, então convenceu-se que devia ser um pinheirinho feio e desenxavido de quem ninguém gostava.
Entretanto, mais um Natal se passou, veio o seguinte e o pinheirinho continuava na mesma floresta rodeado que amigos que partiam e de outros que chegavam.
Durante esse tempo questionava-se para onde iriam os seus amigos e familiares, todos lhe respondiam que iam para uma festa linda, ficavam em casas enfeitadas e que lhes colocavam bolas e luzes coloridas, por vezes ficavam rodeados de prendas que as pessoas abriam com espanto e alegria. Contavam-lhe também que numa noite especial todos se reuniam com familiares, cantavam canções a um menino a quem chamavam Salvador do mundo, que era uma criança muito amada e que amava todos os que festejavam o seu nascimento. Na manhã seguinte a festa continuava e as prendas que não tinham sido abertas na noite anterior eram agora distribuídas pelas crianças que vinham ainda em pijama procurar a oferta que o Pai Natal lhes trouxera pela chaminé.
 – Pai Natal? Questiona o pinheirinho, - Mas não era o Menino Jesus? E os amigos respondem-lhe, - Cada lar, cada família tem a sua tradição, há quem celebre o nascimento de Jesus, mas também escrevem ao Pai Natal para que lhes traga uma prenda especial. No fundo, o que importa é o espírito que envolve cada pessoa. No Natal todos se sentem mais generosos, todos sentem saudades dos que não tiveram tempo de abraçar durante o ano inteiro. No Natal todos se sentem unidos, trocam-se as mágoas por sorrisos e as ausências por beijos e abraços.
Perante esta história, o pinheirinho ficou ainda com mais vontade de vir a ser escolhido, de ser enfeitado e fazer parte da festa natalícia. E nesse ano uma família escolheu finalmente o pinheirinho. Arrancou-o com cuidado sem ferir as raízes.
 – Vamos levar este pinheirinho, é pequenino mas lindo, depois do Natal voltamos a planta-lo para que continue a crescer.
E foi assim que nesse ano e nos seguintes o pinheirinho esteve numa casa, foi a alegria de uma família, enfeitado, cheio de luz, sentia-se feliz como nunca pensara vir a ser.
Os anos passaram e o pinheirinho cresceu, mas cresceu tanto, que já não cabia em nenhuma casa, então foi convidado para ser o pinheiro de Natal dessa cidade, ai foi colocado, enfeitado e cheio de luzes, todas as pessoas chegavam para o verem. Em 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1 e o pinheirinho, agora uma linda e frondosa árvore acendeu as suas milhares de luzes para dar as Boas Vindas ao Natal


sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Post.it: Histórias da outra margem

Lembro-me de ouvir histórias, não vinham dos livros mas das vozes. Não sei se eram reais ou inventadas, mas ouvia-as, sentia-as como se fossem verdadeiras, faziam-me rir, por vezes chorar.
Eram histórias de pessoas sem rosto, mas de imediato as imaginava e elas saltitavam-me nos sonhos depois de adormecer. Pessoas que não tinham nada e que pareciam ter tudo, porque tinham o essencial, a esperança, a união da família, o trabalho honesto, a dignidade, o sentimento de honra.
Com filhos, aquelas crianças que não tinham brinquedos mas brincavam mais, muito mais do que as outras que tinham tudo, menos imaginação para construir histórias e serem felizes através delas.
Lembro-me de as sentir como se fossem histórias da outra margem, uma margem que não era geográfica, que não era atravessada por um rio ou mar, mas uma fronteira de sombras de onde surgiam vozes para as contar. Pareciam-me vindas de longe, de um lugar distante, de um tempo longínquo.
Tinham sempre um princípio de verdade, mas depois caminhavam de boca em boca, de memória em memória, de geração em geração e de repente eram outra história, tão distante da original, feita desse viver de sol a sol. 
Homens e mulheres carregados de escuridão, cansados da miséria, à noite pegavam nos filhos ao colo e junto à lareira, quase único aconchego, falavam de vidas iguais às suas mas que tinham ganho asas de fantasia e que no final da noite, já com os olhos meio fechados de cansaço e de sono, foram, felizes para sempre.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Post.it: A minha inocência

