quarta-feira, 11 de maio de 2011

Era uma vez: No reino mágico das fadas (34)

A surpresa e o temor encheram a praça e, por momentos, paralisaram a multidão. Na mente da rainha Amada surgiu uma memória antiga de uma lenda que explicava a inimizade entre o reino mágico das fadas e o dos seres brilhantes. Perdia-se no tempo e há muito que deixara de ser contada às gerações mais novas. Falava da mãe das feiticeiras aprisionadas no lago e origem de todos os feitiços maléficos. Ela aproveitava e fazia crescer o egoísmo dos corações que, a pouco e pouco, ia distorcendo a visão dos outros e o entendimento das suas razões, transformando-se em altivez ou em receio e medo, que geravam agressividade e conflito.
Uma gargalhada estridente e gélida encheu o espaço penetrou tudo e todos como uma seta que atingisse o âmago do ser, fazendo-o sentir pequeno, impotente e revoltado. Nos milhares de rostos da praça, escurecidos pela sombra negra, os sorrisos de alegria e os olhares de esperança transformaram-se em esgares de medo e desconfiança. Muitos olhos começaram a ver novamente o brilho em torno da cabeça dos dois visitantes e um grande número começou a gritar a insurgir-se contra a rainha por ter colhidos aqaueles que consideravam já causadores daquela aterradora situação.
As gargalhadas e o ruído estrondoso soavam cada vez mais alto e intensificavam o negrume da sombra, agitando cada vez mais a multidão e levando muitos a usar os poderes mágicos para tentarem escapar ou vingar-se dos seres brilhantes que, a conselho da fada Astuta, abandonaram a varanda.
Ornix e Corix, já dentro do edifício, e também eles um pouco influenciados pelo poder do negrume e do ruído da sombra, começavam a sentir alguma desconfiança em relação à intenção das fadas. Trocaram algumas palavras entre si, evitando ser ouvidos pela fada Astuta que, por sua vez, também sentia já certo desconforto pelo brilho que via ressurgir em torno dos visitantes que também tinham voltado a levitar.
Só a rainha Amada se manteve calma e serena. Recorreu à sua magia real e iluminou a sombra, ao mesmo tempo que ampliava a voz límpida e suave tornando-a audível em todos os cantos da praça que, às suas primeiras palavras e por influência do olhar profundo e penetrante, voltou a silenciar-se, apesar do ruído e das gargalhadas continuarem a impor-se.

Do outro lado do lago, as fadas-comandante despediam-se do Guardião da ilha e iniciavam a viagem de regresso. Como não precisavam de recorrer à magia protectora, a travessia seria menos cansativa e mais agradável. Poderiam sobrevoar o lago ao sabor da brisa e apreciar as suas mil cores e a beleza que a leve ondulação e a luz do sol tão bem realçava. Porém, voavam em formação militar, em grupos organizados e prontos a reagir a qualquer situação de perigo.

Enquanto isso, no edifício dos serviços de investigação e pesquisa científica, o professor Inventix e a sua equipa recebiam preocupados os primeiros sinais de comunicação de pensamentos de Ornix e Corix.
………….

Continua

1 comentário:

  1. Anónimo12.5.11

    Minha amiga que reviravolta! A associação entre feitiços maléficos e o egoismo e deste com o realçar das diferenças entre os seres brilhantes e os habitantes do reino mágico é muito interessante e profunda. Bem haja pela proposta de reflexão. Luiz Vaz

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