quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Post.it: Aquém da margem


“É tempo de travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”
Sábias palavras as de F. Pessoa, um conselho que penso seguir, não no início do mês, no início da semana, no próximo dia, mas agora, neste instante,  prometo aos meus neurónios cansados de tantos pensamentos adiados, repito às células que  me navegam no corpo, mas elas riem-se, “sim, sim, vamos ver se é desta”.
 Encho-me de brios, olho a gota de água que sou e prometo crescer como um rio, quem sabe, se a coragem não me abandonar, poderei chegar  a ser mar, um oceano de audácia. Serei navegadora sem fronteiras, colonizadora de terras onde habitam os sonhos concretizáveis, descobridora de novos futuros, exploradora de diferentes emoções que existem para lá do aquém da minha margem, .
Que me importa os fracassos, se posso conhecer vitórias, que me importa a tristeza se posso viver alegrias.
E depois, eu sei, que a felicidade me espera num qualquer recanto do mundo, não apenas geográfico, não apenas de pessoas, mas no meu mundo, aquele onde me posso redescobrir,  pronta a passar para a outra margem sem receio de me perder nas profundezas do desconhecido.
Hoje é um bom dia para encetar a viagem. Hoje é um bom dia para ser feliz.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Post.it: A dolorosa semântica


Por vezes já não basta o que se diz, o que se escreve, são palavras levadas pelo vento ou coartadas pelas silabas de letras mal conjugadas.
Então a semântica emudece presa na sua rede de sintaxes ansiosas por encontrar um pilar fonético que lhes dê sentido.
Mas nem que o eco repita mil vezes a expressão, ela cai no vazio de emoções ausentes. E num gesto quase desesperado, num quase suicídio literário, as letras uma a uma mergulham nesse mar a que chamam tempo. Porque o tempo cura tudo. Porque o tempo leva ao esquecimento. Quando no fundo, elas apenas desejavam um encontro de grafias, um acordo ortográfico que as fizesse escrever, ler e entender todas as palavras, as escritas e as por escrever num mesmo sentido.
Mas é mais fácil fechar o livro, é mais fácil rasgar a carta, é mais fácil desligar o botão e esquecer a dolorosa semântica do coração.
Escondemo-nos em figuras de estilo para enganarmos a razão que nos alerta para o abismo das emoções que como doidas alienadas continuam a escrever retóricas repletas de malabarismos discursivos que tentam apenas ser, bucólicas.
De repente invade-nos um silêncio magoado, olhamos as letras solitárias de outras que já nos tardam na folha branca, onde podiam estar desenhadas as linhas direitas de uma Primavera afastasse de vez Inverno que nos invade a escrita.
Talvez tudo isto seja uma imaginária hipérbole, ou, quem sabe, o ténue caminho de um animismo de esperança.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Post.it: Memórias do olhar


Olho, mas sinto que é insuficiente o meu olhar. Que a multiplicidade de imagens, de sensações, de sentimentos não cabem na eternidade, quanto mais,  na finitude do meu ser. Tudo o que olhei, tudo o que olho, o que desejo olhar, nada é, do  que me rodeia, do conhecido e desconhecido,  que nunca poderei abarcar.
Faço escolhas, não sei se as melhores opções. Não busco o fácil, mas o verdadeiro. E o olhar torna-se contador de histórias, um ilustrador que pinta com  traços simples a cegueira do coração.
Esse músculo que bate compassado, prisioneiro do corpo, sonha com aventuras que poderia ver se possuísse a visão dos olhos. Mas é apenas um músculo que sustem a vida, em troca, recebe a força desse olhar que o faz vibrar e sonhar e sentir.
 – Sim, porque o coração sente, sente a mágoa que a visão do olhar lhe transmite. Sente a desilusão que o olhar por vezes lhe quer esconder. Sente o vazio, a impotência de quem olha sem nada poder alterar.
Os mais teóricos, cépticos, dirão que tudo isso se passa apenas no cérebro, nesse conjunto de neurónios que constroem e desconstroem as imagens, interpretam e fazem o corpo sentir essa interpretação.
O coração suspira triste com a descrente ignorância   que converte as emoções mais belas e delicadas em inóspita razão pura. Quando nem sempre o coração obedece à razão, quando o que o comanda lhe  bate ao ritmo da emoção.
Então, constrói memórias, guarda-as dentro de si. Como se fossem preciosos tesouros. De vez em quando deixa sair uma, através dum longo suspiro. É com tristeza que as vê partir, são filhos que seguem um novo destino. Além disso é necessário arranjar espaço para novas memórias, novos olhares.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Post.it: Os nossos Invernos