Algures entre a infância e a adolescência, perdi-te. Eras a minha alegria, a minha esperança, o que me fazia sonhar e acreditar que tudo era possível. Eras o meu eu mais franco, mais livre, mais espontâneo. Eras o meu eu mais inteiro, verdadeiro, sólido e ao mesmo tempo frágil e terno. 
Enchias-me os dias de luz, preenchias-me as horas de ventura. Eras as minhas asas, porque sim, acreditava que as tinha, e, voava por mundos maravilhosos. Bastava abrir os braços e de imediato recolhia abraços, bastava quase cair para mil braços me ampararem. Bastava dizer dói e todos perguntavam onde. 
Depois, sem saber como perdi-te. Sem perceber onde desencontrámos-nos. E os nossos caminhos nunca mais se cruzaram. 
Cresceu-me um silêncio, avassalou-me uma escuridão, dominou-me um medo, senti-me só, tão só, sem ti. 
Eras a minha alma, o meu ânimo, a força motora dos meus passos. Eras a minha meta sem horizontes, a minha coragem de negar entraves e derrubar fronteiras. Dizia tantas vezes, eu consigo, afinal descobri, que sem ti não consigo, que sem ti pouco ou nada sou. Que se eu era barco, tu eras a âncora. Se eu era mar, tu eras cais. Que podia voar porque tu me eras ninho. 
Todos riam de nós, do nosso enlace, da nossa firmeza, não lhes ligávamos, sabíamos que éramos felizes. Confiei que era para sempre e sem fazer caso dos teus avisos, dos teus cuidados, aventurei-me a crescer sem ti. Rejeitei-te, neguei-te. Vi-me crescida no espelho e pensei que isso bastava. 
Fui descobrir o que era ser apenas eu, sem ti. Cai e nenhuma mão se estendeu, abri os braços e voltei a fecha-los vazios. Doeu e ninguém curou a minha ferida. 
Pensei, estou sozinha, responderam-me que apenas me tinha tornado adulta. 
Não! Gritei, não quero ser assim, quero voltar para ti, mesmo que te chamem ingenuidade, inocência, que se riam de nós por ainda acreditarmos que o sol brilha quando lhe sorrimos. 
Volta inocência, para voltar a voar sem asas, para voltar a ter confiança.  
Preciso de ti para sentir em mim a nossa felicidade.


sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Com o tempo aprendi...

 Que o outono não são,
Apenas árvores despidas.
Que o Outono não são,
Sempre gestos de despedidas.

Que os passos é que vão fazendo,
Os caminhos do nosso longo viver.
E as lágrimas que vamos escondendo,
Nem por isso nos deixam de doer.

Com o passar dos dos anos aprendi,
Que o tempo não é um passageiro.
Que ele por nós sempre estará aqui,
Como um amigo e fiel companheiro.

Que o universo é uma casa sem paredes,
E cada pessoa é um vizinho do lado.
Que o horizonte é um mar com redes, 
Onde o nosso olhar se prende maravilhado.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Post.it: Os nossos silêncios

Sou daquelas pessoas que tem sempre algo para dizer, algo para contar, não banalidades ou comentar sobre a vida dos outros. Mas sou faladora, gosto de falar, de contar os filmes que vi, artigos interessantes que li, coisas sobre novas descobertas tecnológicas e científicas. Só não me meto em discussões sobre política e religião, respeito a opinião de cada um, mesmo que tenham uma opinião diferente da minha.
Nessas alturas, prefiro calar-me por fora, porque por dentro, contínuo em longos debates a tentar perceber as diferenças.
Na realidade, tenho dificuldade em fazer silêncio, aquele silêncio em que não há nada sobre o que falar, sobre o que pensar, um vazio em que pairamos acima das coisas ou mergulhamos em nós e percebemos a insignificância das nossas lutas de opinião. Tento silenciar a mente, não desisto à primeira, insisto uma, dez vezes, há que parar, relaxar, descansar o corpo e a mente, apenas respirar e seguir nesse embalo.
Esquecer a pressa dos deveres, obrigações que nos impõem, que nos impomos ao ritmo inflexível do ponteiro do relógio.
Mais uma vez, regresso a mim, torno possível o impossível, calo-me. É então, nesse silêncio que encontro todas as palavras a esvoaçarem-me a cabeça como nuvens carregadas de acontecimentos ameaçando um deflagrar a qualquer momento. Inspiro e deixo o ar sair-me lentamente dos pulmões, como se fosse um cansaço milenar.
As palavras deixam de ter importância, na verdade era a importância que eu lhes dava, porque nunca a tiveram e, partem sem serem ditas, sem ganharem som.
Agora sim, há silêncio, mesmo que lá fora se ouçam as buzinas dos carros, as pessoas nos seus passos apressados, os toques de telemóvel quando tocam todos em simultâneo compondo um estranha sinfonia de falsos acordes.
Em mim há um silêncio temporal, como se o relógio tivesse feito um impasse de espera, talvez cansado das suas eternas badaladas. Há um silêncio existencial, como se a vida, também ela, parasse, sem ser uma morte nem um renascer, apenas um intervalo, sem sono, sem sonho, apenas o leve e sereno, existir.
Pouco a pouco a consciência devolve-nos à realidade e percebemos dela apenas a sua importância relativa, aquela que lhe damos. A pressa e o peso que lhe atribuímos. Claro que há prazos, assuntos por resolver, coisas para fazer, compromissos inadiáveis, etc., etc., tanto por fazer, tanto por dizer… Sim, é verdade, há tudo isso, mas também há o silêncio, a calma, o parar, a forma de o olhar. Está tudo em nós na forma como gerimos as nossas emoções, um lugar onde em segurança, nos encontramos, nos resolvemos, nos equilibramos e a forma como criamos os nossos momentos felizes de silêncio.


sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Post.it: Aquela praia deserta

Os meus olhos são de mar, confundem-se por vezes com o céu, dizem-me que chegam a escurecer nos dias tristes, quando a nostalgia se torna um barco e me navega. Era assim que começava a falar de si com a voz arrastada das recordações.
Mas eu, continuava, prefiro a segurança de um cais, digo que sou praia invés de mar, essa praia deserta onde cresci, onde cresceu o meu pai e toda uma geração que nos antecedeu. Nessa praia ainda encontro os maus passos; riem-se os amigos desta frase; “são passos novos, os velhos foram levados pelo mar”, dizem-me, mas eu, que vejo mais longe no horizonte, continuo a encontrar os meus passos juntos com os da minha mãe, quando fazíamos longos passeios, os das brincadeiras com os meus irmãos, outros mais adiante, caminham juntinhos, suspiro, sim, são os meus e os do Miguel, que há muito partiu para, outras praias…
E o farol, cada vez que venho até cá, abraço-o. É um amigo, confidente, um pilar da minha história, quantas vezes foi a minha força. Numa confiança que vem dos tempos de criança, de que só ele sabe o caminho, a resposta silenciosa para as minhas gritantes dúvidas.
O areal, sempre o areal onde pousam as gaivotas, já não fogem à minha chegada, desviam-se, dão-me um pouco do seu espaço, sabem que aquela também é a minha casa. 
Tudo isto, sou eu, o ADN de que sou feita, que me circula nas veias com células carregadas de memórias, de histórias que vivi, que conto,  reconto e invento para adormecer a alma que à noite se aconchega numa duna de sonho com um teto de luar sob o olhar luminoso do meu velho amigo farol.


segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Post.it: 1000 post'its

Sim,  verdade, já lá chegámos, no início, julgamos que seriam apenas uns quantos, que as palavras se esgotariam. Que cresceria o silêncio, que ficaríamos por aqui, em busca de outras formas de vos contarmos, quiçá de vos encantarmos por entre as linhas, aquelas que querem dizer muito mais do que dizemos.
Mas as palavras sendo as mesmas, surgiam diferentes, e inesgotáveis, assim, chegámos às mil mensagens, mil formas de falarmos de nós, de deixarmos algo em vós. Mil sinónimos de emoções, mil milhões do bater do coração. Mil linhas, não,  muitas mais. Mil sonhos entre os sonhados e os por sonhar. Mil vitórias, outros tantos fracassos. Mil lágrimas, que espero tenhamos secado, mil sorrisos, que espero, tenhamos provocado, mil dores, que desejo, termos atenuado.
Mil momentos, instantes, pedacinhos de vida, da nossa, da vossa que ficaram aqui presos na “rede” web, mas soltas no espaço. Livres para chegar onde de outra forma nunca chegaríamos. Saímos da nossa “gaveta” da nossa casa, do nosso bairro, do nosso país, do nosso mundo, viajámos pelo vosso universo.
Nas mais variadas formas da prosa e do verso. Contámos a nossa história, escrevemos a vossa história. Relatámos os nossos dias, fomos a vossa fantasia. 
E depois de termos ido tão longe, queríamos apenas chegar tão perto, a ti. A cada um de vós que nos deixou entrar no vosso coração e abraçá-lo. Estamos aqui não pela quantidade de palavras, não pela dimensão de cada post.it. Estamos aqui porque queremos estar convosco. Estaremos aqui, enquanto quiserem estar connosco, porque são vocês que nos inspiram, para quem sabe, mais mil post.its.


