terça-feira, 31 de maio de 2011

Por um sorriso teu

Quantas vezes apenas
Bastava um olhar.
A mão que me acenas
Na distância a aumentar.

Se ao menos uma palavra
Me viesse confortar.
A mais pequena palavra,
Me faria esperar.

Eu esperaria a eternidade
Se tivesse um sorriso teu.
Pequena estrela do céu.

Chamar-lhe-ia felicidade
Para que um simples sorriso teu,
Enchesse de luz o coração meu.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Post.it: Pedras, gosto de todas

Bem sei que o caminho está cheio de dificuldades, subidas e descidas, com pisos lisos ou composto de pedras.
Bem sei que não podemos afastar todos os perigos, não podemos contornar todos os obstáculos.
Mas se temos que aceitar todas as pedras do caminho:
Então que estas sejam pequenas para facilmente as transpormos.
Leves para serem fáceis de carregar.
De arestas suaves para não nos magoarmos.
Que nos sejam um auxilio e não uma dificuldade:
Degraus por onde podemos subir para chegar mais alto.
Pontes para chegarmos à outra margem.
Sólidas para construírem o nosso lar.
Firmes para não serem abaladas pelas intempéries.
E que um dia saibamos agradecer cada pedra que existiu na nossa vida.
A cada dificuldade que nos ensinou a lutar e a valorizar tudo o que conquistámos.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (39)

A sombra lutava com quantas forças tinha e rugia, chamando as filhas feiticeiras. Ouvia o eco das suas respostas, distorcidos pela distância e pelo ondular das águas do lago. Respostas de raiva e impotência, de maldade aprisionada e revoltosa. Encontrava-se sozinha perante uma multidão que parecia cada vez maior e mais difícil de controlar. Sentiu que a força não vinha só da multidão. Começou a sentir o incómodo da união nas franjas da sua escuridão. Começava a ser atacada também pelo exterior.
“Não! Não me vencerão novamente!”
O grito saiu como um trovão e com ele os respingos da fúria e da violência que a enchia. Resfolgou fumo e ira e, na praça, todos viram como se tornou vermelha e ainda mais ameaçadora. Aqui e ali, alguns corações sucumbiram ao medo e a sombra penetrou e acendeu neles a sua ira e semeou desconfiança e desunião.
Sobre o lago, o Guardião e as fadas comandante viram a transformação da sombra e perceberam que estava a tornar-se mais perigosa e a expandir-se cada vez mais. Do lado oposto, via-se o clarão que crescia a partir das cidades da ilha e surgiram no horizonte terrestre as forças de segurança dos seres brilhantes que, rapidamente, alcançaram o contingente militar do reino mágico. Sob o comando do Guardião e das fadas-comandante, organizaram-se numa formação única em que as forças militares dos dois reinos se misturaram e interligaram, criando um semi-círculo, largo e aberto. Assim, unida e fortalecida pela comunicação de pensamentos que emanava do clarão da ilha, a formação militar avançou em direcção ao reino mágico e à sombra que, sentindo-se ameaçada, começou a incendiar-se e a cuspir fogo em todas as direcções, tentando penetrar a luz real que protegia a praça e, ao mesmo tempo, atingir a formação militar que se aproximava. A sombra enfrentava pela primeira vez uma força unida e coesa que o seu poder teria dificuldade em dominar. Mas ela não desistia. Ainda tinha um trunfo poderoso! Não se deixaria vencer!
………….
Continua
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No reino mágico das fadas (40)
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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Post.it: A pulga

Era pequena, não que fosse mínima mas ficava um pouco abaixo da média. Dizia com jovialidade que não era pequena mas condensada. Entristecia-a ser assim tão baixinha porque tinha o desejo de ser grande, de fazer grandes coisas, de deixar grandes recordações. Mas tudo na sua vida era à sua dimensão. Pequenas coisas, pequenas recordações. Mas do mal o menos, dizia em jeito de complacência, “os problemas também são pequenos, talvez reconheçam a minha pequena capacidade de os resolver”. Dizem que os pequenos chegam onde chegam os grandes, “sim, mas a verdade é que nos cansamos muito mais, os altos basta esticarem o braço, nós temos que ir buscar um banco,  subir para cima dele, cumprir a tarefa e arrumá-lo em seguida”. Tentando atenuar a mágoa, as amigas diziam-lhe com carinho, “podes ser pequena por fora mas enorme por dentro”. Até pode ser, suspirava, “ mas não me serve de nada quando estou num espectáculo musical e todos à minha frente erguem-se como um muro que me tira a visibilidade. Deviam marcar os lugares consoante a altura”. Depois de tantos argumentos, chegaram a um impasse, um empate técnico. Quando uma voz que até então se mantivera em silêncio fez-se ouvir. “Até a pulga tem coração”. Estava tudo dito. O coração não tem tamanho, ou melhor a sua dimensão mede-se pela capacidade de amar e esta minha amiga era Gigante.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Post.it: A minha amiga IVA

Claro que não ela não tem este nome. Porque se tivesse, já estou a ouvir a resposta – Ai filha, atirava-me logo para debaixo do primeiro Ferrari que me aparecesse. Franzo o sobrolho com ar inquiridor. Mas ela logo me esclarece.  – Não tás à espera que eu morra atropelada por um xaveco qualquer, pois não?
Suspiro, já não ligo a mínima aos seus exageros. Por isso lhe chamo, a minha amiga IVA porque ela exagera tudo. Já deixei de me stressar, de sair a voar de casa para a ir socorrer e quando lá chegava, estava ao telemóvel a dar ordens à secretária. Qual é a urgência? perguntava-lhe enquanto retomava o fôlego.  – Querida, finalmente chegaste, isto de ter o carro avariado é um horror, nem o ar condicionado funciona, com este calor, estou com um aspecto horrível. Olhava-a de alto a baixo, mantinha o seu ar impecável enquanto eu, que vestira a camisola ao contrário, o casaco com uma manga vestida e outra despida e um sapato de cada nação. Tinha vindo a  120 km à hora porque o código da estrada não permitia mais. Quando o reboque chegou, o motorista olhou para ambas e ficou indeciso sobre quem precisava de ser salva. Já mais calma, respondi-lhe que era eu quem precisava de ser salva, porque quem tem amigas destas, precisa dum coração sobresselente.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

És o meu fado

Que destino é este
que sem querer me amarra.
Vento forte que vindo de leste
sopra nas cordas duma guitarra.

És meu o fado,
a minha perdição.
Meu sonho encantado
com trinados de desilusão.

Com que tristeza,
com que espanto.
com que delicadeza,
criaste este meu pranto.

Que destino me deste,
com promessas de eternidade.
No dia em que me ofereceste,
este mar de ondulante saudade.


