segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Lágrimas

“As lágrimas lavam os olhos e limpam a alma!”
Um ditado, como tantos outros. 
Às vezes verdade outras nem tanto.
As lágrimas deixam os olhos salgados
Vermelhos, inchados
Ardidos e doridos pelas lágrimas que os lavaram.

E a alma?
Liberta-se só por um momento!
Uma lágrima chama outra e outra e outra
Tantas, tantas !
Um pranto de profunda dor
que deixa cair em lágrimas
os gritos que não pode gritar
as revoltas que minam e tem de calar.
os segredos que doem e não pode contar.

E a alma?
Fica limpa de tanto chorar?
Deixa cair a dor em pingos de sal a rolar
Mas não limpa, esvazia!
Porque são gotas de esperança a fugir
que deixam a alma pequena e a fazem mirrar.

E quando o pranto se cansa e se esgota o chorar
Secam-se as lágrimas e fica apenas o sal 
Tornam-se mágoas com arestas de cristal
Que se escondem e fingem sarar
Mas rasgam, cortam e abrem feridas que nunca vão fechar.
As lágrimas não aliviam nem curam
Só cansam os olhos
Estalam a pele
E nem impedem o coração de estoirar!

terça-feira, 17 de setembro de 2013

É o futuro

Voltar à escola
Que emoção!
Um mundo de caras novas
Passam, falam, riem…
Eu passo, chego.
Nem reparam em mim.
Sustenho a respiração.
Donde vêm?
Onde quererão ir?
Saberão?
É o futuro
À espreita
Em espera
Ainda por decidir.
Abro a porta.
Quererão vir?

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Setembro

Setembro
é especial
é início
é projecto
desejo de caminhar.

Mas é fim de verão
princípio de outono
e anuncia o inverno!

Sim, têm razão!
Mas é tempo de recomeçar!
a aprender
a trabalhar
a viver.
É tempo de acreditar no futuro.
Sim, aquele que temos de construir
se quisermos "passar"!

E para quem neste mês nasceu
é o tempo de festejar
a prenda que a vida lhes deu,
que a saibam aproveitar!

Para alguém muito especial
que a vida sabe merecer
que setembro seja mês feliz
por todos os anos que viver!

Nota: Uma pequena "prenda"para Olhares, pelo seu aniversário. Alguém que torna setembro e a vida muito mais luminosos. Parabéns por seres quem és!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Ainda há quem tenha brio?

Palavra pequenina, a traduzir desejo grande:
  . querer fazer bem feito
  . aperfeiçoar-se, para evoluir, para fazer melhor!
Palavra pequenina para tão grande vontade!
Sinto falta deste brio em quase tudo:
  . Nos bens e serviços, em que cada vez mais tudo é feito a despachar, com preocupação de aparência, mas tantas vezes sem inteligência funcional e com uma durabilidade só “até que me paguem”.
  . Na vida profissional em que cada um vai fazendo o suficiente, porque “não me pagam para mais”, em que o “mais” significa empenho, vontade, compromisso de merecer o salário e de contribuir para a sustentabilidade do seu emprego.
  . Na família e nas relações, em que cada um se vai mantendo acomodado à sua preguiça e escudado na sua maneira de ser, sem a generosidade de colaborar e de aplanar caminho até aos outros.
  . No plano político, em que cada partido, cada deputado, secretário ou ministro gasta mais tempo a promover a sua cor partidária ou a sua imagem e a garantir o seu futuro do que a procurar soluções e formas de valorizar os recursos naturais e humanos do país.
E, assim, a falta de brio pessoal e profissional passa a falta de consciência, a negligência, a logro, a roubo e…, evidenciando o nível de egoísmo em que as pessoas e a sociedade caíram.
Chamam-lhe direito ao individualismo, direito a ser quem é, direito a ter o que se deseja, direito a …
Talvez seja antiquada, de um tempo em que, a cada direito, correspondia um dever e em que o individualismo era considerado defeito.
Talvez seja antiquada, de um tempo em que ainda se acreditava que as relações, a família e a sociedade se baseiam mais no dar do que no receber.
Talvez seja antiquada, de um tempo em que se  dizia que só a contribuição briosa de todos pode garantir o bem-estar presente e a sustentabilidade do futuro.
Afinal, concluo: ter brio é querer fazer bem, mas leva-nos muito mais longe – torna-nos capazes de construir pontes, de aplanar caminhos e de criar bases sólidas para a durabilidade dos bens, das relações, das famílias, das empresas e do país.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Família

Fim-de-semana
Começa com F de Família
Rima com gente que se ama
Tal como cada dia
No calor dessa chama

Família
Princípio
Crescimento
Permanência
Longa duração
Mesmo quando a vida é dura
Até mais do que quando é canção

Família
Do lado do pai 
Da parte da mãe
Cresce
Do lado de cada irmão
E cresce
Do lado dos filhos e sobrinhos
A mesa vai-se fazendo maior

Família
É esta, do sangue
Onde cabe a outra
De encontro e escolha
Que entra
Fica
Permanece
E a família também cresce 
Do lado do coração.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Era uma vez: Sei de uma árvore.

