quarta-feira, 1 de junho de 2011

Era uma vez: No reino mágico das fadas (40)

A rainha Amada continuava concentrada no seu esforço de iluminar a multidão, combatendo a negrura e a tristeza da sombra. A fada Astuta e os dois seres brilhantes uniam-se a ela, tocando as suas mãos e transmitindo confiança à multidão, com o rosto levantado, olhar firme e o coração aberto. Os quatro viram como a sombra tinha aproveitado os focos de medo perante a vermelhidão que a cobrira e o fogo em que se havia ateado, sem nele se consumir. Tacitamente, repartiram a sua concentração por esses minúsculos pontos fracos e conseguiram neutralizá-los e recuperar a coesão e confiança de todos os que se encontravam na praça.
Ornix falou:
“Rainha Amada, vamos receber reforços. Na ilha, a população de todas as cidades está reunida e unida, a criar um clarão de luz que cresce a cada instante e, em breve, atravessará o lago das mil cores. À vista do reino encontra-se o vosso contingente militar que está de regresso, acompanhado das forças de segurança da ilha. Têm um plano para neutralizar a sombra e o seu poder maldito.”
O coração da rainha alegrou-se e recuperou a força interior que começava a fraquejar. Respondeu:
“A lenda estava certa: o poder maléfico gerava desconfiança entre nós para poder dominar-nos! Temos de ser fortes e vencê-lo de uma vez por todas! Comunique aos seus a minha gratidão”.
A sombra tentava crescer, incendiar-se e cobrir-se de fumo negro. Sentia-se trespassar pelos pensamentos de colaboração e confiança entre os povos do reino mágico e da ilha. Eram como feridas que a consumiam e por onde o seu poder se esvaia.
Recorreu ao último trunfo – o seu poder de alucinar e distorcer a realidade. Teria de reunir todas as suas energias, pois essa feitiçaria requeria um grande esforço e muita concentração e energia. Lançou um apelo às filhas aprisionadas. Precisava do eco e da raiva das suas vozes gritantes e revoltadas para crescer e enfeitiçar a multidão. Adivinhou que estava a ser cercada e sentiu que esta seria a sua última oportunidade. O seu urro fundo e cavo ouviu-se no reino mágico, arrepiou as forças militares e embraveceu as águas do lago, onde as feiticeiras filhas receberam o apelo da mãe. Tinham-se aquietado e escondido com medo da luminosidade do clarão que crescia a partir da ilha e da movimentação que viam nos céus que cobriam as águas. A voz da mãe agitou-as e revoltou-as ainda mais. A raiva de não poderem libertar-se cresceu e o eco das suas vozes lancinantes e carregadas de ódio atravessou o lago e foi directo à mãe sombra que o absorveu todinho, aproveitando a sua energia por completo. Inflou e cresceu. Expandiu-se ainda mais e roncou com todas as suas forças. Deixou, pela primeira vez, que a multidão visse os seus olhos incandescentes que dirigiu para a rainha Amada. Tinha de atingir o coração do reino, pois era nele que residia a fonte de toda a força capaz de gerar tamanha união.
A rainha foi envolvida pelo olhar maléfico e estremeceu. Sentiu a mão de Astuta no seu braço direito e a mão de Ornix no seu ombro esquerdo. A pressão que ambos exerciam pareceu-lhe excessiva e teve vontade de se libertar dela, desconfiando que estavam a tentar prendê-la. Mas no seu íntimo soou um alarme, como um aviso profundo e calmo, como uma voz muito sumida, mas audível: “não deixes que a sombra te engane – enfrenta o seu olhar e não faças nada que ela queira. Confia em ti e nos que te rodeiam”.
A rainha Amada manteve-se firme perante aqueles olhos incendiados de fogo e ódio. Enfrentou-os com o seu olhar claro, límpido e carregado de doçura e confiança. Sabia que o reino dependia da sua coragem e da sua força. Isso deu-lhe a energia necessária para não ceder ao desânimo que os olhos da sombra queriam semear nela. Mas não sabia por quanto tempo conseguiria resistir.
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Continua
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No reino mágico das fadas (41)
http://posdequererbem.blogspot.com/2011/06/sombra-sentiu-confianca-da-rainha.html

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