Era uma vez: No reino mágico das fadas (38)

Nesse momento, o contingente militar de fadas e magos sobrevoava o lago das mil cores, escoltado pelo Guardião e por um grupo de vigilantes que, por cortesia, haviam decidido acompanhá-los. Ao aproximarem-se da costa do reino mágico, começaram a avistar a sombra negra, ameaçadora e ruidosa a invadir os céus da cidade e, por precaução, decidiram parar e utilizar a magia protectora que envolveu também os acompanhantes da ilha. As fadas-comandante e o Guardião, reunidos na mesma bolha de protecção, tentavam compreender o que se passava, para decidirem acertadamente. Só o Guardião conseguiu encontrar uma explicação para a presença daquela ameaça escura e estrondosa.
“Eu sou o último da minha espécie. Fui o único do meu povo a escapar à fúria das feiticeiras, por bondade de um ser brilhante que me recolheu do meio do fogo e das cinzas que se abateram sobre nós, caídas do céu que, de um momento para o outro, deixou de ser azul e se tornou cinzento e cobriu tudo com a sua escuridão. Só ouvi o meu pai dizer – “a maldição chegou!” – e, de repente, foi o caos. Encontrava-se um ser brilhante na minha casa. Tinha negócios com o meu pai. Perante a ameaça e vendo o meu pai atingido por uma bola de fogo e fumo, pegou em mim e escondeu-me no seu brilho. Não sei como conseguiu escapar. Com o choque perdi todas as memórias da viagem. Só me lembro de ter acordado num lugar luminoso e confortável e de ter sido acolhido por uma família de seres brilhantes, parentes do que me tinha salvo e perdera a vida nessa aventura. Era muito jovem, mas sabia a razão da maldição que o meu pai reconheceu. O meu povo era aliado dos seres brilhantes e, com os seus poderes, ajudava-os a prevenir e os ataques das feiticeiras, que nunca conseguiam vencê-los. A mãe de todas as feiticeiras lançou uma maldição que falava de um sombra maldita que destruiria tudo e todos, com o seu negrume, a sua tristeza e o desânimo que se transformariam em fogo e fumo e, por fim, tudo seria cinzas e nada.”
As fadas e magos ouviam atentamente o Guardião e facilmente perceberam que aquela era a sombra maldita e que o reino mágico corria enorme perigo. Em conjunto delinearam uma estratégia, mas precisariam da ajuda das forças militares da ilha. O Guardião e um grupo de vigilantes dirigiram-se a toda a pressa para a ilha, a fim de porem o conselho de decisores ao corrente da situação e de trazerem apoio militar.
Entretanto, na maior cidade da ilha, a multidão de seres brilhantes que enchia ruas e praças, rompia o silêncio para apoiar as palavras de Elix e, num gesto único, ergueram os braços e todas as mãos se tocaram e todos os brilhos se uniram e confundiram, gerando um clarão imenso que iluminou toda a ilha. As outras três cidades já estavam também ao corrente e os seus habitantes organizavam-se para apoiar a cidade grande. Ainda o sol não tinha subido mais que um grau no horizonte e já a nuvem de luz se espalhava sobre as águas do lago e fazia encolher as feiticeiras aprisionadas que nunca deixavam de agitar as águas e tentar libertar-se.
No reino mágico das fadas, a rainha Amada, unia o seu esforço ao da multidão e combatia o poder da sombra que resistia e tentava impor a sua raiva e espalhar a desconfiança, o medo e a dor.
………….
Continua
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No reino mágico das fadas (39)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Post.it: Oferecia versos

Tinha um ar  peculiar de cavalheiro à moda antiga. Figura pitoresca, extraída do livro de Eça. O bigode retorcido, os poucos cabelos admoestados com gel. O fato de fino corte e padrão discreto, a camisa dum branco  imaculado  e para completar  o conjunto um laçarote de bolinhas azuis. Aproximava-se com descrição, apresentava-se e pegava na mão da desconhecida dama. Com o corpo ligeiramente inclinado, manifestando o seu respeito, a voz saia rouca mas terna  quando declamava-lhe um verso que oferecia como se fosse uma flor. Umas pessoas gostavam muito. Outras estando tristes ficavam alegres. Outras ainda de tão surpresas ficavam sem palavras. Mas havia quem não gostasse. Era o caso duma senhora de expressão amargurada. Cansada dum dia de trabalho, a desconhecida fugia com a mão, negava-lhe a atenção, resmungava com impaciência.
 – Deixe-me em paz, já estou farta desses versos decorados, são sempre os mesmos. Exclamou com azedume.  O cavalheiro não se retraiu, nem se ofendeu. Sorriu com doçura que só o passar dos anos lhe concedeu.
 – Tem razão minha senhora, peço desculpa pelo atrevimento. Pois como podem  tão banais versos comparar-se a tão singela dama que só a mais bela flor pode igualar?
Dito isto tirou da lapela do casaco uma rosa e ofereceu-lha.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Post.it: Uma folha em branco

Olhando para esta folha em branco, lembrei-me de todas aquelas que escrevi, rasguei e deitei fora, mas também de todas aquelas que insisti em reescrever na esperança de remediar o que estava escrito. Olhando para esta folha em branco, encarei-a como uma nova oportunidade. A possibilidade que me estava a ser dada para reescrever a minha vida. Não adianta reler o passado, de tão rasurado que está, pela nossa tentativa de o sentir de múltiplas formas. É tempo de pedir ao destino uma folha em branco onde possa escrever tudo de novo e, quem sabe, desta vez compor nela uma história com um final feliz.
Vamos, não te envergonhes, levanta o braço, pede uma folha em branco, dizes-me num incentivo de amiga.
 – Não tenhas receio de fracassar, porque há sempre uma folha em branco à tua disposição se tiveres coragem de a pedir. Se tiveres coragem de a escrever, de rasgar essa outra já tão emendada pelas tentativas de lhe dares sentido. Pela teimosia em a tentares compor, acumulando desilusões.
– Pede uma folha em branco…

Era uma vez: No reino mágico das fadas (37)

Na ilha, o conselho de decisores sentia, através dos pensamentos de Ornix e Corix, a luta que se travava entre a luz que crescia na multidão da praça e a sombra que se debatia e recorria a todos os truques mágicos para resistir e destruir a fonte de luz e decidiu unir a força dos seres brilhantes a esse esforço. Foram convocados todos os habitantes da ilha que se reuniram na cidade, enchendo por completo todas as praças e ruas. O decisor mais velho, Elix, que substituía Ornix, explicou a situação. Contou brevemente a antiga lenda que explicava a inimizade entre o reino mágico das fadas e o dos seres brilhantes, que falava da mãe das feiticeiras aprisionadas no lago e de como ela aproveitava e fazia crescer o egoísmo dos corações, que fazia distorcer a visão dos outros e o entendimento das suas razões, transformando-se em altivez, medo, agressividade e conflito. E descreveu o que estava a acontecer no reino mágico das fadas: o regresso da mãe das feiticeiras que, perante o eminente entendimento entre os dois reinos, vira o seu poder ameaçado e reaparecera, em forma de sombra negra, fria e aterradora, para impedir que a cooperação entre os dois povos acabasse com o seu reinado de divisão e medo. Terminou o seu discurso lembrando os enormes progressos dos últimos séculos, o percurso de crescimento na instrução, na cultura e na mentalidade, que havia tornado os seres brilhantes num povo desenvolvido, compreensivo e desejoso de paz. E, por último, apelou à boa vontade de todos:
“É este o momento de dar bom uso à maturidade que atingimos como indivíduos e como povo. Temos de escolher: ou abandonamos o reino mágico das fadas à sua sorte, ou nos unimos ao seu esforço e o ajudamos a vencer, de uma vez por todas, o poder que tanto sofrimento nos tem causado e, juntos, damos um passo em frente na construção de uma nova história.”
Elix calou-se e deixou que o silêncio tomasse conta de todos os que o haviam escutado e que as suas palavras semeassem a vontade que o animava todo o conselho e que levara Ornix ao reino mágico das fadas. Em pé e completamente imóvel esperou a reacção ao seu discurso.
Entretanto, na grande praça da cidade principal do reino mágico das fadas, a sombra continuava a pairar e a resistir. Ao mesmo tempo que roncava ameaçadoramente, tentando induzir o pânico, insinuava-se em alguns corações mais amedrontados e semeava neles a desconfiança e o rancor contra alguém que se encontrava próximo e, aqui e ali, a luz crescente enfraquecia e tremeluzia e o medo infiltrava-se e a sombra gargalhava mais alto e mais forte. A rainha Amada percebeu a manobra e olhou fixa e profundamente cada ponto enfraquecido, devolvendo a confiança e ajudando esses corações a fecharem a porta ao medo. A fada Astuta e os seres brilhantes uniram-se á rainha nessa atitude. E, assim, iam vencendo cada novo truque que a sombra ia usando na sua tentativa de vencer o poder da confiança e da união.
Mas a tarde ia-se aproximando do seu fim e a noite seria uma aliada poderosa da sombra. A própria rainha teve de se esforçar para afastar esse novo receio. E a sombra, sentindo-o, rugiu fortemente, inflou e tornou-se ainda mais negra, conseguindo penetrar levemente a luz que o olhar da rainha espalhava sobre a multidão.
………….
Continua
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No reino mágico das fadas (38)
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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Post.it: Entre o precipício e o céu