Sei de uma árvore!
É alta, parece ainda forte e frondosa, como a querer tocar o céu e abraçar o sol.
Às vezes também olha para baixo e descobre a penumbra da sua sombra, as pequenas fendas que vão rasgando o tronco e as rugas cada vez mais fundas do seu casco.
Se o vento sopra mais forte, sente que já não o enfrenta com a mesma firmeza.
Se o sol se entusiasma no seu luminar, percebe que as folhas já se vão encarquilhando e deixando que finos raios cheguem ao chão, onde começam a despontar pequenas flores e ervas de um verde mais tenro.
Recorda os anos de juventude, em que o seu olhar se voltava apenas para cima, em busca da luz e do céu.
Depois, começaram a aparecer as flores, depois os frutos que, em cada ano, amadureciam e saciavam as aves, os pequenos roedores que subiam sem esforço pelo seu tronco ainda liso, e enchiam de alegria o agricultor, que vinha, de vez em quando, alisar a terra e cuidar para que as suas raízes estivessem sempre cobertas e que as ervas daninhas e os insectos nocivos ficassem sempre longe.
Foram anos felizes, de crescimento e esperança, ainda de olhar o céu, com uma ou outra olhadela ao chão, que não desistia de a chamar e atrair.
Nem se apercebeu do tempo passar, tão ocupada estava em procurar o céu, cuidar das flores, esperar os frutos, oferecê-los e sentir a alegria e o bem que ofereciam.
O agricultor deixou de vir. Passou a vir o filho. Depois vinha o neto
Foi feliz!
Sem dar conta, o tronco tinha engrossado e enrugado. A seiva subia mais lentamente. As flores demoravam e floriam cada vez menos. Os frutos eram em menor número e menos suculentos. O neto do agricultor vinha cada vez mais espaçadamente, até que envelheceu e mais ninguém veio.
Só as aves continuavam a querer os seus ramos e o sol continuava a acariciar as suas folhas, com o mesmo calor e a iluminar a sua copa com o mesmo entusiasmo.
Ainda era alta. Parecia forte e frondosa, mas já não tinha o mesmo vigor, já não dava os mesmos frutos.
Mas não entristeceu.
Vira outras vidas nascer, crescer e transformar-se em nova vida.
Crescera, oferecera a sua sombra, o seu tronco, os seus ramos, as suas folhas.
Tinha florido e amadurecido frutos vezes sem conta.
Oferecera-os todos. Vira a alegria com que tinham sido recebidos e compreendera a felicidade.
E ainda tinha o sol.
E tinha o chão.
Dera-lhe sempre pouca atenção e, agora, finalmente, respondia à sua voz e percebia que fora sempre ele o seu grande sustento.
E tornou-se amigo do chão.
Ainda é feliz!
Já não procura tanto o céu e o sol. Descobriu que eles estão já dentro de si, fazem parte do seu tronco enrugado, dos seus ramos que começam a decair, das suas folhas que já deixam passar a luz.
E tem o chão.
E  a luz que ilumina a terra e as suas raízes à superfície.
A mesma luz que faz nascer a erva mais verde e anima as flores a multplicarem-se e dá energia às borboletas, joaninhas e abelhas, que esvoaçam numa dança sem fim e lhe prendem os olhos e lhe enchem o coração.
Enche-se de alegria.
É uma alegria diferente, menos de si e mais dos outros.
É a alegria da vida recebida, saboreada e oferecida.
Agora, sim. É verdadeiramente feliz!


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Onde está a esperança?

