segunda-feira, 2 de maio de 2011

Post.iti: O final da viagem

Sabemos quando começa, talvez não o instante em que se deu o eclipse do coração. Talvez não exacto momento em que perdemos a razão e passamos a viver ao compasso da pressão sistólica e diastólica.
Sabemos que parece infinito e acreditamos que podemos deixar-nos embalar, que não há perigo. Que o mar está calmo e o barco é forte para nos levar a bom porto. Não esperamos os vendavais que surgem e  não sabemos como os suplantar. Agarramo-nos a bóias de esperança, acreditamos nas forças da perseverança. Quem sabe enfrentando as vagas as conseguimos vencer e convencer o mar que merecemos navegar por ele. Quem sabe não desistindo de lutar provamos a nossa coragem, a nossa fibra, a nossa fé. Mas o mar ruge num esgar o Não que petrifica a alma mas não gela o coração. Rasgam-se as velas, quebram-se os remos, mas continuamos agarrados ao leme, enquanto este nos levar adiante na nossa demanda. Teimosia, brame o vento norte. Falta de orgulho,  grita a onda que nos quer arrancar do nosso barco, do nosso sonho, do nosso desejo de felicidade. Barco agora transformado em bote flutuante, cansado, derrotado, retalhado entre o desejo e a lógica do desistir, do aceitar a realidade. Sabemos quando começa a viagem mas não queremos que termine nem quando chegamos a terra firme, isso significa renegar. Renunciar ao que já foi a mais sublime sensação de vida. Prefiro enfrentar de novo todos os vendavais se for para nele te reencontrar, grita num último fôlego o coração, para depois perecer na praia deserta.

6 comentários:

  1. Anónimo2.5.11

    Quantas vezes me pergunto onde vais buscar tão bonitas imagens, quase pinturas, quase filmes. Curtas metragens com finais felizes ou infelizes. Espero que em cada onda que nos leve ao fundo existam muitas outras que nos levem para o topo. Bjs, Leonor

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  2. Anónimo2.5.11

    Uma escrita cativante, que nos leva por essa viagem trágico marítima. A sensação de naufrágio mas noutros momentos vimos à tona de água e agarramos a bóia. Não nos sustem por muito tempo mas o suficiente para retomarmos as forças e voltar à luta até ao final da viagem que certamente chegara. Há que saber quando devemos lutas, mas também quando devemos desistir. Bjs, Sandra B.

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  3. Anónimo2.5.11

    Que texto amiga, por momentos pensei que estava a dirigi-lo a mim, à minha teimosia de não desistir quando tudo e todos me dizem para passar à frente. Que fazer se gosto ainda do que ficou para trás? Bem sei que não há bóias que me salvem, que o melhor é apanhar boleia de outro barco, mas como tu dizes, chegar ao final da viagem deixa a sensação de estar a renunciar a qualquer ínfima possibilidade de dar certo. Quem sabe? Tu sabes? Bj

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  4. Anónimo2.5.11

    Deixei-me envolver pelo teu post.it, pequeno mas intenso. Por vezes digo que são post.it, que nada têm de pequenos, porque são grandes no conteúdo. Bjs, Amália

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  5. Anónimo2.5.11

    Nova semana, nova mensagem, metafórica e envolvente. A luta por vezes inglória de um objectivo que queremos alcançar, que pensamos ter atingido e que se nos escapa por entre os dedos, mesmo quando os fechamos. Um abraço, Antero

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  6. Anónimo2.5.11

    Não esperava algo diferente vindo de ti, mas consegues sempre surpreender pela sensibilidade e originalidade. Não caís no habitual, inovas e lembras os esquecidos. Obrigada por seres assim. Beijocas, C.

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