“Os Invernos crescem entre nós”. Dizes isso como se te esquecesses das Primaveras. Daquelas em que plantávamos flores no nosso jardim de sonhos.
Que importam os Invernos se mergulhámos na frescura marítima de todos os Verões da nossa vida. Talvez já tenhas esquecido dos Outonos  de contarmos as folhas que caiam das árvores como se fossem estrelas de desejos. Porque tínhamos muitos desejos  para realizar e todas as folhas não chegavam para atender a todos eles.
Porque te agarras aos Invernos de agora, vazios de nós, gelados no peito, quando tivemos muitos outros que nos inundavam o corpo e alma de um calor que era só nosso, como se fosse um segredo, um tesouro que não queríamos partilhar.
Mas tu, que só tens Invernos frios na memória dos dias, vais vendo passar a vida num cais que é apenas de partida. Constróis pontes de uma só estação sem deixares que a sucessão das outras venha dar-te um novo olhar.
Quem me dera ter para te dar, um raio de sol, uma nuvem de esperança para que a mais ténue lembrança viesse envolver-te num abraço de paz e renovação. Porque quem passa por nós não cria precipícios de angústia mas pontes serenas que unem as margens doces do passado com a perspectiva luminosa do futuro. Não deixes que o Inverno te seja eterno, porque há sempre uma primavera a querer florir e um caloroso verão a espreitar.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Post.it: Momentos de amizade


Hoje apetecia-me conversar. Sentar-me no sofá, olhar-te no rosto e ver o teu sorriso que me incentiva a sorrir também, num contágio de cumplicidades.
Hoje apetecia-me conversar, abrir a alma, esvaziar o peito deste suspiro que quase me sufoca, com vontade de gritar o que me circula nas veias e faz correr febrilmente cada célula do meu ser.
Cansam-me as conversas banais, que falam sem nada dizer, sobre o tempo que muda consoante as estações, as desgraças do mundo, o desânimo dos dias, resta-nos as novelas, umas a seguir às outras, para nos abstrair de pensar nas nossas vidas delapidadas pela crise, seja ela qual for porque já conheci muitas.
Magoam-me as conversas rápidas, as frases curtas que não nos deixam saborear as palavras, a afetuosidade da sua sonoridade. Nem enche-las de primaveras floridas para as oferecer, retirando os espinhos da vida, como se só quisessem falar dos seus invernos ou rir deles para fingir que não doem, quem sabe o coração acredita e esquece.
Hoje, apetecia-me conversar, tenho tanto para te contar, nem tudo são tristezas, nem tudo são vendavais, também há momentos de bonança que tenho para partilhar contigo, para te oferecer e fazer rir e fazer acreditar, que é bom conversar, quando olhamos nos olhos. Num momento que seja só nosso, não importa se depois vais a correr para casa e perder-te de novo na rotina dos dias.
Porque hoje, só hoje, apetecia-me conversar, o assunto? Pouco importa, nem é realmente o mais importante, basta-me a tua presença, a tua voz, o teu silêncio, a tua amizade. Há quanto tempo não conversamos? Céus há uma eternidade! E a vida nem sequer é eterna…
Talvez seja até demasiado pequena para perder tempo nesta conversa, poderás pensar.
Mas acredito, que se estás aqui é porque tal como eu, pensas que a vida é demasiado curta para não lhe dedicarmos um momento, para a apreciarmos e partilharmos numa agradável, interessante e terna, conversa.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Em sonhos...


