quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Post.it: Vidas desencontradas

Quanto tempo passou desde a última vez que esteve naquele café? Anos, muitos anos. Uma nostalgia levou-a a revisitar aquele lugar. Sentou-se na mesma mesa, não sabe dizer se está tudo na mesma ou se mudou, naquele tempo só tinha olhos para ele. Nada mais existia em redor. Observa os clientes, rostos desconhecidos, não, não são todos desconhecidos, o coração acelera-lhe dentro do peito, ele também está ali.
Terá sentido aquela mesma saudade? Os cabelos branquearam, o rosto murchou como uma flor de longínqua primavera. Sorri, um sorriso cansado, enquanto fala com 2 crianças, os netos por certo. Filhos dos filhos que teve com outro amor. Será feliz? Numa réstia de mágoa, deseja que não. Mas o que lá vai, lá vai, pensa. Sabendo que com ele não voltaria a ser feliz mesmo que o passado voltasse. Não depois de ele ter traído o amor deles, de lhe ter quebrado o coração e destruído todos os seus sonhos duma felicidade infinita. Só então percebeu que ele lhe mentira, que fora apenas uma emoção e nada de verdadeiramente perene. Saiu do café, caminhou sem pressa, surpreendida com a indiferença que ele lhe provocou. A saudade de um amor a que se agarrara a vida inteira, tinha-se diluído naquele instante. Por momentos reflecte em como tudo é efémero, até o amor mais profundo feito de uma entrega total. A saudade nunca foi boa conselheira, agora sabe ele já não existe no seu coração e que é tempo da voltar a amar.
Observo-a, primeiro no café, onde sou um dos muitos rostos desconhecidos, vejo a sua palidez ao reencontrá-lo, vejo-a sair meio em fuga. Depois na rua, vejo que parou no passeio contrário. Sente-se mais segura para pensar e compreender o que sente. E de repente como se tivesse tomado uma decisão, passa a mão pelo cabelo, esboça um sorriso e avança com os passos firmes de quem reencontrou o caminho. Ela só não viu a lágrima fugidia que ele limpou de imediato com a mão. Que pensamentos, que sentimentos? Sabe-se lá quantas vidas desencontradas que andam por aí…

8 comentários:

  1. Anónimo27.1.11

    Quantas histórias de vida já passaram por isso. O términos duma relação. Que muitas vezes parece um final de vida. O recomeço, esse doloroso recomeço. Acompanhei de perto e limpei essa lágrimas que teimam em cair em busca da esperança.Bjs

    ResponderEliminar
  2. Anónimo27.1.11

    É uma história triste contada de uma forma muito bonita e singela. Gostei imenso. Reconheci-a em muitas outras que já vi acontecerem.Bjs Luís

    ResponderEliminar
  3. Anónimo27.1.11

    Este post.it fez-me chorar lágrimas recordando outras que chorei há mais de 20 anos. Mas depois fiz como ela voltei a sorrir porque sei que venci e que muitas vezes embora não queiramos aceitar foi de entre o pior a melhor coisa que me aconteceu.Beijos grandes

    ResponderEliminar
  4. Anónimo27.1.11

    Gostei, mas gostei tanto que vou guardá-la para mostrar a uma amiga que está a passar pelo mesmo, posso? Bjs Amália

    ResponderEliminar
  5. Anónimo27.1.11

    Gosto da forma como escreves, gosto desse teu olhar sobre a vida e os seus acontecimentos. Brindaste-nos com mais uma atenta observação. Foi uma bonita leitura de gestos e de olhares, mas e sobretudo da psicoanálise que fazes, dando realce à forma corajosa de enfrentar as rupturas, as mágoas que ficam e como as devemos deixar partir. Bjs Sandra B.

    ResponderEliminar
  6. Anónimo27.1.11

    Será que é assim? Será que a dor passa? Não sei, sinto-a como se fosse de hoje e já passaram 2 anos. O coração recusa-se a aceitar, recusa-se a viver dias vazios sem a pessoa que os preenchia. Mas gosto de saber que um dia tudo será diferente. Só preciso de olhar em frente e nunca para trás. Obrigada pela tua esperança.

    ResponderEliminar
  7. Anónimo27.1.11

    Gostei tanto da tua visão da história. Uma visão sensível mas racional em simultâneo. Diz-nos que dói, que estes desencontros fazem sofrer, mas também que um dia tomamos consciência que passa e que podemos recomeçar.Bjs Leonor

    ResponderEliminar
  8. Anónimo27.1.11

    Vidas desencontradas, vidas que terminam para renascerem num outro momento. Gostei da mensagem. Bj Rui

    ResponderEliminar