Quantas vezes hesitamos na travessia da ponte que a vida faz em nós.
O olhar prender-se no precipício e ele devolve o olhar, como se nos chamasse. É um instante em que tudo se decide, o principio ou o fim. Num impulso final soltamo-nos das suas garras e olhamos para o céu, com esperança de salvação. Mas também ele nos prende e afasta, também ele nos ofusca com o brilho incandescente do sol. Desiludidos percebemos que a sua proximidade é  apenas ilusória, que não podemos tocar nas nuvens, que não podemos apanhar uma estrela. Os olhos deslizam envergonhados da sedução e fixam-se no horizonte, de repente abrem-se de espanto, perante a beleza que os cerca, perante a paz que os inunda. Então compreendem que sempre ali esteve, à nossa espera, enquanto nos perdíamos pelos abismos da vida e pelas fantasias celestes. Um horizonte de segurança, terra firme, âncora de serenidade, lar de conforto. Este é o nosso lugar, é aqui que devemos permanecer, é por ele que devemos caminhar, é nele que devemos acreditar. No horizonte que se estende à nossa frente…

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Post.it: Os homens e as datas

Vamos lá esclarecer a questão, diz o meu amigo já impaciente das  acusações femininas. – Nós não somos distraídos ou insensíveis à datas comemorativas. Mas tudo isto dá muito trabalho. Não o comprar de uma lembrança, mas pela ideia quase universal de que aquele dia é especial e por isso temos que estar bem dispostos e receptivos. Além disso há demasiadas datas para recordar, as históricas internacionais, nacionais e locais. As religiosas, as sociais, as familiares e as amorosas. Já me basta lembrar as datas das contas para pagar!
Não é que os homens não apreciem datas, umas mais do que outras. Há aquelas que esquecemos ou substituímos por outras, a do começo do namoro, é substituída pela do casamento e se a coisa der para o torto fica a data do divórcio. Depois vêm as datas inesquecíveis, o nascimento dos filhos, os meus, os nossos, os dela. Voltam a ser datas a mais.
Concordem comigo, há pessoas que não gostam de celebrar datas. O aniversário significa envelhecer, o Natal é uma febre de consumismo. A passagem de ano, porque o seguinte muitas vezes é pior que o anterior, ou até o dia do não fumador, porque por acaso até fumo, etc.
Tive uma namorada que não gostava de celebrações, eu novato nessas andanças, ofereci-lhe um ramo de flores, reclamou de imediato que ainda não tinha morrido. Corri para a loja e comprei-lhe chocolates. Recusou porque não queria engordar. Não me dei por vencido e numa febre de paixão comprei-lhe um enorme peluche. Afastou-o logo, porque era alérgica. Ofereci-lhe um adeus, acho que o aceitou porque nunca mais ouvi falar dela.
Mas voltemos à questão dos homens não gostarem de datas. Não é que não gostemos, simplesmente esquecemos. Mas isso não significa que amemos menos, que sejamos maus maridos, pais ou filhos, egoístas ou egocêntricos.
Ao contrário de vocês mulheres que valorizam demais o passado, nós valorizamos o futuro. Em vez de celebrar aquela data especifica, todos os anos, preferimos a surpresa de cada dia. O momento em que num impulso de romantismo e de carinho, lhe oferecemos uma flor, a raptamos do emprego para a presentear com um jantar à luz de velas ou uma escapadinha de fim-de-semana num paraíso terrestre. Gostamos de datas que não marcamos no calendário.
Todas nós aplaudimos o discurso. Mas será que é assim, ou tu és único?
Questionámos...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Post.it: Adeus manhã

Que me despertaste dos sonhos que a noite me ofereceu. Que me invadiste de luz solar a penumbra do meu quarto. Que o galo anuncia como se tu fosses  a sua maior alegria.
Que me abriu os olhos ainda raiados de sono.
Que me acordou o corpo envolto numa doce névoa de preguiça. Murmuro um ressentimento de cansaço e desilusão. Acuso a invasão não consentida do meu espaço e do meu sonhar. Aconchego-me envolta ainda de torpor. Mas o galo insiste no seu chamado, exige-me uma energia que ainda não acordou.
Levanto-me hesitante, lanço um saudoso olhar ao leito de conforto, transporte para o reino da fantasia nocturna.
A cascata de água promete levar consigo os resquícios da preguiçosa dolência. O pijama abandona-me, entristece-me com a sua partida, ultimo reduto que me liga ao sonhar. O café a fumegar traz-me por fim a vontade de um começo. Traz-me o desejo de um novo dia. Os passos encaminham-se para seu o destino. Fecho a porta, adeus, manhã, estou pronta para o dia.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (36)

No reino mágico das fadas, a multidão da praça mantinha-se silenciosa e suspensa do olhar da rainha Amada que continuava a lutar, com a sua luz mágica, contra o poder escuro e estrondoso da sombra que rugia com todas as forças, debatendo-se furiosamente e tentando crescer e envolver a multidão no seu manto frio de medo, ódio e rancor. Porém, a serenidade da rainha Amada era mais poderosa. Ergueu os braços e estendeu-os para a multidão, como um prolongamento do seu coração e do seu olhar doce e tranquilizante, que foi envolvendo tudo e todos. Fadas e magos, tocados pelo olhar e pelo gesto da rainha, foram também abrindo o coração e estendendo os braços, que se tocaram e uniram, num gesto feitro comunhão e força. A fada Astuta juntou-se à rainha, na varanda, e uniu o seu poder ao dela, tornando-o ainda mais forte e poderoso. Até os dois seres brilhantes, que permaneciam na sala contígua à varanda, foram envolvidos nessa magia, unindo brilho e mãos e pensamentos e vontades, de tal forma que a força da magia real chegou ao outro lado do lago das mil cores, ao professor Inventix e seus colaboradores e ao conselho de decisores, como uma onda de ideias e sentimentos que semeava maturidade, sabedoria e generosidade e afastava a desconfiança e o temor, gerando vontade de crescimento e desejo de união, entendimento e paz.
A rainha Amada manteve o poder da sua magia real durante longo tempo, olhando e sentindo a multidão, adivinhando o efeito da sua magia nos seres brilhantes e desejando que este se comunicasse através deles ao reino da ilha. Pensou na sua filha e nas fadas e magos que ainda não haviam regressado da sua missão e desejou que estivessem ali, a seu lado. Continuava a olhar a multidão e a ouvir e a sentir a sombra que pairava e lutava com todas as forças contra a sua magia. Sabia que, sozinha, não poderia vencê-la, mas confiava na força da comunicação de sentimentos, no poder dos corações unidos e manteve os braços abertos para a multidão e o olhar envolvente e puro que prendia todos os olhares e abria o caminho para o íntimo de cada um, onde a magia da pureza gerava verdade e luz. Começava a sentir-se cansada e enfraquecida nas suas forças físicas, atordoada pelo troar enraivecido da sombra que, a todo o custo, tentava romper a sua luz que a impedia de crescer e amedrontar. A rainha lutou contra a tentação de descansar e manteve-se firme e serena até que, da praça, começou a surgir o reflexo da sua magia – timidamente, apareceram pequenos pontos de luz que, a pouco e pouco, se foram multiplicando e crescendo, crescendo e multiplicando e tornando mais intensos e mais fortes. Até os seres brilhantes se sentiram impelidos a participar nessa magia e saíram para a varanda, onde o seu brilho se tornou igual ao que fazia resplandecer a multidão e se fez parte dele.
Aquela magia de união e luz crescia e fortalecia-se a cada momento, iluminando mais e mais a sombra, que lutou, gargalhou, roncou, rugiu, gemeu, estremeceu e fez estremecer tudo, tentando agarrar-se a cada réstia de desconfiança, a cada farrapo de ódio, a cada sinal de medo que ainda conseguia ainda vislumbrar no fundo de alguns corações.
………….
Continua
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No reino mágico das fadas (37)
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terça-feira, 17 de maio de 2011