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Post.it: Coisa de avó

Já temos um bom bocado de história. Já temos o que contar, já temos o que recordar. Já temos pedaços de tempo, ondas de mar, estrelas do céu. Já apagámos velas, já celebrámos, já contámos as passas no início de cada  ano, é disso que se faz a vida, dessas pequenas/grandes coisas que nos preenchem os dias, os meses e aos poucos, os anos.
Por vezes esquecemos-nos dos anos, outras vezes apenas tentamos esquecer, fingimos que não nos lembramos, recusamos celebrá-los, não por estarmos de mal com a vida mas porque eles nos lembram a nossa finitude.
No entanto, é ela que nos ensina a valorizar a infinitude de momentos que podemos viver, partilhar, oferecer, construir.
Recordações, tantas, vão crescendo em carinho, diminuindo em detalhes. Sinto-me por vezes como um quadro que de tanto ser vislumbrado pelo sol vai perdendo a cor, os traços, os contornos tornam-se imprecisos.
Está velho e feio, diz a minha neta sem aquela malicia de quem se alheia de tudo o que não tem valor. Afago-lhe o rosto de menina ainda na tenra idade, “está igual a mim, também estou velha e feia”.
Com a mesma franqueza com que falou do quadro, “não Vó, tu és linda…, hesita, percebendo o peso das palavras, o quanto elas podem doer em corações frágeis, “bem, já és velha, mas… de uma maneira boa”.
Agradeço-lhe a “mentira”, que talvez não o seja, totalmente, quem ama vê com os olhos do coração. Por isso é verdade, para ela, sou linda.
Olho-me no espelho, uma amigo que me olha sem complacência, que me revela o que sou, com a verdade mais crua. Quem ali está sou eu e cada retalho do meu destino, rugas que escrevem no rosto caminhos por onde andei.
Aquela ruga nos cantos dos lábios, nasceu do sorriso por cada vez que olhava para os meus filhos. Aquela outra, mais profunda, perto dos olhos, lembro-me dela, surgiu no dia em que o meu companheiro de décadas partiu.
Outras muitas outras, umas de alegria ou de tristeza, talvez um dia as esqueça, mas elas vão estar sempre ali, para me contar a história do que fui, do que sou. 
Como dizia uma amiga, “a beleza não desaparece, com a idade, ela sai do rosto para se esconder no coração”.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Post.it: Sozinhos

Sozinha sou uma pétala,
Contigo seremos a flor.
Sozinha sou um grão de areia,
Contigo somos uma praia.
Sozinha sou uma gota,
Contigo somos um oceano.
Sozinha sou a solidão,
Contigo somos a humanidade.
Sozinha sou um passo,
Contigo somos o caminho.
Sozinha sou uma letra,
Contigo somos um livro.
Sozinha sou uma ilha,
Contigo somos o mundo.
Sozinha não sou nada,
Contigo somos o universo.
Somos o que somos,
A luz ou a escuridão.
Mas pouco nós somos,
Se formos um só coração.


sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Post.it: Santos

Há santos no altar, onde os olhos se colocam em oração. Mas há tantos outros que lá não estão e que nos esquecemos de olhar e de lhes agradecer o bem que fazem. Gente anónima, que passa quase discreta, que passa por nós e se nada mais tiver para nos dar, deixa-nos um sorriso. Nós que nos habituamos a rostos carrancudos cujo olhar foge apressado, aquele sorriso, aquele olhar mergulhado no nosso, surpreende-nos. Talvez não façam grandes milagres mas é nos pequenos que está a revelação da sua virtude.
Todos precisamos de “milagres”, não precisam de ser grandiosos, mas por vezes até os mais simples e aparentemente frugais, são o que necessitamos, são eles que nos “salvam” de ir por caminhos errados, que nos erguem, dos que estão presentes quando deles necessitamos dos seus milagres.
São milagres como o da amizade que ampara, da companhia que afasta a solidão, o milagre da generosidade que apoia quem mais precisa, o milagre de quem cuida dos outros,  o milagre da partilha em que não dá o que tem mas o que é como pessoa. Celebrou-se ontem o dia de Todos os Santos, dos que se imortalizaram e dos que passam ao nosso lado e nos abençoam com a sua existência.


segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Palavras de algodão

Precisamos de palavras,
Palavras de algodão,
Que nos entrem no coração.

Como se tivessem asas,
E nos tocassem sem magoar,
Para à noite nos aconchegar.

Se as tiveres contigo,
Não as escondas qual avaro.
Partilha-as com um amigo,
Num momento generoso e raro.

