sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Post.it: Recomeçar longe de casa

Começar tudo num país que não é o nosso. Como é? O que se sente?
Foi o que perguntei ao Daouda, um jovem de 15 anos, alto e muito bonito, que veio directamente do Senegal para Lisboa.
Tive de formular a pergunta em Francês, pois ainda domina muito mal o Português.
Respondeu-me com um sorriso branco e brilhante, que ilumina a tez escura do seu rosto: “Teve de ser, o meu pai já estava cá há dois anos. Vim eu e os meus irmãos.”
Depois, fez questão de me dizer, em Português: “Falta aqui o calor e os meus amigos”. Aproveitei para lhe ensinar a palavra “saudade”. Ele ficou triste e disse, ainda em Português: “Saudade mais de minha mamã”. Fiquei, depois, a saber que a mãe e as irmãs ficaram, só vieram os rapazes reunir-se ao pai.
A conversa prolongou-se, numa mistura das duas línguas, um ensinando o outro, sobre Lisboa e Dakar, sobre o Senegal e Portugal, sobre África e a Europa, sobre a escola de lá e a de cá – uma grande diferença! Lá: menos condições, menos professores, mais respeito. Salta à vista a sua admiração pelo barulho e pelo comportamento dos colegas. Não está habituado a interromper os professores, a mastigar pastilha elástica nas aulas, a conversar enquanto se dá matéria e a considerar tudo "uma seca". A minha admiração é por ver um jovem que ainda olha para mim quando falo com ele, que ainda dá atenção ao que digo, que ainda pergunta porque quer compreender e saber.
Guardei aquele sorriso bonito e cordial, carregado de esperança e de alguma tristeza. Não deveria ser necessário partir e recomeçar quando a vida ainda está tão no seu início! Porém, estou contente por conhecê-lo e por saber que vai fazer alguma diferença ele ter vindo. Obrigada, Daouda!

2 comentários:

  1. Anónimo1.10.10

    Sei bem o que isso é, um pais diferente, hábitos diferentes. A escola mais barulhenta, a curiosidade dos outros meninos. -De onde vens?
    - De Moçambique. E depois muita, muita solidão...

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  2. Anónimo1.10.10

    Saudade, sei o que é. É estar aqui com o coração lá, no Brasil. Mas é aprender amar também este país pelos amigos que se fazem

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