Help

Quantos conselhos me dão,
já não sei por onde ir.
Dizem que se seguir o coração,
Este nunca me vai mentir.

Outros dizem que não,
Que isso seria me iludir.
Deixar noutra mão,
O meu destino a fluir.

Se não luto sou acomodada,
Mas se o destino está traçado.
Devo ficar à espera sentada
ou procurá-lo em todo o lado?

A sabedoria popular nunca erra.
Mas com tanta e variada opinião.
Os meus pensamentos em guerra,
Não encontram qualquer solução.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Post.it. Gosto de rotundas

Quando elas começaram a invadir as nossas estradas, resisti, contestei. Considerei que apenas iram empatar e tornar mais lento o fluir do trânsito. Descobri depois as suas vantagens. Principalmente para pessoas que como eu não têm grande sentido de orientação. Que andam sempre perdidas, a rotunda é para nós a salvação. Podemos sempre voltar para trás e recomeçar a procura do caminho certo. Se não acertarmos, há-de surgir algures uma nova rotunda para nos ajudar.
Claro que tenho que sair de casa com 2 horas de antecipação. Como diz uma amiga minha “tens sempre que ir visitar todas as rotundas”. Como não me quero dar por vencida, até porque esta minha amiga gosta de me provocar, explico-lhe com ar sereno:
 – Gosto de rotundas, do seu percurso circular. Sabes que o círculo está ligado à eternidade?
 – Sim, sim, estou a perceber agora porque levas uma eternidade a chegar a algum lado.
– Claro, tenho que conhecer bem o círculo porque o circulo é o símbolo da perfeição. Não tem principio nem fim.
– Tens toda a razão, viajar contigo parece que não tem fim. Mas ao contrário do círculo, sabemos quando começa mas nunca quando acaba. Já agora quando é que decides sair desta rotunda?

Era uma vez: No reino mágico das fadas (35)

No reino mágico, a multidão de fadas e magos reunida na praça acalmara-se ao som da voz serena da sua rainha que, após a sua saudação habitual, começara a falar em tom narrativo, como se contasse uma história.
“Poucos se lembram, talvez já ninguém saiba, mas há muito, muito tempo, este reino que hoje somos foi feito de medo e terror, de maldade e sofrimento. Foi um reino de ódios e vingança, constantemente envolvido em conflitos gerados pela ambição e causadores de pobreza e infelicidade. Todas as magias eram impotentes para dar a vitória, fosse a quem fosse. Nenhum poder mágico tinha a força necessária para vencer todos os outros e impor-se. Todas as magias se faziam para fugir ao medo ou para amedrontar, ou enganar, ou vingar. Só uma força foi capaz de vencer. Só uma força, nascida de um coração puro e bondoso, conseguiu impor-se e acabar com esse tempo que se baniu e se quis esquecido para sempre.”
As gargalhadas sonoras e estridentes continuavam a troar e a aumentar o trepidar da terra e o ronco medonho do ar. Mas a multidão permanecia suspensa das palavras da rainha, imóvel e silenciosa, como se o olhar e o som da sua voz fosse um encantamento que lhes absorvia a atenção e os concentrava no sentido profundo de tudo o que dizia.
“Esse tempo quer voltar. Está aqui, agora, a tentar dividir-nos! Quer aprisionar-nos. Está a tentar amedrontar-nos com o seu escárnio e o seu roncar impotente. Quer alimentar-se do nosso medo e crescer à custa dele, para voltar a dominar-nos. Libertou-se das águas profundas do lago das mil cores. O receio e a desconfiança que se instalaram entre nós nas últimas semanas deram-lhe a força para se libertar e quer fazer-nos regressar ao passado de escuridão e dor. Mas hoje, meus amigos, não precisamos de ter medo! Sabemos como vencê-lo! Conhecemos a única magia capaz de lhe fazer frente e de voltar a aprisioná-lo!”
A estas palavras, a multidão agitou-se e ganhou confiança. As gargalhadas e roncos lutavam para se manter e pareceriam, agora, menos ameaçadores. A sombra queria fazer-se ameaçadora, mas já não crescia e dava sinais de começar a enfraquecer.
Dentro do edifício, os seres brilhantes também tinham sido contagiados pela segurança e serenidade da voz da rainha Amada. Na mente de Ornix começou a surgir uma memória muito profunda e quase desaparecida – o rosto do seu pai que lhe havia contado algo semelhante. Teve a certeza de que Amada estava a falar verdade.
“Corix, conheço os acontecimentos de que a rainha Amada fala. O meu pai falou-me desse tempo. Ela fala verdade!”
Os dois seres brilhantes uniram os pensamentos e comunicaram com a ilha, passando a informação de tudo o que se estava a passar e a mensagem da rainha Amada que, lá fora, continuava a atrair todas as atenções da multidão.
“A magia capaz de vencer a força maléfica que quer dominar-nos é a mais simples e natural, aquela que nos tem mantido unidos e que tem feito do nosso reino, um espaço de prosperidade e paz! Conhecemo-la bem. Só temos de confiar nela. Todos viram, como eu vi, que os seres brilhantes que hoje nos visitaram, aos poucos, deixaram de nos parecer diferentes. Constatamos, por algumas horas que os nossos visitantes em tudo se assemelham a nós. Foi a desconfiança mútua que nos fez ver diferenças intransponíveis onde elas não existiam. As diferenças geram medo, causam divisão e conflitos. Por isso, só há uma forma de fazer voltar às profundezas do lago a força maléfica que tenta amedrontar-nos!”
Na ilha, Inventix e a sua equipa, recebia esta mesma mensagem, através da comunicação de pensamentos de Ornix e Corix, e que também era recebida e entendida na sala do conselho de decisores. Alguns dos mais velhos guardavam ainda a memória de uma lenda que falava de um tempo assim, o tempo que os conduzira à guerra e ao medo e que fizera nascer a maldição do brilho, que os afastara de todos os outros seres e os isolara e encerrara em si próprios, até que haviam aprendido a suportar o brilho uns dos outros e a torná-lo favorável, conseguindo formar um povo e um reino constantemente envolvido em guerras com outros povos temerosos do poder da sua luz. A última fora travada contra o reino mágico das fadas. Ninguém queria que esse tempo voltasse.
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Continua
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No reino mágico das fadas (36)
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sábado, 14 de maio de 2011