Conheci um amor,
Uma flor.
Conheci uma primavera
Uma quimera.
Conheci um sorriso,
Um paraíso.
Conheci um olhar,
Um luar.
Conheci ou talvez não,
Fantasia do coração.  
Parecia perfeito,
Parecia o eleito.
Mar e eu vaga,
Noite e eu madrugada.
Vento e eu brisa,
Este amor poetisa.
Que só na escrita ficou,
Asas que o tempo fechou.
Conheci um amor,
Sem dor.
Um sonho que sonhei,
E mesmo em sonho amei.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Post.it: Gente com história


Gosto de gente com história, que me faz sentir pequenina, que me faz voltar a ser menina, com o olhar deslumbrado, com o peito em sobressalto querendo adivinhar o final e desejando que o conto seja eterno de tão triste, de tão belo.
Histórias de gente do povo, das tradições, da simplicidade, da pureza, dos valores da terra. Essa cultura oral que passava de geração em geração crescendo um pouco em cada boca, em cada coração que a partilhava como se fosse um tesouro. “No meu tempo…” É o começo da história e segue pela noite fora e ainda espreita pela madrugada ao sabor da memória.
Aconchegava-me no carinho, escutava a sua história como se fosse a primeira vez, depois de já a ter ouvido mais de 100 vezes. Mas fingia que desconhecia aquela aventura, afinal já não era eu quem precisava de a escutar para aprender a crescer, era ela que precisava de a contar, de a contar para não esquecer.
Porque a sua lembrança já começava a ser criança.
Gosto de gente com história, quando a tua voz pausada me embalava o serão e aconchegava de mansinho o coração.
Esse gesto de avó que nos toca o rosto e, como que por magia afasta de nós o desgosto.
Gosto de gente com história, a herança de uma vida que agora perpetuo, e se um dia não tiver histórias minhas, vou contar as tuas. Já vejo o olhar deslumbrado das crianças e o teu sorriso em mim.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Liberdade


Liberdade?
A bem da verdade,
Nos tempos que vão correndo,
A liberdade vai-se perdendo.

Por se falar tanto dela,
Por se gritar a cada janela,
Tornou-se um tudo e um nada,
No seu conteúdo banalizada.

A história da liberdade começou,
Quando uma criança chorou,
Branca, preta, menino ou menina,
Pouco importa, era apenas pequenina.

E já a liberdade lhe roubavam,
E no preconceito a enclausuravam.
Sem liberdade para nascer,
Sem liberdade para crescer.

De tanta liberdade que existe,
O que me deixa verdadeiramente triste,
É por quem não pode ter,
A liberdade de em liberdade viver.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Post.it: Chamaram-lhe alienado


Eremita, ascético, místico, mas não triste, não perdido na sua ilha de solidão. Apenas alguém que decidiu viver de uma forma diferente. Ausente de tudo e de todos. Rompeu com a indeterminação, avançou, fez a mudança, concebeu a diferença. Porque na realidade não escolhemos, movemo-nos para onde os outros vão, ainda que digamos que não. A indeterminação é uma devoção que se rende acriticamente aos fluxos de gostos dominantes, a que chamamos dimensão comunitária ou, simplesmente, moda. Mas este ser resoluto, apagou a televisão, desligou o pc e o tlm, abriu as janelas, encheu a casa de sol, deixou entrar nela a natureza e viu-a pela primeira vez com o seu olhar de ser renascido. Viu uma imagem diferente, verdadeira e não digital, cheia de vida e não de pixéis. Fechou as torneiras e banhou-se na frescura do rio. Arou o solo, semeou o pão, comeu-o sentindo o sabor da essência natural da terra. Conversou com as nuvens, abraçou as flores. Contemplou os pássaros e fez silêncio para escutar a sua melodia.
De vez em quando desce à “civilização”, olham-no como se fosse um alienado, ri-se por dentro, desses olhares que se desviavam à sua passagem.
Dessa sociedade empedernida que não tem coragem de reconhecer que muitos dos frutos que está a colher são resultado do modo como semeou. Que é preciso estender a mão, segurar o ramo e caminhar como raízes de árvores. Devagar, mas firmemente em busca da seiva da vida. Em busca de si no mundo, descendo ao magma da existência. Para compreender  o que é verdadeiramente importante e o importante é encontrar a paz. Para que a vida seja vivida em harmonia com todos os seus elementos e que seja sempre construção e não destruição.
Chamaram-lhe alienado, por não compreenderem a sua felicidade. Estão demasiado habituados a ser infelizes e a viver a conta-gotas de alegria.
Chamaram-lhe alienado por inveja da sua liberdade. Viraram-lhe as costas com desprezo e arrogância fingida porque na verdade desejavam segui-lo, libertar-se da rotina dos dias, do compasso das horas e caminhar descalços, deixando na terra as pegadas da sua livre escolha. A escolha de ser um feliz alienado.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Post.it: Do alto da montanha


