segunda-feira, 16 de maio de 2011

Era uma vez: No reino mágico das fadas (35)

No reino mágico, a multidão de fadas e magos reunida na praça acalmara-se ao som da voz serena da sua rainha que, após a sua saudação habitual, começara a falar em tom narrativo, como se contasse uma história.
“Poucos se lembram, talvez já ninguém saiba, mas há muito, muito tempo, este reino que hoje somos foi feito de medo e terror, de maldade e sofrimento. Foi um reino de ódios e vingança, constantemente envolvido em conflitos gerados pela ambição e causadores de pobreza e infelicidade. Todas as magias eram impotentes para dar a vitória, fosse a quem fosse. Nenhum poder mágico tinha a força necessária para vencer todos os outros e impor-se. Todas as magias se faziam para fugir ao medo ou para amedrontar, ou enganar, ou vingar. Só uma força foi capaz de vencer. Só uma força, nascida de um coração puro e bondoso, conseguiu impor-se e acabar com esse tempo que se baniu e se quis esquecido para sempre.”
As gargalhadas sonoras e estridentes continuavam a troar e a aumentar o trepidar da terra e o ronco medonho do ar. Mas a multidão permanecia suspensa das palavras da rainha, imóvel e silenciosa, como se o olhar e o som da sua voz fosse um encantamento que lhes absorvia a atenção e os concentrava no sentido profundo de tudo o que dizia.
“Esse tempo quer voltar. Está aqui, agora, a tentar dividir-nos! Quer aprisionar-nos. Está a tentar amedrontar-nos com o seu escárnio e o seu roncar impotente. Quer alimentar-se do nosso medo e crescer à custa dele, para voltar a dominar-nos. Libertou-se das águas profundas do lago das mil cores. O receio e a desconfiança que se instalaram entre nós nas últimas semanas deram-lhe a força para se libertar e quer fazer-nos regressar ao passado de escuridão e dor. Mas hoje, meus amigos, não precisamos de ter medo! Sabemos como vencê-lo! Conhecemos a única magia capaz de lhe fazer frente e de voltar a aprisioná-lo!”
A estas palavras, a multidão agitou-se e ganhou confiança. As gargalhadas e roncos lutavam para se manter e pareceriam, agora, menos ameaçadores. A sombra queria fazer-se ameaçadora, mas já não crescia e dava sinais de começar a enfraquecer.
Dentro do edifício, os seres brilhantes também tinham sido contagiados pela segurança e serenidade da voz da rainha Amada. Na mente de Ornix começou a surgir uma memória muito profunda e quase desaparecida – o rosto do seu pai que lhe havia contado algo semelhante. Teve a certeza de que Amada estava a falar verdade.
“Corix, conheço os acontecimentos de que a rainha Amada fala. O meu pai falou-me desse tempo. Ela fala verdade!”
Os dois seres brilhantes uniram os pensamentos e comunicaram com a ilha, passando a informação de tudo o que se estava a passar e a mensagem da rainha Amada que, lá fora, continuava a atrair todas as atenções da multidão.
“A magia capaz de vencer a força maléfica que quer dominar-nos é a mais simples e natural, aquela que nos tem mantido unidos e que tem feito do nosso reino, um espaço de prosperidade e paz! Conhecemo-la bem. Só temos de confiar nela. Todos viram, como eu vi, que os seres brilhantes que hoje nos visitaram, aos poucos, deixaram de nos parecer diferentes. Constatamos, por algumas horas que os nossos visitantes em tudo se assemelham a nós. Foi a desconfiança mútua que nos fez ver diferenças intransponíveis onde elas não existiam. As diferenças geram medo, causam divisão e conflitos. Por isso, só há uma forma de fazer voltar às profundezas do lago a força maléfica que tenta amedrontar-nos!”
Na ilha, Inventix e a sua equipa, recebia esta mesma mensagem, através da comunicação de pensamentos de Ornix e Corix, e que também era recebida e entendida na sala do conselho de decisores. Alguns dos mais velhos guardavam ainda a memória de uma lenda que falava de um tempo assim, o tempo que os conduzira à guerra e ao medo e que fizera nascer a maldição do brilho, que os afastara de todos os outros seres e os isolara e encerrara em si próprios, até que haviam aprendido a suportar o brilho uns dos outros e a torná-lo favorável, conseguindo formar um povo e um reino constantemente envolvido em guerras com outros povos temerosos do poder da sua luz. A última fora travada contra o reino mágico das fadas. Ninguém queria que esse tempo voltasse.
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Continua
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No reino mágico das fadas (36)
http://posdequererbem.blogspot.com/2011/05/era-uma-vez-no-reino-magico-das-fadas_18.html

2 comentários:

  1. Anónimo16.5.11

    Minha amiga! Uma viagem a um tempo diferente do da história para falar da origem da maldade no interior dos próprios seres. Adivinho que as fadas e seres brilhantes vão saber fazer a escolha certa. Estou a gostar muito deste mundo tão diferente e tão próximo do nosso! Deixe-o durar mais um tempo. Bem haja. Luiz Vaz

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  2. Anónimo17.5.11

    Stora, consegui ler a história toda! Gosto da sua escrita nos manuais, percebe-se a matéria muito bem. Mas não sabia que gostava de escrever histórias e que tinha tanto jeito! O reino mágico é mesmo fixe! Não costumo gostar de descrições, mas estas parece que fazem parte do enredo e não tive vontade de passar por cima de nenhuma! Vou continuar a ler. Obrigada por me ter dado o endereço do seu blog. bjitos. Dina

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