Post.it: Diário

Esse livrinho fechado a cadeado.
Diário porque se escreve um pouco em cada dia. Porque se confessam a essas páginas, sentimentos recônditos. Escondidos, não por serem proibidos mas por serem sentidos a medo. Medo que  os descubram e nos roubem os sonhos, ou a esperança que um dia se concretizem. No entanto algo nos diz que tal nunca irá acontecer, contudo, é tão bom sonhar. Ser adolescente e colher flores pelo caminho. Diário, o nosso melhor amigo do coração, confessor das nossas mágoas, o seu silêncio é precioso porque não nos condena, não nos expõe, não se ri de nós. Ouve, regista, guarda, respeita.
A crítica, o riso, esse virá um dia. Quando muitos outros se lhe somarem, quando essa “amizade” deixar de fazer sentido. Será uma crítica feita por nós, e num misto de gozo e saudade. Por fim rasgamos as suas páginas e dizemos adeus à nossa infância.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Post.it: Detesto roupa preta

Detesto roupa preta, são tétricas, depressivas, dão (baixo astral). Mas um dia o meu coração sofreu uma perda, uma grande perda, daquelas em que sentimos que parte de nós perece nesse mesmo instante. Chorei, mas as lágrimas não foram suficientes para lavar a minha dor. Detesto roupa preta, reafirmo convicta, mas senti a necessidade de não pôr cor em cima de mim. O meu coração estava de luto, todo o meu sentir estava enlutado, por isso a roupa preta foi a melhor forma de me esconder. Encontrei no preto o aconchego e a protecção que necessitava nesse momento. Sentia que me dirigiam olhares  surpresos e solidários. As vozes baixavam de tom à minha passagem. Cumprimentavam, abraçavam, partilhavam uma lágrima, depois seguiam no mesmo silêncio em que tinham vindo. O meu luto pedia-lhes descrição, distância e respeito pela dor. Essa dor que não vem do corpo doente mas da alma magoada. Detesto a roupa preta, insisto, mas agradeci-lhe a paz que me permitiu vivenciar nesse momento de recolhimento. Ela  envolveu-me, assentou sobre o meu corpo fragilizado e acalentou-me o coração circundando-o de penumbra, onde permaneceu escondido, assustado e dorido.
Depois despedi-me dela, despi-a, sem saudades, era tempo de seguir em frente e voltar a  escolher na  palete de cores aquela que me inundasse de luz e esperança. Já não detesto a roupa preta, sinto-a como se fosse uma amiga distante, companheira dum momento que não desejo presente.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (34)

A surpresa e o temor encheram a praça e, por momentos, paralisaram a multidão. Na mente da rainha Amada surgiu uma memória antiga de uma lenda que explicava a inimizade entre o reino mágico das fadas e o dos seres brilhantes. Perdia-se no tempo e há muito que deixara de ser contada às gerações mais novas. Falava da mãe das feiticeiras aprisionadas no lago e origem de todos os feitiços maléficos. Ela aproveitava e fazia crescer o egoísmo dos corações que, a pouco e pouco, ia distorcendo a visão dos outros e o entendimento das suas razões, transformando-se em altivez ou em receio e medo, que geravam agressividade e conflito.
Uma gargalhada estridente e gélida encheu o espaço penetrou tudo e todos como uma seta que atingisse o âmago do ser, fazendo-o sentir pequeno, impotente e revoltado. Nos milhares de rostos da praça, escurecidos pela sombra negra, os sorrisos de alegria e os olhares de esperança transformaram-se em esgares de medo e desconfiança. Muitos olhos começaram a ver novamente o brilho em torno da cabeça dos dois visitantes e um grande número começou a gritar a insurgir-se contra a rainha por ter colhidos aqaueles que consideravam já causadores daquela aterradora situação.
As gargalhadas e o ruído estrondoso soavam cada vez mais alto e intensificavam o negrume da sombra, agitando cada vez mais a multidão e levando muitos a usar os poderes mágicos para tentarem escapar ou vingar-se dos seres brilhantes que, a conselho da fada Astuta, abandonaram a varanda.
Ornix e Corix, já dentro do edifício, e também eles um pouco influenciados pelo poder do negrume e do ruído da sombra, começavam a sentir alguma desconfiança em relação à intenção das fadas. Trocaram algumas palavras entre si, evitando ser ouvidos pela fada Astuta que, por sua vez, também sentia já certo desconforto pelo brilho que via ressurgir em torno dos visitantes que também tinham voltado a levitar.
Só a rainha Amada se manteve calma e serena. Recorreu à sua magia real e iluminou a sombra, ao mesmo tempo que ampliava a voz límpida e suave tornando-a audível em todos os cantos da praça que, às suas primeiras palavras e por influência do olhar profundo e penetrante, voltou a silenciar-se, apesar do ruído e das gargalhadas continuarem a impor-se.

Do outro lado do lago, as fadas-comandante despediam-se do Guardião da ilha e iniciavam a viagem de regresso. Como não precisavam de recorrer à magia protectora, a travessia seria menos cansativa e mais agradável. Poderiam sobrevoar o lago ao sabor da brisa e apreciar as suas mil cores e a beleza que a leve ondulação e a luz do sol tão bem realçava. Porém, voavam em formação militar, em grupos organizados e prontos a reagir a qualquer situação de perigo.

Enquanto isso, no edifício dos serviços de investigação e pesquisa científica, o professor Inventix e a sua equipa recebiam preocupados os primeiros sinais de comunicação de pensamentos de Ornix e Corix.
………….

Continua

terça-feira, 10 de maio de 2011

Se eu soubesse amar

Se eu soubesse amar,
Amar-te-ia…
No silêncio da madrugada,
quando o sol se anuncia,
e a lua adormece cansada.

Se eu soubesse amar,
Amar-te-ia…
Num véu de nevoeiro,
Quando o céu encobria,
a luz do faroleiro.

Se eu soubesse amar,
amar-te-ia…
De coração esvoaçante,
A distância apenas seria,
Eco de palavra sonante.

Se eu soubesse amar,
Amar-te-ia…
Com abraços de eternidade,
Beijos de maresia,
Planícies de felicidade.

Se eu soubesse amar,
Amar-te-ia…

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Post.it: Domingo à tarde

Que diversidade de rostos, de idades, de vidas. Passam por mim, mas eu também passo por eles. Quando acelero o passo e procuro com o olhar um poiso para descansar o pensamento. Sim, porque "isto de pensar também cansa" costuma dizer uma amiga minha. Sobretudo quando o "ver" faz doer o coração. Quando se cruza com olhares perdidos, magoados, abandonados pela esperança.
Como o daquele idoso sentado num banco de jardim, uma bola vem aconchegar-se nos seus pés, atrás dela vem uma criança que ainda mal sabe andar. De repente o rosto do idoso ganha luz e surge nele um sorriso que afasta a anterior tristeza. Pega na bola, levanta-se, caminha num passo doloroso. Entrega-a  à criança, esta confiante oferece-lhe a mão e  vão  lado a lado, passeando num passo trémulo.
Solto um suspiro. Preciso de repensar na delicadeza do momento, aquele em que o início e o quase final da vida se tocam e caminham de mãos dadas.
Preciso de saborear este final de dia, quando o fim-de-semana já se despede e uma nova semana se avizinha.
É o eterno ciclo da vida. É o meu domingo à tarde…