Se não as conseguires encontrar,
Em ti ou em longínquos lugares.
Não desistas de as procurar, 
Nem tão pouco de as semeares.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Post.it: A magia outonal

Há uma certa magia nas palavras outonais, que como as folhas caiem, mas ao caírem ganham uma outra vida, mais serena, mais amenizante, mais cicatrizante. As chuvas ainda entrando tímidas na terra, com receio que lhe cobrem o atraso, buscam uma desculpa escondida por entre os ramos das árvores. O céu enfeitado de nuvens cinzentas, parecem carregadas não sei de que mágoas que escondem do olhar atento do astro rei que as perscrutam sem as demover a revelar os seus segredos.
Outro dia, li o título de um livro, “Esse mar somos nós”, sem conhecer o sentido destas palavras, elevo-as e penso nas nuvens, (essa mágoa somos nós), talvez, quem sabe que destino levam as lágrimas depois de caírem dos olhos, de tombarem no chão, de rolarem pela rua, de mergulharem no rio e de se evaporarem pelo ar. Não chegam a ser mar, mas continuam a ser nós.
E depois há este silêncio outonal, nem as aves ecoam melodias, como se o tempo parasse, não há passos, nem vozes, não há buzinas, não há pressa. Parece uma noite em que tudo nos adormece, em que tudo se nos entorpece, a vontade, o querer, mas não, é apenas um final de tarde de outono.
Parece simplesmente que esperamos, em suspense do que acontece, do gesto seguinte, de cada início, de cada final e por fim ela cai, morre como quem nasce, com uma beleza quase divinal, a última folha daquela árvore já de todas as outras folhas despida. Há sempre uma que teima em ficar, em pedir mais tempo para encetar uma nova história, uma nova memória.
Uma criança que por ali brincava apanha a folha, oferece-a a uma amiga e ela corando um pouco, guarda-a amorosamente por entre as folhas do livro escolar, um dia ainda vai olhá-la com saudades deste outono, sentindo-a não como se fosse uma despedida, mas o começo, quem sabe, de um final feliz…



segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Post.it: A Inácia

 Outubro faz-me sempre lembrar o começo das aulas, o cheiro de livros e cadernos novos, a mala da escola (no meu tempo era de cabedal), a roupa nova para o primeiro dia. Na noite anterior nem dormia com a ansiedade desse regresso, do reencontro com as coleginhas, (naquele tempo não tínhamos telemóveis  para nos mantermos em contacto durante as férias). Mas era bom, as saudades eram maiores, as surpresas eram muitas, as histórias sobre o verão eram  maravilhosas, (cheguei a pensar se algumas dessas histórias não seriam fruto das suas fantasias, por isso acrescentava algumas às minhas histórias tão pouco interessantes). Lembro-me de um ano em que o regresso parecia igual mas que rapidamente se tornou diferente. Os passos no caminho para a escola eram lentos demais para a minha ansiedade, então, deixei os olhos voarem e chegarem lá antes de mim. 
Vi ao longe um grupo de colegas, formavam um círculo grande mas repleto de curiosidade que de imediato chegou até mim, queria chegar, queria ver, queria saber, o que se passava. Larguei a mão da minha mãe e corri, cheguei lá e rompi o círculo. “Mas afinal, o que se passava? No centro do círculo estava a Inácia, com um ar assustada. Não entendi aquela atitude, aquela surpresa, aquela distância, corri para o centro abracei a Inácia e comecei logo ali uma conversa questionando-a sobre as férias. 
Ela olhou-me triste, quis sorrir sem conseguir, como resposta à minha avalanche de perguntas encolheu os ombros, depois, deu-me a mão e saímos do círculo enquanto passeávamos à volta da escola. Íamos lado a lado, de mãos dada, com aquela ternura infantil que não se importa com nada, não falávamos, apenas caminhávamos. Inundavam-me mil perguntas, o porquê daquele silêncio quase imposto, a Inácia costumava ser tão faladora. O porquê daqueles olhares estranhos, primeiro sobre a Inácia, agora sobre nós.
A professora surgiu na porta e  chamou-nos para a entrada, sentámos-nos em silêncio, de vez em quando pelo canto do olho olhava para a Inácia, estaria zangada comigo? A alegria a ansiedade à chegada ia sendo substituída por uma tristeza que não conseguia explicar.
A professora começou a falar, como algumas de vocês sabem houve um incêndio na casa da vossa colega Inácia e ela ficou queimada no rosto e algumas outras partes do corpo ao tentar salvar a sua irmã mais nova.
“Incêndio? Queimada no rosto?” Olhei de imediato para a Inácia, sim, era verdade, tinha várias marcas de queimadura no rosto, zonas muito vermelhas, quase pareciam em ferida. Mas como era possível? Eu não tinha reparado! 
Percebi então a estranheza das outras meninas. Percebi igualmente a minha atitude, para mim a Inácia continuava a ser a minha coleguinha de escola, uma menina de 9 anos, loira, de olhos brilhantes e sorriso amplo, marcas? Sim, a partir daquele dia passei a vê-las como um reflexo da sua bondade,  que se tinha atrevido a desafiar o fogo para salvar a sua irmãzinha.
"Se os nossos olhos vissem almas em vez de corpos, quão diferentes seriam os nossos ideais de beleza"


sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Post.it: Diálogos interiores

Não sei se és um quarto, uma casa, algo, alguém… só sei que aqui estamos, arrumados, às vezes desarrumadores, outras desarrumados. Dialogamos entre nós, às vezes tentamos falar contigo, discutimos, atiramos culpas.
– Estou doente, reclama o intestino, a culpa é tua! diz ele apontado para a vesícula, que muito atarefada tenta gerir os ácidos, como um rio que transborda as margens.    
– Minha? Ora, se ao menos o estômago fizesse melhor o seu trabalho de dosear os alimentos!
 Lá vens tu, atirar-me culpas, quando eu apenas recebo coisas que me chegam pela traqueia.
Que de imediato se empertiga.
– Pois sim, só me faltava dizerem que sou culpada, eu lá controlo o que a boca come? “Não sou tida nem achada”. Continua a traqueia, “ engulo, por vezes em seco e passo a “batata quente ao vizinho, desculpa lá qualquer coisinha mas não tenho opção”.
 O quê? Responde a boca escandalizada, “será que me põem a culpa se algum de vós adoece, inflamado, mal humorados e afins?”
De repente ouve-se um enorme estrondo, todos em coro se manifestam assustados. “Que foi isto?”, “terá sido um vulcão das baixas entranhas digestivas?”
 – Não, responde a boca. “Então, terá sido um arroto das vias aéreas superiores sempre tão povoadas de “aviões” gasosos”, questionaram.
– Não, volta a rosnar a boca, foi um bocejo, acho que a criatura humana vai dormir, não façam barulho, porque se ela não dorme bem ataca-nos logo cedo com  uma dose maciça de cafeína e é o caos físico.
Quando há dor, todos os órgãos se olham por dentro, se entre-olham por fora.
Mexemos contigo, abanamos-te, chamamos-te, gritamos-te, por uma dor que nos magoa, que é tua, mas também nossa.
Não importa a culpa, queremos a solução. Trabalhamos em conjunto. Caminhamos nos mesmos passos, na mesma direcção para a vida.
Queremos ir mais longe, contigo. 
Cuida de nós, cuidaremos de ti, assim teremos um futuro longo e feliz…

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Post.it: Passeio matinal

Hoje  quando fui passear o cão senti que ainda levava a noite comigo, que os sonhos ainda me envolviam os pensamentos, pouco a pouco foram perdendo a conexão, o sentido. Os sonhos são coisas estranhas, enquanto dormimos tudo faz sentido, as imagens, as histórias que nos contam, mas depois, quando acordamos surgem-nos como uma embaralhada de coisas sem nexo. O estalo da fechadura  no fechar da porta magoou-me os ouvidos porque rasgou abruptamente o silêncio que ainda me embalava os sentidos.
Pouco a pouco fui despertando, pé ante pé, osso a osso acamando-se no corpo, músculo a músculo aconchegando-me como se fosse abraço que nos ampara, um arrepio na pele, uma gargalhada de  vento, e a chuva miudinha caindo como um manto frio que brinca com os meus cabelos enchendo-os de gotas brilhantes.
No meio do escuro, sentia-me uma sombra, os gestos suaves quase se diria, eram passos de dança, sorrio deste pensamento, “ora eu que nem tenho jeito nenhum para a dança”, talvez por isso de vez em quando um passo sai meio desequilibrado, ou então foi por causa de uma curva, um buraco no passeio, o empedrado com falta de algumas pedras. De repente a sombra quase desaparece para reaparecer mais adiante, como se me guardasse, como se me espiasse, não sei mar reconforta-me não me saber sozinha. Tudo à minha volta é silêncio, nem o cão ladra ou rosna, só perscruta o caminho na sua missão farejadora, vai para aqui, puxa-me para ali, e eu vou, com olhar atento mas o pensamento voando.
Por um curto momento olho para cima, as estrelas já  partiram, o sol ainda dorme e a lua acompanhando-me com um olhar amigo esboça quase um sorriso ou seria um quase bocejo que esta guardiã da noite me ofereceu como comprimento matinal?
E lá seguimos o caminho, eu, e a lua. Uma estranha relação, improvável até, eu  nada lhe digo, ela responde com o mesmo mutismo. Há amizades assim, companheiras de uma vida mas que nunca se falaram, nem para trocar um simples bom dia, desejar uma boa noite, fica tudo entre nós numa breve troca de olhares. Palavras, para quê? Opinar, discordar, etc.? Não, estamos bem assim, basta ela estar lá, basta eu estar aqui.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Os devaneios de uma vida