Tenho por hábito ver a vida como uma montanha, não pela escalada mas pela sensação de uma meta a alcançar. Sempre senti os aniversários como uma caminhada prazerosa, uma revelação que se faz sem pressa, uma emoção por dia, afinal as 4 estações que a planta atravessa por ano é que a levam a produzir flor e fruto, algo que ela só o descobrirá no momento certo.
Mas voltando à ideia da montanha, alta, forte, sólida na terra, mas acariciando o céu, uma visão que sempre me maravilhou, e deixou em suspense de espanto, por isso coloquei no seu  topo  o habitat dos 50 anos. Uma imensa vitória, festiva e lá no cume se hastearia bandeiras de uma grande e bela etapa. 
Descansando da jornada poder-se-ia finalmente apreciar a vista, o largo horizonte. Mas quem me antecipava na viagem dava-me sempre um testemunho diferente. 
Então fui percebendo que o topo da montanha era apenas um patamar para muitos outros cumes. Cada um deles com um horizonte mais sublime, porque a caminhada vai-nos ensinando a valorizar a beleza do caminho em vez de nos perdermos em queixumes pelo esforço que o percurso exige de nós. 
Afinal as coisas mais difíceis de obter são sempre as que nos fazem mais felizes. E sobretudo percebi que lá chegar, era apenas o primeiro passo, o primeiro de muitos, porque só então a maturidade nos revela o sentido de todas as dúvidas que tivemos.
Para ti que hoje que vislumbras o primeiro patamar da vida, que observas as metas que foste alcançando, que tens ao teu redor sorrisos de amor, abraços de amizade e saúde para conquistares novas vitórias, não pares. Cria novos desafios, desenha outras metas, novos objectivos para continuares a subir em direcção aos teus sonhos para que um dia os vivas de olhar bem desperto. 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Post.it: Amores outonais


O amor, aquele que idealizavamos em vagas de paixão. Uma salvação ou uma perdição. Um sonho que nos embalava as noites frias. Aquela voz que diz o que esperamos ouvir no despertar de cada manhã. Aquele olhar que nos enche de uma paz cheia de guerras. O sorriso que nos rouba os argumentos da discórdia. O beijo que devolve o ar, que nos devolve a vida.
“Sentimos que voam borboletas rebeldes no estômago” diz aquela jovem ainda adolescente com o sol no olhar.
“O coração acelera dentro do peito” diz aquela outra com o rosto ruborizado da sua confissão em idade de adulta.
“E a sua voz aquece-nos os sentidos”, manifesta sem pudor o tom  pausado da idade madura. Completando no seu comentário “que, já não sonha, vive o sonho. Que já não corre para aquele abraço, abre-lhe os braços. Que já não dá, já não recebe, partilha”. “As borboletas, transformaram-se em sorrisos”, diz para a neta. “O coração aquieta-se, aninha-se na partilha de cada dia”, declara à filha.
“A paixão é uma primavera a florir em explosões de cor. O amor é uma árvore frondosa, que nos dá tudo o que necessitamos para sermos felizes”.
Deixem voar as borboletas, aninhem o coração num ninho aconchegante e sentem-se na sombra refrescante desta árvore, fechem os olhos e aprendam com ela a ser felizes.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Máscaras

Vou disfarçar-me de vento,
Para chamar o teu nome.
Vou disfarçar-me de sol,
Para iluminar o teu olhar.
Vou disfarçar-me de mar,
Para embalar o teu coração.
Vou disfarçar-me de noite,
Para me tornar o teu sonho.
Vou disfarçar-me de luar,
Para te guiar pela escuridão.
Vou disfarçar-me de estrela,
Para ser o caminho da felicidade.
Vou disfarçar-me de mim,
Sem saberes quem eu sou.
Talvez um dia me reconheça.
Nas máscaras onde me escondo.
Entretanto, neste Carnaval da vida,
Por entre as partidas do destino.
Serei vento, sol, mar, noite e luar,
Estrela reluzente para te encontrar.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Post.it: Eu e o pensamento