Era uma vez: No reino mágico das fadas (33)

No reino mágico das fadas, a rainha Amada e a fada Astuta mostravam a cidade a Ornix e a Corix, a partir da sala de reuniões. A pouco e pouco, habituavam-se de tal modo ao brilho dos visitantes que este até parecia ter desaparecido, deixando em seu lugar o rosto calmo e tranquilizador dos dois seres que, há séculos atrás, tinham combatido e que, durante tanto tempo, haviam considerado inimigos. Os dois seres brilhantes, cada um no seu íntimo, sentiam a mesma perplexidade. Apenas viam nas duas fadas duas mulheres inteligentes, decididas, afáveis e de presença muito agradável. Fora necessário passar tanto tempo e surgir um incidente inesperado para que a desconfiança mútua e o receio de novos conflitos pudessem ser afastados. Os dois povos, no seu empenho de construir uma vida pacífica e segura, tinham percorrido um longo caminho que, mesmo em esforços separados, os havia conduzido a resultados muito semelhantes – a valorização da segurança, do progresso, do entendimento e da paz.
Para rainha Amada e para Ornix aquele encontro era o culminar de uma longínqua recordação de um certo olhar que, no tumulto da batalha, envolvera os dois e semeara neles desejos de paz. Estava ali, diante dos seus olhos e nos seus corações, o fruto amadurecido dessa semente.
Os dois seres brilhantes foram convidados a descer e acompanhar as duas fadas até à varanda do primeiro piso de onde a rainha Amada costumava fazer as comunicações públicas em momentos importantes. Os dois acederam, pois compreenderam como seria importante o apoio do povo do reino mágico para a concretização das medidas que tinham sido acordadas.
A rainha Amada foi a primeira a transpor a porta da varanda. O silêncio da multidão transformou-se numa enorme e sentida ovação que rapidamente voltou a silenciar-se com o aparecimento dos dois seres brilhantes no exterior. Primeiro foram observados com receio, mas, para espanto geral, o brilho tinha desaparecido quase completamente e, diante da multidão, os dois estrangeiros assemelhavam-se em tudo a dois magos do reino. Também Ornix e Corix se espantaram diante da multidão de tal modo as fadas e magos que a constituíam se pareciam com os seres brilhantes. Distinguiam-se sobretudo pelo facto de não levitarem e de caminharem sobre os próprios pés ou voarem por artes mágicas, pois não possuíam asas. E mais, sem perceberem porquê, os seus pés tocaram o chão e puderam apreciar com prazer a sensação de firmeza nas pernas e em todo o corpo.
As fadas também repararam nessa mudança e, mais uma vez, se surpreenderam, tal como os dois visitantes, por concluírem que, afinal, fadas e magos não eram muito diferentes dos seres brilhantes. Poderia mesmo dizer-se que eram muito semelhantes.
Como tinha sido possível terem encontrado tantas diferenças e deixado que tantos receios tivessem sido erguidos entre os dois povos?!
Depois de alguns minutos de silêncio, observação mútua e expectativa, a multidão voltou a aplaudir a rainha antes do início de um curto discurso.
“Meus amigos, trazemos boas notícias. Chegámos a um entendimento com os seres brilhantes e a nossa princesa e os jovens magos regressarão brevemente, assim como o contingente militar que partiu ontem para a ilha. Tudo está esclarecido e será resolvido em paz.”
Ouviu-se um longo suspiro e, da praça, rompeu numa enorme salva de palmas e exclamações de apoio à rainha Amada.

Na praia da ilha, as forças de segurança comandadas pelo Guardião e as forças militares do reino mágico haviam delineado uma estratégia e, em conjunto, capturaram as criaturas negras que regressaram à companhia das feiticeiras, na sua prisão das águas superficiais do lago das mil cores. As nuvens dissiparam-se, o vento amainou e a luz do sol voltou a realçar as cores da água reflectidas em todas as direcções e o marulhar da leve ondulação que vinha desfazer-se na praia voltou a encher o ar. Tudo havia serenado e apenas a presença das duas forças militares fazia com que a praia tivesse um aspecto diferente.
As fadas-comandante decidiram fazer regressar ao reino todo o contingente militar e o Guardião, depois de comunicar com o conselho de decisores, informou-as de que a fada Marbel e os jovens magos estavam quase recuperados e poderiam regressar ao reino assim que quisessem.

No reino mágico, a multidão continuava reunida na praça e preparava-se para ouvir Ornix que comunicara à rainha o seu desejo de falar em nome dos seres brilhantes. Porém, antes que o pudesse fazer, uma sombra negra e fria foi-se estendendo e cobrindo a multidão e grande parte da cidade, acompanhada por um ruído estrondoso que fazia estremecer tudo.
………….
Continua
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No reino mágico das fadas (34)
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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Post.it: Espíritos inquietos

Talvez acomodados, de chinelos enfiados no pé, sentados à frente do televisor ou mergulhados num qualquer livro que nos leve para um mundo distante da realidade. Para uma vida que pode ser aventura à procura do desejado ou do desejável. Todos somos aventureiros e viajantes nos nossos sonhos. Viagens e aventura foram as primeiras e permanecem como as grandes atracções da humanidade. Momentos em que nos vemos a percorrer terras, subir montanhas, atravessar oceanos, palmilhar ilhas. Somos descobridores, conquistadores, aventureiros por competição ou gosto humano. Superando os seus limites, ávidos de liberdade. Mas a “recompensa nem sempre está no pódio” está no regresso a casa, ao lar que nos conforta.
“o homem só se sente bem onde a imaginação o levou”.
Quanto a mim confesso,  o que realmente planeio  é atravessar as fronteiras da mente.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (32)

Na ilha, no edifício dos serviços de investigação e pesquisa científica, o professor Inventix e a sua equipa de técnicos especializados em telecomunicação e teletransportação viram partir Ornix e Corix e ficaram a acompanhar todos os sinais vitais e a trajectória da viagem, através de um ecrã, na parede central da sala de operações, que sintetizava e apresentava a informação do complexo equipamento electrónico que havia permitido aquela operação. Sabiam, pois, que a viagem se completara e que os dois se encontravam bem. Todos os sistemas físicos davam sinais de estar a funcionar normalmente, o que indicava que o processo de teletransportação não lhes afectara a saúde e o equilíbrio físico. As ondas magnéticas referentes ao sistema psicológico também mostravam que ambos estavam calmos e não apresentavam sintomas de medo ou sofrimento. A comunicação de pensamentos era o único aspecto que não estava a resultar totalmente, apesar do êxito da difusão da mensagem de serenidade e calma que tinha chegado a todas as partes da ilha e, pela informação dos aparelhos, concluía-se que também ao reino mágico das fadas. Recebiam sinais intermitentes de pensamentos positivos, mas sem confirmação. Poderia ser pelo facto de Ornix e Corix se encontrarem envolvidos na conversão com as fadas e se esquecerem de utilizar essa comunicação com a ilha. Mas poderia dever-se a algum pormenor que estivesse a falhar. Afinaram todos os aparelhos e ajustaram toda a programação, mas as mensagens de pensamento dos dois viajantes não chegavam completas e com clareza.
O conselho de decisores encontrava-se reunido desde manhã e acompanhava o decorrer da operação através de um painel electrónico. Ao mesmo tempo, reflectiam sobre as formas de negociação com o reino mágico das fadas, partindo do princípio de que tudo iria resolver-se em bem.
Na praia da ilha, persistiam algumas nuvens de tempestade e a ondulação do lago ainda era agitada. Apesar da vitória dos seres benéficos do lago, matinham-se as tentativas de resistência por parte das feiticeiras, que continuavam a espalhar revolta e a tentar lançar feitiços de maldade sobre o lago. As criaturas aladas e negras permaneciam escondidas nas nuvens que alimentavam com o seu bafo fumarento e húmido, tentando assim escapar à captura e ao aprisionamento.
Na praia, as forças de segurança, comandadas pelo Guardião, estavam atentas e prontas a entrar em acção, caso fosse necessário.
Foi este o cenário que as forças militares, de regresso ao reino mágico, avistaram das suas bolhas protectoras ao sobrevoarem a praia. Aperceberam-se das intenções das criaturas negras aladas e da resistência das feiticeiras. Sabiam que, com a sua magia, poderiam ajudar a neutralizá-las de vez. Mas, se actuassem, poderiam ser mal entendidos pelas forças de segurança da ilha e gerar um conflito. As fadas-comandante conferenciaram e decidiram não interferir sem, primeiro, comunicar com o Guardião. A fada que comandava todo o contingente considerou ser seu dever assumir essa função e, destemidamente, dirigiu-se ao local da praia onde ele se encontrava. Posicionou-se diante dele e, lentamente, foi deixando que a bolha de protecção se diluísse e a deixasse visível e vulnerável.
O Guardião e os seus vigilantes ficaram deslumbrados, conseguindo a custo manter-se alerta, perante a aparição de tão bela criatura. Tinham ouvido falar na beleza das fadas, mas nada os preparara para o rosto perfeito iluminado por um sorriso branco-brilhante e pelo olhar profundo e penetrante dos olhos cujo castanho-escuro aveludado inspirava confiança e, muito menos para a esbelteza do corpo perfeitamente modelado e harmonioso, mesmo no traje militar.
Foi a fada quem primeiro falou:
“Sois vós o famoso Guardião?”
Este controlou a admiração e retomou a serenidade.

