sexta-feira, 27 de maio de 2011

Post.it: A pulga

Era pequena, não que fosse mínima mas ficava um pouco abaixo da média. Dizia com jovialidade que não era pequena mas condensada. Entristecia-a ser assim tão baixinha porque tinha o desejo de ser grande, de fazer grandes coisas, de deixar grandes recordações. Mas tudo na sua vida era à sua dimensão. Pequenas coisas, pequenas recordações. Mas do mal o menos, dizia em jeito de complacência, “os problemas também são pequenos, talvez reconheçam a minha pequena capacidade de os resolver”. Dizem que os pequenos chegam onde chegam os grandes, “sim, mas a verdade é que nos cansamos muito mais, os altos basta esticarem o braço, nós temos que ir buscar um banco,  subir para cima dele, cumprir a tarefa e arrumá-lo em seguida”. Tentando atenuar a mágoa, as amigas diziam-lhe com carinho, “podes ser pequena por fora mas enorme por dentro”. Até pode ser, suspirava, “ mas não me serve de nada quando estou num espectáculo musical e todos à minha frente erguem-se como um muro que me tira a visibilidade. Deviam marcar os lugares consoante a altura”. Depois de tantos argumentos, chegaram a um impasse, um empate técnico. Quando uma voz que até então se mantivera em silêncio fez-se ouvir. “Até a pulga tem coração”. Estava tudo dito. O coração não tem tamanho, ou melhor a sua dimensão mede-se pela capacidade de amar e esta minha amiga era Gigante.

6 comentários:

  1. Anónimo27.5.11

    Pois é amiga, sofro do mesmo problema, agudizado pelo gozo dos meus filhos que há muito me ultrapassaram, o mais novo de 14 anos já mede 188cm e o de 19 tem 193cm, até rapariga vá vai nos 176 cm. Isto de ser baixinha dá uma trabalheira, já nem lhes chego á cara para lhes dar um tabefe! Bjs. Amália

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  2. Anónimo27.5.11

    Não sou muito baixa e tu também não, somos medianas para a nossa época porque os jovens hoje em dia tendem a ser gigantes. Gosto de ser assim, e não andar a bater com a cabeça nos armários. Quando não chego aos locais, ponho os altos a trabalhar, qual subir para o banco.
    Gostei deste texto, pelo seu conteúdo, pela mensagem que contém. Não devemos medir as pessoas pela sua figura mas aceitá-la e valoriza-la pelo seu carácter.

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  3. Anónimo27.5.11

    O coração não se vê pela dimensão do aspecto exterior, é uma grande verdade. Bonita metáfora. Até a pulga tem coração apesar de ser tão minúscula.

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  4. Anónimo27.5.11

    Sempre tens cada ideia, gostava de saber onde te inspiras. Mas tens razão a altura não diz nada da grandiosidade de cada um.

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  5. Anónimo27.5.11

    As pulgas têm coração? Não sei, mas gostei da ideia. José

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  6. Anónimo27.5.11

    Não sei se as pulgas terão coração mas que escreve assim tem e é enorme. BJ, Rui

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