Triste de quem se acha feliz,
Na passividade da sua casa,
Sem devaneios de petiz,
Nem vento que lhe eleve a asa.

Triste de quem assim viveu,
Que dele pouco ou nada dizem,
Até ao dia em que desapareceu,
Como se fosse um trem de viagem.

Triste de quem por aqui andou,
Com os passos sempre contados,
Que só dormindo então sonhou,
Mesmo que sonhos não realizados.

Se a vida fosse só para ser vivida,
Só para por ela cada um passar,
Que teria esta vida de divertida,
Sem histórias de glória para contar?

Bem digo as minhas cicatrizes,
Até as emoções desencontradas.
Antes de tristes foram felizes, 
Antes de amargas foram encantadas.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Aprender com cada etapa da vida

Ajuda-me a reconhecer cada momento do que sou,
Que encontre complacência nas coisas boas que vivi.
Dá-me coragem para aceitar as minhas limitações.
Que eu me alegre com cada etapa da minha vida,
Glorificando cada pequeno passo dado,
Sem nunca desanimar pela lonjura da meta.
Que eu ainda me sinta útil ao mundo,
Mesmo que apenas em pequenas tarefas.
Que a pressa dê lugar à terna paciência.
Que cada dificuldade me seja um desafio,
E não a encare como uma constante derrota.
Que na solidão encontre a tua companhia,
Que na doença encontre o teu amparo.
Se a visão diminuir que eu veja com o coração,
Se a audição diminuir que eu ouça com a alma.
Que cada dia não seja uma despedida,
Mas antes o reencontro com a esperança.
Que no meu ânimo e amor volte a ser criança,
Que as minhas horas sejam de constante bondade, 
e todo o meu caminho seja feito com serenidade.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Post.it: Um dia encontrarás o que procuras...

Curioso, como a vida nos acontece, a sucessão de coisas que nos surgem, momentos que nos surpreendem. Os mistérios que se desvendam perante o nosso olhar.
Quando acordamos pela manhã,  desconhecemos o que nos reserva aquele dia. Pensamos que tudo vai ser igual, acontecendo nas mesmas horas, nos mesmos sítios,  que nos vamos cruzar com os mesmos rostos, ouvir as mesmas palavras, fazer os mesmos gestos, a rotina que nos cansa pela monotonia, o hábito que nos faz sentir bem nessa área de conforto.
Mas eis que algo muda obrigando-nos a levantar os olhos do chão.  Algo que chama a nossa atenção, que nos faz parar e, de repente, o nosso dia fica diferente do ontem tornando único o hoje. Pode até ser pouco mais que nada, mas o suficiente para nos fazer parar, pensar, sentir.
Aquela melodia, aquela frase, aquele sorriso, aquela lágrima,  aquele grito que vem da alma e chega calado aos lábios. Aquela imagem de  vida rasgada e sapatos sem estrada.
Ou, porque não aquele aroma que fica no ar que nos abraça os sentidos e nos faz regressar a um tempo que julgávamos esquecido, a memória olfativa leva-nos para verdes prados onde corríamos numa liberdade que só sente quem não sabe o que é o medo de correr e cair. A queda não nos assustava, as esfoladelas eram medalhas comemorativas da infância, o que nos assustava era que chamássemos e não viesse ninguém para curar-nos a ferida do joelho.
“Um dia encontrarás o que procuras”, acreditamos que sim, crescemos com esse objectivo, mas, nunca o encontramos, dizemos quantas vezes com desalento. Não encontramos, não porque desistimos de procurar mas porque não sabemos o que procurar. Será que é por um pote de ouro no final do arco-íris? Não, era por aquele minuto em que paramos para ouvir a melodia de uma pequena ave, de olhar para aquele ninho onde os ovos começam a quebrar e a vida a aflorar. Uma criança que pede a ternura de um colo, a flor que na sua delicadeza revela corajosa resistência ao vento e ao sol. A harmonia das 7 notas musicais criando as mais sublimes e distintas melodias. 
Tantas e tantas coisas que só cada um pode contar à noite como foi o seu dia, se mesmo sem procurar se encontrou uma razão para viver e renascer em cada amanhã.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Post.it: Através dos meus pequenos olhos