“Sim. E vós, quem sóis?”
“Sou a segunda fada comandante das forças militares do reino mágico.”
Esta resposta afastou o espanto e,tanto o Guardião como os vigilantes mostraram alguma crispação. Mas o Guardião conseguiu perguntar com voz calma:
“Com que propósito vos encontrais na nossa ilha?”
A fada compreendeu a atitude e calmamente respondeu.
“Não vos preocupeis, estamos em paz. Não estou sozinha. Um grande contingente militar do nosso reino encontra-se invisível e indetectável sobre os céus da vossa praia, mas está de regresso, pois o motivo que aqui nos trouxe foi resolvido, como sabeis.”
O Guardião respirou fundo, mas manteve a atitude defensiva:
“Tendes de me explicar melhor esse ‘está de regresso’ e o motivo de me estardes a comunicar a vossa presença!”
“Claro. Ouvi, então, mas até ao fim e sem interromper!”
A fada contou tudo, desde a decisão de entrar na ilha e iniciar uma guerra, devido às informações enganosas que haviam recebido, até à decisão de regressarem, em paz, por se ter esclarecido tudo e porque nunca fora intenção do reino mágico interferir com a vida da ilha ou entrar em conflito com os seus habitantes. Por fim, revelou o que as suas forças tinham observado ao sobrevoarem o lago e a sua disponibilidade para ajudar a vencer definitivamente as forças maléficas do lago das mil cores.
Lá do alto, o contingente militar viu o Guardião estender a mão à fada comandante e esta corresponder ao gesto. Compreenderam que tudo tinha sido esclarecido e que, certamente, iriam entrar em acção.
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Continua
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No reino mágico das fadas (33)
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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sem ti

Sem ti
O céu apaga-se no meu olhar.
As palavras são desertos no ar.
Sem ti
Não sei construir desejos,
E nos lábios morrem os beijos.
Sem ti
O amanhã não acontece,
E o dia cansado adormece.
Sem ti
O sol não sabe brilhar,
E a lua não tem luar.
Sem ti
O arco-íris não tem cor,
E o meu coração só tem dor.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Post.it: Havia duas estradas

Por essa que todos conhecem. Vão porque ela parece mais segura. Já está delapidada, gasta dos passos. Vão porque todos vão. Já agora porque  não seguir o exemplo de ser mais um? Deve haver nessa estrada alguma certeza, quem sabe a resposta ao que todos procuramos, o caminho certo para a felicidade.
 Mas não há caminho sem pedras, sem curvas, sem subidas e descidas, sem poças de lágrimas abandonadas.
Havia duas estradas, não tinham qualquer indicação sobre a direcção certa para um futuro promissor. Segui pela menos usada, porque a vida é feita de descobertas, de riscos, de pequenas vitórias e algumas derrotas.
Porque a vida é sempre uma nova senda que se coloca perante nós. Não podemos viver outras vidas, apenas viver com outras vidas, permanecer nelas, sair delas, entrar noutras, seguir em frente, crescer. Porque por falta de conhecimento próprio não sabemos quem somos. Por falta de  conhecimento do mundo não sabemos por onde vamos.
Eu, segui pela estrada menos usada…

Post.it: Amar por muito tempo

Hoje o meu irmão faz anos. É um daqueles irmãos que sabe estar presente e sempre disponível, um daqueles homens que não considera fraqueza amar e mostrar que ama.Num almoço familiar que reuniu os irmãos e respectivos companheiros e filhos, falava-se de mulheres mais gordinhas e de haver homens que as apreciam exactamente por serem assim. O meu irmão puxou a mulher para o seu colo, abraçou-a e saiu-se com esta: "eu não gosto de gordas nem de magras, só gosto da ... (e disse o nome da mulher). Note-se: estão casados há 29 anos!Parabéns ao meu irmão. Pelo aniversário e por ser o homem que é!

Era uma vez: No reino mágico das fadas (31)