Por vezes, sou só eu e o pensamento num diálogo de silêncios. Porque já não é preciso falar, já nos conhecemos há tanto tempo, já rasgámos a pele, já partimos ossos nas quedas, já colámos os pedaços da alma, já recompusemos mil vezes o puzzle do coração, já trilhámos juntos um caminho feito de momentos, muitos que recordamos de quando em vez para sorrir, para chorar, antes que as lembranças se tornem asas de tempo a perder-se pelo vazio do infinito.
Por vezes, sou só eu e tu, numa solidão que precisamos de partilhar para nos reencontrarmos no que fomos e planear o que seremos. Porque isto de viver à toa, sem rumo nem beira, não nos leva a lugar algum e nós precisamos de partir para ter onde regressar.
E nesses encontros de nós em que estando, não nos sentimos sós, damos um abraço de ideias, erguemos sonhos como bandeiras ao vento, gritando num eco de ressonâncias, ainda um dia vivermos acordados os sonhos que o sono nos permite conhecer a dormir.
Sei que sim e tu também sabes, é uma certeza que nos faz permanecer aqui, que nos faz levantar todos os dias a âncora da esperança para navegar por mares de incógnitas, afinal, o sol continua a brilhar no horizonte, mesmo quando alguma nuvem mais cinzenta lhe quer roubar a luz que nos energiza.
A brisa continua a soprar mesmo quando o vento a insufla de vendavais. E as andorinhas regressam todos os anos em bandos felizes para anunciar o renascer da natureza mesmo que o inverno insista em nos gelar as madrugadas. 
Sigamos-lhes o exemplo, e acreditemos que a primavera voltará a florir e o coração a sorrir mesmo depois um final que nos dá a oportunidade de um recomeço.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Post.it: Encontro o que procuro


Porque procurar é já uma forma de encontrar. Encontrar um caminho, uma solução, uma ideia, um desejo. Até a ti te encontro quando te procuro, quando te procuro em mim e te encontro por fim.
Encontro o amor, nesse local onde o procuro, sem precisar de ir muito longe, nem de o sonhar acordada, ele está, sempre esteve, no caminho por onde andei,  tão perto que podíamos entrelaçar cada mão, porque o amor estava, onde sempre esteve,  no meu coração.
E não são os outros que nos dão na vida a solução, ela está onde a procuramos quando um dia a encontramos, cansada talvez, de esperar por nós. Vendo o fracasso dos nossos intentos, as nossas guerras perdidas.
Quando tentamos derrotar o inimigo que temos no peito. O nosso medo de encarar o reflexo, a autoestima desanimada, a culpa adiada, a busca que nos leva a onde sempre estivemos, ao amago da questão, ao encontro do que procuramos.
Porque a esperança nada mais é do que um composto de desejo e confiança. É com a vontade que se deseja.
É com a confiança que se chega ao entendimento.
Desejar sem ter a confiança de alcançar permanece apenas e sempre como desejo. Mas desejar e faze-lo com confiança é construir a base sólida da esperança.
Por isso há esperanças que tardam. Mas também por isso há esperanças que chegam. Quem tem esperança, tem um caminho que se abre à sua frente, como se fosse uma nossa possibilidade de vida.
Quem não a tem, morrem-lhe os desejos antes mesmo de os desejar.
Essa esperança, o perfeito equilíbrio de desejo e confiança que procuro e encontro, em mim.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Post.it: PC - In love


