segunda-feira, 28 de novembro de 2022

A velha senhora

Já foi jovem, cheia de vivacidade, conheceu a vida e a vaidade.

Já teve a pele esticada. Já amou e foi amada.

Com cabelos cheios de sol luzidio, onde a neve um dia caiu.

Teve rios no olhar, foram tantos, ninguém os viu.

As mãos cheias de calor, o coração repleto de amor.

Pariu filhos, ensinou-os a crescer, partiram, deixou de os ter.

Ofereceram-lhe flores, algumas com duros espinhos.

Pintou doces sonhos, palmilhou áridos caminhos.

Chata, rabugenta, cada vez com menos memória.

Por vezes triste, cada vez com menos história.

Agora chamam-lhe a velha senhora.

Enxotam-na da vida, indicam-lhe a estrada a fora.

Não que tenha feito algo de errado.

Mas é para cada um o espelho do futuro reservado.

 




 

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Post. Um olhar pela janela

O mundo tal como o vejo causa-me dor. Já não se sonha porque não se dorme. Já não se tem esperança a não ser quem é criança. O amor já não se dá em vez disso exige. E mesmo quem gosta de nós quer que sejamos aquilo que precisam. Já não há diálogo, mas muitos monólogos. Já não há a verdade comum, cada um tem a sua.

E as ruas em que cada um prossegue são de sentido único, sabe-se lá para onde. Sabe-se lá de onde. Quem me dera saber onde tudo perdeu o sentido. Onde ficou o coração perdido. Onde o olhar ficou sem norte. E tudo se tornou uma fuga para a sorte. Quem me dera ir ao encontro desse desencontro e quando lá chegar, criar raízes que o vento não consegue arrancar.

Meto a chave na porta, respiro o ar das paredes, o coração ameniza-se, cheguei ao meu lar. O cão salta em meu redor, baixo-me, ele lambe-me o rosto. Há uma pureza, uma humildade nos animais de estimação que nós, humanos, há muito perdemos.

O mundo continua a ser feio com coisas belas. Cheio de portas fechadas e olhares a espreitar pelas janelas.



segunda-feira, 14 de novembro de 2022

O que faz a guerra


Não são as armas que fazem a guerra,

Mas quem as dispara.

Não são os homens que fazem a guerra,

Mas os corações magoados.

Não é ódio que faz a guerra,

Mas a falta de amor.

Não é o medo que faz a guerra,

Mas a falta de perdão.



sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Post.it: Sou como sou

Ninguém consegue perceber a dificuldade de ter nascido sem sentido de orientação. Riem-se, duvidam que seja tanto assim, achavam que era uma forma de preguiça. Cheguei a comprar um GPS, diga-se, que era tão trapalhão quanto eu. 
De forma resoluta, pensei, não é defeito, mas a minha maneira de ser. Resolvi vivê-la, senti-la e acarinhá-la. 
Agora costumo dizer: Consigo perder-me em qualquer caminho seja ele longo ou curto. Consigo perder-me em casa. 
Consigo perder-me no meu quarto. 
Consigo perder-me dentro de mim. 
Já me entristeceu, mas então percebi, de tanto me perder, quem sabe um dia me encontre.
Sou assim, é a minha história de vida, é verdade que por vezes, não sei o que fazer do que vivi, histórias que me contaram, histórias que escrevi, a história do que sou. 
Talvez as deite fora. 
Para quê encher a vida de memórias quando o futuro está à minha espera para o escrever? O que passou já não se pode mudar. 
O que está a acontecer é demasiado rápido para o fazer melhor. 
Resta o que ainda acontecerá, tentarei fazer do amanhã um sorriso que valha apena guardar e um caminho que me leve até onde conseguir ir.