Ao princípio, foi um diálogo algo difícil. A falta de hábito de comunicação entre os dois reinos parecia querer manter o seu domínio e as palavras pareceriam não fluir. Mas, a pouco e pouco, a boa vontade das duas partes impôs-se e as frases foram-se construindo com sentido e soando com sinceridade.
As fadas explicaram a atitude da princesa e assumiram a responsabilidade, apresentando as desculpas do reino pelo incidente e garantindo que este assunto seria tratado com a gravidade necessária.
Os seres brilhantes contaram como tudo tinha ocorrido na ilha. Falaram da surpresa, do receio, de como se haviam inteirado de que se tratava de um acto isolado, resultante de uma decisão individual e da decisão do conselho de tratar do assunto a bem, evitando qualquer conflito. Assustaram as duas fadas, quando falaram do rapto da princesa e da tentativa de Ansiex e seus cúmplices de transformarem o incidente numa guerra entre os dois povos vizinhos. Explicaram como haviam descoberto a verdade e tinham decidido arriscar visitar o reino mágico sem demoras, a fim de resolver rapidamente e em paz, toda a situação.
Enquanto falavam, as fadas observavam os seres brilhantes e foram surpreendidas pela sua aparência que, a pouco e pouco, se tornava mais definida, revelando as feições do rosto por detrás do brilho cuja luz se tornava aos olhos das fadas menos intensa e mais fácil de enfrentar. Os dois apresentavam expressões agradáveis, de seres calmos e pacíficos que o decorrer do tempo tornara sábios. Rostos e semblantes tão diferentes da imagem que, no reino mágico, se guardava dos beligerantes vizinhos de outrora!
Por sua vez, os seres brilhantes, observavam as duas fadas e deixavam-se cativar pela sinceridade das suas palavras e intenções e descobriam nelas seres tão semelhantes a si próprios, em que a luz do rosto não vinha de um brilho físico, mas do olhar que deixava transparecer boa vontade e sabedoria.
Tanto as duas fadas como os dois seres brilhantes se interrogavam intimamente: “como acontecera tanto tempo de guerra? Como fora possível manter tanto tempo o antagonismo e desconfiança entre dois reinos habitados por seres que, afinal, não eram assim tão diferentes?
Depois de terem sido apresentadas todas as informações e explicações sobre a situação, passaram à negociação do regresso da princesa e dos jovens magos e sobre a forma de darem início a um relacionamento de vizinhança que pudesse ser proveitoso para os dois reinos.
Enquanto decorria a reunião, na praça, a multidão crescia e muitos achavam que deviam accionar todos os poderes mágicos para defender a rainha e o reino, caso fosse necessário. Mas a maioria mantinha-se calma e expectante. A mensagem difundida a partir da ilha tinha-lhes tocado o coração e o entendimento e a chegada confiante dos dois seres brilhantes, sozinhos e desprotegidos, fazia crer que a intenção era pacífica e positiva. Por isso, embora se mantivessem alerta, esperavam por notícias e confiavam na sua rainha.
No interior do edifício, as duas fadas e os dois seres brilhantes chegavam a conclusões e tomavam decisões:
A princesa Marbel e os jovens magos regressariam assim que as suas condições físicas o permitissem, o que tudo indicava poder ocorrer brevemente. A decisão sobre as consequências, para a princesa, do acto irresponsável que cometera, seria da inteira responsabilidade do reino das fadas, sem qualquer condição por parte dos seres brilhantes.
As relações entre os dois reinos seriam construídas gradualmente e começariam por encontros entre os responsáveis máximos, primeiro a nível político, para estabelecer os domínios de cooperação e as orientações para a sua concretização e, posteriormente, entre os responsáveis pelos diversos aspectos da vida social e económica, a começar pelos cientistas e técnicos do âmbito das comunicações e transportes e pelos especialistas nas relações humanas e na cultura e modos de vida. Só depois de tudo bem preparado e de os dois povos se conhecerem e compreenderem, se passaria ao estabelecimento de relações comerciais e económicas.
No final da reunião, as duas fadas mostraram a cidade aos visitantes, a partir das amplas janelas da sala. Não tinha cúpula protectora como a grande cidade da ilha, pois confiavam no poder das artes mágicas para esse efeito. Assim, era uma cidade muito luminosa e podia observar-se a beleza dos seus edifícios, monumentos, jardins e outros espaços até tudo se confundir com a linha do horizonte ponteada de altas montanhas, para além das quais se prolongava o reino em aldeias rodeadas de campos lavrados, prados e florestas.
Observaram também a multidão. Admiraram e compreenderam o seu silêncio. Em breve tudo seria explicado.
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Continua
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No reino mágico das fadas (32)
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terça-feira, 3 de maio de 2011

post.it: Reciclar

Reciclar é a palavra de ordem. Mudar, transformar o que foi em algo que um dia de novo será. Reciclar é bom, porque tudo adquire um novo sentido, um novo destino. Mas já não se reciclam apenas materiais, hoje em dia reciclam-se corações, separações, vidas. Até parece que as separações não doem, que os finais apenas trazem consigo o desejo expectante dum recomeço pleno de adrenalina e paixão. Há quem diga que continua a doer, mas daí a poucos meses já se tem uma nova relação, um novo sorriso, um novo brilho no olhar. “Ferida de cão cura-se com pêlo de outro cão” diz o povo. Desta forma fica-se com a impressão de que as separações geram reencontros que por sua vez são terapêuticos.
Chamem-me antiquada, mas ainda sonho com o “para sempre”. Mas parece que a nossa incapacidade de tolerar os outros tornou-nos inflexíveis, noutros tempos quase diria que as pessoas tinham uma capacidade elástica, capaz de se adaptar, suplantar, valorizar e  amar o outro. Um amor que se desgastava, mas também um amor que se renovava. Era também uma forma de reciclar, mas dentro da relação. Criando momentos especiais, descobrindo novas qualidades que despertavam os sentimentos mútuos. Perdoem-me a comparação, mas ainda gosto daquele sapato envelhecido que se adaptou ao meu pé, que me conforta sem  magoar. Os novos ainda não estão feitos ao molde, são mais bonitos, modernos, elegantes, sem deformações, sem rugas, mas resisto, os velhos já lhes conheço os defeitos e aprendi a apreciá-los, com eles sinto segurança e cumplicidade.
Hoje em dia quem pensa assim? Quem se dá ao trabalho de construir quando há tanto para descobrir? É irrelevante o passado que cada um arrasta consigo, dramas, traumas, mágoas, inseguranças. A estrutura da família altera-se, são os meus filhos, os seus filhos, os nossos filhos.
Olho para os meus sapatos velhinhos meto-os num saco de lixo mas de imediato perco a coragem. Retiro-os de lá, calço-os, os meus pés reconhecem instantaneamente o contacto macio. Saio para a rua, ainda temos muito caminho para partilhar.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Post.iti: O final da viagem

Sabemos quando começa, talvez não o instante em que se deu o eclipse do coração. Talvez não exacto momento em que perdemos a razão e passamos a viver ao compasso da pressão sistólica e diastólica.
Sabemos que parece infinito e acreditamos que podemos deixar-nos embalar, que não há perigo. Que o mar está calmo e o barco é forte para nos levar a bom porto. Não esperamos os vendavais que surgem e  não sabemos como os suplantar. Agarramo-nos a bóias de esperança, acreditamos nas forças da perseverança. Quem sabe enfrentando as vagas as conseguimos vencer e convencer o mar que merecemos navegar por ele. Quem sabe não desistindo de lutar provamos a nossa coragem, a nossa fibra, a nossa fé. Mas o mar ruge num esgar o Não que petrifica a alma mas não gela o coração. Rasgam-se as velas, quebram-se os remos, mas continuamos agarrados ao leme, enquanto este nos levar adiante na nossa demanda. Teimosia, brame o vento norte. Falta de orgulho,  grita a onda que nos quer arrancar do nosso barco, do nosso sonho, do nosso desejo de felicidade. Barco agora transformado em bote flutuante, cansado, derrotado, retalhado entre o desejo e a lógica do desistir, do aceitar a realidade. Sabemos quando começa a viagem mas não queremos que termine nem quando chegamos a terra firme, isso significa renegar. Renunciar ao que já foi a mais sublime sensação de vida. Prefiro enfrentar de novo todos os vendavais se for para nele te reencontrar, grita num último fôlego o coração, para depois perecer na praia deserta.

domingo, 1 de maio de 2011

Post.it: Mães

Ventre onde se aninha o mistério infinito da vida.

Lembro aqui as mães que as pessoas esquecem e as que a sociedade ainda condena.
Aquelas a quem o infortúnio ou o destino impediu o florescimento de uma nova vida.
As que, por variadas razões, se
viram obrigadas a dizer não a esse ser que começava a formar-se. Que adormeceram com uma esperança e acordaram vazias dela. Foram mães por um momento no corpo mas permanecem mães para sempre na alma.
Homenageio também as que, não gerando, são mães do coração porque aceitaram de braços abertos criar os filhos que sofriam com a ausência de um amor maternal. Recordo igualmente as mães que contra tudo e contra todos abraçaram solitariamente os filhos, tendo apenas por companhia a coragem de serem mães solteiras ou divorciadas.
A todas as mães o nosso muito obrigada.
Porque Mãe é a divina forma de ser mulher.