Um vazio, um nada assustador crescia, minava-o e deixava-o à beira da queda sem volta.
Lembrava-se do nada que, na História Interminável, ia invadindo o reino de Fantasia. De como ele se expandia e engolia e deixava atrás de si, o vazio. 
Fora um menino Atreyu que o vencera. Que, depois de muitas provas e obstáculos, muitos riscos e de quase morrer, descobrira a razão do tal nada que esvaziava Fantasia e ameaçava a vida da sua princesa. 
Uma razão simples, mas tão poderosa: a esperança estava a desaparecer do coração das pessoas e elas já não sonhavam, já não acreditavam.
E, assim, desaparecia um reino, por falta de esperança!   
Vira o filme, relera o livro e julgara ter compreendido a mensagem: a esperança é que motiva e move, a esperança é que faz viver.
Nessa época gloriosa dos “trintas” com os filhos pequenos, com uma vida longa pela frente (assim esperava) acreditava que nunca deixaria morrer a esperança em si! Tantos projectos tinha e de tal modo gostava de viver!
Ainda esperava tudo da vida. Não, não desejava ser rico, nem famoso, nem alcançar grandes feitos.
Apenas poder ganhar o necessário para criar e educar dignamente os filhos, vê-los crescidos, a tomarem conta de si próprios e a serem pessoas de bem.
Apenas poder contar com um futuro que o seu esforço e as suas contribuições lhe prometiam.
Apenas poder amar e ser amado, como o seu coração desejava e merecia.
E, nessa época, tudo isso lhe parecia tão simples, tão natural, tão espectável, tão alcançável.
Nessa época, a esperança era possível. Pela idade, pelo caminho de crescimento em que o país parecia ter finalmente embarcado, à boleia de uma Europa que considerava sólida e, depois de duas guerras, finalmente sábia.
E, sobretudo, havia ainda tantos anos pela frente! O seu coração tinha ainda tanto tempo! Havia ainda tantas possibilidades!
Mas … 20 anos passaram... Depois de tanto caminho feito, percebera dolorosamente o real significado do nada que ameaçava Fantasia. Porém, agora, esse reino era dentro de si e estava a ser invadido, a transformar-se em nada, em vazio.
Não, não perdera a esperança. Ela é que se fora embora.
Levara-a a falta de caminho para os filhos, num país saqueado e à deriva.
Levara-a a falta de um futuro para si, com as suas contribuições desbaratadas pelos salteadores ou piratas que se arvoram em donos de tudo e de todos, que mandam e desmandam, sempre em seu proveito e raramente a pensar no bem comum.
Levara-a a perspectiva de trabalhar até morrer, se tiver a sorte de não ser despedido.
Levara-a o passar dos anos sem encontrar resposta à capacidade de amar e de se dar.
Um dia acordara e descobrira o nada dentro de si. 
O seu vazio, o seu cheiro, a sua náusea, a sua escuridão.
Agora, luta diariamente por vencê-lo, percorre todos os caminhos em busca da esperança. Em vão. Ela não se deixa encontrar, ou talvez tenha emigrado.
Agora, já não conta com a vida toda pela frente. Vê-a atrás de si e resta tão pouco tempo para ainda sonhar e acreditar!
Mais uma vez acordou sozinho. Sentiu o nada a alastrar, o vazio a crescer.
"Onde estás esperança?"
Só o nada respondeu.
Sentiu-se perdido.
Como viver mais um dia sem esperança, sem a sua promessa de que tudo vai correr bem?

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Setembro

É segunda-feira, primeira de Setembro, mês que lembra escola, trabalho, a despedida da liberdade dos dias e o retomar da rotina das horas contadas, preenchidas, sempre curtas, fugidias, pequenas para tanto que nelas queremos fazer.
Retorno
Rotina
Tempo contado
Tarefas destinadas
Oiço uma voz, que algures dizia:
“Não quero voltar à escola!”
“Nem eu!” Pensei.
E outra voz: 
“Segunda! De novo o serviço, 
o mesmo caminho, as mesmas pessoas, os mesmos afazeres!”
“Também não me apetece nada, 
a segunda, o setembro!”
E da minha infância chegou o dito de alguém – “o trabalho foi um castigo que Deus deu ao homem.”
“Talvez ao homem, mas muito mais à mulher”, foi a resposta da minha mãe.
Segunda
Setembro
Trabalho
Rotina
Castigo?
Para muitos é apenas esperança.
A esperança de serem colocados, chamados, integrados.
A esperança de alguma segurança, mesmo que de apenas alguns euros contados, que terão de ser muito bem esticados.
A esperança de realização, de fazer o que se gosta ou aprender a gostar do que se pode fazer.
Que venham setembro e os meses que se lhe seguem!
Mas, por muito que seja bom e necessário trabalhar, hei-de sempre desejar o fim de semana, os feriados (ter saudades dos roubados) e esperar as férias e a liberdade dos dias e das horas e gostar mais, muito mais de agosto que de setembro!