quinta-feira, 19 de maio de 2022

Post.it: Sentada no sofá

Passados tantos anos ainda sinto que há caminhos que me faltam percorrer. Que há coisas por descobrir. Sonhos por concretizar.
Momentos por fantasiar. Risos que ainda não ri, espantos com que ainda não me confrontei. Encontros que ainda não me encontraram.
Há tanto, mas tanto que ainda posso fazer e no entanto, estou comodamente sentada neste sofá. Estou placidamente instalada na minha rotina.
Outro dia alguém me disse, “já não tenho idade para essas guerras”. Por momentos pensei, “que pena desistiu…” 
Mas, pensando bem, sentido melhor, há toda uma acção, toda uma coragem, pode detrás destas guerras porque as tornamos paz em nós e isso não é fácil.
Há nisso uma luta feroz, mas após cada uma delas, lambemos as feridas e seguimos em frente. 
A aprendizagem que nos deixam tornam-nos mais fortes, mais firmes.
Trocamos a impetuosidade pela complacência, pela tolerância para com os outros e para connosco. 
Percebemos que vencer não significa antagonizar mas antes compreender. Depois da alta montanha que subimos, está na altura de apreciar a paisagem e congratularmo-nos por aí ter chegado. 
Há quem queira continuar a subir para sentir que se vence o tempo e que este não muda nada na sua caminhada. 
Recusam-se a descer a montanha, cresce-lhe um temor que calam fundo no peito, envelhecer! Perder capacidades, a doença, a solidão… 
O que fica por se fazer, o que fica por se ver, o que fica por se viver! 
E eu, aqui estou, sentada no sofá e sentindo tanto prazer nesse momento de paz com a vida.


quinta-feira, 12 de maio de 2022

Post.it: Metamorfoses do olhar

Acordar pela manhã, levantar o corpo, dizer aos pés, caminhem!
Tudo não passa de um tom da visão, um dom do sentir. Uma espécie de copo meio cheio ou meio vazio, depende da forma como  o vemos, como o sentimos, como vivenciamos cada detalhe que nos é dado a viver.
Estamos em crescimento, aprendemos todos os dias, a cada instante
Estamos sempre em decrescimento, fazendo os nossos lutos sem panejamentos pretos, sem lágrimas, pelo menos não muitas, não visíveis.
Somos apenas a metamorfose da vida em voos que ensaiamos mas mesmo quando abrimos os braços, a maior parte de nós nunca chega a levantar os pés do chão. Talvez nos sonhos, quando a liberdade de sermos a leveza da nuvem nos eleva e faz ir para lugares onde o peso da existência carnal não nos prende mais.
O resto do tempo arrastamos a vida connosco, tentando vive-la nas suas marcas de cinzel e a pele lisa revela sulcos de uma mão que nos molda e nos confere um cansaço, uma tristeza onde já houve alegria.
São os desígnios de tantos dias, sol e chuva de muitos anos. Nomes que chamámos e outros, tantos que já esquecemos e que por eles fomos esquecidos.
Se esta ruga falasse, quanto de mim te diria...
Se este cabelo branco contasse quanta neve já lhe caiu como um manto de solidão, de vazio.
Claro que rimos, claro que nos emocionámos, que amámos cada primavera que nos nasceu no peito, que nos aconchegámos no calor corporal de cada inverno. Fomos felizes, somos felizes…
Porque amanhã, será um novo dia, para retomar velhos passos e encontrar o caminho para novos.


quinta-feira, 5 de maio de 2022

Post.it: Dia da língua portuguesa


Esta nossa língua portuguesa,

Que anda tão mal tratada,

Está na nossa natureza,

Falar muito e não dizer quase nada.

 

Mistura-se a lingual nacional,

Com a língua saxónica modernizada,

Acaba-se a falar cada vez mais mal,

E o que se diz é uma trapalhada.

 

Mas é chique para todos exibir,

O domínio bilingue da expressão.

Que para não chorar temos de rir,

De tanta e indelicada banalização.

 

A língua portuguesa vou celebrar.

E em fidelidade quero prometer.

Nunca a hei-de abandonar.

Mesmo que menosprezem o meu dizer.

 

É português a minha língua pátria.

É o português que me acompanha do berço.

E um povo que tudo supera com alegria.

É a sua história e raízes que não esqueço.