Num espaço que nem espaço ocupa, num tempo não regulamentado pelo relógio, menos ainda pelo calendário, apenas e só pela vontade de estar, de ficar, de esquecer o nascer do sol ou o surgimento da lua. Preso nessa prisão de sedução, de tentação, de dizer, dizer tudo, porque há sempre muito por revelar quando se quer conquistar.
Estabelece-se uma relação, uma afeição e de modem para modem, quase, mas quase se sente o calor de um abraço.
Porque sem essa ligação de CPU(s), somos barcos navegando sem remos até que um botão nos ilumine e nos faça desenhar a esperança de um sorriso sincronizado na cumplicidade com quem está do outro lado.
E porque para nós o virtual é a realidade, vivemo-la, sentimo-la com todos os feixes da nossa eletrónica existência. Sem os dramas humanos do bem e do mal, do belo e do feio, da certeza e da incerteza.
Claro que existem os encontros e também os desencontros, do querer e do não ser querido pelo outro lado da linha, quando a nossa interface visual não corresponde às expectativas, ou às solicitações de processamento.
Mas quando a sincronia se atinge, quando estamos no mesmo sentido direccional  quando existe compatibilidade de hardware, de motherboard,  de chips, então a felicidade é plena e por um instante que pode ser eterno, há um feedback, há um curto-circuito de emoções.
Depois, que sabemos nós do depois, na nossa lógica eletrónica se só conhecemos o agora, este momento de input/output. O desconhecido não nos traz a angústia nem o medo do futuro, não nos perdemos em humanos dilemas existenciais nem em vãs filosofias.
E no entanto estamos condenados à obsolência, trocam-nos por outros componentes mais modernos com maior capacidade de tratamento de dados.
Sinto quando isso acontece, as frases vão encurtando, chegam e já sabem a despedida. Escrevo-te sem parar, mas o contacto demora, não chega a entrar nos meus circuitos integrados. Então paro, dói-me o olhar de tentar ver-te em cada linha que não escreves. Faço silêncio quando já não tenho forças nas teclas de tão calcadas, enquanto perscruto um caminho onde encontre linearmente o que preciso digas com todas as letras de um sentir similar ao meu.
Mas era da tecnologia, quase tudo “Começa depressa e acaba à velocidade da luz”). Dizem-me para desligar o botão, para que corte a corrente eléctrica que se tornou a ponte por entre as margens agora cada vez mais emudecidas.
Quantos de nós questionamos se existem almas gémeas perdidas algures num cosmos de bites, que vão crescendo em megas e teras infinitos. Acredito que existem, que és tu, por isso não desisto.
Exaspero, e num gesto repentino ensaio uma operação de alto risco para o meu software emocional, e faço com uma saudade que me cresce no peito um upload  para te  ter aqui neste imediato segundo, o coração aperta-se-me,  a solidão invade-me.
Mas a tua ausência vai deletando os meus ficheiros cada vez mais vazios de nós. Vai escurecendo o meu ambiente de trabalho. E por mais links que faça, por mais browser(s) que use, pareces ter desaparecido na web da minha vida. Nem um e-mail? gritam ao questionar, os meus binários fonéticos.
Num acesso de desilusão, bloqueio o meu access cod, fecho a minha accout, esvazio a Rom, limpo a Ram e apago todos os arquivos que tinham o teu nome. E ordeno em contradição, “faz delete do meu adresse”,  e escrevo rapidamente em caps lock  reforçando em bold. ESQUECE-ME!  e eu esquecerei também, a beleza sinuosa do teu desktop, que apenas acariciei no vislumbramento de um  breve instante, quando um vírus se introduziu no meu sistema e me deixou cheio de pop(s) festivas de paixão.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Post.it: Alento de vida


