domingo, 31 de outubro de 2010

Era uma vez: Amar nem sempre é fácil

Nessa manhã fora surpreendida. A sua turma do 9º ano entrara alvoraçada na aula.
Stora, a Sílvia foi-se embora!”
Nem teve tempo de perguntar porquê. As frases de indignação sucederam-se:
“Os pais descobriram que ela andava com a Joana!”
“E agora vão pô-la num colégio interno!”
“Nem a deixam vir mais à escola!”
“Nem podemos despedir-nos dela! A melhor aluna da turma!”
“A nossa delegada de turma!”
Deixou que a surpresa e indignação se acalmassem e, a pouco e pouco, se fossem transformando em diálogo e reflexão. Foi bom constatar que a maioria dos alunos já considerava natural este tipo de diferenças. Sinal de que a sociedade está a evoluir.
A pergunta que lhe fizeram foi certeira: “Se um dos seus filhos lhe dissesse que é gay, como é que a Stora ia reagir?”
Sentiu-se a voar no tempo até há uns anos atrás. O filho tinha-lhe dito que precisava de falar com ela. Adivinhou o que era - uma mãe sabe ler os sinais. Esses sinais tinham-lhe permitido preparar-se para essa conversa. Tivera tempo de se informar, de ultrapassar os seus preconceitos e de aceitar interiormente que o seu filho poderia ser diferente – nem melhor nem pior, apenas diferente do que é mais habitual. Por isso, fora capaz de o ouvir serenamente. Orgulhara-se da forma como começara: “Mãe, tenho de te dizer uma coisa, porque não quero ter de te esconder nada, não quero ter de mentir-te!” E, depois de o ouvir até ao fim só lhe ocorreu dizer isso mesmo: “Orgulho-me de ti, pela forma como tem sido filho, irmão, aluno. Orgulho-me da pessoa que és. O amor que sinto por ti não tem condições - amo-te como és. Só te peço que sejas coerente e verdadeiro e te mantenhas de espírito aberto, sem te condicionares a ti próprio. O que mais quero é que sejas feliz!”
Foi essa a ideia que passou aos alunos quando respondeu à pergunta que lhe fizeram, mas tentou que eles compreendessem que os pais da Sílvia pensavam estar a agir bem e, à sua maneira, estavam também a manifestar o seu amor pela filha.
Foi o Rui que acabou por dizer tudo: “É uma questão de mentalidade e as mentalidades custam muito a mudar, mas mudam! Pode levar muito tempo, mas acabam por mudar!

2 comentários:

  1. Anónimo31.10.10

    Felizmente já há muitas mentes abertas e sensiveis à ideia que o amor não escolhe sexos mas corações!

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  2. Anónimo31.10.10

    Amor é amor, não importa o resto. Afinal a educação sexual nas escolas já está a produzir frutos! (se a história tiver um fundamento de verdade - desejo que sim)

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