segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Post.it: Este tempo que somos

Vivemos num tempo que já foi solidário, mas que se tornou solitário. 
Vivemos num mundo ferido, muitos de nós vivemos anestesiados, febris de ansiedade por mudança ou acomodados e com medo dela. 
Outros foram perdendo a vontade, o interesse, a sensibilidade, do tacto, da visão, do sentir, do decidir. 
As feridas quando não são tratadas, transformam-se em prepotência, em negligência, hostilidade, desprezo, indiferença, em solidão, em desunião. 
Devemos estar cientes das fragilidades do mundo, das suas dores que em vez de nos afastarem, nos devem unir. 
Porque afinal, cresce um risco evidente; a ameaça constante à nossa existência, à nossa sobrevivência, com o fim dos milenares valores, da nossa cultura, das nossas raízes. 
Porque nós, todos, sem raízes “nada mais somos do que papagaios no vento”. Não podemos curar o mundo, mas podemos cuidar de quem nos está próximo.
Como? Aproximando-nos mais, escutando, oferecendo uma mão para acompanhar o seu doloroso caminho. 
Oferecendo um olhar que abraça. Dando-lhe uma palavra amiga, ser solidário, generoso, humilde, respeitador do seu espaço, dando-lhe a liberdade de decidir e de construir um lugar onde se sinta em casa, uma vida em que se reencontre e afirme inteiro e simultaneamente plural.


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Post.it: Leitor ausente

Às vezes, cada vez menos, ainda me pergunto se me lês, se me vês, se me sentes, se me ouves nas palavras que te escrevo. Mas a escrita vai ficando cada vez mais só, mais intima, mais eu, aqui, onde quer que esteja, onde quer que estejas.
  É curioso pensar que não é a distância que nos separa, mas a nossa vontade, ou a falta dela. Escolhas que fazemos a cada passo que damos. Hoje, vou por aqui, porquê? Não sei, para ser diferente, para não me cansar de fazer sempre o mesmo, de ver os mesmos rostos anónimos, porque me cansa o que não sei. Apetece-me perguntar, quem és? O que fazes? És feliz? Tenho inveja da senhora que se senta no lugar da frente e que vai sempre, quase impulsivamente escrevendo frases, soltas, pensamentos, sonhos, desejos, desabafos. Cresce-me a curiosidade, quase, quase lhe pergunto o que escreve, mas paro a tempo desta decisão, não quero interromper, corromper a sua inspiração. Há quem diga que escreve sobre nós, sobre cada um de nós, as sensações que lhe deixamos, as criticas, as queixas. Não acredito, vejo-lhe o olhar distante, mergulhado em si. Escreve numa ânsia desmedida, numa inspiração incontrolável. Escreve, para si, para os outros. Tal como eu escrevo, cada vez mais para mim, já sem sequer me questionar se também escrevo para ti. Podem dizer que é triste, que nos dá solidão, talvez tenha começado assim, mas de repente, ganho consciência da liberdade que ganhei, sou livre, posso escrever o que me apetece, porque tu, meu leitor não estás aí! 



segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Que encontre...

 Que encontre…

A riqueza na maior pobreza,

O bem no meio de tanto mal,

A certeza na maior dúvida,

A beleza das coisas mais feias,

A alegria na maior tristeza,

A companhia no meio da solidão,

A felicidade algures na infelicidade.

A riqueza é muito mais que ter bens materiais,

Há sempre algo de bom até no que está mal,

A certeza mais certa nasce sempre da dúvida,

A beleza está na forma de cada um a olhar,

A alegria é a estrada de saída da tristeza,

Basta uma mão para afastar a solidão,

A felicidade está algures no coração.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

O nosso tempo

 Não há tempo consumido,

Não há tempo a economizar.

O tempo é todo vestido,

Do amanhecer ao luar.

 

O tempo é para viver,

O tempo é para gastar.

Algum pode-se entender,

Mas não há tempo a sobrar.

 

Nem o tempo mal gasto,

Em tempo de sonhar.

É um tempo com rasto,

Que fica para recordar.

 

O tempo é ele todo,

O que somos também.

Luz ou cais de lodo,

De todos e de ninguém.

 

Se eu tivesse mais tempo,

Para o sentir lento a passar.

Correria como se fosse vento,

Só para o tempo apanhar.

 

Mas o tempo é tempo certo,

Só ele sabe a sua longevidade.

Antes que se torne um deserto,

É tempo de o fazer de felicidade.



segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Quem me dera...

Quem me dera ser poeta,
Quando a tristeza nos oferece,              
Uma felicidade de alegria repleta.
 
Quem me dera ser escritor,
De quem ao pintar escreve,
Com todas as cores da dor.

 
Quem me dera ter o coração,
Que ama só por amar,
E afogar-me na suave paixão.
 
Quem me dera ter esperança,
Para viver do sonhar,
E acreditar como criança.