Mais uma história amarelecida nas cartas quase rasgadas de tanto serem lidas. Para lembrar o que a memória parece esquecer, e desvanecer no tempo.
Recordações que a vida teima em roubar-lhe discretamente. Insiste em escreve-la, rescreve-la a cada momento que alguma lembrança lhe agita uma asa de despedida…
“Depois, depois de tantos anos, se eu ainda aqui estiver, se tu ainda ai estiveres, quem sabe também nós estaremos. Quem sabe nos encontraremos e, talvez, ficaremos por fim no mesmo caminho. No mesmo destino que um dia nos fez encontrar e separar, quase no mesmo instante. Por vontade de quem? Não nossa, mas do patamar de vida em que estávamos. Tu no outro lado do rio, numa margem que não me chamou, que não me abraçou, que se tornou uma fronteira de  tantas águas, de tantas mágoas. Esse rio do nosso encanto ou desencanto tornou-se a única coisa que continuámos a ter em comum, e uma ponte por onde passou o tempo, muito tempo…
E agora? Agora que o cabelo branqueou, agora que o sorriso murchou. Agora que a visão já é turva, que os passos caminham cansados. Agora que a minha mão já não tem força para abraçar a tua. Agora que o ar me morre antes do beijo. Agora, agora que mal me reconheço no espelho, e não sei sequer se te reconhecerei no olhar. Procuro-te em fotos que perderam a cor de tanto lhes perscrutar o silêncio das palavras que nunca foram ditas.
Depois, depois de tantos anos, só o coração, o meu pobre coração, com os seus batimentos irregulares, conserva ainda uma juventude alimentada pela esperança. Essa longínqua esperança que a cada arritmia foge ao sopro da morte com um alento de vida, essa vida que aguarda por ti.”
Uma carta amarelecida, quase rasgada de tão gasta, de tão lida, de tão sentida.
Volto a guardá-la no fundo da gaveta onde a encontrei, embrulhada carinhosamente num lenço perfumado, com saudades de uma história que não é minha, mas que me dói como se fosse…


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Post.it: Ciência e mito


A espécie humana é curiosa por natureza, tem nos seus genes a angústia existencial de todos os porquês. Para sobreviver tenta a todo o custo construir um sistema minimamente coerente que dê inteligibilidade à sua vida. 
No seu eterno dilema a razão cria raízes sólidas na terra enquanto a emoção o leva a planos de ilusão ou talvez não. Sem se sentir verdadeiramente integrado num universo que lhe permita semear e colher sementes de esperança, o ser humano não consegue sobreviver. Ele tem de construir, de encontrar pontes, de estabelecer laços comuns com os que o rodeiam. É aqui que o mito encontra terreno fértil para se sedimentar, para ganhar força e sentido, para se tornar real. 
Mas também é aqui que a humanidade o desafia com as armas da ciência, com os argumentos da experimentação. Tanto o mito como a ciência tentam explicar o que existe, mas ambos são construções humanas, precárias, válidas enquanto mantiveram a sua coerência. São semelhantes, são opostas. 
A ciência desmitifica o imaginário, mas só por si não chega para encher a alma do homem, ávido de cores, de longínquo, de tudo o que ele tem no seu imaginário.
A inter-relação existirá? Certamente que sim, a ciência desconstrói o mito, mas precisa dele como ponto de partida na sua ânsia de verdade. 
A ciência é quase magia que se concretiza na experimentação e o mito será sempre uma aureola mágica da nossa ancestralidade, da nossa história, da nossa cultura.
Não pesquisem tudo, não descubram tudo, nãos destruam tudo, afinal, a maravilha da humanidade está na capacidade que tem de criar utopias.
 Porque na realidade mito e ciência não existem, apenas existe o homem. Esse ser construtor compulsivo de verdades científicas e sonhador impenitente de fábulas míticas.
Sem verdades a vida é uma eterna incoerência de dúvidas mas sem sonhos, a vida perece de tristeza.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Post.it: Vamos conversar


 Falar de nós, falar connosco.
Revelar o que somos,
o que desejávamos ser.
Para onde vamos. 
Onde paramos para ficar,
se a vida o permitir.
Podem ser curtas as frases
Podem ser longos os sentimentos.
Bem sei que não é fácil
falar por meias palavras,
e confessar inteiras verdades.
Bem sei que não é fácil confiar,
despir os medos, erguer a coragem.
Partilhar lágrimas,
repartir dores,
oferecer sorrisos,
como se fossem flores.
De uma primavera de outra era,
De um outono que espreita,
Pelas rugas do rosto.
Mas nada há a esconder
Não te vejo, não me vês.
Estou de pijama e tu talvez,
de traje de gala.
Cheiro a duche ainda fumegante,
e tu, talvez, a perfume francês.
Mas isso pouco nos importa
Nesta conversa, (bate-papo),
totalmente virtual.
Fica um abraço, por dar…
Fica um beijo, por beijar…
E depois o clic de desligar.
E a noite fica mais escura,
E a noite fica mais vazia.
Até ao próximo bate-papo?...