Lembro-me de mim, num tempo em que tudo era novo, tudo era descoberta. Lembro-me de ter sempre os olhos ávidos por ver, por ir mais longe, por conhecer.
Lembro-me que os meses pareciam dias e os dias horas. Que o sol despertava e adormecia antes de conseguir viver tudo o que queria viver nesse dia. Os mais velhos lançavam-me olhares de cansaço como quem vem de uma longa viagem. E eu com palmo e meio de vida, um pouco mais de curiosidade, subia-lhes para o colo, aninhava-me nos seus braços e deixava-me embalar por histórias que não ouvia mas que adivinhava. Enquanto pensava, “um dia, hei-de ser como os crescidos, abrir a porta e caminhar pelo mundo.  Hei-de sair com a madrugada na mochila e regressar com tanto que contar que nenhum sono há-de chegar nessa noite só para ouvir as minhas histórias repletas de vitórias”. Porque quando se é criança, não há derrotas apenas vitórias adiadas, desafios para nos impulsionar a tentar de novo. 
E esse dia chegou, deixaram-me sentada num banco da escola. Nunca o tempo me pareceu tão lento nos seus passos de marcha até à hora seguinte. Os dias começaram  a parecer-me meses e os meses sentia-os como se fossem anos. 
Nesse primeiro dia, quando cheguei a casa, corri para o meu quarto, saltei para a minha cama, abracei a minha almofada e senti-me imensamente feliz. Foi então que percebi que nenhuma viagem tem a história mais bela do que aquela em que regressamos ao conforto de um lar, àquele espaço onde nos sentimos seguros para fechar os olhos e sonhar.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Post.it: Livre arbítrio

Sabem aquelas frases de sabedoria popular? Cresci com elas, como se fossem professores de moral, de educação, de formação. Aceitei-as, segui-as, aprendi,  repeti-as até à exaustão. Não por dificuldade em memorizar, mas por dificuldade em encontrar-lhes sentido maior do que o imediato, aquele que nos entra pelos ouvidos, que nos dança com os pensamentos uma melodia que vai ganhando coerência. E de repente torna-se caminho ladeado de muitos e por vezes estreitos limites.
A dada altura os limites, tornam-se sufocantes, asfixiando-nos o sentir. Estava na altura de voar, de superar o mestre, de criar a minha aprendizagem empírica, de cair, de me levantar, esfolar os joelhos.
Experimentar a teoria e perceber a pequenez dos seus horizontes, a diferença que faz o que diz o outro e o que acontece connosco.
Não que acredite que a nós nada de mau sucede, não sou tão positiva a ponto de acreditar que tudo só acontece aos outros, bem, por vezes, a felicidade bate-lhes à porta, quando nem perto da minha passa, mas é melhor parar, porque isso leva-nos por outros labirintos discursivos.
Foi então que percebi que nem tudo é como dizem, que tudo pode ser distinto, que temos a oportunidade de fazer diferente, de fazer melhor, mesmo que o resultado não seja o almejado.
Mas já lá dizia o meu chefe, “é mais importante tentar do que conseguir”. Bom, não sei se é bem assim, porque havia coisas que tentava fazer sem conseguir e ele dizia-me logo,  “pronto, pronto, deixe lá isso, amanhã chama-se o pedreiro, não faça mais buracos porque senão ainda fico com uma janela para a  casa do vizinho, eu só lhe pedi para pendurar um quadro!...”.
Mas cá se fazem, cá se pagam, pensava de imediato. E ele pagou, a conta do pedreiro, quem o mandou dizer-me para fazer coisas que não são o meu ofício?
E depois ainda acrescentam que trabalhar dá saúde?
Que saúde? Contraturas por estar a trabalhar no computador? Tendinites por usar o mouse? Hérnias por carregar caixas e livros. Stress porque nos dão tarefas hoje para estarem prontas (ontem)?
Felizmente existe o livre arbítrio.
Onde cada um tem o direito de fazer o que quiser com a sua vida e escolher o seu caminho.
Mas não esquecer de ler as letras pequenas do contrato civilizacional, 
                                                             desde que isso não prejudique ninguém.